Da Dora Kramer, no Estadão de hoje
"Podem-se invocar diferenças entre um esquema e outro, sendo a principal delas a amplitude (uma foi federal e outra estadual) e a notoriedade dos envolvidos. É diferente também o impacto provocado por um caso e outro, já que no federal estava à frente um partido de combate em prol da ética e isso, obviamente, assusta bem mais.
Mas a gênese do sistema é a mesma: desvio de dinheiro público para financiamento de campanhas eleitorais por meio de contratos de publicidade fraudulentos com as empresas de Marcos Valério de Souza.
Comentário
Um esquema é amplo pelo número de pessoas e recursos que envolve. O que tem a ver com o fato de um ser federal e outro estadual? Quanto à notoriedade dos envolvidos, como não considerar notórios o próprio governador de Minas na época, Eduardo Azeredo, e o atual governador Aécio Neves, além de Walfrido Mares Guia, que já era um peso-pesado na política mineira?
Dora considera que o “mensalão do PT” é mais chocante porque o PT era o partido da ética. Como assim? E o PSDB não era? Finalmente, a gênese não é a mesma. No caso do “mensalão mineiro”, ficou caracterizado claramente desvio direto de órgãos públicos.
O ponto central é outro: na campanha eleitoral, ficaram em amplíssima minoria os analistas que acertadamente tentaram mostrar que o “mensalão” era um esquema já existente que servia a todos os governantes. Era a análise correta, jornalística, mas todos os que ousaram ir por esse caminho foram massacrados pelo macartismo vigente no período e ainda em voga.
Do André Petry, da Veja
"O conteúdo, no entanto, é distinto. No caso tucano, pelo que se sabe até agora, é um caixa dois eleitoral. É um crime, mas o crime é esse. No caso petista, o mensalão também teve seu lado de caixa dois eleitoral, mas foi bem mais do que isso. Serviu sobretudo para subornar outro poder, trocando apoio por dinheiro e violando um princípio basilar da democracia. Simbolicamente, os petistas fecharam as portas da Câmara dos Deputados e foram às compras. No bazar das consciências de suas excelências, arremataram as mais baratas, as mais convenientes. É corrupção ativa e passiva. E é, também, um crime de lesa-democracia".
"O esquema do PT em Brasília é pior do que o do PSDB em Minas? Talvez seja, sobretudo porque o mensalão tomou a estrutura do PT, com adesão de toda a sua antiga cúpula, mostrando que a roubalheira tinha uma espécie de chancela institucional. No caso tucano, não há indicações de que a pilantragem de Eduardo Azeredo tenha sido organizada e executada pela cúpula nacional do PSDB".
Comentário
1. Como se explica que no “mensalão mineiro” existissem políticos de outros partidos; e no “mensalão do PT” existissem também parlamentares petistas? Se não era para conquistar aliados, porque o PSDB colocou os de fora? Se não era só para caixa dois, porque o PT incluiu os de dentro? Que tal uniformizar a lógica?
2. Dizer que “não há indicações de que a pilantragem de Eduardo Azeredo tenha sido organizada e executada pela cúpula nacional do PSDB” é campeão. Azeredo era o presidente do PSDB. O Petry inventou uma nova conceituação: presidente de partido passou a ser base, não mais a ser cúpula.
3. Finalmente, como se explica que um tema que surgiu junto com o "mensalão" só mereça cobertura da imprensa depois que a Polícia Federal concluiu seu relatório?
Um comentário:
Indignação seletiva! Outro nome para moralismo de resultados.
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