
Nosotros contestamos que ese precio no puede llegar más allá de las fronteras de la dignidad.*
Empunhando fuzis Kalashnikov, membros da unidade de elite Força 17 e da guarda presidencial observam das fendas de suas balaclavas por todos os cantos.
Eles estabeleceram bloqueios feitos de barreiras de concreto e grandes latões de lixo em um raio de 300 metros do complexo presidencial.
Os carros se aproximam dos soldados cuidadosamente. Todo motorista tem de mostrar documentos de identificação. Eles são forçados a abrir seus porta-malas. Os soldados procuram armas e explosivos.
Conforme avançamos para um outro bloqueio a 100 metros da residência de Abbas, seis soldados nos cercam, apontando suas armas contra o carro. “O que vocês estão fazendo?”, um deles grita.
Após alguns minutos, eles nos deixam passar. Mas não antes de um dos soldados dizer em inglês: “Este é um dos lugares mais seguros do mundo”. Ele deve estar brincando.
Tiros
Um cessar-fogo entre os dois principais grupos políticos palestinos, o Fatah e o Hamas, deveria ajudar a conter a violência que já deixou vários mortos na última semana, incluindo três crianças.
Mas tiros eram ouvidos perto do complexo presidencial, com atiradores não identificados disparando contra os prédios.
Os confrontos entre os dois grupos políticos palestinos vêm crescendo desde a surpreendente vitória eleitoral do Hamas sobre o Fatah, no início do ano.
O governo do Hamas vem sendo objeto de um boicote econômico internacional por sua recusa em reconhecer Israel, debilitando a economia palestina.
Após negociações entre os dois partidos não terem conseguido formar um governo de união nacional, que eles esperavam que pudesse terminar com o embargo internacional, os acertos de contas têm acontecido nas ruas palestinas.
Mahmoud Abbas, também líder do Fatah, sugeriu no sábado eleições antecipadas para encerrar a crise. Os líderes do Hamas disseram que isso era uma tentativa de golpe.
Polarização
Muitos palestinos temem que a crescente polarização política leve a um derramamento de sangue ainda maior.
Em nenhum lugar isso é mais claro do que no cruzamento que separa a Universidades Al-Azhar e a Universidade Islâmica, em Gaza.
A Al-Azhar é vista como uma base do Fatah, enquanto a Universidade Islâmica é vista como uma linha de produção de simpatizantes do Hamas.
Na Universidade Al-Azhar, o campus está vazio. Os estudantes respeitam um período de três dias de luto após um estudante de 19 anos ter sido morto nos confrontos.
A cem metros dali, estudantes se concentram do lado de fora da Universidade Islâmica após o fim das aulas.
Um professor, Wael Bashir, disse que todos estão no limite. “Este ciclo de violência precisa terminar agora”, disse. “Caso contrário, eu temo, isso vai durar para sempre.”
Martin Asser, da BBC, explica as raízes dos confrontos entre membros dos dois grupos.
O que levou ao aumento na tensão?
As facções rivais palestinas, Fatah e Hamas, têm tentado chegar a um acordo quanto a um governo de unidade que iria resolver a crise iniciada pela vitória do Hamas nas eleições de janeiro e um boicote internacional que teve início logo em seguida.
As negociações estão difíceis e, recentemente, chegaram a um aparentemente incontornável impasse. O presidente palestino Mahmoud Abbas tem sugerido novas eleições como forma de resolver o problema.
Por muitos meses, a tensão vem aumentando nos territórios palestinos, que também passam por uma crise econômica, intensificado pelo cerco militar imposto por Israel e pelas sanções – adotadas por causa da recusa do Hamas em reconhecer Israel.
Sem uma solução à vista, dois fatos recentes reforçaram ainda mais a animosidade entre Fatah e Hamas - a morte de três filhos de um chefe de segurança do Fatah e uma aparente tentativa de assassinato contra a vida do premiê Ismail Haniya.
Os dois lados trocam acusações, mas procurar se distanciar de qualquer responsabilidade pelo ataques realizados contra seus oponentes.
Os atuais confrontos entre as facções estão ocorrendo nas ruas das cidades da Faixa de Gaza e da Cisjordânia e ameçam sair fora de controle.
Qual é a posição dos dois partidos?
O Fatah – facção à que era ligado o líder palestino Yasser Arafat, que morreu em 2004 – apoiou a assinatura dos acordos de Oslo, em 1993, mas o avanço não trouxe paz duradoura à região.
Líderes do Fatah continuam acreditando que acabar com os ataques de palestinos contra Israel é a chave para forçar os israelenses a participarem de negociações de paz, levando a à criação um Estado palestino independente.
O Hamas se recusa a reconhecer a legimitidade de Israel ou a desistir da luta armada para retomar para os palestinos os territórios anexados por Israel em 1948 - terra que eles afirmam que foi perdida quando o Estado de Israel foi estabelecido.
O fracasso do processo de paz e as condições difíceis causadas pela ocupação teriam causado a vitória do Hamas nas eleições parlamentares de 2006.
Muitos eleitores palestinos perdeu a confiança no Fatah, que agora é visto como corrupto e incompetente. Legalistas se ressentem por ter perdido o poder pela primeira vez desde o surgimento do partido na década de 60.
Por que as negociações para a formação de um governo de coalizão palestino, com Fatah e Hamas, são tão difíceis?
As visões de mundo do Fatah e do Hamas são fundamentalmente diferentes.
No coração da filosofia do Fatah (e está é a razão de sua aceitação internacional) está seu reconhecimento do direito de existência do Estado de Israel.
No coração da filosofia do Hamas (e esta é a razão de seu isolamento em relação ao ocidente) está sua recusa em desistir da luta contra Israel, a quem acusa de ignorar os direitos palestinos e cuja legitimidade não reconhece.
Está cada vez mais claro que não há como superar estas diferenças, e isto está associado ao fato de que qualquer compromisso no qual o Hamas assuma uma posição de liderança será provavelmente rejeitado por Israel e seus aliados, como os Estados Unidos.
O que pode acontecer agora?
O Hamas afirma que qualquer tentativa de realizar novas eleições seria um golpe contra um governo eleito nos territórios palestinos.
Ainda é preciso ver se Mahmoud Abbas vai pressionar por uma nova votação - ou se será realmente possível realizar esta nova votação, devido à crescente tensão.
Até o momento, os palestinos sempre foram capazes de se controlar quando a violência interna ameaçou transformar suas vidas em um desastre comparável a uma guerra civil.
Isto ocorre em parte devido a importantes laços familiares e entre clãs, que cruzam as linhas entre as facções na sociedade palestina. Qualquer família pode ter um filho no Hamas, outro no Fatah e um terceiro nas forças de segurança palestinas.
Mas a pressão pode estar aumentando demais, e mesmo esse fato pode não ser suficiente para evitar um conflito em escala maior.
Fontes: International Middle East Center, BBCBrasil.com
Seguramente esta es la última oportunidad en que me pueda dirigir a ustedes. La Fuerza Aérea ha bombardeado las torres de Radio Portales y Radio Corporación.
Mis palabras no tienen amargura, sino decepción, y serán ellas el castigo moral para los que han traicionado el juramento que hicieron... soldados de Chile, comandantes en jefe titulares, el almirante Merino que se ha auto designado, más el señor Mendoza, general rastrero... que sólo ayer manifestara su fidelidad y lealtad al gobierno, también se ha nominado director general de Carabineros.
Ante estos hechos, sólo me cabe decirle a los trabajadores: ¡Yo no voy a renunciar! Colocado en un tránsito histórico, pagaré con mi vida la lealtad del pueblo. Y les digo que tengo la certeza de que la semilla que entregáramos a la conciencia digna de miles y miles de chilenos, no podrá ser segada definitivamente.
Tienen la fuerza, podrán avasallarnos, pero no se detienen los procesos sociales ni con el crimen... ni con la fuerza. La historia es nuestra y la hacen los pueblos.
Trabajadores de mi patria: Quiero agradecerles la lealtad que siempre tuvieron, la confianza que depositaron en un hombre que sólo fue intérprete de grandes anhelos de justicia, que empeñó su palabra en que respetaría la Constitución y la ley y así lo hizo. En este momento definitivo, el último en que yo pueda dirigirme a ustedes, quiero que aprovechen la lección. El capital foráneo, el imperialismo, unido a la reacción, creó el clima para que las Fuerzas Armadas rompieran su tradición, la que les enseñara Schneider y que reafirmara el comandante Araya, víctimas del mismo sector social que hoy estará en sus casas, esperando con mano ajena reconquistar el poder para seguir defendiendo sus granjerías y sus privilegios.
Me dirijo sobre todo, a la modesta mujer de nuestra tierra, a la campesina que creyó en nosotros; a la obrera que trabajó más, a la madre que supo de nuestra preocupación por los niños. Me dirijo a los profesionales de la patria, a los profesionales patriotas, a los que hace días estuvieron trabajando contra la sedición auspiciada por los Colegios profesionales, colegios de clase para defender también las ventajas que una sociedad capitalista da a unos pocos. Me dirijo a la juventud, a aquellos que cantaron, entregaron su alegría y su espíritu de lucha. Me dirijo al hombre de Chile, al obrero, al campesino, al intelectual, a aquellos que serán perseguidos... porque en nuestro país el fascismo ya estuvo hace muchas horas presente en los atentados terroristas, volando los puentes, cortando la línea férrea, destruyendo los oleoductos y los gasoductos, frente al silencio de los que tenían la obligación de proceder: estaban comprometidos. La historia los juzgará.
Seguramente Radio Magallanes será acallada y el metal tranquilo de mi voz no llegará a ustedes. No importa, lo seguirán oyendo. Siempre estaré junto a ustedes. Por lo menos, mi recuerdo será el de un hombre digno que fue leal a la lealtad de los trabajadores.
El pueblo debe defenderse, pero no sacrificarse. El pueblo no debe dejarse arrasar ni acribillar, pero tampoco puede humillarse.
Trabajadores de mi patria: Tengo fe en Chile y su destino. Superarán otros hombres este momento gris y amargo, donde la traición, pretende imponerse. Sigan ustedes, sabiendo, que mucho más temprano que tarde, de nuevo, abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre, para construir una sociedad mejor.
¡Viva Chile! ¡Viva el pueblo! ¡Vivan los trabajadores!
Estas son mis últimas palabras y tengo la certeza, de que mi sacrificio no será en vano. Tengo la certeza de que, por lo menos, habrá una lección moral que castigará la felonía, la cobardía y la traición.
As grandes alamedas
José Luís Fiori*
“Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, de nuevo se abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre, para construir uma sociedad mejor”
Salvador Allende, Último Discurso, 11 de setembro de 1973
O filósofo francês Michel Foucault começa seu livro sobre “As Palavras e as Coisas” citando uma “classificação de animais” de uma enciclopédia chinesa descoberta por Borges, e que parece, à primeira vista, muito divertida. Para os chineses, os animais se dividiriam em “a) pertencentes ao imperador, b) embalsamados, c) domesticados, d) leitões, c) sereias, d) fabulosos e) cães em liberdade, f) que se agitam como loucos, g) inumeráveis, h) que acabam de quebrar a bilha, i) que de longe parecem moscas, j) et cetera, l) incluídos na presente classificação, m) desenhados com um pincel muito fino de pêlo de camelo”. Na verdade, um exercício lógico de construção de um conceito e de uma identidade, num determinado momento milenar do conhecimento biológico chinês.
O estranho, quase divertido, é perceber a semelhança que existe entre esta lista milenar de animais e as classificações recentes da esquerda latino-americana feitas pelos conservadores. Durante a Guerra Fria, a esquerda foi considerada uma força política coesa, e uma ameaça homogênea. Mas agora, segundo os conservadores, as suas divisões e classificações internas são tantas e tão confusas que lembram a classificação dos animais chineses.
No início, só se distinguiam os “normais” e “equilibrados” dos nacionalistas e populistas, mas agora o quadro se complicou, e já se fala normalmente de esquerdistas “a) moderados, b) radicais, c) do bem, d) do mal, e) demagógicos, f) refundacionistas, g) etno-sociais, h) modernos, i) espalhafatosos, g) anacrônicos, h) autoritários, i) pós-modernos, f) nacional-populares, g) pragmáticos, h) nacional-desenvolvimentistas, i) raivosos, j) narcísicos, l) estriônicos, m) pré-históricos, e até m) nazi-fascistas”. No caso da Enciclopédia Chinesa, a confusão pode ser atribuída à Biologia da época. Mas no caso da esquerda latino-americana, e da sua vitória eleitoral, neste ano de 2006, não é provável que a culpa seja apenas da Ciência Política.
É perfeitamente compreensível que alguns não gostem do que está acontecendo. Mas qualquer observador mais atento e objetivo percebe que está em curso uma mudança importante na América Latina, uma mudança com relação à história da própria esquerda e de todos os sistemas políticos do Continente. Basta lembrar que neste início de século XXI, todas as vitórias da esquerda foram democráticas e massivas, por maiorias contundentes e com o apoio ativo de populações que estiveram até hoje isoladas e “recluídas”, nas montanhas indígenas, no submundo urbano, e nos grotões do atraso e da dominação coronelista.
Tudo isto, depois de 20 anos de ditaduras militares de direita, em quase todo Continente, e mais 10 anos de governos neoliberais. Frente a isto, o que se destaca como denominador comum desta nova onda de esquerda, na América Latina, é sem dúvida nenhuma a vontade massiva de mudar, a vontade de não voltar mais para trás, mesmo quando ainda não estejam claras as idéias e os caminhos imediatos do futuro. A esquerda latino-americana governou muito pouco, durante o século XX, e na hora da sua vitória, no início do século XXI, os socialistas e a social-democracia européia estão vivendo uma profunda crise de identidade.
Por isso, o que surpreende neste momento não é a imprecisão das idéias e dos projetos imediatos dos governos eleitos, mas a sua unidade em torno de um grande objetivo central: mudar definitivamente o rumo elitista, racista e subalterno da história latino-americana. Esta novidade histórica exige um renovado esforço teórico, porque já não cabe nos conceitos clássicos da sociologia latino-americana, que se transformaram em jargões, como no caso, por exemplo, do “populismo”, que quer dizer tudo e não significa mais nada.
Em 1944, o historiador e economista austríaco Karl Polanyi publicou nos Estados Unidos uma obra clássica sobre a formação e expansão da “civilização liberal” no século XIX, e sobre as suas crises e guerras no século XX (1) . Segundo Polanyi, as economias e sociedades liberais são movidas por duas forças simultâneas e contraditórias, materiais e sociais. A primeira seria de natureza “liberal-internacionalizante”, que empurraria as economias nacionais na direção da globalização e da universalização dos mercados “auto-regulados”. E a segunda atuaria numa direção oposta, de “auto-proteção social e nacional”, funcionando como uma reação defensiva das sociedades ao efeito destrutivo dos mercados auto-regulados, que ele chamou de “moinhos satânicos”.
No caso dos países europeus, sobretudo no século XX, estes dois movimentos de auto-proteção – nacional e social – convergiram sob a pressão externa das duas Grandes Guerras Mundiais, da crise econômica da década de 1930 e, depois, da própria Guerra Fria. Polanyi considera que foi esta convergência que viabilizou, depois de 1945, o sucesso das políticas de crescimento econômico, pleno emprego e bem-estar social, consideradas heréticas durante a “era de ouro” da “civilização liberal”, entre 1840 e 1914. Mas fora da Europa e dos Estados Unidos, em particular na América Latina, este “duplo movimento” nunca se deu de forma convergente, pelo menos até o final do século XX.
Karl Polanyi não previu a possibilidade de uma “restauração liberal-conservadora” dos mercados auto-regulados, como a que ocorreu depois de 1980. Entretanto, no início do século XXI, multiplicam-se por todo lado os sinais de uma nova reversão ou “grande transformação” – nacional e social – provocada pelas desregulações massivas dos mercados, nas últimas décadas do século XX, e pelo seu impacto destrutivo sobre o mundo do trabalho e sobre a distribuição da riqueza entre as classes e as nações.
A grande novidade, entretanto, é que desta vez, a reação social e nacional está começando pela América Latina, quem sabe graças à “globalização”. E ainda mais, desta vez, ao contrário da Europa e dos Estados Unidos, a convergência das duas forças de que fala Polanyi não está sendo provocado por uma guerra, e o movimento de “auto-proteção” está vindo do social para o nacional, de “baixo” para “cima”. Na forma de um gigantesco movimento democrático, a favor de mais justiça na distribuição nacional e internacional dos direitos, do poder e da riqueza.
* Artigo em homenagem a Eduardo Kugelmas, grande amigo e companheiro de Santiago do Chile, professor da Universidade de São Paulo, falecido no dia 14 de novembro de 2006.
(1) Polanyi, K. (1944/1972), A Grande Transformação, Editora Campus, Rio de Janeiro
*José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Se para os pobres do Brasil o aumento de renda per capita tem sido semelhante à média da China, os ricos experimentaram um crescimento do nível da Costa do Marfim. Redução da desigualdade é isso mesmo, explica especialista do Ipea.
Esqueça a "Belíndia" inventada em meados dos anos 70 pelo economista Edmar Bacha, que depois veio a ser um dos idealizadores do Plano Real. Durante muito tempo, a fusão das condições de vida da Bélgica e da Índia era citada como símbolo do nível da desigualdade no Brasil. Passados mais de 30 anos, a expressão pode estar, desde que seja mantido o ritmo de redução das disparidades de renda nos últimos anos, com os dias contados.
E essa priorização dos gastos públicos destinados aos mais pobres levanta uma questão política central: qual é a capacidade das famílias brancas e ricas de suportar a estagnação vendo os pobres ganhando mais? Para que a desigualdade continue diminuindo, a renda dos ricos necessariamente não pode deixar de crescer mais lentamente.
Fatores determinantes
Uma combinação de fatores explica o grau da redução da desigualdade dos últimos anos. A influência da melhoria de renda não derivada de trabalho mostra que as políticas sociais tiveram um papel fundamental para essa queda. Pensões e aposentadorias, Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada (BPC), que consiste na transferência de um salário mínimo a idosos e pessoas com necessidades especiais que não têm outras fontes de renda, contribuíram respectivamente, de acordo com os dados do livro compilado por Paes de Barros, com 26%, 12% e 11% para a redução da desigualdade. A soma dessas iniciativas foi responsável por metade (49%) da redução.
A diminuição da diferença de remuneração do trabalho por faixa de escolaridade, uma das conseqüências do progresso educacional da população brasileira, também contribuiu com 19% para a redução da desigualdade. Houve uma queda do impacto que um ano a mais da educação tem sobre os salários. O especialista do Ipea explicou que uma diferença menor permite maior acesso aos pobres, como baixar o preço do computador ou do ingresso do cinema para melhorar a formação dos mais pobres. "Ainda se atribui artificialmente muito preço no trabalho para a educação", declarou, lembrando ainda que o mercado de trabalho continua tratando pessoas com o mesmo potencial produtivo de maneira diferente, como se pode verificar em pesquisas de recorte racial.
Os movimentos de desconcentraçã
Base de dados
O pesquisador do Ipea aproveitou o evento para responder ao questionamento de que a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e utilizada como base nas pesquisas que vem detectando a queda da desigualdade no Brasil, não registra os rendimentos fora de trabalho (especialmente a renda de aplicações financeiras) e que, portanto, o ritmo da redução não teria sido dessa magnitude.
A renda total aferida pela PNAD é de R$ 850 bilhões por ano, enquanto o total de renda contabilizado por outro levantamento - a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) é de R$ 1 trilhão no ano. O pesquisador do Ipea garante que a POF, mesmo sendo mais abrangente, apresenta os mesmos níveis de redução da desigualdade. Ausente da PNAD, o lucro das empresas de cerca de R$ 250 bilhões consome R$ 150 bilhões de custos de manutenção por ano. Ou seja, segundo ele, os R$ 100 bilhões restantes que ficam retidos desses lucros no Brasil e fora dele não foram suficientes para desequilibrar o peso dos gastos governamentais no sentido distributivo. Também a transferência de bens que não envolvem trocas financeiras (doações de roupas e artigos domésticos, por exemplo) e somam cerca de R$ 24 bilhões por ano e a produção para auto-consumo que chega a R$ 20 bilhões por ano não aparecem na PNAD. Diante disso, Paes de Barros chegou a seguinte conclusão: "O Brasil talvez esteja ainda menos desigual [do que as pesquisas com base na PNAD estão mostrando]".
Maurício Hashizume - Carta Maior