sexta-feira, dezembro 29, 2006

Resta atravessar a rua

Beatriz Fagundes

À cidadania que não concorda com o tarifaço, com o congelamento de salários e outras garfadas que se avizinham, resta atravessar a rua.

A governadora que toma posse ainda durante a ressaca das comemorações do fim de mais um ano velho se elegeu prometendo “um jeito novo” de governar na cabeça de todos os gaúchos. Mesmo os que nela não votaram, ganharam um tarifaço, um pacotaço! “A montanha pariu um rato”, aliás, o mesmo ratinho de sempre que penetra em todos os nossos dias e noites. Até dormindo pagamos impostos. Vamos dar nomes aos bois: Não se trata de prorrogação do tarifaço de 2004. Não! É um novo tarifaço, e mais pesado que o último.

Vamos por partes
Nos primeiros três meses, as alíquotas deverão retornar aos valores anteriores ao pacote que se convencionou chamar de Rigotto, mas que, a bem da verdade, foi aprovado por todos os partidos que hoje são a base de apoio da governadora. Serão reincidentes, portanto, em decidir por todos nós, gaúchos, pelo aumento de impostos. O PSDB, PMDB, PP, PL, PDT, PTB e PPS – falta, por enquanto, o PFL, que vai decidir amanhã se participa do governo ou não, se aprova ou não o segundo tarifaço – aprovaram o primeiro tarifaço em 2004, depois deixaram o governador, que agora se despede literalmente com o “pincel na mão”, sendo cobrado solitariamente por uma ação de conjunto. Os mesmos, rigorosamente os mesmos partidos que administraram e estão nos últimos quatro anos, retornam com retoques de botox. Mas são os mesmos!

A governadora propôs, e agora?
Cabe ao Executivo elaborar projetos e apresentá-los aos dignos representantes dos eleitores, seus também dignos representados. Até ontem, o jogo era jogado no silêncio da turma da transição. Uma jogada tão silenciosa que sequer o vice-governador, o empresário antitarifaço Paulo Feijó, ou o PFL, foram chamados para conversar. Onde andarão o deputado Onyx Lorenzoni e o senador Sérgio Zambiasi? Diz o velho ditado: “Em época de muda, passarinho não canta!”. Seria importante uma posição dos deputados federais, alguns futuros estreantes em Brasília. Ora, é claro que suas excelências são contra o aumento da carga tributária!

Vamos atravessar a rua
A governadora precisa negociar, é óbvio, e as negociações estão difíceis. Ninguém tem lembrança de um governo que nem iniciou e já recebeu dois pedidos de demissão de secretários de Estado! É inédito. Ontem, ainda restava uma secretaria e dois cargos no Banrisul. Podem ter sido preenchidos nas últimas horas. Mas, agora, a governadora começa o seu dia-a-dia na governança. À cidadania que não concorda com o tarifaço, com o congelamento de salários e outras garfadas que se avizinham, resta atravessar a rua. Serão cerca de 60 horas entre a apresentação da proposta decente ou indecente, depende do lado que cada um está, para que os 55 deputados ouçam as vozes roucas das ruas e decidam em nosso nome. O que a ninguém é permitido, até por uma questão de respeito às tradições do Rio Grande, é alguém dizer que não sabia das reais condições econômicas do Estado. No início do segundo turno, tudo foi revelado pelo governador Rigotto. Além do mais, o futuro secretário da Fazenda, doutor Aod Cunha, foi presidente da Fundação de Economia e Estatística e eleito o Economista do Ano de 2004.

Congelar salários e reduzir gastos
Esse surge como o novo jeito de governar. Torcemos para que dê certo. Foi bom saber, pela própria governadora, que houve “uma conspiração do universo” para sua eleição. Isso afasta temores, certamente infundados, de que teremos meses ruidosos pela frente. Como será feita a adequação entre administrar com qualidade se a idéia é reduzir em 30% o custeio da máquina? Salários congelados, falta de insumos, equipamentos, falta de pessoal, afinal, todos os funcionários contratados das escolas da rede pública estadual estão sendo demitidos no próximo dia 31. Ninguém poderá chegar, na volta das férias, e dizer que não sabia. Trata-se da crônica do desastre anunciado. Espera-se que não. O governo da doutora Yeda Crusius tem que dar certo. Estamos todos no mesmo barco. Se alguém deve ser cobrado hoje, eles estão no Palácio Farroupilha, são herdeiros da herança farrapa, que até hoje se canta em prosa e verso. Aliás, pelo andar das carretas, anda mesmo só em prosa e verso.

Notícias do Jornal O Sul do Dia 27/12/2006

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