sábado, julho 28, 2007

Por falar em Latuff...















é, a genialidade do cara é perigosa pra zelite mesmo.

Latuff enquadra o pan e é intimado pela polícia no RJ














Santa democracia!

Por Marcelo Salles - www.fazendomedia.com

Era só o que faltava. O artista gráfico Carlos Latuff foi intimado ontem pela delegada Valéria de Aragão Sádio, da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra Propriedade Imaterial, "a fim de prestar esclarecimentos referente ao procedimento em epígrafe". Desconsiderando o atentado à gramática do texto assinado pela delegada (erro básico de concordância nominal), é preciso deixar claro aos amigos leitores que o Latuff está sendo intimado única e exclusivamente por usar sua habilidade para denunciar as violências cometidas pelo Estado em nome dos Jogos Pan-Americanos - com o acobertamento vergonhoso das corporações de mídia.

Como o próprio Latuff ironizou: "Veja, Marcelo, pra você ver como é bom viver numa democracia onde a liberdade de expressão é garantida, especialmente quando você resolve fazer uma charge do mascote do Pan segurando um fuzil ao lado do Caveirão". Pior, pelo que fiquei sabendo, a Patrícia Oliveira, da Rede Contra a Violência, chegou a ser detida pela polícia enquanto vendia as camisetas na rua.



Recapitulando: 542 famílias que vivem no entorno da Vila Pan-Americana foram ameaçadas de expulsão pela Prefeitura de César Maia, o custo dos Jogos Pan-Americanos aumentou em 14 vezes (dinheiro meu e seu indo embora), inúmeras denúncias de contratos superfaturados (um deles detectado pelo TCU), Complexo do Alemão sitiado pela Força Nacional de Segurança e pela PM, pessoas em situação de rua expulsas para sabe-se lá Deus onde. Diante de todo esse descalabro, a polícia ainda vai em cima de quem exerce seu direito de expressão garantido pela Constituição Federal.
(acima, a faixa com a arte de Latuff. Imagem: O Dia)

E ainda com uma alegação tosca, de apropriação da imagem oficial do Pan. Fosse isto verdade, o chargista Aroeira também deveria ter sido intimado, já que ele usou o mesmo mascote em pelo menos três ilustrações publicadas no jornal "O Dia". Como Aroeira não foi intimado, fica caracterizada a perseguição política a Carlos Latuff.

Eu gostaria de saber se a delegada Valéria, da Delegacia contra Crimes Imateriais, poderia expedir um mandado de intimação contra as corporações de mídia que seguidamente agridem a cultura brasileira, nossos hábitos e costumes, nossa história, nossos valores, nossa gente. Ou isso é imaterial demais?


NovaE.inf.br, via Blogoleone

sexta-feira, julho 27, 2007

Mais sobre o movimento cínico

Do Blog do Rovai*:

Cansei, OAB, quero um movimento cívico para rever a concessão da Globo

Nunca vejo, por motivos óbvios, a série Malhação. Ontem, quinta-feira, por conta de uma longa viagem que me fez perder a noite de sono. E fui à cama somente às 13h30, acordei na hora deste programa. E ao ligar a TV no quarto do hotel fui “pego” pelo diálogo de uma personagem que representava uma típica dondoca urbana da nossa elite, seu filho e um sujeito meia-idade, que me pareceu um advogado.

O “doutor”, com cara de homem-bom dizia que seu filho deveria ter de fazer vídeos com pessoas que haviam sido vítimas de violência etc. etc. O filho, ao lado, ficava franzindo a cara e dizendo que aquilo era um absurdo etc. etc. A dondoca achou ótimo, afinal, o garoto mesmo tendo arrebentado a cara de alguém não teria de passar alguns dias numa cela cheia de bandidos pobres e fedidos. Só teria de fazer um vídeo. Fechado o acordo, saíram ambos, mãe e filho. E aí começa outra história...

Dois negros jovens conversavam sobre a questão racial. Um o “revoltado” e outro o “equilibrado”, exatamente no meio desse papo, são abordados pela madame que lhe oferece dois reais e pede para que manobrem o carro para ela: “mas vocês sabem dirigir carro automático, né?”, pergunta.



O que é racismo para a Globo



-- Mãe, mãe, eles não são guardadores de carro, são colegas meus da escola, diz o boca-murcha do garoto.

-- Ai, também... desculpa, desculpa, diz a madame.



Depois disso os dois garotos negros retomam o diálogo. Trata-se de uma reprodução livre porque não tenho a fita, mas garanto que honesta. E se não for, a Globo que a conteste. Percebam os detalhes:



O revoltado – Entendeu, é isso, é assim que as pessoas nos vêem, desse jeito, como gente de baixo. Essa mulher e esse filhinho dela são uns idiotas, riquinhos racistas etc.

O equilibrado – Não concordo, você também está sendo preconceituoso. É preconceito você dizer riquinho desse jeito, como também é preconceito quando as pessoas dizem que loura bonita é burra. Não acho que existe perseguição com a gente por sermos negros.



Entenderam? É a mesmíssima coisa falar loura burra ou preto sujo. Ali Kamel, que faz o papel de porta-voz da família Marinho, lançou um livro recentemente (claro que não li) onde ele trata da nossa igualdade racial. Ou seja, ele ataca os idiotas, como eu, que consideram que o Brasil é um país onde a cor da pele faz diferença sim. E que é preciso fazer com que os negros (ou pretos, como preferirem, não vejo racismo na diferença entre esses termos) precisam de compensações para disputarem com brancos em pé de igualdade. É disso que se trata.

A Globo comprou a disputa contra as cotas e está fazendo novela e malhação com elas. É por isso que precisamos começar a discutir qual é o limite de uma empresa privada de comunicação quando opera ondas públicas de rádio e TV. A sociedade tem o direito de debater a questão das cotas. Tem o direito de ser contra ou a favor. E os meios de comunicação têm o dever de colocar esse debate para ser realizado em pé de igualdade. Eu, por exemplo, branco por fora e negro no resto, quero debater o tema. E não aceito que a dona Globo e os seus papagaios de plantão usem meu espaço de comunicação para fazer o que quiserem. A concessão que eles têm também é minha. É de todo cidadão brasileiro.



E vem coisa pior por aí



A Globo está testando campanhas. É bom ficar de olhos abertos. Agora eles estão numa para descaracterizar a luta histórica do povo negro por igualdade. Por chances iguais. Ontem estavam, via programa do Jô, por exemplo, gritando contra a censura, por conta da classificação indicativa. Agora, acabo de ler, que a OAB-SP vai lançar uma campanha cujo slogan será...tan-tan-tan:. “cansei”. E vai veicular filmes e publicidades em jornais, revistas e TVs. Entendi.

Os veículos de comunicação vão, via OAB-SP, que liderara o movimento, fazer uma campanha contra o governo, será isso? Quero saber se a OAB vai pagar essa campanha e quanto ela custará? Estou solicitando essa informação pela revista Fórum para a assessoria de imprensa da Ordem. Ele chamam de movimento cívico, não de campanha, ok, entendi, então quanto vai custar a divulgação nos meios de comunicação desse movimento cívico? Se a veiculação dela for gratuita, é bom começar a discutir como rever as concessões públicas de rádio e TV o mais rápido possível.

É bom começar a fazer algo. A concessão da Globo vence em outubro. Talvez seja o caso de organizar um movimento cívico para discuti-la.

* Renato Rovai - editor da Revista Fórum.

A marcha dos cansados

De que será que eles cansaram mais? de ter que dividir seus privilégios com cidadãos das classes CDE? de enfrentar fila no aeroporto e no saguão do hotel porque agora mais gente pode viajar como eles? de ter um metalúrgico como Presidente da República? ou cansaram de sentir saudade do poder?

Do Blog do Mino:

A Marcha

Estamos às vésperas do retorno da Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade. Agora passa a se chamar Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros. Trata-se de uma fórmula mais elaborada, mais complexa, mas os objetivos são os mesmos. O movimento foi lançado pela OAB de São Paulo, e conta com o respaldo de figuras importantes da Fiesp e da Associação Comercial paulista, e com a divulgação de televisões e rádios, por ora não melhor especificadas. A idéia inicial faísca no escritório de João Dória Jr., o Iconoclasta Mor, aquele que destruiu a pauladas o monumento dedicado a Cláudio Abramo, o grande jornalista, em uma pracinha do Jardim Europa. Ali desceu o Espírito Santo, e iluminou os primeiros carbonários da grana, unidos em torno do slogan: Cansei. Uma campanha publicitária, oferecida de graça por Nizan Guanaes, gênio da propaganda nativa de inolvidável extração tucana, mais badalado entre nós do que George Clooney no resto do mundo, insistirá em peças destinadas a expor o pensamento dos graúdos envolvidos: “cansei do caos aéreo”, “cansei de bala perdida”, “cansei de pagar tantos impostos”. É do conhecimento até do mundo mineral a quem esses valentes senhores atribuem a culpa por os males que denunciam: nem é ao governo como um todo, e sim ao Lula, invasor bárbaro de uma área reservada aos doutores. Mas o presidente da OAB paulista, certo D’Urso, diz que o movimento não tem conotação política. Enquanto isso, às sorrelfas, o pessoal pede instruções aos mestres. Alguns ligam para Fernando Henrique Cardoso, outros para José Serra. São os derradeiros retoques da tucanização da elite brasileira, a mesma que sentou-se em cima de um tesouro chamado Brasil e só cuidou de predá-lo, com os resultados conhecidos. Incompetência generalizada, recorde mundial em má distribuição de renda, baixo crescimento, educação e saúde descuradas até o limite do crime, miséria da maioria etc. etc. Acorda Lula, chama o teu povo.

terça-feira, julho 24, 2007

Laudo do IPT: Congonhas está acima das exigências técnicas

Deu no Hora do Povo:

Vejam os amigos leitores essa jóia encontrada na última edição da revista “Veja”: “A culpa pelo acidente da TAM pode ser da pista inacabada de Congonhas, de um defeito mecânico do avião, de um erro do piloto, da chuva, do acaso, de tudo isso combinado. A única certeza é a parcela de responsabilidade do governo pela tragédia”.


GOLPISMO


Em suma, a realidade - isto é, a verdade - não interessa. Não importa a causa do desastre. A única coisa que importa é que a “Veja” quer usar a tragédia para atacar o governo. Mesmo que o avião tenha caído porque um gavião que entrou pela turbina, ou devido a um ataque alienígena, a culpa é de Lula. O que é isso senão uma confissão de golpismo, puro e simples, e sem disfarces? Para cevar um golpe de Estado contra Lula, vale tudo. Inclusive desrespeitar famílias e mortos, tentando usá-los em uma manipulação meramente golpista.


Durante meses, mantêm uma campanha sórdida para criar uma crise no setor aéreo. E, sem dúvida, conseguiram criá-la, à custa de deixar controladores, pilotos e outros profissionais à beira de um ataque de nervos. Mas quando acontece uma desgraça, não importa a causa, a culpa é do presidente Lula.


Porém, não é todo golpista que é tão burro quanto os da “Veja” para confessar sua torpeza. A maioria percebe que tem de agitar uma causa do acidente que sirva aos seus objetivos. Não foi por outra razão que tentaram culpar a pista – isto é, as obras que o governo federal promoveu na pista de Congonhas. Os golpistas menos estúpidos percebem, também, que não adianta fugir do assunto e dizer, como a “Folha de S. Paulo”, que mesmo que a pista seja uma maravilha, o problema é que o governo não fechou Congonhas. É preciso um motivo para fechar Congonhas – e sempre alguém lembrará que eles foram contra a construção do aeroporto de Cumbica e sempre se opuseram à utilização do aeroporto de Viracopos.


O que está em questão é a causa do acidente. Exatamente por isso é que essa mídia escondeu vergonhosamente o parecer do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) exarado no dia 19 – dois dias depois da tragédia de Congonhas.


O Parecer Técnico nº 12792-301, assinado pela engenheira Márcia Aps, diretora do Centro de Tecnologia de Obras de Infra-estrutura, do IPT, é uma análise da pista principal do aeroporto de Congonhas depois de concluída a reforma empreendida pelo governo federal. Afirmaram os técnicos do IPT: “a mistura asfáltica (....) pode ser considerada tecnicamente como apta para o tráfego de aeronaves, veículos e equipamento de obras. (....) no que tange à concepção do revestimento asfáltico quanto às suas propriedades mecânicas, esta camada de rolamento atende às especificações de projeto e todas as implementações adotadas adicionaram características positivas”.


Quanto à questão da pista molhada, diz o IPT: “Os valores encontrados nos dois monitoramentos recentemente realizados, mostram-se acima dos valores recomendados do ponto de vista de atrito em pista molhada, tendo em vista os limites recomendados internacionalmente (ICAO-Anexo 14) e nacionalmente (DAC). Pela análise realizada, no que tange às condições de superfície do revestimento asfáltico, os valores medidos de atrito pela Infraero na pista principal por meio do equipamento mu-meter, na situação atual, revelam-se acima dos limites mínimos especificados”.


Em resumo: a pista principal de Congonhas, após as obras, não tinha e não tem qualquer problema que justifique sua interdição. Muito pelo contrário, ela estava – e está – acima das exigências técnicas e dos padrões internacionais. Na verdade, após a reforma, ela é uma das melhores pistas do país. E isso deve-se, exclusivamente – faça-se justiça – ao governo Lula.


No entanto, esse parecer do IPT foi escondido pela mídia. Por quê? Exatamente porque destruía a forjicação de que o governo Lula fosse o responsável pelo acidente. E o interesse único dessa mídia era culpar o governo, em especial, a Lula.


A existência do parecer do IPT foi revelada na sexta-feira, dia 20, por Fernando Rodrigues, em seu blog na Internet. No dia seguinte, apesar de Rodrigues ser um dos principais jornalistas da “Folha de S. Paulo”, esta enterrou o parecer na página 6 de um caderno interno. E mesmo assim é uma nota tão pequena que passou desapercebida à maioria dos leitores. No mesmo dia, na “Globo”, o Jornal Nacional deu a notícia do laudo do IPT e em seguida colocou a imagem de um piloto da TAM garantindo que a pista de Congonhas “não é segura”. Assim, um parecer altamente qualificado foi supostamente desmentido pelo que um piloto acha – ou tem interesse em achar. É mais ou menos como se alhos e juntas homocinéticas servissem para a mesma coisa. Ou como se os primeiros fossem melhores que as segundas para a mesma coisa.


No resto da mídia golpista, menos ainda apareceu. O relatório somente fez sua entrada no dia 22, quando um editorialista do “Estadão”, jornal conhecido por seu amor às causas progressistas e populares – e em especial por sua fascinação pelo presidente Lula -, publicou uma carta do presidente do IPT, supostamente desmentindo Rodrigues. Alguns aventaram a hipótese de tal carta haver sido fabricada por ordem do governador José Serra, que é quem nomeia o presidente do IPT. Realmente, Serra havia desmentido a existência do parecer do IPT na própria terça-feira, dia do desastre, quando o governo federal, que o havia solicitado ao IPT, divulgou que ele existia. Naquele momento, o parecer do IPT já estava pronto. Mas só foi assinado e entregue à Infraero na sexta-feira. Serra, portanto, poderia não conhecer a existência do relatório. Mas, então, por que desmentir sua existência de pronto, tão rapidamente e com tanta certeza?


ENROLAÇÃO


O presidente do IPT pretende desmentir Rodrigues – apesar deste haver divulgado a íntegra do relatório, que fala por si próprio. Segundo o funcionário, o IPT jamais emitiu laudo “liberando a pista”. É verdade, mas quem falou nisso? Reproduzimos a resposta de Rodrigues ao desmentido do presidente do IPT: “post scriptum (23.jul.2007): o post acima [que relata a existência do parecer do IPT] tem 518 palavras. Faz um relato óbvio: o parecer do IPT não aponta óbices na pista de Congonhas. Não fala em liberação de pista. Relatou-se, portanto, um fato: a existência de um parecer. Pois o IPT produziu uma resposta de 1.184 palavras para dizer a mesma coisa... de outro jeito. É uma enrolação fantástica (‘há várias afirmações do jornalista que merecem ressalvas’). Essa gente é maluca?”.


Maluca, propriamente, não. É golpista – e sem o menor pudor de esconder documentos ou desmentir o que nunca foi dito.


por Carlos Lopes

segunda-feira, julho 23, 2007

"Serra lidera o golpe mediático"

Do Paulo Henrique Amorim, no Conversa Afiada:

Serra lidera o golpe mediático

Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil.


. O jornalista Fernando Rodrigues publicou em seu site no Uol a íntegra de um parecer do IPT feito depois da obra na pista principal de Congonhas.


. O laudo é claríssimo: a pista principal de Congonhas é de excelente qualidade.


. A Folha de S. Paulo, que é dona do Uol e emprega Fernando, escondeu a notícia.


. O Conversa Afiada contou essa história.


. E previu que o laudo publicado por Fernando poderia ser “revisado” pelo presidente eleito José Serra, que manda no IPT.


. Agora, a manchete do Último Segundo do iG contém informação do Observatório da Imprensa, de autoria do jornalista Luis Weiss, editorialista do Estadão (clique aqui).


. Ele apresenta um outro relatório do IPT.


. Que não libera a pista.


. O que Fernando tinha publicado não era uma “liberação” da pista.


. Mas, o parecer de um órgão supostamente sério e ilibado, que falava da excelência da pista de Congonhas.


. O laudo de Weiss, quatro dias depois, é outro.


. O que leva à conclusão de que o presidente eleito José Serra tem a pretensão de utilizar o IPT como carta de manobra num jogo político que está na cara de todo mundo: um golpe de Estado, liderado pela mídia golpista, de que ele será o maior beneficiário.


. Obter pelo golpe o que não conseguiu nas urnas.


. E usar a mídia como a tropa de infantaria.


domingo, julho 22, 2007

Cumplicidade, por Luis Fernando Verissimo

Cumplicidade

Uma comprida palavra em alemão (há uma comprida palavra em alemão para tudo) descreve a “guerra de mentira” que começou com os primeiros avanços da Alemanha nazista sobre seus vizinhos. A pouca resistência aos ataques e o entendimento com Hitler buscado pela diplomacia européia mesmo quando os tanques já rolavam se explicam pelo temor comum ao comunismo.

A ameaça maior vinha do Leste, dos bolcheviques, e da subversão interna. Só o fascismo em marcha poderia enfrentá-la. Assim, muita gente boa escolheu Hitler como o mal menor. Ou, comparado a Stalin, o mau menor. Era notório o entusiasmo pelo nazismo em setores da aristocracia inglesa, por exemplo, e dizem até que o rei Edward VIII foi obrigado a renunciar não só pelo seu amor a uma plebéia, mas pela sua simpatia à suástica.

Não tardou para Hitler desiludir seus apologistas e a guerra falsa se transformar em guerra mesmo, todos contra o fascismo. Mas, por algum tempo, os nazistas tiveram seu coro de admiradores bem-intencionados na Europa e no resto do mundo — inclusive no Brasil do Estado Novo. Mais tarde estes veriam, em retrospecto, do que exatamente tinham sido cúmplices sem saber. Na hora, aderir ao coro parecia à coisa certa.

Comunistas aqui e no resto do mundo tiveram experiência parecida: apegarem-se sem fazer perguntas ao seu ideal, que, em muitos casos, nascera da oposição ao fascismo, mesmo já sabendo que o ideal estava sendo desvirtuado pela experiência soviética, foi uma opção pela cumplicidade.

Fosse por sentimentalismo, ingenuidade ou convicção, quem continuou fiel à ortodoxia comunista foi cúmplice dos crimes do stalinismo. A coisa certa teria sido pular fora do coro, inclusive para preservar o ideal.

Se estes dois exemplos ensinam alguma coisa é isto: antes de participar de um coro, veja quem estará do seu lado. No Brasil do Lula, é grande a tentação de entrar no coro que vaia o presidente. Ao seu lado no coro poderá estar alguém que pensa como você, que também acha que Lula ainda não fez o que precisa fazer e que há muita mutreta a ser explicada e muita coisa a ser vaiada. Mas olhe os outros.

Veja onde você está metido, com quem está fazendo coro, de quem está sendo cúmplice. A companhia do que há de mais preconceituoso e reacionário no país inibe qualquer crítica ao Lula, mesmo as que ele merece.

Enfim: antes de entrar num coro, olhe em volta.

Luis Fernando Veríssimo

via Blog do Nassif

O texto foi publicado antes, na quinta-feira dia 19/07/2007, na coluna do Luis Fernando Veríssimo na ZMentira.

quinta-feira, julho 12, 2007

Editora americana rejeita nudez de desenho

Deu na Der Spiegel:

Editora americana rejeita nudez de desenho

Os desenhos realmente são inofensivos. Mas uma editora americana decidiu não publicar uma série de livros para crianças de Rotraut Susane Berner. O problema? Desenhos de seios e de um pênis de meio milímetro.

Franziska Bossy e Elke Schmitter

É raro que um livro alemão gere interesse nos EUA, e os livros infantis, em geral, ficam completamente fora do radar. Assim, o deleite foi ainda maior na editora Hildesheimer Gerstenberg quando recebeu um pedido da fornecedora de livros infantis nos EUA Boyds Mills Press, que queria uma série de Rotraut Susanne Berner.

"Foi realmente uma sensação", disse Berner ao Spiegel Online. Entretanto, algumas mudanças teriam que ser feitas antes dos livros serem lançados ao público americano. Na primeira, os fumantes tinham que ser removidos das ilustrações. Mas isso não foi tudo. Uma imagem mostra uma cena de uma galeria de arte - e, por realismo, há um cartum de um nu pendurado na parede e uma estátua minúscula, de sete milímetros, de um homem nu em um pedestal.

As crianças americanas, obviamente, jamais conseguiriam lidar com tal exposição do corpo humano. A editora americana, meio sem jeito, pediu sua remoção.

A autora, nada surpreendentemente, considerou o pedido absurdo. O mini-pinto da estátua, salienta, não tem nem meio milímetro. E a mulher nua pendurada na parede? Não chega nem a ser um retrato realista da anatomia feminina. A editora americana ficou envergonhada de pedir as mudanças, diz Berner, mas tinha ainda mais medo da reação das mães e pais americanos, se "junior" fosse exposto a tal pornografia.

Para a autora, qualquer tipo de auto-censura está fora de questão. Ela disse que poderia até ter colocado barras pretas na frente dos pontos problemáticos, mas que a "censura invisível" era impensável. "Se você vai censurar algo, então o leitor deve ter consciência disso", disse ao Spiegel Online.

A editora americana, porém, não aceitou a proposta - afinal, quem quer chamar atenção das próprias supressões. Ou seja, a Hildesheimer terá que abdicar da honra de ser publicada nos EUA - e as crianças americanas estão seguras da chocante sensibilidade alemã.

Muitas crianças no resto do mundo, entretanto, já foram expostas. Berner é uma das autoras mais vendidas em livros contemporâneos infantis. E a série, que acompanha alegremente a vida diária de crianças e adultos pelas quatro estações, já é a mais vendida em 13 países, do Japão às Ilhas Faroë. "Até agora, nenhum outro país preocupou-se com os peitinhos de desenho e mini-pênis", disse Berner.

Tradução: Deborah Weinberg - para o UOL Mídia Global.