terça-feira, novembro 14, 2006

Governo do Paraná vai desapropriar área da Syngenta

Empresa foi denunciada por fazer plantio ilegal de transgênicos no Estado, algo que não pode fazer na Suíça, seu país de origem; no local, será instalado centro de estudo de técnicas agroecológicas

Luís Brasilino,
da Redação

O governo do Paraná vai anunciar a desapropriação da área de 300 hectares da Syngenta em Santa Teresa do Oeste (no oeste paranaense). Em março, 600 militantes da Via Campesina ocuparam o terreno para denunciar o descumprimento de leis federais e estaduais por parte da transnacional suíça de agrotóxicos e transgênicos.

A empresa, uma das maiores indústrias de sementes do mundo, realizava experimentos com milho e soja geneticamente modificados na zona de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu.

Isso caracteriza crime grave contra a biossegurança, pois representa risco de contaminação genética. Além disso, o Parque do Iguaçu foi reconhecido, em 1986, como Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco (entidade da Organização das Nações Unidas para educação, ciência e cultura).

"(A punição) É uma das maiores conquistas da luta pela defesa da biodiversidade em todo o mundo", revela Maria Rita Reis, assessora jurídica da ONG Terra de Direitos. Ela destaca o caráter simbólico da decisão já que "a existência de um campo de experimentação de transgênicos em uma zona de amortecimento é uma grande ameaça à biodiversidade".

Tanto é que, no dia anterior à ocupação da Via Campesina, 13 de março, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) havia multado a Syngenta em R$ 1 milhão pelo crime. À época, Marino Gonçalves, então superintendente do Ibama paranaense, revelou que o plantio da transnacional colocava em risco a produção orgânica na região, a saúde humana, animal e das plantas.

Entretanto, a Syngenta não pagou e nem recorreu da multa. Para Maria Rita, a transnacional preferiu ignorar a determinação do Ibama e centrar seus esforços num trabalho de bastidores. "Com isso, conseguiram do governo federal uma medida provisória reduzindo os limites das zonas de amortecimento. Também houve uma campanha midiática; vários jornais criticaram a ocupação e a multa em editoriais", afirma.

Da cobertura da mídia corporativa, vale destacar matéria do jornal O Estado de São Paulo do dia 3 de julho, onde a legislação brasileira de proteção ambiental é ridicularizada e a ocupação tratada de forma pitoresca. Com o título "A invasão que não chega ao fim", o texto contém ameaças da transnacional de reduzir investimentos no Brasil e, em especial, no Paraná; além de um outro texto no qual um executivo brasileiro relata as dificuldades de explicar a legislação do Brasil para seus superiores na matriz suíça.

Oito meses de luta

Paralelamente às ações da Syngenta, cerca de 100 famílias permaneceram na área, que passou a se chamar Acampamento Terra Livre. No local, a Via Campesina deve instalar um campo de pesquisa e um banco de sementes crioulas, seguindo a mentalidade de que os grãos não podem ser considerados uma mercadoria já que constituem a base da sobrevivência humana.

Os acampados estão perto dessa conquista, já que a desapropriação faz parte das atribuições de governos estaduais quando está em jogo a utilidade pública, caso da área em Santa Tereza do Oeste ameaçada de contaminação pela Syngenta. "Trata-se de uma compra forçada, pelo valor de mercado", esclarece Maria Rita, da Terra de Direitos.
Fonte: Brasil de Fato

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