sexta-feira, abril 20, 2007

O Terrorismo do Ocidente

O texto abaixo, de Humam al-Hamzah, publicado no jornal Oriente Médio Vivo, é uma análise a partir do relatório do independente Grupo de Pesquisa de Oxford, divulgado no Reino Unido, entitulado "Além do Terror: A verdade sobre as verdadeiras ameaças ao mundo".

Acho interessante mencionar o relatório anterior, de 2006, entitulado "Respostas Globais para Ameaças Globais, Segurança Sustentável para o Século 21" em que seus autores, Chris Abbot, Paul Rogers e John Sloboda, já afirmavam a inutilidade da suposta "guerra ao terrorismo" de Bush e Blair no sentido de garantir-se um mundo mais seguro às próximas gerações.

Ao contrário disso, no relatório de 13 de junho de 2006, eles afirmaram que a "guerra ao terror", além de ter originado um recrutamento muito maior de terroristas do que o número supostamente neutralizado pelas ações repressivas, ainda desviou a atenção mundial de questões que, estas sim, podem ser, num futuro próximo, geradoras de conflitos de maior gravidade, sendo o
aquecimento global um deles.

Mas vamos ao texto do Humam al-Hamzah sobre o relatório mais recente:


O Terrorismo do Ocidente

Há aproximadamente um ano, o Grupo de Pesquisa de Oxford (ORG) elaborou um documento relatando os quatro principais fatores que contribuem para a instabilidade mundial: mudanças climáticas, competição por recursos naturais escassos, marginalização da maioria da população mundial e a crescente opção pelo uso de forças militares ao invés da diplomacia foram as causas listadas. No estudo de 2007, intitulado "Além do Terror: A verdade sobre as verdadeiras ameaças do mundo" (originalmente Beyond Terror: The Truth About the Real Threats to Our World), o ORG manteve as mesmas causas de 2006, mas adicionou um importante item: a "guerra contra o terrorismo" está aumentando o risco de novos ataques terroristas como os de 11 de setembro. Os Estados Unidos lideraram uma campanha falsa em que foram derrotados.

Segundo o relatório, "tratar a invasão do Iraque como parte da guerra contra o terrorismo deu vida a mais terrorismo na região", acrescentando que as forças de invasão deveriam deixar o Iraque o mais breve possível. Mais adiante, o documento sugere que as forças de ocupação deveriam ser substituídas por uma força internacional da ONU, como o caso atual do Afeganistão. Supostamente, apenas as forças internacionais poderiam melhorar as condições de vida dos civis iraquianos, algo que confere a preocupação do recente relatório do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, que afirma que "todos os aspectos da vida iraquiana pioraram" durante a ocupação estadunidense.

Ao contrário dos objetivos estadunidenses, a sua política internacional não enfraqueceu o Irã, a Síria ou a Coréia do Norte, que se tornaram "destaques", de acordo com o relatório do ORG, que também alerta para o fortalecimento do Talibã no Afeganistão, mesmo 6 anos após a invasão do país. Até o momento, cada estratégia dos Estados Unidos e de seus aliados se provou uma amargurada derrota, refletida nas votações do próprio Congresso estadunidense, na condenação mundial dos crimes de guerra cometidos pelos mesmos e na fragilidade dos atuais governos pró-invasão do Iraque e do Afeganistão.

O relatório também analisa as ameaças estadunidenses contra o livre desenvolvimento energético do Irã, acusado de maneira infundamentada pelos Estados Unidos e alguns de seus aliados de desenvolver energia nuclear para uso militar. Segundo o documento, "qualquer intervenção militar no Irã será um desastre", afirmando a necessidade de uma solução diplomática. Mais detalhadamente, o ORG afirma que "o uso de força militar iria encorajar o desenvolvimento de armas nucleares". Obviamente, se a diplomacia é sempre colocada como segunda opção, é importante que os países considerados "inimigos" pelos Estados Unidos se armem o mais rápido possível. Apesar disso, a recente lição do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad ao Reino Unido e seus aliados, com a libertação dos 15 prisioneiros britânicos, mostrou que o caminho da diplomacia é viável, se a intenção for realmente a paz. O próprio Reino Unido, porém, parece não pensar dessa forma - segundo o ORG, "o plano britânico de desenvolver seus submarinos nucleares irá também encorajar outros estados a fazer o mesmo". Ironicamente, parece que o problema dos países ocidentais com o Irã é o próprio país, e não sua política energética.

A verdade é que os Estados Unidos e seus aliados foram derrotados em todas as frentes de batalha - diplomática e militarmente. No Iraque e no Afeganistão, mais soldados da invasão morrem a cada dia, enquanto os chamados "insurgentes" ganham força e se aproximam de completar seus objetivos. Na recente lição diplomática do Irã, as duas faces dos líderes ocidentais foram expostas para todo o mundo, sem deixar margem para dúvidas. Não é novidade o fato de que violência gera violência, assim como paz gera paz - cabe agora ver qual será o caminho escolhido pelos líderes ocidentais.

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