sexta-feira, julho 27, 2007

Mais sobre o movimento cínico

Do Blog do Rovai*:

Cansei, OAB, quero um movimento cívico para rever a concessão da Globo

Nunca vejo, por motivos óbvios, a série Malhação. Ontem, quinta-feira, por conta de uma longa viagem que me fez perder a noite de sono. E fui à cama somente às 13h30, acordei na hora deste programa. E ao ligar a TV no quarto do hotel fui “pego” pelo diálogo de uma personagem que representava uma típica dondoca urbana da nossa elite, seu filho e um sujeito meia-idade, que me pareceu um advogado.

O “doutor”, com cara de homem-bom dizia que seu filho deveria ter de fazer vídeos com pessoas que haviam sido vítimas de violência etc. etc. O filho, ao lado, ficava franzindo a cara e dizendo que aquilo era um absurdo etc. etc. A dondoca achou ótimo, afinal, o garoto mesmo tendo arrebentado a cara de alguém não teria de passar alguns dias numa cela cheia de bandidos pobres e fedidos. Só teria de fazer um vídeo. Fechado o acordo, saíram ambos, mãe e filho. E aí começa outra história...

Dois negros jovens conversavam sobre a questão racial. Um o “revoltado” e outro o “equilibrado”, exatamente no meio desse papo, são abordados pela madame que lhe oferece dois reais e pede para que manobrem o carro para ela: “mas vocês sabem dirigir carro automático, né?”, pergunta.



O que é racismo para a Globo



-- Mãe, mãe, eles não são guardadores de carro, são colegas meus da escola, diz o boca-murcha do garoto.

-- Ai, também... desculpa, desculpa, diz a madame.



Depois disso os dois garotos negros retomam o diálogo. Trata-se de uma reprodução livre porque não tenho a fita, mas garanto que honesta. E se não for, a Globo que a conteste. Percebam os detalhes:



O revoltado – Entendeu, é isso, é assim que as pessoas nos vêem, desse jeito, como gente de baixo. Essa mulher e esse filhinho dela são uns idiotas, riquinhos racistas etc.

O equilibrado – Não concordo, você também está sendo preconceituoso. É preconceito você dizer riquinho desse jeito, como também é preconceito quando as pessoas dizem que loura bonita é burra. Não acho que existe perseguição com a gente por sermos negros.



Entenderam? É a mesmíssima coisa falar loura burra ou preto sujo. Ali Kamel, que faz o papel de porta-voz da família Marinho, lançou um livro recentemente (claro que não li) onde ele trata da nossa igualdade racial. Ou seja, ele ataca os idiotas, como eu, que consideram que o Brasil é um país onde a cor da pele faz diferença sim. E que é preciso fazer com que os negros (ou pretos, como preferirem, não vejo racismo na diferença entre esses termos) precisam de compensações para disputarem com brancos em pé de igualdade. É disso que se trata.

A Globo comprou a disputa contra as cotas e está fazendo novela e malhação com elas. É por isso que precisamos começar a discutir qual é o limite de uma empresa privada de comunicação quando opera ondas públicas de rádio e TV. A sociedade tem o direito de debater a questão das cotas. Tem o direito de ser contra ou a favor. E os meios de comunicação têm o dever de colocar esse debate para ser realizado em pé de igualdade. Eu, por exemplo, branco por fora e negro no resto, quero debater o tema. E não aceito que a dona Globo e os seus papagaios de plantão usem meu espaço de comunicação para fazer o que quiserem. A concessão que eles têm também é minha. É de todo cidadão brasileiro.



E vem coisa pior por aí



A Globo está testando campanhas. É bom ficar de olhos abertos. Agora eles estão numa para descaracterizar a luta histórica do povo negro por igualdade. Por chances iguais. Ontem estavam, via programa do Jô, por exemplo, gritando contra a censura, por conta da classificação indicativa. Agora, acabo de ler, que a OAB-SP vai lançar uma campanha cujo slogan será...tan-tan-tan:. “cansei”. E vai veicular filmes e publicidades em jornais, revistas e TVs. Entendi.

Os veículos de comunicação vão, via OAB-SP, que liderara o movimento, fazer uma campanha contra o governo, será isso? Quero saber se a OAB vai pagar essa campanha e quanto ela custará? Estou solicitando essa informação pela revista Fórum para a assessoria de imprensa da Ordem. Ele chamam de movimento cívico, não de campanha, ok, entendi, então quanto vai custar a divulgação nos meios de comunicação desse movimento cívico? Se a veiculação dela for gratuita, é bom começar a discutir como rever as concessões públicas de rádio e TV o mais rápido possível.

É bom começar a fazer algo. A concessão da Globo vence em outubro. Talvez seja o caso de organizar um movimento cívico para discuti-la.

* Renato Rovai - editor da Revista Fórum.

2 comentários:

Cé S. disse...

parabéns pelo trabalho, joice.

joice disse...

trabalho? :)

gracias, césar.