sábado, novembro 11, 2006

Crise neoliberal gera movimentos sociais no Brasil

Por Artenius Daniel

Os primeiros a ficarem conhecidos foram os Sem-Terra. Depois vieram os Sem-Teto. Logo apareceram os Sem-Emprego, os Atingidos por Barragens e muitos outros. Apesar de figurarem quase sempre negativamente na chamada grande imprensa e na opinião de alguns setores da sociedade, os movimentos sociais não param de crescer no Brasil. Num país campeão em desigualdade social, todas as entidades que lutam por mudanças na sociedade brasileira são "Sem", de alguma forma: "Sem aquilo o que reivindicam".

Segundo João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do Movimento dos Sem Terra (MST), a diversificação das lutas populares é o reflexo de um modelo econômico e social falho. Em entrevista ao portal EstudanteNet, ele disse que o crescimento no número de entidades é importante.

"É extremamente positivo, o aumento significativo desses movimentos mostra o fruto da crise neoliberal. O aumento da pobreza e a crise do sistema político-partidário também influenciam esse processo", acredita.

Mais de 300 entidades foram convocadas para plenária da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), criada em 2003 por entidades como MST, CUT, UNE, UBES, MMM, UNEGRO, tem o objetivo de articular as diversas tendências das lutas populares em torno de bandeiras em comum.

João Paulo explica que a plenária é um momento para a unificação: "Acredito que a CMS tem dado unidade ideológica aos movimentos, caso contrário, pode haver pulverização da luta e o enfraquecimento da classe trabalhadora".

Ele acredita que o crescimento do movimento social precisa acontecer independentemente da luta política. "Acho que, historicamente, nós vamos precisar de partidos fortes para cuidar da questão partidária e movimentos sociais fortes cuidando da vida social. Os movimentos devem ter total autonomia em relação aos partidos", avalia.

América Latina

Fortalecer a agenda de atuação dos movimentos sociais é muito importante nesse momento, segundo a opinião de Nalu Faria (foto), da coordenação brasileira da Marcha Mundial das Mulheres (MMM). Em conversa com nossa reportagem ela disse que "os movimentos precisam valorizar suas datas mais importantes, como o oito de março, o grito dos excluídos, o grito de moradia, e outras".

Para ela, a luta dos movimentos sociais brasileiros precisa se integrar também à dos outros países latino-americanos e a plenária da CMS é também um momento de integração do continente:

"Temos consciência de que não vamos conseguir desenvolvimento sozinhos. Precisaremos discutir a América Latina e espero que isso esteja na pauta da Plenária da CMS. Temos a Cumbre de Los Pueblos que acontecerá em breve e precisamos debater esse assunto", explica.

Bandeiras

Para o líder do MST, o encontro no fim de semana deverá definir pelo menos três bandeiras principais de todo movimento: "Acredito que poderiam ser Educação, Política Econômica do Governo e um tema que acabou surgindo que são os Meios de Comunicação", resume.

Na opinião da diretora de Relações Internacionais da UNE, Lúcia Stumpf, a Plenária da CMS servirá para definir o posicionamento dos movimentos sociais no próximo mandato do presidente Lula: "Acho que a CMS tem que ter um papel muito protagonista nesse segundo mandato. Está mais do que na hora de as mudanças importantes serem implementadas no Brasil", convoca.

A diretora da UNE disse que o movimento estudantil levantará as questões sobre educação que julga mais importantes nesse momento. "Vamos tentar amplificar a campanha contra os abusos nas mensalidades, que é uma pauta urgente emergencial, mas vamos discutir, principalmente, a ampliação do acesso ao ensino superior, a criação de mais vagas para o Prouni, mais universidades e mais concursos para professores e funcionários do ensino", ressaltou.

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