O longo ciclo eleitoral latino-americano
Com o triunfo de Rafael Correa no Equador e as reeleições praticamente asseguradas de Hugo Chávez e de Nestor Kirchner, se conclui o longo ciclo eleitoral latino-americano, iniciado com o triunfo de Evo Morales na Bolívia, em dezembro de 2005. Seguiu-se com as eleições de Michele Bachelet no Chile, de Oscar Arias na Costa Rica, de Alan Garcia no Peru, de Lula no Brasil, de Álvaro Uribe na Colômbia, de Daniel Ortega na Nicarágua, e de Felipe Calderón no México.
São 11 eleições, incluindo os países de maior peso no continente – Brasil, México, Argentina, Venezuela, Colômbia, Chile, Peru –, das quais quatro foram reeleições – Lula, Uribe, Hugo Chávez, Kirchner –, duas mais continuações dos governos anteriores – Calderón e Bachelet, com três mudanças significativas de políticas – Bolívia, Equador, Nicarágua.
O pólo que prioriza os processos de integração regional viu a incorporação da Bolívia e do Equador – talvez até mesmo da Nicarágua, mantendo o Brasil, a Argentina e a Venezuela, enquanto o pólo favorável aos tratados bilaterais manteve a Colômbia, o México e o Chile, ganhando o Peru e a Costa Rica. (Ainda que a nova maioria democrata no Congresso dos EUA questione os tratados que estão por ratificar com a Colômbia e o Peru, deixando aberta esta possibilidade.)
Poderia parecer, aritmeticamente, um resultado empatado. No entanto, se fortaleceu o bloco favorável aos processos de integração regional. As vitórias de Lula, de Kirchner, de Hugo Chávez consolidam o eixo fundamental nesses processos, que ganham alguns anos para avançar na consolidação, extensão e aprofundamento no Mercosul, na Comunidade Sul-Americana de Nações, na Alba. O ingresso da Venezuela como membro pleno do Mercosul e a reunião de Córdoba expressam novo dinamismo do acordo, com a integração da Bolívia e a aproximação de Cuba. A participação do Equador bloqueará a formação de um bloco andino favorável ao livre comércio, além das mencionadas dificuldades trazidas pela maioria protecionista democrata no Congresso dos EUA.
Além disso, a vitória de Calderón foi muito questionada no México e tanto nesse país quanto na Colômbia – com Lopez Obrador e com Carlos Gaviria – a esquerda teve um desempenho muito bom, situando-se como a segunda força política nesses países. Da mesma forma a disputa no Peru foi acirrada, com a candidata abertamente neoliberal – Lourdes Flores – ficando fora do segundo turno.
Estas observações configuram um desgaste significativo da votação dos partidos que defendem programas neoliberais, com expansão do voto à esquerda – mais radical nos casos da Bolívia, do Equador e da Venezeula -, mais moderada nos casos do Brasil, da Argentina e da Nicarágua.
O triunfo de Rafael Correa no Equador é a culminação das mobilizações populares que, em abril deste ano, impediram que o país assinasse um tratado de livre comércio com os EUA. Ainda assim, Álvaro Novoa pretendia retomar essa via, fazendo com que, em parte, o segundo turno tivesse sido um plebiscito sobre o futuro do Equador. A vitória de Correa consolida a opinião majoritária dos equatorianos de crítica às vias adotadas pelos três últimos presidentes eleitos, todos derrubados por mobilizações populares, por tentar manter o modelo neoliberal.
O cenário político continua favorável à esquerda no continente – que, agora, ainda pode contar com eventuais defecções no outro campo, especialmente do governo de Alan Garcia, pela resistência democrata no Congresso dos EUA -, que pode aproveitar para consolidar e principalmente avançar decididamente no caminho da integração latino-americana.
Carta Maior
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