quinta-feira, dezembro 21, 2006

Tensão está presente por todos os lados em Gaza



Uma simples visita ao complexo presidencial do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, em Gaza, é suficiente para sentir como as coisas estão tensas por aqui.

Empunhando fuzis Kalashnikov, membros da unidade de elite Força 17 e da guarda presidencial observam das fendas de suas balaclavas por todos os cantos.

Eles estabeleceram bloqueios feitos de barreiras de concreto e grandes latões de lixo em um raio de 300 metros do complexo presidencial.

Os carros se aproximam dos soldados cuidadosamente. Todo motorista tem de mostrar documentos de identificação. Eles são forçados a abrir seus porta-malas. Os soldados procuram armas e explosivos.

Conforme avançamos para um outro bloqueio a 100 metros da residência de Abbas, seis soldados nos cercam, apontando suas armas contra o carro. “O que vocês estão fazendo?”, um deles grita.

Após alguns minutos, eles nos deixam passar. Mas não antes de um dos soldados dizer em inglês: “Este é um dos lugares mais seguros do mundo”. Ele deve estar brincando.

Tiros

Um cessar-fogo entre os dois principais grupos políticos palestinos, o Fatah e o Hamas, deveria ajudar a conter a violência que já deixou vários mortos na última semana, incluindo três crianças.

Mas tiros eram ouvidos perto do complexo presidencial, com atiradores não identificados disparando contra os prédios.

Os confrontos entre os dois grupos políticos palestinos vêm crescendo desde a surpreendente vitória eleitoral do Hamas sobre o Fatah, no início do ano.

O governo do Hamas vem sendo objeto de um boicote econômico internacional por sua recusa em reconhecer Israel, debilitando a economia palestina.

Após negociações entre os dois partidos não terem conseguido formar um governo de união nacional, que eles esperavam que pudesse terminar com o embargo internacional, os acertos de contas têm acontecido nas ruas palestinas.

Mahmoud Abbas, também líder do Fatah, sugeriu no sábado eleições antecipadas para encerrar a crise. Os líderes do Hamas disseram que isso era uma tentativa de golpe.

Polarização

Muitos palestinos temem que a crescente polarização política leve a um derramamento de sangue ainda maior.

Em nenhum lugar isso é mais claro do que no cruzamento que separa a Universidades Al-Azhar e a Universidade Islâmica, em Gaza.

A Al-Azhar é vista como uma base do Fatah, enquanto a Universidade Islâmica é vista como uma linha de produção de simpatizantes do Hamas.

Na Universidade Al-Azhar, o campus está vazio. Os estudantes respeitam um período de três dias de luto após um estudante de 19 anos ter sido morto nos confrontos.

A cem metros dali, estudantes se concentram do lado de fora da Universidade Islâmica após o fim das aulas.

Um professor, Wael Bashir, disse que todos estão no limite. “Este ciclo de violência precisa terminar agora”, disse. “Caso contrário, eu temo, isso vai durar para sempre.”


por Martin Patience, de Gaza, para BBCBrasil - 19/12/2006.

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