quarta-feira, janeiro 03, 2007

Liberdade para... dominar!


O site resistir.info publicou, traduzido para português, este texto extraído do livro Aux origines de la tragédie arabe (Nas origens da tragédia árabe), de René Naba, escritor e jornalista francês cujas credenciais incluem nada mais nada menos que o comando da cobertura do mundo árabe-muçulmano da AFP (Agence Frence Presse) de 1980 a 1990. Pra quem quiser ler artigo, em inglês ou francês, do mesmo autor sobre o lançamento do France24 (bem como os riscos que envolvem tal iniciativa), canal francês internacional de notícias lançado no início de dezembro, é só clicar aqui.
Abaixo, reproduzimos um pedacinho do texto.


A estratégia midiática estadunidense 1945-2005


Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos desenvolveram um sistema de propaganda sem precedentes. Através de estruturas como o Congresso para a Liberdade e a Cultura, eles corromperam as elites intelectuais ocidentais. Depois, ao instrumentalizar a liberdade de informação, afogaram o mundo no seu ponto de vista único, graças a poderosas agências de imprensa e a uma gigantesca rede de rádios profanas e religiosas, como nos revela René Naba no seu último livro, Aux origines de la tragédie arabe [Nas origens da tragédia árabe], do qual reproduzimos aqui um excerto.


Do bom uso dos princípios universais


Os grandes princípios universalistas raramente derivam de considerações altruístas. Na maioria das vezes, eles respondem a imperativos materiais. Foi assim com o princípio da liberdade de navegação proclamada pela Inglaterra nos séculos XVII e XVIII para assegurar a sua supremacia marítima, e consequentemente a sua hegemonia comercial no resto do planeta. O mesmo aconteceu com o livre-câmbio decretado pelos países ocidentais nos séculos XIX e XX, de modo a coagir a China a escoar as mercadorias ocidentais para os seus mercados internos em nome da "política da porta aberta". E assim viria a ser com o "princípio da liberdade de informação" firmemente defendido pelos Estados Unidos, após a Segunda Guerra Mundial, com o intuito de estabelecerem a sua supremacia ideológica nos quatro domínios que condicionam o poder: político, militar, económico e cultural.

Na sua batalha ideológica pela conquista do imaginário dos povos, garantia essencial da perenidade de uma nação, os Estados Unidos desenvolveram uma argumentação baseada sobre uma dupla articulação, um argumento intelectual, o princípio da liberdade de circulação de informação e de recursos, um argumento prático, o pressuposto de que os Estados Unidos são a única grande democracia no mundo que não dispõe de um ministério da cultura, nem de um ministério da comunicação, prova irrefutável, segundo eles, de um regime de liberdade.

Apresentado como o antídoto absoluto para o fascismo e para o totalitarismo, o princípio da liberdade de informação, constitui um dos grandes dogmas da política estadunidense do pós-guerra, o seu principal tema de propaganda. É uma formidável máquina de guerra que responde a um objectivo duplo. Quebrar, por um lado, o cartel europeu da informação, principalmente o monopólio britânico dos cabos transoceânicos que assegura – via Cable and Wireless – a coesão do Império e confere uma posição preponderante à agência britânica de informação Reuters, e acessoriamente, a preeminência da Agência francesa Havas, a futura Agência France Presse (AFP) na América Latina, zona de interesse prioritário dos Estados Unidos.

Neutralizar, por outro lado, toda a crítica através da eliminação de toda a concorrência europeia que pudesse apresentar, aos leitores, os Estados Unidos em termos pouco elogiosos, a imagem desvalorizada do cow-boy americano mascando pastilha elástica, ou ainda mais grave, a segregação racial e os linchamentos do Klu Klux Klan, ou ainda o grande banditismo da época da proibição. Sob uma liberdade aparente irrompia já o controlo. Toda a literatura vai teorizar sobre esse princípio da liberdade de informação e dar uma roupagem moral a uma política de expansão.

Pra ler todo - resistir.info.

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