terça-feira, julho 24, 2007

Laudo do IPT: Congonhas está acima das exigências técnicas

Deu no Hora do Povo:

Vejam os amigos leitores essa jóia encontrada na última edição da revista “Veja”: “A culpa pelo acidente da TAM pode ser da pista inacabada de Congonhas, de um defeito mecânico do avião, de um erro do piloto, da chuva, do acaso, de tudo isso combinado. A única certeza é a parcela de responsabilidade do governo pela tragédia”.


GOLPISMO


Em suma, a realidade - isto é, a verdade - não interessa. Não importa a causa do desastre. A única coisa que importa é que a “Veja” quer usar a tragédia para atacar o governo. Mesmo que o avião tenha caído porque um gavião que entrou pela turbina, ou devido a um ataque alienígena, a culpa é de Lula. O que é isso senão uma confissão de golpismo, puro e simples, e sem disfarces? Para cevar um golpe de Estado contra Lula, vale tudo. Inclusive desrespeitar famílias e mortos, tentando usá-los em uma manipulação meramente golpista.


Durante meses, mantêm uma campanha sórdida para criar uma crise no setor aéreo. E, sem dúvida, conseguiram criá-la, à custa de deixar controladores, pilotos e outros profissionais à beira de um ataque de nervos. Mas quando acontece uma desgraça, não importa a causa, a culpa é do presidente Lula.


Porém, não é todo golpista que é tão burro quanto os da “Veja” para confessar sua torpeza. A maioria percebe que tem de agitar uma causa do acidente que sirva aos seus objetivos. Não foi por outra razão que tentaram culpar a pista – isto é, as obras que o governo federal promoveu na pista de Congonhas. Os golpistas menos estúpidos percebem, também, que não adianta fugir do assunto e dizer, como a “Folha de S. Paulo”, que mesmo que a pista seja uma maravilha, o problema é que o governo não fechou Congonhas. É preciso um motivo para fechar Congonhas – e sempre alguém lembrará que eles foram contra a construção do aeroporto de Cumbica e sempre se opuseram à utilização do aeroporto de Viracopos.


O que está em questão é a causa do acidente. Exatamente por isso é que essa mídia escondeu vergonhosamente o parecer do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) exarado no dia 19 – dois dias depois da tragédia de Congonhas.


O Parecer Técnico nº 12792-301, assinado pela engenheira Márcia Aps, diretora do Centro de Tecnologia de Obras de Infra-estrutura, do IPT, é uma análise da pista principal do aeroporto de Congonhas depois de concluída a reforma empreendida pelo governo federal. Afirmaram os técnicos do IPT: “a mistura asfáltica (....) pode ser considerada tecnicamente como apta para o tráfego de aeronaves, veículos e equipamento de obras. (....) no que tange à concepção do revestimento asfáltico quanto às suas propriedades mecânicas, esta camada de rolamento atende às especificações de projeto e todas as implementações adotadas adicionaram características positivas”.


Quanto à questão da pista molhada, diz o IPT: “Os valores encontrados nos dois monitoramentos recentemente realizados, mostram-se acima dos valores recomendados do ponto de vista de atrito em pista molhada, tendo em vista os limites recomendados internacionalmente (ICAO-Anexo 14) e nacionalmente (DAC). Pela análise realizada, no que tange às condições de superfície do revestimento asfáltico, os valores medidos de atrito pela Infraero na pista principal por meio do equipamento mu-meter, na situação atual, revelam-se acima dos limites mínimos especificados”.


Em resumo: a pista principal de Congonhas, após as obras, não tinha e não tem qualquer problema que justifique sua interdição. Muito pelo contrário, ela estava – e está – acima das exigências técnicas e dos padrões internacionais. Na verdade, após a reforma, ela é uma das melhores pistas do país. E isso deve-se, exclusivamente – faça-se justiça – ao governo Lula.


No entanto, esse parecer do IPT foi escondido pela mídia. Por quê? Exatamente porque destruía a forjicação de que o governo Lula fosse o responsável pelo acidente. E o interesse único dessa mídia era culpar o governo, em especial, a Lula.


A existência do parecer do IPT foi revelada na sexta-feira, dia 20, por Fernando Rodrigues, em seu blog na Internet. No dia seguinte, apesar de Rodrigues ser um dos principais jornalistas da “Folha de S. Paulo”, esta enterrou o parecer na página 6 de um caderno interno. E mesmo assim é uma nota tão pequena que passou desapercebida à maioria dos leitores. No mesmo dia, na “Globo”, o Jornal Nacional deu a notícia do laudo do IPT e em seguida colocou a imagem de um piloto da TAM garantindo que a pista de Congonhas “não é segura”. Assim, um parecer altamente qualificado foi supostamente desmentido pelo que um piloto acha – ou tem interesse em achar. É mais ou menos como se alhos e juntas homocinéticas servissem para a mesma coisa. Ou como se os primeiros fossem melhores que as segundas para a mesma coisa.


No resto da mídia golpista, menos ainda apareceu. O relatório somente fez sua entrada no dia 22, quando um editorialista do “Estadão”, jornal conhecido por seu amor às causas progressistas e populares – e em especial por sua fascinação pelo presidente Lula -, publicou uma carta do presidente do IPT, supostamente desmentindo Rodrigues. Alguns aventaram a hipótese de tal carta haver sido fabricada por ordem do governador José Serra, que é quem nomeia o presidente do IPT. Realmente, Serra havia desmentido a existência do parecer do IPT na própria terça-feira, dia do desastre, quando o governo federal, que o havia solicitado ao IPT, divulgou que ele existia. Naquele momento, o parecer do IPT já estava pronto. Mas só foi assinado e entregue à Infraero na sexta-feira. Serra, portanto, poderia não conhecer a existência do relatório. Mas, então, por que desmentir sua existência de pronto, tão rapidamente e com tanta certeza?


ENROLAÇÃO


O presidente do IPT pretende desmentir Rodrigues – apesar deste haver divulgado a íntegra do relatório, que fala por si próprio. Segundo o funcionário, o IPT jamais emitiu laudo “liberando a pista”. É verdade, mas quem falou nisso? Reproduzimos a resposta de Rodrigues ao desmentido do presidente do IPT: “post scriptum (23.jul.2007): o post acima [que relata a existência do parecer do IPT] tem 518 palavras. Faz um relato óbvio: o parecer do IPT não aponta óbices na pista de Congonhas. Não fala em liberação de pista. Relatou-se, portanto, um fato: a existência de um parecer. Pois o IPT produziu uma resposta de 1.184 palavras para dizer a mesma coisa... de outro jeito. É uma enrolação fantástica (‘há várias afirmações do jornalista que merecem ressalvas’). Essa gente é maluca?”.


Maluca, propriamente, não. É golpista – e sem o menor pudor de esconder documentos ou desmentir o que nunca foi dito.


por Carlos Lopes

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