Valter Pomar
No dia 29 de setembro, a Folha de S.Paulo publicou um artigo com o seguinte título: “Governo tenta salvar ‘viúvas’ de Mangabeira”.
Ficamos sabendo, assim, como o jornal converte em título sua posição sobre a medida provisória que criava a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo.
O mesmo humor dos editores encontra-se nos seus colunistas: em 29 de agosto, Clóvis Rossi escreveu que “ainda falta muita gente no banco dos réus armado pelas decisões do STF”.
A saber: “falta a intelectualidade chapa branca que cometeu o crime de corromper ativamente os fatos ao tentar transformar os réus em vítimas de uma conspiração da mídia que jamais existiu”. Mais: “falta também, no banco dos réus, a instituição PT”. Por fim: “pela mesmíssima lógica antes exposta, faltam também, no banco dos réus, todos os parlamentares que votaram pela absolvição dos mensaleiros”.
Rossi conclui dizendo saber que “ser réu não significa necessariamente ser culpado do ponto de vista penal. Mas, do ponto de vista ético, todos já estão condenados com sentença transitada em julgado”.
Anotemos, pois, o endereço do Tribunal Superior da Ética: a redação da Folha. A mesma que deixou publicar, no dia 18 de setembro, um artigo sobre o Plebiscito da Vale que trata os militantes do PT como animais amestrados, que pulam e latem.
O autor das ofensas, totalmente diretas e explícitas, é o tucano Eduardo Graeff.
Este cidadão, que se apresenta como “cientista político”, simplesmente desconhece que o Plebiscito da Vale foi organizado por mais de 60 entidades, entre elas a CUT, a UNE, o MST, além de igrejas e partidos políticos como o PSOL e o PSTU, que estão longe de ser petistas ou simpatizantes.
Graeff ofende milhões de pessoas que votaram no plebiscito. Se uma iniciativa de milhares, como o “Cansei”, recebeu farta publicidade na mídia e foi objeto de análises sérias, por parte de “cientistas políticos” das mais variadas correntes, por qual motivo tratar com escárnio uma iniciativa de que participaram milhões de pessoas?
Curiosamente, Graeff admite que se houver “sombra de dúvida que o ato foi fraudulento”, caberia ao presidente da República “mandar apurar e desfazer o malfeito”.
Ou seja: a “autoridade” pode e deve fazer algo. Mas as organizações populares, que estão convictas de que houve fraude na privatização, estas não podem se mobilizar e organizar um plebiscito, pois neste caso estariam agindo como animais amestrados.
Motivos de convicção sobre fraude não faltam. A começar pelo seguinte: uma empresa que hoje vale US$ 50 bilhões, certamente valia mais do que os US$ 3 bilhões pelos quais foram vendidas 42% de suas ações, em 1997. Houve um “erro” proposital de avaliação.
Mas o “cientista político” tucano acha que mexer com a Vale assustará o mercado. E entende que a Vale privatizada trouxe grandes ganhos para o país, com recordes de investimento, produção, emprego, exportações. Aliás, diz ele, “o desempenho de quase todas as empresas privatizadas é uma história de sucesso em benefício de seus compradores e empregados e do país”.
O que Graeff está tentando dizer, mas não tem a coragem de falar abertamente, é o seguinte: mesmo que a Vale tenha sido fraudulentamente privatizada, os fins justificam os meios.
Pensamos diferente: exatamente por ser estratégica para o país, a situação da Vale merece ser analisada com atenção redobrada, sem preconceitos. Do mesmo modo que o governo FHC não considerou o monopólio estatal como um fato consumado, o PT tem o direito de não considerar o monopólio privado como cláusula pétrea.
Por fim, Eduardo Graeff não sabe como funciona o Partido dos Trabalhadores. O 3º Congresso aprovou por maioria o apoio ao Plebiscito. Havia gente importante contra. Mas esta é mais uma das muitas diferenças entre o PT e o PSDB. Aqui, nós decidimos no voto de delegados eleitos pela base. Aí, meia dúzia de lideranças decide na mesa de restaurantes finos. E nós é que somos amestrados?
Valter Pomar Secretário de relações internacionais do PT
No dia 29 de setembro, a Folha de S.Paulo publicou um artigo com o seguinte título: “Governo tenta salvar ‘viúvas’ de Mangabeira”.
Ficamos sabendo, assim, como o jornal converte em título sua posição sobre a medida provisória que criava a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo.
O mesmo humor dos editores encontra-se nos seus colunistas: em 29 de agosto, Clóvis Rossi escreveu que “ainda falta muita gente no banco dos réus armado pelas decisões do STF”.
A saber: “falta a intelectualidade chapa branca que cometeu o crime de corromper ativamente os fatos ao tentar transformar os réus em vítimas de uma conspiração da mídia que jamais existiu”. Mais: “falta também, no banco dos réus, a instituição PT”. Por fim: “pela mesmíssima lógica antes exposta, faltam também, no banco dos réus, todos os parlamentares que votaram pela absolvição dos mensaleiros”.
Rossi conclui dizendo saber que “ser réu não significa necessariamente ser culpado do ponto de vista penal. Mas, do ponto de vista ético, todos já estão condenados com sentença transitada em julgado”.
Anotemos, pois, o endereço do Tribunal Superior da Ética: a redação da Folha. A mesma que deixou publicar, no dia 18 de setembro, um artigo sobre o Plebiscito da Vale que trata os militantes do PT como animais amestrados, que pulam e latem.
O autor das ofensas, totalmente diretas e explícitas, é o tucano Eduardo Graeff.
Este cidadão, que se apresenta como “cientista político”, simplesmente desconhece que o Plebiscito da Vale foi organizado por mais de 60 entidades, entre elas a CUT, a UNE, o MST, além de igrejas e partidos políticos como o PSOL e o PSTU, que estão longe de ser petistas ou simpatizantes.
Graeff ofende milhões de pessoas que votaram no plebiscito. Se uma iniciativa de milhares, como o “Cansei”, recebeu farta publicidade na mídia e foi objeto de análises sérias, por parte de “cientistas políticos” das mais variadas correntes, por qual motivo tratar com escárnio uma iniciativa de que participaram milhões de pessoas?
Curiosamente, Graeff admite que se houver “sombra de dúvida que o ato foi fraudulento”, caberia ao presidente da República “mandar apurar e desfazer o malfeito”.
Ou seja: a “autoridade” pode e deve fazer algo. Mas as organizações populares, que estão convictas de que houve fraude na privatização, estas não podem se mobilizar e organizar um plebiscito, pois neste caso estariam agindo como animais amestrados.
Motivos de convicção sobre fraude não faltam. A começar pelo seguinte: uma empresa que hoje vale US$ 50 bilhões, certamente valia mais do que os US$ 3 bilhões pelos quais foram vendidas 42% de suas ações, em 1997. Houve um “erro” proposital de avaliação.
Mas o “cientista político” tucano acha que mexer com a Vale assustará o mercado. E entende que a Vale privatizada trouxe grandes ganhos para o país, com recordes de investimento, produção, emprego, exportações. Aliás, diz ele, “o desempenho de quase todas as empresas privatizadas é uma história de sucesso em benefício de seus compradores e empregados e do país”.
O que Graeff está tentando dizer, mas não tem a coragem de falar abertamente, é o seguinte: mesmo que a Vale tenha sido fraudulentamente privatizada, os fins justificam os meios.
Pensamos diferente: exatamente por ser estratégica para o país, a situação da Vale merece ser analisada com atenção redobrada, sem preconceitos. Do mesmo modo que o governo FHC não considerou o monopólio estatal como um fato consumado, o PT tem o direito de não considerar o monopólio privado como cláusula pétrea.
Por fim, Eduardo Graeff não sabe como funciona o Partido dos Trabalhadores. O 3º Congresso aprovou por maioria o apoio ao Plebiscito. Havia gente importante contra. Mas esta é mais uma das muitas diferenças entre o PT e o PSDB. Aqui, nós decidimos no voto de delegados eleitos pela base. Aí, meia dúzia de lideranças decide na mesa de restaurantes finos. E nós é que somos amestrados?
Valter Pomar Secretário de relações internacionais do PT
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