
O site resistir.info publicou, traduzido para português, este texto extraído do livro Aux origines de la tragédie arabe (Nas origens da tragédia árabe), de René Naba, escritor e jornalista francês cujas credenciais incluem nada mais nada menos que o comando da cobertura do mundo árabe-muçulmano da AFP (Agence Frence Presse) de 1980 a 1990. Pra quem quiser ler artigo, em inglês ou francês, do mesmo autor sobre o lançamento do France24 (bem como os riscos que envolvem tal iniciativa), canal francês internacional de notícias lançado no início de dezembro, é só clicar aqui.
Abaixo, reproduzimos um pedacinho do texto.
A estratégia midiática estadunidense 1945-2005
Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos desenvolveram um sistema de propaganda sem precedentes. Através de estruturas como o Congresso para a Liberdade e a Cultura, eles corromperam as elites intelectuais ocidentais. Depois, ao instrumentalizar a liberdade de informação, afogaram o mundo no seu ponto de vista único, graças a poderosas agências de imprensa e a uma gigantesca rede de rádios profanas e religiosas, como nos revela René Naba no seu último livro, Aux origines de la tragédie arabe
Do bom uso dos princípios universais
Os grandes princípios universalistas raramente derivam de considerações altruístas. Na maioria das vezes, eles respondem a imperativos materiais. Foi assim com o princípio da liberdade de navegação proclamada pela Inglaterra nos séculos XVII e XVIII para assegurar a sua supremacia marítima, e consequentemente a sua hegemonia comercial no resto do planeta. O mesmo aconteceu com o livre-câmbio decretado pelos países ocidentais nos séculos XIX e XX, de modo a coagir a China a escoar as mercadorias ocidentais para os seus mercados internos em nome da "política da porta aberta". E assim viria a ser com o "princípio da liberdade de informação" firmemente defendido pelos Estados Unidos, após a Segunda Guerra Mundial, com o intuito de estabelecerem a sua supremacia ideológica nos quatro domínios que condicionam o poder: político, militar, económico e cultural.
Na sua batalha ideológica pela conquista do imaginário dos povos, garantia essencial da perenidade de uma nação, os Estados Unidos desenvolveram uma argumentação baseada sobre uma dupla articulação, um argumento intelectual, o princípio da liberdade de circulação de informação e de recursos, um argumento prático, o pressuposto de que os Estados Unidos são a única grande democracia no mundo que não dispõe de um ministério da cultura, nem de um ministério da comunicação, prova irrefutável, segundo eles, de um regime de liberdade.
Apresentado como o antídoto absoluto para o fascismo e para o totalitarismo, o princípio da liberdade de informação, constitui um dos grandes dogmas da política estadunidense do pós-guerra, o seu principal tema de propaganda. É uma formidável máquina de guerra que responde a um objectivo duplo. Quebrar, por um lado, o cartel europeu da informação, principalmente o monopólio britânico dos cabos transoceânicos que assegura – via Cable and Wireless – a coesão do Império e confere uma posição preponderante à agência britânica de informação Reuters, e acessoriamente, a preeminência da Agência francesa Havas, a futura Agência France Presse (AFP) na América Latina, zona de interesse prioritário dos Estados Unidos.
Neutralizar, por outro lado, toda a crítica através da eliminação de toda a concorrência europeia que pudesse apresentar, aos leitores, os Estados Unidos em termos pouco elogiosos, a imagem desvalorizada do cow-boy americano mascando pastilha elástica, ou ainda mais grave, a segregação racial e os linchamentos do Klu Klux Klan, ou ainda o grande banditismo da época da proibição. Sob uma liberdade aparente irrompia já o controlo. Toda a literatura vai teorizar sobre esse princípio da liberdade de informação e dar uma roupagem moral a uma política de expansão.
Pra ler todo - resistir.info.
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