quinta-feira, agosto 30, 2007

Robert Fisk: Até eu questiono a verdade sobre o 11/9

Artigo do jornalista Robert Fisk para o Independent, traduzido para o portal Vermelho. Leia aqui a versão original em inglês.

Até eu questiono a “verdade” sobre o 11/9

Toda vez que faço uma palestra sobre o Oriente Médio tem sempre alguém na platéia — apenas um — que eu chamo de ''raivoso''. Desculpem-me aqueles homens e mulheres que vão até minhas palestras com questões brilhantes e pertinentes — na maioria das vezes muito deferentes para mim como jornalista — e que mostram que sabem sobre a tragédia do Oriente Médio muito mais que os jornalistas que cobrem o assunto. Mas o ''raivoso'' é real. Ele toma a forma física tanto em Estocolmo quando em Oxford, tanto em São Paulo quanto em Ierevan, no Cairo, em Los Angeles e, na forma feminina, em Barcelona. Não importa o país, sempre haverá um raivoso.


A pergunta dele — ou dela — é mais ou menos assim. Por que, se você se diz um jornalista livre, não relata o que realmente sabe sobre o 11 de setembro? Por que você não conta a verdade — que a administração Bush (ou a CIA, Mossad, sabe-se lá o quê) explodiu as torres gêmeas? Por que você não revela os segredos por trás do 11 de setembro?


A convicção em cada pergunta é que Fisk sabe — que Fisk tem um absoluto, concreto, cofre de metal que contém a prova final do que ''todo mundo sabe'' (essa é a frase usual) quem destruiu as torres gêmeas. Algumas vezes o raivoso está claramente estressado. Um homem em Cork gritou sua pergunta para mim, daí — no momento que sugeri que sua versão do plano era um pouco ímpar — ele deixou a platéia, xingando e chutando as cadeiras que via pela frente.


Geralmente, tento dizer a ''verdade''; que, enquanto existem questões não respondidas sobre o 11 de setembro, eu sou o correspondente do The Independent, não o correspondente conspiratório; que eu vejo muitas maquinações concretas às minhas mãos no Líbano, no Iraque, na Síria, no Golfo, etc, para me preocupar sobre planos imaginários em Manhattan. Meu argumento final — um nocaute, no meu ponto de vista — é que a administração Bush ferrou tudo — do ponto de vista militar, politico e diplomático — que tentou fazer no Oriente Médio; então, como na Terra essa administração poderia realizar com sucesso os crimes internacionais contra a humanidade nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001?


Bem, eu ainda defendo esse ponto de vista. Qualquer militar que diga — como os americanos fizeram dois dias depois — que a al-Qaida está desbaratada não é capaz de fazer algo na escala do que aconteceu em 11 de setembro. ''Nós desbaratamos a al-Qaida, a pusemos para correr'', disse o coronel David Sutherland sobre a ''Operação Martelo Relâmpago'' na província iraquiana de Diyala. ''Seu medo de encarar nossas forças prova que os terroristas sabem que não há lugar seguro para eles''. E, mais do mesmo, tudo isso é falso.


Horas depois, a al-Qaida atacou Baquba com a força de um batalhão e massacrou todos os xeques locais, que haviam sido encastelados pelas mãos dos americanos. Isso me fez lembrar o Vietnã, a guerra que George Bush assistiu dos céus do Texas — o que pode explicar o porquê dele, esta semana, misturar o fim da guerra do Vietnã com o genocídio em um outro país chamado Camboja, cuja população foi salva pelos mesmos vietnamitas contra os quais os colegas mais corajosos de Bush lutaram anos a fio.


Mas, aqui vamos nós. Eu estou cada vez mais encafifado com as inconsistências da narrativa oficial do 11 de setembro. Não apenas pelo óbvio ''non sequiturs'': onde estão as partes da aeronave (motores, etc) que atacou o Pentágono? Por que as autoridades envolvidas com o vôo 93 da United (que caiu na Pensilvânia) foram obrigadas a fechar o bico? Por que os restos do vôo 93 se espalham por quilômetros quando supostamente o avião chocou-se contra o solo ainda inteiro? Novamente, não estou falando sobre a ''pesquisa'' maluca de David Icke (Alice no País das Maravilhas e o Desastre do World Trade Center), que poderia fazer qualquer homem são tentar decorar a lista telefônica.


Eu estou me referindo a questões científicas. Se é verdade, por exemplo, que o querosene queima a 820º Celsius sob ótimas condições, como é que o aço das duas torres, cujo ponto de fusão está supostamente acima de 1.480ºC, poderiam ter entrado em colapso na mesma velocidade? Elas cairam em 8,1 segundos e 10 segundos. E a terceira torre, o World Trade Centre Building 7, ou edifício Salmon Brothers, que desmoronou em 6,6 segundos até seus alicerces às 17h20 do dia 11 de setembro? Por que ela desmoronou daquele jeito se nenhuma aeronave a atingiu? O Instituto Americano de Padrões e Tecnologia analisou a causa da destruição dos três edifícios. Eles ainda não relataram nada sobre o WTC 7. Dois proeminentes professores americanos de engenharia mecânica — com toda a certeza fora da categoria dos ''raivosos'' — processam o Instituto na Justiça contra o que vaticina o relatório final, argumentando que ele pode ser ''fraudulento ou enganador''.


Jornalisticamente, existem muitas coisas ímpares sobre o 11 de setembro. Relatórios iniciais de repórteres que afirmam terem ouvido explosões nas torres — que bem poderiam ser as estruturas se rompendo — são fáceis de desmentir. Menos o de que o relato de que o corpo de uma comissária da tripulação de um dos vôos foi descoberto nas ruas de Manhattan com suas mãos atadas. OK, então vamos assumir que isso foi só boataria de momento, assim como a lista da CIA de seqüestradores-suicidas, que incluiam três homens que estavam — e ainda estão — vivos da silva e vivendo no Oriente Médio, foi um erro inicial da inteligência americana.


Mas e o que dizer da esquisita carta supostamente escrita por Mohamed Atta, o assassino-seqüestrador egípcio de cara assustada, cujo conselho ''islâmico'' a seus cruéis camaradas — revelado pela CIA — mistificou cada amigo muçulmano que eu conheço no Oriente Médio? Atta mencionou sua família — o que nenhum muçulmano, mesmo mal-intencionado, gostaria de incluir em tal oração final. Ele lembra seus companheiros-de-morte para fazerem a primeira oração muçulmana do dia e então continua a citá-la. Mas nenhum muçulmano precisa de tal lembrança — para não dizer nada do texto da oração do ''Fajr'' que foi incluído na carta de Atta.


Deixem-me repetir mais uma vez. Eu não sou um teórico da conspiração. Poupem-me dos raivosos. Poupem-me das maquinações. Mas como todo mundo, eu gostaria de conhecer a história completa do 11 de setembro, não só porque ela foi o estopim dessa campanha lunática e meretrícia da ''guerra ao terrorismo'', que nos levou ao desastre no Iraque e Afeganistão e à maioria do Oriente Médio. Uma vez, Bush despachou alegremente seu assessor Karl Rove com a frase: ''nós somos um império agora — nós criamos nossa própria realidade''. Verdade? Então conte para a gente. Isso iria evitar que pessoas saíssem chutando as cadeiras por aí.


sexta-feira, agosto 17, 2007

Os bocós e os caras legais

Do blog Tô Cansadinho, via Animot:


Em sua campanha, o Estadão explora as supostas "vidas privadas" de alguns blogueiros. Acertaram em cheio! Blogueiro, na vida privada, é tudo um bando de bocó!

Muito diferente, por exemplo, de Pimenta Neves - então EDITOR DO ESTADÃO - que na vida privada preferiu matar uma jornalista com tiros nas costas. Esse sim é um cara legal, né?

terça-feira, agosto 14, 2007

O estadinho do Estadão















Ao sentir o impacto da ação da blogosfera que diariamente vem pondo as cartas na mesa e denunciando as velhacarias da grande mídia, o Estadão apela para a infantil estratégia da desqualificação generalizada dos blogueiros e de todo conteúdo considerado não-profissional. Até quando eles acharam que poderiam tratar os leitores como idiotas? É claro, mas sempre seguindo os mais altos padrões de profissionalismo.. Ah vão se catar!

Leia mais aqui ó:
Exército Blogoleone
Animot
Palanque do Blackão

Alerta contra a concentração de poder na mídia brasileira

Do Vermelho, por Gilberto de Souza*:

Alerta contra a concentração de poder na mídia brasileira

Leio com pesar a declaração publicada na página eletrônica da Agência Carta Maior por seu diretor-presidente, Joaquim Ernesto Palhares, e o editor-chefe, Flávio Wolf Aguiar. Trata-se de um depoimento sincero acerca do maior risco à liberdade dos brasileiros e ao que parece ser o inexorável controle da mídia nacional por um número cada vez mais reduzido de empresários ligados à direita e aos interesses internacionais, estruturados para corromper a independência dos meios de comunicação.

O enfraquecimento da Agência Carta Maior e a inércia de setores inteiros da produção intelectual, entre eles o de jornalismo, impresso e audiovisual, traduzem a perigosa concentração das notícias e informações no conjunto dominado pelas empresas dos conglomerados formados pelas editoras Abril, Folha da Manhã, Globo e Grupo Estado.


Apenas estas quatro empresas e suas sucursais controlam mais de 80% da mídia nacional, de acordo com avaliação de auditores independentes, consultados pelo Correio do Brasil. O controle da comunicação de massa é, na realidade, a maior manobra política da direita em curso desde o golpe de Estado de 1964.


Reduzir a participação das forças conservadoras no controle político do país é, hoje, o maior desafio enfrentado por aqueles brasileiros que, por duas legislaturas consecutivas, elegeram um representante das classes trabalhadoras para a Presidência da República. Nas urnas, dissemos um sonoro "Não!" ao neoliberalismo e ao desmanche progressivo e criminoso do Estado. A força do capitalismo internacional, porém, não perdoou a autodeterminação brasileira e age em constante e crescente desafio às leis em vigor, contra os interesses mais legítimos desta nação. Com a Veja no pelotão de frente deste assalto aos planos de uma sociedade mais justa e agindo no completo interesse dos grupos econômicos mais poderosos em atividade no país, a Folha de S. Paulo, a TV Globo, O Globo e O Estado de S. Paulo completam a força tática em operação para deter o avanço do socialismo no Brasil. Cabe a estes, deliberadamente, levantar uma muralha de informação e contra-informação - não necessariamente nessa ordem - para iludir, distrair e falsear a opinião pública.


Tais afirmações seriam levianas caso não fosse possível confirmá-las. Basta, no entanto, cinco minutos de leitura a qualquer um desses periódicos ou uma simples análise do conteúdo divulgado pela TV Globo e suas afiliadas, em todo o território nacional, para perceber a que senhor eles servem. E não será ao resultado das urnas, com certeza. Muito menos à proteção dos ideais mais legítimos de liberdade e justiça. Percebe-se, claramente, que a linha editorial daqueles meios de comunicação visa combater toda e qualquer ação mais próxima do socialismo ou da contestação aos preceitos de Washington, de Wall Street e da City. O poder do dinheiro, claro, alicia parte dos jornalistas brasileiros e estes passam a servir com lealdade às empresas em linha com as matrizes. Esta sinergia produz a concentração de quase todo o poder da mídia e o controle absoluto das verbas publicitárias tanto do setor privado quanto do estatal.


Blindado pela fórmula que reúne a força trabalhadora com empregos estáveis, remunerados com o resultado do controle da publicidade, o sistema atende aos interesses internacionais e avança contra a soberania brasileira. Vê-se, claramente neste movimento, a tentativa de inteiro controle do setor.


O plano seria perfeito, se não fosse arrogante.


O ataque às liberdades democráticas, disfarçado na pele de cordeiro da liberdade de imprensa, está cada vez mais acintoso na preparação do ardil que antecede a mais uma eleição, prevista para o ano que vem. De posse de verdadeiras e consideráveis fortunas, dispostos a investir cada centavo na preservação de um quinhão cada vez maior de poder, os barões da mídia mobilizam-se para desarticular os canais de voz da resistência. E o que é o pior, com o apoio do governo contra o qual eles combatem. A este só resta chamar de burro ou de mal intencionado, pois é inadmissível alimentar tão voraz inimigo de si mesmo. A não ser que se trate de uma reação auto-imune, na qual o organismo encarrega-se da própria destruição.


Por pouco não crucificam o presidente Hugo Chávez, por tomar uma medida decisiva contra o braço venezuelano do capitalismo internacional. Não fazia mesmo sentido que o Estado continuasse a permissionar - para ganhar rios de dinheiro - um inimigo declarado da democracia e da vontade daquela nação, a exemplo do que hoje acontece aqui no Brasil. Funcione, pois, para quem se dispuser a pagar pela assinatura daquelas baboseiras. E não são muitos, como se constata pela audiência do canal defenestrado da grade pública, após sua migração para o sinal privado.


Ainda que o espírito mineiro de brasilidade, sempre conciliador e bom de conversa, pondere para que não se adotem aqui em nossas plagas medidas drásticas como vemos por aí, mundo afora, é uma impudência permitir que continuem a nadar de braçada os detratores dos interesses nacionais, no mar de iniqüidade que assola o país, ao passo que segmentos éticos e determinados a respeitar a vontade da maioria absoluta do eleitorado brasileiro sejam vitimados pela força bruta da concentração de poder. O que está ocorrendo com Carta Maior é o que já aconteceu ao longo das últimas décadas com centenas de iniciativas de jornalistas sérios, que viram podadas quaisquer chances de exercer, na sua plenitude, a verdadeira liberdade de imprensa, esta sim, dedicada a combater as injustiças, promover o bem comum e a dignidade dos cidadãos.


Do jeito que vão as coisas, somente será possível sobreviver nesse campo de batalha aqueles que adotarem uma estratégia de guerrilha e, na Sierra Maestra da midia nacional, resistirem às forças brutais do mercado.


É espantoso, no entanto, até agora não existir qualquer iniciativa por parte destes veículos que lutam pelo bom jornalismo para se unir, nesse momento de pleno confronto, contra o inimigo comum. Ao contrário das quatro irmãs xifópagas que crescem viçosas, agarradas às tetas do capital transnacional, minguam as iniciativas brasileiras por falta de um foro adequado para se debater e implementar a democratização da informação e o respeito à diversidade de pensamento. Separados, seremos todos alvos fáceis na mira do Tio Sam, enquanto que juntas, estas iniciativas terão melhor sorte nessa guerra sem quartel, travada no dia-a-dia das redações.

Conclamo aos jornalistas de bem que se rebelem, ainda que em segredo, contra a dominação que se avizinha. Chamo a todos aqueles empresários conscientes e, acima de tudo, cientes de seus deveres para com a sociedade brasileira, para se unir em torno de medidas urgentes contra o cartel da midia e seus tentáculos junto à opinião pública.


Ainda que pregue no deserto, creio que o Correio do Brasil se fará ouvir por aqueles que ainda têm sensibilidade suficiente para se indignar e lutar, ao invés de entregar, de mão beijada ao estrangeiro, a consciência nacional e a alma desse país.


* Editor-chefe do Correio do Brasil.

via RS Urgente

quinta-feira, agosto 09, 2007

A empresa do ano é... a TAM!

Parece piada, mas...

O Escriba:

Sério!! Pelo menos para a revista Exame, que premiou ontem à noite as melhores e maiores empresas de 18 setores da economia brasileira. É mole ou quer mais? E o mais bizarro é que em 1996, poucos dias antes da queda de um Fokker 100 seu em Congonhas, que matou uma centena de pessoas, a empresa recebeu o mesmo prêmio. Pelo sim, pelo não, que tal a TAM se tornar hors-concours nas próximas escolhas da revista?

O clima no prédio da Abril na Marginal Pinheiros (SP) não é dos melhores. Queriam cancelar a premiação, mas alguém bancou e a merda foi feita. Cabeças vão rolar…


(Agora, uma pergunta: quantos editoriais, colunas e artigos vc lerá nos próximos dias criticando a entrega do prêmio pela revista Exame, como foi feito quando dirigentes da Anac receberam medalhas em Brasília?)


"Testando hipóteses" - Uma nova teoria do Jornalismo ou apenas mais um eufemismo da Idade Mídia?















Do blog do Luis Nassif:

A notícia órfã

Ontem o Ali Kamel publicou uma coluna na página de Opinião do “Globo”, “A grande imprensa”.

Sobre a cobertura do acidente da TAM, Kamel se defende: “A grande imprensa se portou como devia. Como não é pitonisa, como não é adivinha, desde o primeiro instante foi, honestamente, testando hipóteses, montando um quebra-cabeça que está longe do fim”.

“Testando hipóteses” é outro nome para falta de discernimento. Em qualquer cobertura competente, enquanto o quadro não está claro montam-se cenários de investigação, análise de probabilidade, linhas de investigação. Evitam-se afirmações peremptórias, e apela-se para a criatividade para produzir manchetes de impacto sem recorrer conclusões taxativas.

De cara, se poderiam alinhavar várias possibilidades para o acidente da TAM, que seriam o ponto de partida. Toda a cobertura seguiria esse roteiro, procurando checar a probabilidade de ocorrência de cada possibilidade ou delas combinadas. A partir daí, o Sr Fato se incumbiria de descartar algumas hipóteses e reforçar outras.

O “testando hipóteses” do Kamel consistia em bancar aposta total na Hipótese A. Dias depois, esquecer a Hipótese A e bancar toda a aposta na Hipótese B. Depois, na Hipótese C, até acertar. Mas não houve acerto. A resposta final – a degravação dos diálogos na cabine – eliminou todas as hipóteses anteriores.

E aí se entra no modelo de gestão da notícia adotado pelas Organizações Globo. De alguns anos para cá resolveu-se homogeneizar o entendimentos dos jornalistas em relação aos temas de cobertura. Esse papel doutrinário coube a Kamel.

Não sei qual é a experiência de Kamel no front da reportagem. Mas foram dois os resultados. Primeiro, acabou-se com a diversidade de enfoques, marca de jornalismo plural. Segundo, perdeu-se o sentimento da rua, o sentido da reportagem. Os repórteres passaram a subordinar a cobertura aos desígnios do “aquário”. Houve um divórcio dos pais – o “pai” “aquário” e a mãe reportagem – e o resultado deixou a notícia órfã.

Nem vale a pena comentar as acusações generalizantes e conspiratórias de Kamel, na seqüencia do artigo, contra os críticos da cobertura. Ele não está escrevendo para os leitores. Apenas se justificando para os donos da empresa.


- Leia mais sobre o "Testando hipóteses" hoje no Vi o Mundo, do Luiz Carlos Azenha.

quarta-feira, agosto 08, 2007

Quando a liberdade de mercado não interessa

Deu no Vi o Mundo, do Luiz Carlos Azenha:

Folha de S. Paulo, página B8

Se você quiser entender melhor o que se passa nos bastidores das corporações da mídia brasileira e, em parte, o posicionamento assumido por elas em relação ao governo Lula, tente desvendar o conteúdo da página B8, do caderno Dinheiro, da Folha de S. Paulo desta quarta-feira.

Triple Play é tudo. É a possibilidade de fornecer ao cliente, ao mesmo tempo, serviços de telefonia, internet rápida e TV a cabo.

A Globo saiu na frente. A NET, que pertence à Globopar, é sócia do grupo Telmex, do bilionário mexicano Carlos Slim - o homem mais rico do mundo.

A NET está deitando e rolando no mercado do Triple Play.

Lá em Bauru a Telefônica perdeu uma cliente na telefonia, quando a dona Lourdes, minha mãe, decidiu juntar tudo num pacote só, da NET.

Se sair um perfil do Slim no Wall Street Journal, é possível que o nome dele venha acompanhado da palavra "monopolista."

[Agora, que o Journal foi comprado por Rupert Murdoch, fica difícil, né mesmo? Seria o roto falando do rasgado]

Se sair um perfil do Slim na Época, do grupo Globo, é provável que ele seja elogiado pelo dinamismo e competência.

Na mesma parada está a Telefônica - que se associou à TVA, do grupo Abril.

Mas a Telefônica ainda não tem autorização do governo para oferecer o triple play.

Por enquanto, só o pacote telefone/internet rápida.

Como a convergência digital não tem retorno, mais cedo ou mais tarde o governo dará autorização à Telefônica para entrar no jogo.

A Telefônica é cachorro muito grande para os capitalistas brasileiros.

A empresa já investiu R$ 18 bilhões no Brasil e tem mais R$ 15 bilhões programados até 2010, segundo a Folha.

Finalmente, temos a proposta do ministro Hélio Costa, que seria a de juntar numa só empresa a Brasil Telecom, a Oi, e a Portugal Telecom. Esta última é parceira do grupo Folha no UOL. E é nesse bolo que estão os interesses dos grandes fundos de pensão estatais, em última instância controlados pelo governo.

Quem entrar nesse negócio vai ganhar rios de dinheiro, principalmente com o barateamento dos pacotes de triple play e a ascensão de uma nova classe média - que continuará, a não ser que derrubem o Lula.

A cobertura jornalística do setor é muito nebulosa, uma vez que os colunistas de televisão no Brasil investem mais tempo investigando fofocas do que desvendando os interesses cruzados na indústria da mídia e entretenimento.

Se você prestar bem atenção nessa dança de interesses perceberá claramente as flutuações do humor da mídia em relação ao governo Lula.

Ninguém quer de fato derrubar o Lula, mesmo porque não tem força para isso.

Mas tirar uma lasquinha todo mundo tenta.

Se eu fizesse isso seria acusado de "extorsão".

Mas no mundo das corporações isso é chamado de "fazer negócio".

O nó da questão, realmente, está na produção de conteúdo.

"'Conteúdo é ouro', afirmou o consultor jurídico do ministério, Marcelo Bechara", segundo a Folha.

Conteúdo é o que você lê neste site, embora nesse caso seja lata ou ferro-velho que dou de graça para a Globo.com.

Wellington Salgado, do PMDB de Minas, presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação do Senado, tem um projeto de lei para "proteger" a produção de conteúdo nacional contra a concorrência estrangeira, diz a Folha.

Wellington faz isso em nome do ministro das Comunicações, Hélio Costa, que foi de repórter a ministro da Globo.

É óbvio que a Telefônica quer produzir seu próprio conteúdo.

É óbvio que a Telefônica tem muito mais dinheiro que as empresas brasileiras para investir na produção de conteúdo.

Eu só acho curioso que, nessa hora, gente que se esgoela em defesa do livre mercado passa a defender a "regulamentação" do mercado, a presença do estado na economia.

Você não vai ver - nem na TV Globo, nem na TV Record - alguém se esgoelando em defesa da liberdade de mercado.

Nesse caso, não interessa liberdade de mercado.

Você pode se divertir como eu, testemunhando gente que odeia o Hugo Chávez e o Evo Morales - porque eles são nacionalistas e ameaçam interesses do Brasil - de repente vestindo a camisa do "nacionalismo".

Deu para notar isso na cobertura dos Jogos Panamericanos?

Na hora de privatizar a Vale do Rio Doce foi todo mundo a favor, mas na hora de dar um choque de capitalismo na produção de conteúdo sai todo mundo para se esconder atrás da bandeira do Brasil.

Só rindo.

terça-feira, agosto 07, 2007

A história instável dos acordos de armas americanos




















Deu no Der Spiegel:

A história instável dos acordos de armas americanos

Os EUA causaram inquietação em seus aliados europeus com os planos de um maciço acordo de armas com vários governos do Oriente Médio. Washington já percorreu essa estrada antes.


Siegesmund von Ilsemann

Karsten Voigt, o coordenador do governo alemão para Cooperação Germano-Americana, estava totalmente irritado na semana passada. Como Washington pode promover as reformas democráticas no Oriente Médio vendendo bilhões de dólares em armas à Arábia Saudita é "um grande ponto de interrogação", ele disse. O reino islâmico pode ser nominalmente um aliado americano, mas não é "especialmente democrático", disse Voigt, e seu regime familiar opressivo continua sendo um terreno fértil para os terroristas islâmicos.

Em uma reunião de cúpula no final de julho, autoridades graduadas americanas anunciaram um acordo para enviar importantes sistemas de armas modernas para a Arábia Saudita, Egito, Israel e outros governos do Oriente Médio, para contrabalançar a crescente influência do Irã na região.

Voigt se perguntou se a medida é sábia. "A região não sofre de falta de armas, e sim de falta de estabilidade", ele disse. "Tenho sérias dúvidas se a estabilidade pode ser alcançada com essas armas".

Mas os acordos de armamentos têm uma longa tradição em Washington. "O inimigo do meu inimigo é meu amigo" foi uma máxima de vários governos americanos durante a Guerra Fria. A política externa de Washington muitas vezes aprovou a venda de armas para regimes questionáveis que prometiam ajudar a conter a ameaça comunista, quaisquer que fossem as potenciais conseqüências.

Os acordos freqüentemente terminaram em fracasso: os soldados americanos muitas vezes foram atacados por armas que seu próprio governo vendeu para os exércitos dos países que eram seus supostos aliados.

A conturbada relação EUA-Irã é um exemplo típico dessas políticas. Depois que o xá do Irã consolidou seu poder com a ajuda da CIA em 1953, no que foi conhecido como Operação Ajax, o país tornou-se o mais importante aliado dos EUA no Oriente Médio, depois de Israel. Em troca do acesso aos abundantes poços de petróleo do Irã, Washington vendeu ao xá um arsenal de armas modernas. Com caças a jato de última geração, novos foguetes e tanques poderosos, o Irã tornou-se uma potência militar no golfo Pérsico. Cerca de 40 mil assessores militares americanos ensinaram os iranianos a usar essas armas.

Depois que o regime fundamentalista islâmico liderado pelo aiatolá Khomeini derrubou o xá em 1979 e provocou uma crise ao fazer 52 reféns americanos, ficou dolorosamente claro para Washington que suas armas estavam nas mãos erradas. E assim o governo americano rapidamente recorreu ao maior inimigo dos fundamentalistas religiosos, o ditador iraquiano Saddam Hussein.

Durante oito anos - até 1988 - Hussein travou uma guerra brutal com seus vizinhos a leste, apoiado por armas e know-how de fontes americanas. Até Donald Rumsfeld, que mais tarde planejaria a atual guerra no Iraque como secretário da Defesa do presidente George W. Bush, visitou Hussein em 1983.

Como incentivo extra, os americanos ofereceram a Bagdá fotografias aéreas secretas que permitiram aos generais de Hussein infligir grande dano às forças iranianas - às vezes usando armas químicas. Apenas alguns anos depois, é claro, os soldados americanos travariam uma guerra com os próprios militares iraquianos que Washington ajudou a formar meticulosamente.

Guerras na Ásia e outros lugares
Os EUA também forneceram aos combatentes da liberdade do Afeganistão dinheiro e armas para lutarem contra as tropas soviéticas ocupantes nos anos 1980. Um dos melhores clientes do apoio da CIA na época foi o milionário saudita Osama bin Laden. Duas décadas depois, comandos americanos estão caçando o mais famoso terrorista do mundo e seus defensores taleban. Aviões militares e civis que sobrevoam o Afeganistão ainda são obrigados a fazer manobras evasivas para evitar os mísseis Stinger disparados contra eles, que foram originalmente fornecidos pelos EUA para combater os comunistas.

Washington protegeu e apoiou o ditador panamenho general Manuel Noriega durante anos. Apesar de todo o dinheiro e das armas dos EUA, ele também estava envolvido no tráfico de drogas. Isso levou o pai do atual presidente, George Bush, a depor o homem-forte, enviando tropas ao país centro-americano na Operação Justa Causa. Noriega foi mandado para a cadeia em Miami.

Os americanos também tiveram pouca sorte com sua estratégia nas Filipinas. Quando Ferdinand Marcos chegou ao poder em Manila, em 1965, parecia que os dois lados se beneficiariam disso. O novo presidente mandou tropas filipinas ajudarem na debilitada iniciativa de guerra americana no Vietnã. Em troca, os EUA apoiaram o regime de Manila política e militarmente - embora estivesse claro que os homens de Marcos estavam usando armas americanas para oprimir a oposição do país. A instabilidade que continua afetando as Filipinas hoje faz parte desse legado.

A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, defendeu a última série de acordos de armas durante sua recente visita diplomática ao Oriente Médio. "Estamos decididos a manter os equilíbrios - militar e estratégico - na região", ela disse.

Mas as armas americanas costumam sobreviver às mudanças de metas da política externa americana.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves - para o Uol Mídia Global

A manchete que a mídia se recusa a dar
























Tá de saco cheio da mídia golpista?
É fácil. Não lê mais, cancela a assinatura dessa porcaria aí e vai ler o Jornal Hora do Povo.

via F R O N T

domingo, agosto 05, 2007

Democracia exótica

















Latuff



Do Blog do Bourdoukan: (grifos meus)


Aumenta a repressão

O Congresso dos Estados Unidos aprovou na noite deste sábado, por 227 votos a 183, uma lei que permitirá ao governo realizar escutas nas comunicações de estrangeiros suspeitos de ligação com o “terrorismo”.


A deputada democrata Zoe Lofgren, que votou contra, afirmou que “a lei dará ao secretário de Justiça a capacidade de realizar escutas contra qualquer um, em qualquer lugar, a qualquer tempo, sem uma revisão judicial, sem medidas de controle”.

E disse mais: “Acredito que esta medida sem autorização e sem precedentes simplesmente acabaria com a 4ª Emenda (da Constituição, que proíbe buscas e apreensões sem mandado judicial)”.

Vale lembrar que não faz um mês, a ditadura estadunidense passou a exigir, com apoio da comunidade européia, que todo europeu interessado em visitar o país teria que revelar sua orientação sexual, política e religiosa.


Além disso, teria que permitir aos policiais acesso a seu endereço, número de cartão de crédito, estado de saúde, eventual associação a sindicatos e origem étnica.

Haverá ditadura pior do que essa?

Comenda Roseta Crúsius

Do Alívio Refrescante, A comenda de todas as comendas:




















"No Estado em que nos encontramos, com gaucho pilchado de pantalha e premiando vaca campeã com cruzeta. Premiado também com dengue e rubéola, regado a debutaços, com a venda do Banrisul disfarçada, salários atrasados e desmantelamento da educação, nada mais propício do que a criação da Comenda Roseta Crúsius. Esta comenda tem como objetivo premiar todos aqueles que fazem dos choques de gestão e dos novos jeitos de governar seu norte, sua razão de ser, a última bolachinha do pacote."
Hals

Olha o tomate!







A Cláudia mandou ver na tomatada pra cá, elegendo o Vozes do Sul como um "blog com tomates", o que quer dizer um blog com colhões ou, ainda, um blog com coragem, uma vez que, no dicionário masculino, ter testículos é sinônimo de coragem(!).

(Que coisa, não?)

Mas aí fiquei curiosa e fui lá no Blog com Tomates, de onde surgiu a idéia do selo/prêmio, e vi que a história não é tão assim...

De qualquer forma, só pra implicar um pouco, ouso aqui sugerir um conceito alternativo que de certa forma dá também uma idéia de coragem, seria algo como "blog que tem peito" (ou qualquer coisa parecida), que me parece mais inclusivo.

Bom, mas como o assunto é "blog com tomates", agora é daqui que sai tomatada para mais alguns corajosos da blogosfera. Como os corajosos são muitos e isso de escolher é tarefa complicada, elegi os meus queridinhos, aqueles que leio sempre, depois fiz um sorteio entre eles.

Talvez alguns não saibam, mas o sorteio é sem dúvida o mais democrático dos critérios, além de deliciosamente caótico.

Entonces, aí vai tomate para:

Diário Gauche, agora Diário Gauche, do Cristóvão Feil
Esquerda Festiva, do Ulysses Dutra
Jean Scharlau, de quem será este?
nuestro vino, do Iagê

Ah! e, é claro, o querido, Incrível e corajoso Exército Blogoleone.

Bom domingo e boa semana a todos e todas que passarem por estas bandas!

quinta-feira, agosto 02, 2007

As dores de cabeça do grupo RBS















Do Diário Gauche:

Como dizem os turfistas, essa é uma informação de cocheira. O grupo midiático RBS – que apoiou o golpe militar de 1964 e todo o processo ditatorial que se seguiu – está muito preocupado com dois fenômenos imediatos e um, mediato.

O mediato é a crescente queda na venda dos seus jornais e queda no faturamento com a publicidade veiculada. Esse fenômeno não é exclusivo da RBS, é um fenômeno nacional e mundial. Está acontecendo já há alguns anos uma revolução no mundo da notícia e do entretenimento em geral, para o qual as empresas midiáticas não estão preparadas. O motivo mais evidente reside na entrada contínua de novas tecnologias de massa no circuito, que às vezes ainda não estão submetidas plenamente às leis da mercadoria. A internet é uma das mídias que ainda não está totalmente dominada pelo mercado, ou pelo menos pelas grandes corporações do mercado.

Os fenômenos imediatos são dois, como dissemos:

1) os blogs estão incomodando a RBS, não só pelo seu conteúdo irreverente, mas sobretudo pela incapacidade de serem dadas respostas a esse fenômeno que se socializa e escapa ao controle da lei do valor, subtraindo-lhe audiência, batendo de frente com a sua linha editorial, apontando o seu projeto de poder político-partidário, mas, sobretudo, denunciando a ilegitimidade do seu discurso e a farsa de sua pretendida neutralidade jornalística;

2) a entrada no mercado do RS da rede Record, ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo. A informação é a de que o próprio diretor-presidente da RBS, Nelson Sirotsky está visitando anunciantes para propor novas parcerias exclusivas com os seus veículos no RS e SC. Sirotsky teria visitado pessoalmente o grupo Gerdau e proposto investimentos vantajosos em anúncios nos veículos da RBS, desde que contratados com exclusividade. Os Gerdau responderam que são uma corporação profissional e não poderiam anunciar com exclusividade nos veículos da RBS.


quarta-feira, agosto 01, 2007