Para uma análise objetiva da transformação do ESCÂNDALO DO ANO em notinha de rodapé, vejamos como repercutiu a notícia de hoje da Folha de São Paulo na… FOLHA ONLINE!
Abaixo, trechos da matéria de hoje, da FSP:
"PF Diz que Valerioduto Pagava Juiz que Favoreceu PSDB-MG - Rogério Tolentino, advogado de Valério, recebeu R$ 302 mil quando atuou no TER - Nomeado por Fernando Henrique Cardoso em 20 de julho de 1998, Tolentino decidia sistematicamente a favor da coligação do PSDB
Rogério Lanza Tolentino, advogado do publicitário Marcos Valério, foi juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais e recebeu dinheiro do valerioduto durante a campanha de 1998, quando o então governador Eduardo Azeredo (PSDB) tentou, sem êxito, a reeleição. Atuando como juiz eleitoral, Tolentino votou favoravelmente ao candidato tucano em decisões próximas a depósitos em sua conta e na de sua mulher .
Relatório da Polícia Federal no inquérito do valerioduto mineiro registra que, entre agosto e outubro de 1998, foram feitos cinco pagamentos no total de R$ 302.350 ao juiz e a sua mulher, Vera Maria Soares Tolentino. Para a PF, seriam " recursos de estatais desviados para o caixa de coordenação financeira da campanha".
Réu do mensalão do PT pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, Tolentino foi juiz eleitoral no biênio 1998/2000, indicado para vaga de advogado em lista tríplice e nomeado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 20 de julho de 1998 . Advogados, juízes e promotores (ouvidos com a condição de terem os nomes preservados) dizem que Tolentino sistematicamente decidia a favor da coligação do governador tucano -o que ele nega.
Procurado pela Folha, Tolentino inicialmente informou que "não participou de qualquer julgamento referente à campanha do então candidato Eduardo Azeredo". Confrontado com registro de acórdão de julgamento em que atuou como relator, com voto a favor do tucano, modificou sua versão .
Dois episódios esvaziam as alegações do advogado. Em sessão realizada em 10 de setembro de 1998, o TRE-MG cassou liminar concedida pelo juiz relator Tolentino, que permitira a Azeredo usar o tempo de propaganda destinado a candidatos a deputado, contrariando a legislação eleitoral.
Em 28 de setembro de 1998, a coligação que apoiava Itamar Franco (PMDB-PST) manifestou ao TRE-MG "a notável evolução do entendimento" de Tolentino, que deferiu liminar favorável a tucanos quando, cinco dias antes, negara pedido semelhante a peemedebistas.
Nas sessões de 16 de setembro de 1998 e 1º de outubro de 1998, quando o TRE-MG julgou recursos sobre direito de resposta, Tolentino novamente não votou contra Azeredo.
No relatório da PF, o delegado Luís Flávio Zampronha diz que "o advogado e consultor jurídico" Tolentino foi "sistematicamente beneficiado com os recursos públicos desviados"." (grifos nossos)
Agora, a "repercussão" na Folha Online (ao lado de cada frase 'bacaninha', coloco um número, para facilitar o entendimento dos comentários que vêm depois do texto):
"Valerioduto de MG (1) Pagou Juiz Eleitoral, diz PF
Rogério Lanza Tolentino, advogado do publicitário Marcos Valério, foi juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais e recebeu dinheiro do valerioduto durante a campanha de 1998, quando o então governador Eduardo Azeredo (PSDB) tentou, sem êxito, a reeleição. A informação está publicada em reportagem deste domingo da Folha (2), assinada por Frederico Vasconcelos (a íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL).
Segundo relatório da Polícia Federal, no inquérito do valerioduto mineiro, entre agosto e outubro de 1998, foram feitos cinco pagamentos no total de R$ 302.350 ao juiz e a sua mulher, Vera Maria Soares Tolentino. Para a PF, seriam "recursos de estatais desviados para o caixa de coordenação financeira da campanha".
Réu do mensalão do PT (3) pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, Tolentino foi juiz eleitoral no biênio 1998/2000, indicado para vaga de advogado em lista tríplice e nomeado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 20 de julho de 1998 (4).
Outro lado
O advogado Rogério Lanza Tolentino diz que todos os pagamentos da SMPB Publicidade no período em que foi juiz eleitoral "foram por prestação de serviços" e nega ter favorecido." (grifos nossos)
Vamos por partes:
1 - Valerioduto de MG
Quando se trata do PT, a imprensa é populista e atribui ao escândalo o nome oficial "mensalão petista", mesmo considerando o envolvimento de muitos outros partidos (o número de petistas na denúncia do Procurador Geral, por exemplo, é pra lá de minoritário).
Mas, quando se trata do PSDB, o problema misteriosamente passa a ser de Minas Gerais. A reportagem aponta uma denúncia de BENEFÍCIO DIRETO obtido pelo candidato tucano ao Governo do Estado. Mas dão ao caso o nome de "valerioduto mineiro".
Aliás, o que vem a ser um "Valerioduto"? Da forma como a imprensa coloca, fica parecendo um fenômeno da natureza, uma ação do cosmos contra a qual nenhum ser humano pode fazer coisa alguma. Na verdade, como se sabe, o "Valerioduto" era operado e tinha como beneficiários seres bem humanos e, inclusive, filiados a partidos políticos.
Mas, no caso do PSDB, o tratamento dado é esse: "valerioduto mineiro", como se fosse um fenômeno da natureza havido em uma região do Brasil; algo parecido com "seca nordestina", "chuva paulistana" ou "geada catarinense".
2 - A "Informação" Não é Essa
A reportagem da Folha Online não fala em "denúncia", mas sim em "informação". Ok, aí é problema estilístico (que talvez decorra de certas predileções partidárias). Engraçado, mesmo, é dizer que a "informação" é uma, quando na verdade é outra.
Segundo a Folha Online, esta seria a "informação":
"Rogério Lanza Tolentino, advogado do publicitário Marcos Valério, foi juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais e recebeu dinheiro do valerioduto durante a campanha de 1998, quando o então governador Eduardo Azeredo (PSDB) tentou, sem êxito, a reeleição. "
Não, não é. Se fosse, ninguém daria a menor bola, pois não há nada de errado nisso. Recebeu dinheiro "durante a campanha"? E daí? O "resumo da informação" não traz os elementos mais básicos e efetivamente sérios da coisa.
O que a Folha de São Paulo publicou foi o seguinte:
"Tolentino, advogado de Valério, recebeu R$ 302 mil quando atuou no TRE - Nomeado por Fernando Henrique Cardoso em 20 de julho de 1998, Tolentino decidia sistematicamente a favor da coligação do PSDB " (grifo nosso)
Ou seja: a Polícia Federal alega que um Juiz do TRE, advogado de Marcos Valério e nomeado por FHC para a vaga no Tribunal, recebeu dinheiro público de estatais mineiras e beneficiou o candidato do PSDB ao Governo do Estado, Eduardo Azeredo.
A denúncia (ou "informação") é essa. O resto é retórica boboca da Folha Online.
3 - O do PT é Petista, o do PSDB é… "Mineiro"
A mesma reportagem fala em "valerioduto mineiro" e em "mensalão petista". Não se trata de uma tendência regionalista, mas de pura e simples discriminação partidária. A Folha Online precisa esclarecer isso. Não é possível que haja orientações editoriais distintas para tratar de cada partido.
Ou é?
4 - Interferência no Judiciário
Um dos aspectos mais graves do "Mensalão do PT", e que curiosamente ainda não foi comprovado, é a alegação de que o Executivo estaria "comprando" o Legislativo. Há falhas lógicas nisso (como o fato de que petistas não receberiam dinheiro para votar… COM O PT!) e falhas objetivas, tendo em vista que alguns pagamentos eram repassados a prestadores de campanha.
Pelo que se apurou, houve o crime - sim, crime! - de "Caixa 2″, e isso é o bastante, sem dúvida, para que todos fiquemos indignados.
O "Mensalão do PSDB", segundo a notícia publicada hoje na Folha, vai um pouco além do "Caixa 2″. A acusação de agora é a seguinte: UM MEMBRO DO JUDICIÁRIO TERIA SIDO SUBORNADO, COM DINHEIRO PROVENIENTE DE ESTATAIS MINEIRAS, PARA DECIDIR EM FAVOR DO CANDIDATO DO PSDB, QUE ENTÃO ERA GOVERNADOR DE MINAS GERAIS.
Para complicar ainda mais, esse juiz, que era advogado de Marcos Valério, foi indicado ao TRE por Fernando Henrique Cardoso, Presidente da República e membro do mesmo PSDB de Azeredo.
Os tucanos, diante dessa denúncia, estão em situação delicada, pois:
a) indicaram o juiz;
b) teriam pago por decisões favoráveis;
c) há provas das decisões favoráveis e TAMBÉM dos depósitos;
d) o dinheiro pago seria oriundo de empresas estatais mineiras, sob o comando do Governador do Estado, o direto beneficiado pelas decisões;
e) antes de ser juiz do TRE, o 'magistrado' era advogado de Marcos Valério.
Entonces…
A coisa está mesmo feia, e o Procurador Geral da República não terá muito trabalho para preparar uma denúncia da pesada. Vamos ver se a imprensa, a partir da apresentação da denúncia, os termos do Procurador em suas reportagens.
Será que os jornalões farão isso, ou - por se tratar de um escândalo do PSDB - esperarão a "coisa julgada", ouvirão todas as partes, tal e coisa?
Triste é ver que logo a PRIMEIRA REPERCUSSÃO da denúncia já se dá de forma "apartidária" e quase impessoal - e se trata de um órgão (Folha Online) do mesmo grupo do jornal que denunciou (Folha de São Paulo).
Aguardemos a "imparcialidade" dos demais veículos…
Espinafrado por Gravatai Merengue
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