sexta-feira, janeiro 05, 2007

"Que liberdade de imprensa é esta que acolhe sempre a voz dominante, a voz do mercado, dos poderosos?”


Com licença que eu vou ali no Paraná por 4 anos e já volto!



Enquanto proliferam em progressão geométrica as trapalhadas tucanas aqui em Pantalhópolis, eis que o Roberto Requião, re-eleito Governador do Paraná, botou pra quebrar e fez um discurso de posse que, coerente com o tom da sua campanha, é tão esquerdista que poderia muito bem ter sido o de Chávez, na Venezuela.

Obviamente que desde a campanha eleitoral do ano passado, já rolam discussões e muita gente quer Requião como candidato da esquerda à Presidência da República em 2010. Resta saber se o amadurecimento da esquerda, bem como do nosso processo democrático, será então suficiente para chegar a comportar um cenário destes. Voltaremos ao tema, certamente. Por enquanto, vale a pena ler, reler e guardar as palavras de Roberto Requião. Publicamos abaixo a parte final do discurso, a partir de sua fala sobre a mídia.. Pra quem quiser ler todo, está bem aqui.


trecho final do discurso

"(...) Por fim, não poderia faltar uma palavra sobre comunicação, imprensa, que vou dizê-la mesmo contra o conselho dos que querem “deixar disso”, e para desassossego dos pregadores da cordialidade.

O debate sobre o papel da imprensa no processo eleitoral ganhou o país. Pela primeira vez, em tantas décadas, a mídia foi colocada sob suspeita. E criticada, coisa que ela detesta mais que o satanás dá água benta.

A militância dos jornalões a favor de uma candidatura só não detectou quem não quis. Caso de má fé cínica ou de ignorância córnea?

Optaram sim por um lado, torceram e distorceram por ele e quando isso foi identificado e denunciado, reagiram dizendo que se ameaçava a liberdade de imprensa.

Não tiveram a coragem, o desassombro de assumir em editoriais a opção feita, mesmo que a não disfarçassem, mesmo que isso fosse refletido escandalosamente no tom reservado à cobertura de cada um dos candidatos.

Fizemos um estudo criterioso, científico, estatisticamente responsável sobre o comportamento da mídia paranaense nas eleições estaduais. Os resultados todos conhecem, pois os divulgamos amplamente.

Quando falamos em exclusão social e econômica, quando falamos sobre as desigualdades, os desequilíbrios, os privilégios nunca, ou quase nunca, fazemos referência ao monopólio da informação.

Nunca mencionamos o domínio da mídia por determinados interesses e, por conseqüência, o afastamento de suas páginas, de seu vídeo e áudio dos interesses dos dominados, dos apartados, dos segregados, dos discriminados, dos trabalhadores, do povo, enfim.

Que liberdade de imprensa é esta que acolhe sempre a voz dominante, a voz do mercado, dos poderosos? Que liberdade de imprensa é esta que restringe o acesso do povo e de suas manifestações? Que trata e maltrata os trabalhadores, quase sempre com desdém, com o corte da visão de classe senhorial?

Que liberdade de imprensa é essa que, quando critica, quando acusa, mesmo que distorcendo os fatos, concede à parte ofendida, quando muito, uma misericordiosa meia linha, para que “o outro lado” se manifeste? É o acepipe cinicamente ofertado antes da execução.

Não tenhamos ilusões, não sejamos ingênuos, não esperemos muito da grande mídia. Ela tem um lado, nós é que não aprendemos isso ainda e ficamos insistindo em um diálogo de surdos.

Hoje, apenas seis redes privadas controlam 667 veículos – emissoras de TV, de rádio e jornais diários – atingindo 87 por cento dos domicílios, em 98 por cento dos municípios brasileiros.

Há ainda quem ouse dizer que isso não é o monopólio da informação, que isso não é o controle da opinião pública, que isso não é uma verdadeira ditadura do pensamento dominante?

É salutar que finalmente o poder da grande mídia comece a ser colocado em xeque e a sua credibilidade como agente formador da opinião pública seja questionada.

Mas que comunicação queremos?

Queremos uma comunicação de interesse público. Que estimule o debate. Que tenha compromisso com a formação, a educação e a construção da cidadania. Que democratize e produza instrumentos de socialização da informação. Que crie, utilize e valorize espaços de mídia alternativos, como as rádios comunitárias, a internet, os eventos públicos.

Queremos uma comunicação que resista à hegemonia dos meios de comunicação de massa e crie referências críticas ao que eles veiculam, que não engulam tudo que os jornais nacionais, que as novelas buscam empurrar goela abaixo do povo.

Queremos uma comunicação que busque o envolvimento da sociedade e estimule a sua participação. Queremos uma comunicação de mão dupla, que interaja, que comunique a diversidade de opiniões. Queremos uma comunicação que favoreça a inclusão do maior número de cidadãos no debate político.
Nós queremos, enfim, uma comunicação popular, onde mil flores desabrochem e mil correntes de pensamento se rivalizem.

Paranaenses estes são os meus compromissos. E diante de minha mulher Maristela, dos meus filhos Maurício e Roberta, do Ricardo, renovo-os. Incluam-me em suas orações, peçam a Deus por mim, para que Ele me ilumine e me faça forte, firme e corajoso na defesa dos interesses do nosso povo.
Ao trabalho, que temos mais quatro anos para consolidar as transformações que iniciamos e dizer ao Brasil que o caminho do Paraná é o caminho da libertação, da independência, da altivez, do compromisso com os interesses nacionais e populares.

Afinal temos um lado. O lado da solidariedade, da generosidade. O lado do povo. O lado esquerdo do peito."

Roberto Requião, Governador do Estado do Paraná.
1º de Janeiro de 2007.

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