Deu no Vi o Mundo, do Luiz Carlos Azenha:
Folha de S. Paulo, página B8
Se você quiser entender melhor o que se passa nos bastidores das corporações da mídia brasileira e, em parte, o posicionamento assumido por elas em relação ao governo Lula, tente desvendar o conteúdo da página B8, do caderno Dinheiro, da Folha de S. Paulo desta quarta-feira.
Triple Play é tudo. É a possibilidade de fornecer ao cliente, ao mesmo tempo, serviços de telefonia, internet rápida e TV a cabo.
A Globo saiu na frente. A NET, que pertence à Globopar, é sócia do grupo Telmex, do bilionário mexicano Carlos Slim - o homem mais rico do mundo.
A NET está deitando e rolando no mercado do Triple Play.
Lá em Bauru a Telefônica perdeu uma cliente na telefonia, quando a dona Lourdes, minha mãe, decidiu juntar tudo num pacote só, da NET.
Se sair um perfil do Slim no Wall Street Journal, é possível que o nome dele venha acompanhado da palavra "monopolista."
[Agora, que o Journal foi comprado por Rupert Murdoch, fica difícil, né mesmo? Seria o roto falando do rasgado]
Se sair um perfil do Slim na Época, do grupo Globo, é provável que ele seja elogiado pelo dinamismo e competência.
Na mesma parada está a Telefônica - que se associou à TVA, do grupo Abril.
Mas a Telefônica ainda não tem autorização do governo para oferecer o triple play.
Por enquanto, só o pacote telefone/internet rápida.
Como a convergência digital não tem retorno, mais cedo ou mais tarde o governo dará autorização à Telefônica para entrar no jogo.
A Telefônica é cachorro muito grande para os capitalistas brasileiros.
A empresa já investiu R$ 18 bilhões no Brasil e tem mais R$ 15 bilhões programados até 2010, segundo a Folha.
Finalmente, temos a proposta do ministro Hélio Costa, que seria a de juntar numa só empresa a Brasil Telecom, a Oi, e a Portugal Telecom. Esta última é parceira do grupo Folha no UOL. E é nesse bolo que estão os interesses dos grandes fundos de pensão estatais, em última instância controlados pelo governo.
Quem entrar nesse negócio vai ganhar rios de dinheiro, principalmente com o barateamento dos pacotes de triple play e a ascensão de uma nova classe média - que continuará, a não ser que derrubem o Lula.
A cobertura jornalística do setor é muito nebulosa, uma vez que os colunistas de televisão no Brasil investem mais tempo investigando fofocas do que desvendando os interesses cruzados na indústria da mídia e entretenimento.
Se você prestar bem atenção nessa dança de interesses perceberá claramente as flutuações do humor da mídia em relação ao governo Lula.
Ninguém quer de fato derrubar o Lula, mesmo porque não tem força para isso.
Mas tirar uma lasquinha todo mundo tenta.
Se eu fizesse isso seria acusado de "extorsão".
Mas no mundo das corporações isso é chamado de "fazer negócio".
O nó da questão, realmente, está na produção de conteúdo.
"'Conteúdo é ouro', afirmou o consultor jurídico do ministério, Marcelo Bechara", segundo a Folha.
Conteúdo é o que você lê neste site, embora nesse caso seja lata ou ferro-velho que dou de graça para a Globo.com.
Wellington Salgado, do PMDB de Minas, presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação do Senado, tem um projeto de lei para "proteger" a produção de conteúdo nacional contra a concorrência estrangeira, diz a Folha.
Wellington faz isso em nome do ministro das Comunicações, Hélio Costa, que foi de repórter a ministro da Globo.
É óbvio que a Telefônica quer produzir seu próprio conteúdo.
É óbvio que a Telefônica tem muito mais dinheiro que as empresas brasileiras para investir na produção de conteúdo.
Eu só acho curioso que, nessa hora, gente que se esgoela em defesa do livre mercado passa a defender a "regulamentação" do mercado, a presença do estado na economia.
Você não vai ver - nem na TV Globo, nem na TV Record - alguém se esgoelando em defesa da liberdade de mercado.
Nesse caso, não interessa liberdade de mercado.
Você pode se divertir como eu, testemunhando gente que odeia o Hugo Chávez e o Evo Morales - porque eles são nacionalistas e ameaçam interesses do Brasil - de repente vestindo a camisa do "nacionalismo".
Deu para notar isso na cobertura dos Jogos Panamericanos?
Na hora de privatizar a Vale do Rio Doce foi todo mundo a favor, mas na hora de dar um choque de capitalismo na produção de conteúdo sai todo mundo para se esconder atrás da bandeira do Brasil.
Só rindo.
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