quarta-feira, novembro 21, 2007

Enquanto isso ... os redatores da mídia podre discutem "detalhes" ...


Pefelê ou Demos ???


Le monde Diplomatique

Recebí de meu amigo Carceroni, e repasso.

Não sem antes perguntar:
será q os canalhas da imprensalão leram isso?

Será q Josinhas 25 + Ro$$$i + Fernandinho 45 + Eliane Contrarêde + Moreno Punhetiero + Noblablabla + Diogo Mainérdi + Miss Piggy + Willian Wakka + Alexandre Gracinha + Arnaldo Jabá + Jôtalhão Soares + Bori$$$ Ca$ório + Lilian Bife Kibe + Luis Na$$$ifra + Dapi-$se Leão + Bebe Qiéamargo + Anta Maria Bréga + Fau$$$tão + e toda sorte de histéricos e destemperados golpistas, esses e mais aqeles q apregoam o inferno (se for, será o deles) q, c/ todo e tanto dinheiro + experiência em manipular e mentir + altas tecnologias + regalias e apoios de todas as castas, esses q esbravejam contra o MEU Governo, contra o MEU voto, contra o fato democrático lícito, etc ...

Será q essa pocilga pseudo-odelógica não tem olhos q não sejam os da ganância?

Já q mídia não é eleita - até porq é concessionária pública - será q vão continuar fingindo o óbvio ululante, q não dá nem tira voto de Lula, menos ainda do PT?

Será q o Brasil oligárqico ainda vai continuar c/ a cara de frente pro mar ... como no Rio, e c/ a bunda virada pro Brasil?

Será q os texanos de SP, esses mesmos q fingem q a capital do Brasil é Madri, Milão ou Máiami ... vão continuar a inventar merdas MADE IN USP, como se nosso país só fosse isso?

Ou será q ainda qerem mais boas sapatas norêia, via urnas ???

Inté,
Murilo

Le Monde Diplomatique

A força política de Lula Análise
de Ladislau Dowbor


É tempo de fazer as contas. Com a deformação geral dos dados pelo prisma ideológico da grande mídia, torna-se necessário buscar nas fontes primárias de informação, nos dados do IBGE, como andam as coisas. A reeleição mostrou forte aprovação por parte dos segmentos mais pobres do país a Lula, mas os números reais sobre a evolução das condições de vida do brasileiro surgem com o atraso natural dos processo de elaboração de pesquisas. O IBGE publicou a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio de 2006, e também o Indicadores Sociais dos últimos 10 Anos. Vale a pena olhar a imagem que emerge: ela explica não só os votos, como o caminho que temos pela frente.

O principal número é, evidentemente, o aumento de 8,7 milhões de postos de trabalho no país durante o último governo. Isto representa um imenso avanço, pois se trata aqui de uma das principais raízes da desigualdade: grande parte dos brasileiros se vê excluída do direito de contribuir para a própria sobrevivência e para o desenvolvimento em geral. Entre 2005 e 2006 o avanço foi particularmente forte, com um aumento de 2,4%, resultado da entrada no mercado de trabalho de 2,1 milhões de pessoas. A expansão do emprego feminino é particularmente forte (3,3,%), enquanto o dos homens atingiu 1,8%. A formalização do emprego é muito significativa: 3 em cada 5 empregos criados são com carteira assinada. Atingimos assim, em 2006, 30,1 milhões de trabalhadores com carteira assinada, um aumento de 4,7% em um ano. O avanço é, pois, muito positivo, mas num quadro de herança dramático, que o próprio IBGE aponta: "mais da metade da população ocupada (49,1 milhões de pessoas) continuava formada por trabalhadores sem carteira assinada, por conta-própria ou sem remuneração.

O segundo número, que ocupou as manchetes de todos os jornais, é a elevação dos rendimentos dos trabalhadores em 7,2%, entre 2005 e 2006. É um número extremamente forte, e coerente com os anos anteriores: a remuneração dos trabalhadores vinha caindo desde o final dos anos 1990, e começou a se elevar em 2003, desenhando desde então uma curva ascendente. Este é um número de grande importância, pois a desigualdade é, de longe, o nosso problema número um. É um número que reflete os avanços na criação de postos de trabalho vistos acima, e também os avanços no salário mínimo.

O salário mínimo teve um ganho real de 13,3% em 2006 relativamente a 2005, o que representa um salto fortíssimo para os trabalhadores que estão no que se chama hoje de "base da pirâmide" econômica. Consultas com pessoas que trabalham com as estatísticas da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) do Dieese/Seade sugerem que 26 milhões de trabalhadores foram abrangidos por este aumento. Além disto, como o salário mínimo é referência para o reajuste das aposentadorias, outras 16 milhões de pessoas teriam sido beneficiadas.
Aumento consistente nos salários e avanços no combate à desigualdade – inclusive entre as regiões.

Um comentário é necessário aqui: um aumento de cem reais para uma família que tem um rendimento de, por exemplo, 4 mil reais, não é significativo. No entanto, cem reais representam, para pessoas que têm de sobreviver com algumas centenas de reais por mês, um imenso alívio, a diferença entre poder ou não poder comprar melhor alimento ou um medicamento para a criança. A utilidade marginal da renda, em termos de impacto para o conforto das famílias, vai diminuindo conforme a renda aumenta. Do ponto de vista econômico, maximizar a utilidade dos recursos do país envolve o aumento da renda dos mais pobres. Isto vale tanto no aspecto social, em termos de satisfação gerada, como em termos de geração de demanda e conseqüente dinamização das atividades econômicas. O pobre não faz especulação financeira, compra bens e serviços. Tirar as pessoas da pobreza não é caridade, é bom senso social, e bom senso econômico.

Outra forma de a PNAD avaliar a evolução dos rendimentos já não é por trabalhador, na fonte de remuneração, e sim por domícilio, no ponto de chegada. Isso permite agregar as várias formas de remuneração na família. O rendimento médio domiciliar aumentou em 5,0% em 2005, e em 7,6% em 2006, o que é coerente com os dados de rendimento de trabalho, e torna os dados muito confiáveis, porque convergem. É bom lembrar, para quem tem menos familiaridade com este tipo de números, que um aumento de 7% ao ano significa que o rendimento dobra a cada 10 anos.

Detalhando as cifras acima, vemos outras coisas interessantes. O rendimento no trabalho das pessoas ocupadas, que na média nacional cresceu 7,2%, subiu 6,6% no Sudeste, mas avançou 12,1% no Nordeste. No caso do rendimento dos domicílios, o aumento médio nacional, conforme vimos, foi de 7,6%. Mas no Sul e no Sudeste, foi de 7%, enquanto no Nordeste foi de 11,7%. Ou seja, não só tivemos um forte avanço do conjunto, como a região mais atrasada, cujo avanço é mais importante para o reequilibramento nacional, teve o avanço mais acelerado. Em outros termos, a desigualdade regional está, pela primeira vez, sendo corrigida, e com números muito significativos. Relevantes, sem dúvida, mas ainda muito insuficientes: O rendimento médio domiciliar nordestino representava, em 2005, 52,8% do rendimento do Sudeste, passando para 57,8% em 2006. Um grande avanço, mas um imenso caminho pela frente.

Outro eixo importante de desigualdade está ligado à diferença de nível de remuneração entre o homem e a mulher. Os dados mostram a evolução seguinte: a remuneração da mulher, que equivalia a 58,7% da do homem, em 1996, pulou para 63,5% em 2004; 64,4% em 2005 e 65,6% em 2006. Nota-se uma lenta progressão, partindo de um nível que já é em si extremamente desigual. Ou seja, aqui também a direção é positiva, mas precisamos de muito mais.
Mulher é quase 50% da força de trabalho e estuda mais – porém, arca com afazeres domésticos.

A situação da mulher é particularmente afetada pela desagregação da família. Estas cifras extremamente duras aparecem no documento do IBGE sobre Indicadores Sociais 1996-2006. O número de famílias caracterizadas como "mulher sem cônjuge com filhos" passou de 15,8 milhões em 1996 para 18,1 milhões, em 2006. Como há um pouco menos de 60 milhões de famílias no país, isto significa que quase um terço das famílias são carregadas pelas mães — que se não trabalham, não têm renda, e se trabalham, não têm como cuidar os filhos. Trata-se aqui evidentemente de uma situação dramática quando associada à pobreza, e constitui um alvo central do programa Bolsa-Família, cujo sucesso se deve em grande parte também ao fato de as mulheres gerirem melhor os recursos obtidos. Aos que criticam os programas redistributivos, é bom lembrar um outro dado da PNAD, apontando que "cerca de 31% das famílias em que a mulher era a pessoa de referência viviam com rendimento mensal até meio salário mínimo per capita". Do lado positivo, é importante o dado que a PNAD nos traz, de que as mulheres estão progredindo rapidamente em termos de nível de estudos: 43,5% delas concluíram o ensino médio (11 anos ou mais de estudos), enquanto apenas um terço dos homens possuía este grau de instrução. As mulheres investem mais também no estudo superior, onde 55,3% eram mulheres em 1996, e 57,5% em 2006. Numa sociedade onde o conteúdo de conhecimentos nos processos produtivos se eleva rapidamente, isto é fortemente promissor.

A presença feminina na força de trabalho continua crescendo: são 43 milhões, num total de cerca de 90 milhões de pessoas ocupadas. No entanto, entre trabalho, estudo e cuidados com a família, além de estar freqüentemente sozinhas na chefia da família, a sobrecarga está evidentemente no limite do suportável. A Síntese de Indicadores Sociais 1996-2006 comenta que "com relação à jornada média semanal despendida em fazeres domésticos, verifica-se que as mulheres trabalham mais que o dobro dos homens nessas atividades (24,8 horas)".

Ou seja, nesta outra dimensão tão importante da desigualdade, a que se materializa na desigualdade de gênero, constatamos avanços na remuneração relativa, avanços nos estudos, avanços na força de trabalho, mas tudo ainda enormemente injusto para uma visão de conjunto que temos caracterizado, em outros trabalhos, de "reprodução social" no sentido amplo. Os desequilíbrios estruturais herdados são simplesmente muito grandes.

Educação: um mundo à parte, marcado pelo avanço nos anos de estudo e por... analfabetismo alarmenteOutra dimensão que vale a pena comentar é que tanto a PNAD 2006 como a Síntese de Indicadores Sociais 1996-2006 documentam amplamente, são os avanços no nível da educação. Para já, é um mundo: no Brasil, são 55 milhões de estudantes, 43,7 milhões na rede pública, e 11,2 milhões na rede privada. Se incluirmos professores e sistema de apoio administrativo, temos aqui quase um terço da população do país. A expansão quantitativa maior deu-se na gestão anterior à do presidente Lula, mas os avanços continuam fortes.

Em particular, com a lei 11.274 de 6 de fevereiro de 2006, o ensino fundamental expande-se para 9 anos, com início aos 6 anos de idade. A taxa de escolarização no grupo de 5 e 6 anos aumentou em 3% em um ano. O número dos que não freqüentavam a escola nesta idade caiu de 35,8% em 1996, para 23,8% em 2001, e para 14,7% em 2006. Na classe de 7 a 14 anos, a queda dos que não freqüentavam a escola foi de 8,7% para 3,5% e 2,3% respectivamente. Para a classe de 15 e 17 anos, foi de 30,5%, 18,9% e 17,5% respectivamente. O número médio de anos de estudo completos das pessoas de 10 anos ou mais de idade foi de 6,8 anos em 2006, um aumento de 3% relativamente ao ano anterior.

No ensino superior, houve um aumento muito forte, de 13,2%, entre 2005 e 2006. Ele deve-se dominantemente à expansão do ensino superior privado, e o papel público de redução das desigualdades aparece claramente na distribuição entre os dois sistemas: "Enquanto nas Regiões Norte e Nordeste 41,9% e 36,6% dos estudantes de nível superior freqüentavam a rede pública, nas Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, estes percentuais eram de 18,2%, 22,1% e 26,5%, respectivamente".

Aqui ainda, a direção é correta, mas o atraso a recuperar é imenso. Ao analisar a escolaridade da população ocupada, a PNAD constata que as pessoas com 11 anos ou mais de estudo, eram apenas 22,0% em 1996, 28,9% em 2001 e 38,1% em 2006. A progressão é forte, e se deve particularmente ao esforço educacional das mulheres ocupadas, entre as quais 44,2% tinham escolaridade de 11 anos ou mais, em 2006. Na outra ponta, temos 15 milhões de analfabetos de mais de 10 anos (redução de 10,2% para 9,6%). O analfabetismo funcional atingia 23,6% das pessoas com mais de 10 anos (redução de 1,3% ponto percentual), sendo que no Nordeste atingia 35,5%. Evidentemente, está entre as duas pontas a imensa massa dos sub-qualificados do país.

Um caminho: reivindicar a ampliação das políticas sociais — ao invés de tentar desmoralizá-lasSe resumirmos um pouco a evolução, constatamos uma forte expansão do emprego (particularmente do emprego formal), um aumento da renda do trabalho em geral (e em particular no Nordeste), uma progressão significativa da escolaridade e da remuneração feminina, um forte aumento da população ocupada com 11 ou mais anos de estudo, além da redução do trabalho infantil e outras tendências que não temos espaço para comentar aqui. Estes números são coerentes entre si e convergem para uma conclusão evidente: está se fazendo muito, os resultados estão aparecendo.

A apresentação destas políticas como "assistencialistas" não tem muito sentido: os 12,5 bilhões de reais para a agricultura familiar constituem um apoio à capacidade produtiva. Os R$ 8,5 bilhões do Bolsa-Família constituem um excelente investimento na próxima geração que será melhor alimentada – além do impacto essencial de inserção deste nosso quarto-mundo nas políticas públicas organizadas do país. O aumento do salário mínimo, junto com os outros programas mencionados, começa a dinamizar a demanda popular e a estimular pequenas atividades produtivas locais.

Ou seja, estaremos talvez atingindo um limiar a partir do qual a renda gerada na base da sociedade começa a se transformar num mecanismo autopropulsor. Para isto, teremos de avançar muito mais. O que está em jogo aqui não é apenas ajudar a massa de excluídos deste país. É gerar uma dinâmica em que renda, educação, apoio tecnológico, crédito e outras iniciativas organizadas de apoio permitam realmente romper as estruturas que geraram e reproduzem a desigualdade. A pressão sobre este governo é positiva, quando se leva em consideração os avanços realizados, e se reivindica a ampliação das políticas, não a sua desmoralização.

O que se torna evidente, ao analisarmos estes dados, é que a população mais desfavorecida do país votou no segundo turno não por desinformação, mas por sentir que a sua situação está melhorando. Falar mal do governo, entre nós, é quase um reflexo, acompanha a cerveja como o amendoim. Falar bem dele parece até suspeito, como se fosse menos "objetivo". Mas falar mal pode ser igualmente suspeito. Muito mais importante é entender o que está acontecendo. Por trás do palco da política oficial que a imprensa nos apresenta a cada dia, e que é o lado mais visível dos grandes discursos, há o imenso trabalho organizado de milhares de pessoas que estão tocando programas, literalmente tirando leite de pedra numa máquina de governo que, por herança histórica, foi estruturada para administrar privilégios, e não para prestar serviços.

domingo, novembro 18, 2007

Cala a boca já morreu




















Por qué no te calas?
Raul Longo

Por que no te calas, Dom?
Nem te envergonhas das civilizações
que exterminaste?
Incas, Maias e Astecas...
Sabedorias acima da alguma
que mal soubeste herdar dos 8 séculos
de pacientes mestres árabes.

Nada aprendes!

Por que não te calas, Senhor?
Nem te arrependes dos tantos de mim
que espoliaste da Patagônia à Califórnia?

Pirata, mercenário, usurpador:
acaso não te acordas
das tantas que estupraste?
Da gente que seviciaste?

Pelos povos que usurpaste
em América,
Ásia, África,
por que não te calas?

A quem te arrogas,
se sequer és dotado da galantaria
que a Quixote serviu?

Que ficção é essa
que crias para ti,
reizete de merda?

De Guernica
és o lado que o Mestre
sequer retratou,
pois se nunca estiveste
no desespero de tua
própria gente,
por quem te crês?

Cala-te e
devolve minha prata,
reponha meu ouro
bucaneiro arrogante!

Cala-te e
reconheça tua insignificância
que de majestosa só tem
a expressão da falência
de uma instituição anacrônica,
tardia em minha história.

A quantos ainda crês
como teus súditos?
Aqui nada és além de mero decorativo,
ridícula memória da vergonha
de um império há muito falido.

Por que não te calas, hombre?

sábado, novembro 17, 2007

Nova geração de cineastas palestinos usa o documentário como arma














A foto acima foi feita na Faixa de Gaza, no final do ano passado.

O artigo abaixo foi publicado hoje no jornal El País, escrito por Beatriz Portinari. A tradução para o uol é do Luiz Roberto Mendes Gonçalves e está aí abaixo, na íntegra. Para ler o original em espanhol, clique aqui.

Nova geração de cineastas palestinos usa o documentário como arma


"Os primeiros 45 dias de interrogatórios foram especialmente duros naquela prisão israelense. Empregavam um método de tortura diferente a cada hora. Depois das surras, dois homens e uma mulher-soldado me colocaram em um quarto, me despiram e algemaram. E enquanto a mulher pisava minha cabeça no chão e um dos homens me segurava, outro tentava me violentar com um pau." Com quase 50 anos, a ativista palestina Aysha Odeh conta para a câmera as torturas que sofreu durante o período como jovem militante da resistência contra a ocupação israelense.

Ela é um dos rostos de "Women in Struggle" (Mulheres em Luta), de 2004, o documentário comovente que a cineasta palestina Buthina Canaan apresentou esta semana no Docusur em Tenerife, o Festival Internacional e Mercado de Documentários do Sul. "Demorei quase quatro anos para rodar este documentário. Entrevistei 37 mulheres que ficaram em grupos de quatro, preparadas mentalmente para olhar para dentro de si mesmas e falar", explica Canaan. "Para elas foi uma espécie de terapia", acrescenta. Em seu último trabalho, "Maria's Grotto" (A gruta de Maria), que apresentou no Docusur em busca de distribuidora, também fala de um tema tabu: os crimes de honra.

Se algo caracteriza a emergente cinematografia palestina é a denúncia, a crítica social da vida sob a ocupação. Em geral os jovens realizadores preferem fazer documentários a ficção, porque é uma forma de contribuir para a luta não-violenta. E o fazem em um deserto. Não existe indústria nem dispõem de meios econômicos. Às vezes nem mesmo têm equipe técnica e é o diretor quem tem de fazer tudo: procurar os depoimentos, escrever o roteiro e filmar. Depois da crise do setor nos anos 70 e 80 -devido aos conflitos e aos problemas econômicos- houve um crescimento de produções de filmes com meios escassos.

Em "The Gates Are Open" (Os portões estão abertos), de 2006 (prêmio na Mostra Internacional de Florença), a romancista e cineasta Liana Badr percorre diversos povoados da Cisjordânia mostrando sua vida cotidiana, alterada pelos postos de controle. Crianças que se levantam às 5 da manhã para cruzar o muro e chegar à escola; agricultores que não podem pisar em suas terras... "Foi perigoso gravar. Não tínhamos permissão e os soldados nos apontavam as armas", explica Badr, assessora do departamento de cinema do Ministério da Cultura palestino.

Na Palestina, à dificuldade de fazer cinema sem meios e sob a pressão do exército se acrescenta o peso do machismo. O trabalho das mulheres cineastas não é visto com bons olhos. Não só porque não estão em suas casas, mas também porque se atrevem a fazer perguntas polêmicas. Suheir Ismail Farraj, cineasta e fundadora da organização TAM - Mulheres, Meios e Desenvolvimento, sofreu o assédio de soldados imberbes nos postos de controle. Tentavam tocá-la em troca de permitir que ela filmasse.


"Inclusive entre meus companheiros da equipe técnica, todos homens, no início não era bem vista. Só por isso pensavam que fosse uma garota fácil." Depois de apresentar trabalhos sobre homens-bombas ou famílias de prisioneiros, seu último documentário, "Land in Black and White" (Terra em preto e branco), de 2003, estabelece uma comparação inquietante entre a Palestina e a África do Sul: o apartheid e a reclamação de terras lembram demais a política israelense. "Antes eu pensava que o importante era a terra, mas depois de ir à África mudei de idéia. O mais importante é o ser humano, e na Palestina mesmo que as coisas estejam ruins ninguém morre de fome nem dorme na rua. Sempre haverá um parente ou vizinho para ajudar. E estamos perdendo a vida pelas terras! Seria preciso repensar isso", adverte Farraj.

Embora a proliferação de redes árabes como Al Jazira e Al Arabiya esteja permitindo difundir o trabalho dessa geração de documentaristas, continuam quase desconhecidos em seu país. Também há outro problema: o "roubo de histórias" por parte dos cineastas israelenses, com maior liberdade de movimento, subvenções, acesso ao financiamento internacional e permissão para filmar em lugares onde um palestino poderia ser preso. "Um claro exemplo de concorrência desleal", lamenta Canaan. "Embora seja uma história 100% palestina, com personagens e problemas palestinos, com um diretor ou produtor israelense já têm todas as portas abertas e depois ganham prêmios com nossos problemas. O que mais me dói é que não roubam só as terras, mas também nossas histórias, que não nos deixam contar."

sexta-feira, novembro 16, 2007

Luis Fernando Verissimo confirma apoio ao governo Lula

























Verissimo: "Hoje, as redações parecem bancos"


Por Claudio Leal, para o
Terra Magazine: No I Salão Nacional do Jornalista Escritor, em São Paulo, Luis Fernando Verissimo reservou ironias para o jornalismo brasileiro. Em entrevista aberta à platéia, ontem, no Memorial da América Latina, o escritor analisou a mudança ideológica dos jornalistas.


Quando comentava seu método de trabalho e o uso do computador para escrever romances, expôs sua teoria da máquina de escrever.


- Antigamente, as redações tinham máquinas de escrever. Era um barulho infernal. Tenho até uma teoria para explicar essa mudança da esquerda para a direita nas redações. Nos últimos anos, os jornais e as revistas brasileiras deram uma guinada à direita. Mas, quando comecei no jornalismo, todos nós éramos de esquerda. A gente aceitava o fato de ser direita quando era do editor pra cima. Hoje, é o contrário. Do editor pra baixo, os jornalistas preferem ser de direita.


O autor de O analista de Bagé e Comédias da vida privada complementa a teoria:


- Isso tem muito a ver com a mudança das máquinas de escrever para os computadores. Como as redações eram barulhentas e agitadas, os jornalistas se identificavam mais com os trabalhadores das fábricas. Hoje, com os computadores, as redações parecem bancos. Limpas, aquele silêncio... Sei que é uma teoria meio forçada...


Depois de sorrir, Luis Fernando Verissimo recebeu uma pergunta da platéia. Pedia que ele se definisse entre a esquerda e a direita.


- Gosto de pensar que sou um homem de esquerda. Tenho idéias de esquerda - respondeu Veríssimo.


Adiante, minimizou a importância da crônica na formação da opinião do leitor. "Eu detesto esse termo: 'formador de opinião'. A gente não faz a cabeça de ninguém. Quando a pessoa concorda com a crônica, é porque, na realidade, a crônica concordou com ela". De passagem, avaliou o governo Lula:


- Tenho muitas razões para criticar, mas a verdade é que o governo de Lula desagradou a todo o mundo, à esquerda e à direita. Ninguém imaginava que, em cinco anos, os bancos estivessem tão felizes. Mas decepcionou à direita porque não foi um desastre completo. Se formos ver, há avanços nessa área de distribuição de renda. Não é o ideal, mas continuo apoiando o governo Lula.


Na palestra, Verissimo falou ainda sobre o início de sua vida profissional, no Rio Grande do Sul, e a influência de seu pai, o romancista Érico Verissimo, em sua formação. Confessou seu descompasso com as tradições gaúchas:


- Em muitos aspectos, sou um gaúcho desnaturado. Não tomo chimarrão. E a última vez que montei num cavalo, não gosto de me lembrar. O cavalo também não.


Organizado pela ABI (Associação Brasileira de Imprensa), o I Salão do Jornalista Escritor segue até domingo, 18 de novembro. Entre outros participantes, reunirá os jornalistas Carlos Heitor Cony, Zuenir Ventura, José Hamilton Ribeiro, Moacir Scliar, Ziraldo, Ignácio de Loyola Brandão e Juca Kfouri.


quinta-feira, novembro 15, 2007

Mais um pacote de Yeda que não emplacou - vitória histórica no RS

Do PTSul:

Assembléia derrota tarifaço do governo tucano pela segunda vez

Com vantagem maior do que a esperada e num ambiente tenso dentro e fora do plenário, a Assembléia Legislativa derrotou, na tarde desta quarta-feira (14), o projeto de aumento de impostos apresentado pelo Executivo. A rejeição foi assegurada pelos votos do bloco de oposição - PT, PDT, PSB, PC do B – que conseguiu agregar os três deputados do DEM e outros 11 parlamentares da base governista. O placar de votação fechou com 34 contrários e nenhum favorável, soterrando pela segunda vez a tentativa do governo Yeda de aumentar impostos. A primeira foi há 10 meses, quando o ex-governador Germano Rigotto enviou, a pedido da governadora eleita, projeto reeditando o tarifaço na energia elétrica, combustíveis e serviços telefônicos e aumentando o ICMS de outros produtos. “Foi uma tarde histórica, marcada pela postura corajosa de parlamentares que votaram com coerência e souberam resistir com dignidade a constrangimentos praticados dentro do próprio plenário”, comemorou o líder da bancada do PT na Assembléia Legislativa, Raul Pont. Continua aqui.

Leia mais no RS Urgente!

quinta-feira, outubro 18, 2007

O discurso da oposição

Coluna Econômica - 18/10/2007
Qual deveria ser o discurso do candidato da oposição nas próximas eleições? Andei escrevendo vários posts sobre o tema em meu Blog (www.luisnassif.com.br), mas que podem ser sintetizados nos seguintes pontos. Há um erro básico de avaliação das oposições em relação ao governo Lula. Se se parte de um diagnóstico errado, chega-se a uma estratégia errada.
O governo é melhor do que a oposição imagina.
Suponha a campanha de 2010 em pleno andamento. A oposição acusará Lula de ser estatizante. Ele mostrará o resultado das licitações de concessões rodoviárias, as licitações para a construção e exploração de usinas hidrelétricas, construção de malhas ferroviárias e a crítica se esvaziará.
***
Poderão acusá-lo de estar inflando a máquina pública. Ele mostrará o projeto de reforma administrativa - em curso no Ministério do Planejamento -, os programas de qualidade que começam a se espalhar pela estrutura pública, inclusive a proposta de redução de cargos comissionados.
***
É possível que seja acusado de alta de competência gerencial. Até lá, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) já terá demonstrado sua eficácia, e os demais planos de governo - PAC da Inovação, da Educação, da Saúde e da Segurança - fornecerão elementos mais que suficientes para calar os críticos.
***
Será acusado de ter criado um programa assistencialista inconseqüente, a Bolsa Família, que apenas onera os cofres públicos. Nem será necessário aguardar até lá. Hoje em dia já existe reconhecimento internacional suficiente sobre as virtudes do programa.
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Será acusado também de não ter promovido o desenvolvimento e de ter destruído setores inteiros da economia com sua política cambial; de ter gastado recursos preciosos com uma política de juros sufocante.Ai se estará entrando no centro da questão, na crítica consistente.
Nos próximos anos ficarão mais claros os estragos do câmbio. O problema básico é que essa vulnerabilidade óbvia da política econômica de Lula não encontra eco na mídia. Porque ainda vigora o discurso de que juros altos e câmbio baixos fatores de modernização do país e vigora o efeito manada de não reconhecer nada de bom no governo.
Como resolver, então, essa dissintonia? A mídia quer o grande campeão branco contra Lula. Só que não aceita que o campeão coloque em prática a única estratégia capaz de lhe proporcionar a vitória: a bandeira do desenvolvimentismo, e do câmbio competitivo.
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É aí que entra a aposta que só os estadistas serão capazes de bancar: um candidato que passe a repetir obsessivamente essas verdades, ousando enfrentar o "mainstrean" aceito hoje em dia pela mídia.
Mais que isso: o candidato terá que reconhecer os avanços do governo Lula, para poder ganhar autoridade para identificar os pontos falhos e propor o salto qualitativo. E isso significa colocar água nessa fervura maluca, nessa guerra santa criada por parte da mídia.
***
No "Valor" de ontem, a editora de política Maria Cristina Fernandes traça um belo panorama do que se passa na cabeça de alguns dos presidenciáveis.
Se essa linha prosperar, em vez da temida guerra santa, as próximas eleições poderão se constituir em um primeiro passo para a grande pacificação nacional, que permita ao Brasil começar a percorrer o caminho que em poucos anos transformou Espanha, Portugal e Irlanda em países desenvolvidos.
Incluir no mailing

enviada por Luis Nassif

Goebbels inspira Veja

por Luciano Rezende*

No dia 12 de outubro último o Vermelho reproduziu excelente artigo do jornalista Ricardo Kauffman intitulado "Os dois Che's da Veja, o de 97 e o de 2007" cujo conteúdo nos convida a refletir sobre os movimentos da mídia. Ricardo compara a matéria de capa da revista Veja sobre Che Guevara em 1997 com a de 2007 e conjectura sobre as causas e motivações da escalada agressiva contra o guerrilheiro. A de 1997 trazia o título "O triunfo final de Che", já a última ''Che: há quarenta anos morria o homem e nascia a farsa''.

Kauffman sugere uma visita comparada das duas reportagens da publicação sobre o assunto e se atem especialmente sobre as incongruências, diferenças de tratamentos e visões antagônicas entre as duas matérias.

A estranheza maior do jornalista reside no fato de que a morte de Che foi há quarenta anos e nos últimos dez anos nada de relevância decisiva sobre sua história foi revelado, embora seu mito não pára de crescer. "No entanto, como podemos observar, a visão e os procedimentos jornalísticos que a maior e mais influente revista brasileira tem e propaga diante dos fatos mudou radicalmente no período. Sem maiores explicações ou avisos aos seus leitores", conclui.

Quais são as razões dessa pretensa disparidade? O local da apuração das informações e a origem das fontes de consulta já seriam boas justificativas, caso se tratasse de outra revista que não essa máquina de doutrinação da direita. Há um "toque de classe" que necessita ser levado em consideração para entender a metodologia empregada e, mais que isso, seus interesses.

A revista Veja faz parte dessa rede mundial de comunicação neomacartista na eterna campanha da desinformação. Um olhar mais atento nos mostra outro fator importante na análise sobre a tática usada por todos os veículos de comunicação e formação da burguesia na satanização de ícones e referências da esquerda : a cronologia dos fatos.

Há uma passagem muito interessante no livro "Stalin, um novo olhar" do escritor belga Ludo Martens em que o mesmo chama atenção para as despudoradas campanhas empreendidas pela burguesia contra figuras ligadas ao socialismo. Na maioria das vezes são investidas grosseiras com objetivo de desmanchar biografias de personalidades cujas vidas foram dedicadas à luta pelo socialismo (ou mesmo contra o imperialismo).

No caso específico de Stálin as acusações de assassinato de inocentes civis por parte da burguesia variam, através de
estudos "científicos", de 500 mil a até 50 milhões, oscilando, entre outras coisas, de acordo com a ordem cronológica da publicação. Uma margem de erro grotesca que com o passar dos anos aumentou vertiginosamente.

Continuando sua linha de raciocínio, Ludo relata um artifício utilizado em suas palestras. Um texto sobre Stálin é distribuído para a classe a qual é solicitada a comentar sobre o teor do artigo logo após a leitura. Todos revelam que se trata de um escrito anti-stalinista embora reconheça os enormes êxitos alcançados pela URSS com Stálin à frente e que relata abertamente o entusiasmo dos jovens e dos pobres pelo bolchevismo. Ludo Martens então revela que o panfleto é uma publicação nazista distribuída em plena Segunda Guerra Mundial e daí conclui que com o passar dos anos, sem a URSS ara fazer um contraponto a toda sorte de calúnias, ou mesmo com uma nova geração de russos que não viveram essa época para contestar muitas dessas acusações, vai-se aumentando a dose das acusações, confirmando a tese de Goebbels de que uma mentira dita mil vez pode se tornar verdade. Martens conclui afirmando que as campanhas anti-stalinistas promovidas pelas democracias ocidentais em 1989-1991 eram muitas vezes mais violentas e caluniosas que aquelas levadas no curso os anos 30 pelos nazistas. Ontem a defesa de Stálin era espontânea a qualquer comunista, hoje é quase uma heresia.

Não é o caso aqui de inocentar ou culpar Stálin (ou quem quer que seja), mas de fazer um simples esforço de raciocínio de entender como a burguesia age para destruir figuras de esquerda em geral, usando os meios de comunicação para "provar" suas teses e outros "estudos científicos" com o passar do tempo. Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.

Da mesma forma aqui no Brasil, se daqui a cinqüenta anos um estudante qualquer de mestrado ou doutorado pesquisar sobre os dois governos Lula tendo como fonte referencial a revista Veja, chegará, inequivocamente, à conclusão de que fomos governados por um despreparado (numa versão mais moderada) que nos solapou a oportunidade histórica de desenvolvimento e outras coisas mais. Particularmente não me espantarei se, chegando aos meus oitenta anos, deparar com algum "diário secreto" descoberto por alguém em que "revele" uma lista sortida de barbaridades cometidas por Lula. É salutar frisar que até mesmo investigações científicas sérias não podem ser concebidas como completamente esinteressadas ou neutras.

Com Che não é diferente. Mesmo gozando de grande reputação, ter uma trajetória distinta de outras figuras comunistas (ou de esquerda) e se tornado um verdadeiro mito, a burguesia não descansará até destruir sua imagem. Mesclando erros verídicos (e naturais) de outros inventados, descolam o personagem de seu contexto e realidade históricos com o objetivo de desmoralizar seu passado.

Ainda hoje temos centenas de pessoas que conviveram com Che em Cuba, Congo, Bolívia e até mesmo no México ou Argentina para fazerem esse importante contraponto através de testemunhos pessoais detalhados. Maioria absoluta delas é convicta em refutar todas as barbaridades disparadas por Veja e outras publicações de direita - como as ilações esboçadas pelo fútil Carlos Heitor Cony em sua coluna do dia 11 de outubro na Folha de São Paulo em que diz que Che foi um éssimo administrador público, o que é refutado pelos cubanos que trabalharam com ele nos primeiros anos da Revolução Cubana. Aí há outro ponto que também merece atenção: as variadas táticas de ataque. Enquanto o ataque da Veja é aberto, o de articulistas da estirpe de Cony é mais velado e mesclado com a defesa de certas qualidades. O bombardeio inimigo é intenso, o arsenal variado e os alvos bem definidos.

Nessa peleja a atuação da UJS do Rio de Janeiro foi exemplar. Não se pode vacilar ante a máquina de formação e (des)informação da burguesia. Uma das expressões da luta de classes é a luta de idéias. A defesa de Che é a defesa do socialismo e a denúncia do imperialismo que assassina e oprime povos por todo o mundo. A sentença da Veja de que ''Che tem seu lugar assegurado na mesma lata de lixo onde a história arremessou há tempos outros teóricos do comunismo'' é válida tão-somente sob sua ótica de classe. Uma vigorosa reciclagem mostrará, mais cedo ou mais tarde, o poder daquilo que a burguesia pensa poder descartar.

Hoje e sempre faremos a defesa de Che. Talvez com o passar dos anos os ataques sejam mais virulentos diante de um mundo que não terá mais as testemunhas oculares das grandes lutas empreendidas a favor dos povos levadas a cabo por Che. Todavia, seguiremos difundindo seus ideais e lutando pelos mesmos sonhos de nosso comandante, que vai se tornando mais real com as vitórias alcançadas pela esquerda em nosso continente na atualidade.

Artigo originalmente publicado no Blog do Rodrigo Moraes
(www.blogdorodrigomoraes.blogspot.com)

Professores protestam contra a enturmação nas escolas na capital

Assista no Youtube

Desde às 5h da manhã desta quinta-feira (11) os professores e servidores ligados à educação do Estado estão reunidos em frente ao Palácio Piratini, em Porto Alegre. O motivo pela manifestação é a enturmação e falta de pessoal nas escolas, o sistema de avaliação e o arrocho salarial e às políticas neoliberias do governo Yeda. Os manifestantes também criticam o tarifaço proposto pela governadora Yeda Crusius. O objetivo é abrir um canal de comunicação com Yeda. Centenas de pessoas estão acorrentadas ao redor do Palácio em forma de protesto. Elas gritam palavras de ordem como: "Não, não, não. Não ao pacotão". Para as 9h está marcada uma assembléia pública na Praça da Matriz. Professores, funcionários, pais e alunos participarão da reunião. Dezenas de ônibus estão chegando do interior do estado e mais manifestantes devem continuar a chegar ao longo do dia. O deputado Dionilso Marcon (PT) e outros parlamentares petistas acompanham as mobilização junto com os trabalhadores.

Carolina Rodrigues -
Imprensa // fotos e vídeo: Jornalista Kiko Machado Professores estão acorrentados ao Palácio Piratini

Pais de alunos se somam ao protesto

AS HISTÓRIAS QUE A RBS NÃO CONTA!

Por Marco Weissheimer, do RS Urgente

A RBS iniciou as comemorações de seus 50 anos com pompa, circunstância e uma conveniente dose de amnésia.
O caderno especial publicado nesta sexta-feira, no jornal Zero Hora, omite alguns fatos importantes que marcaram a história e o crescimento do grupo. Mais do que isso, distorce fatos, em especial aqueles relacionados ao período da ditadura militar. Como a maioria da grande mídia brasileira, a empresa gaúcha apoiou o golpe militar que derrubou o governo de João Goulart.

O jornal Zero Hora ocupou o lugar da Última Hora, fechado pelo regime militar por apoiar Jango. Esse é o batismo de nascimento de ZH. Como escreveu Eleutério Carpena, em uma edição especial da revista Porém sobre a RBS, "a mão que balança o berço de ZH é da violência contra o Estado Democrático de Direito". Três dias depois da publicação do famigerado Ato Institucional n° 5 (13 de dezembro de 1968), ZH publicou matéria sobre o assunto afirmando que "o
governo federal vem recebendo a solidariedade e o apoio dos diversos setores da vida nacional".

No dia 1° de setembro de 1969, o jornal publica um editorial intitulado "A preservação dos ideais", exaltando a "autoridade e a irreversibilidade da Revolução". A última frase editorial fala por si: "Os interesses nacionais devem ser preservados a qualquer preço e acima de tudo". A expansão da empresa se consolidou em 1970, quando foi criada a sigla RBS, de Rede Brasil Sul, inspirada nas três letras das gigantes estrangeiras de comunicação CBS, NBC e ABC. A partir das boas relações estabelecidas com os governos da ditadura militar e da ação articulada com a Rede Globo, a RBS foi conseguindo novas concessões e diversificando seus negócios.

Outro fato marcante da história do grupo que não é mencionada no caderno comemorativo é a ativa participação da empresa no processo de privatização da telefonia no RS, durante o governo de Antônio Britto, ex-funcionário da RBS. Aliás, não só no RS. Segundo pesquisa realizada por Suzy dos Santos (do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Culturas Contemporâneas da Faculdade de Comunicação da UFBa e Sérgio Capparelli (do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Fabico/UFRGS), a RBS esteve presente em praticamente todos os momentos do processo de privatização das telecomunicações no país, durante o governo FHC.

O ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo FHC, Pedro Parente, assumiria depois um alto cargo na direção da RBS. Aqui no RS, desde o golpe de 1964, a empresa sempre teve uma relação íntima com os governantes de plantão. Com uma exceção, o governo Olívio Dutra, fustigado desde seu primeiro dia e pintado como um monstro que ameaçava os homens e mulheres de bem do Rio Grande. Esses fatos você não verá expostos na exposição organizada pela empresa na Usina do Gasômetro (gentilmente cedida pela administração Fogaça) e em nenhum dos veículos do grupo que, nos próximos dias, praticarão, à máxima potência, a arte do auto-elogio e da amnésia seletiva.

quinta-feira, outubro 04, 2007

quarta-feira, outubro 03, 2007

Che Guevara nas trilhas da revolução latino-americana

por Augusto Buonicore*

"Outra vez sob meus calcanhares o lombo de Rocinante, retomo o caminho com meu escudo no braço (...) Muitos dirão que sou aventureiro, eu sou de fato, só que de um tipo diferente, daqueles que entregam a pele para demonstrar suas verdades". Che Guevara - Trecho da carta endereçada aos seus pais, antes de partir para sua última trincheira na Bolívia


Há 40 anos, no dia 9 de outubro, morria o comandante Che Guevara. Tombou no seu posto de combate pela libertação econômica, política e social da América Latina. Mas quem foi Che Guevara? Qual sua contribuição à causa socialista? Tentaremos, sem grandes pretensões, encontrar algumas dessas respostas neste e no próximo artigo.

Nas décadas que se seguiram à sua trágica morte nas selvas bolivianas, Che foi perdendo sua substância e se transformando num ícone; na verdade, um dos maiores ícones da segunda metade do século 20. Seu rosto de guerrilheiro altivo foi estampado em camisetas, cartazes e pichações por todo o mundo. Se existe um lado positivo neste fenômeno, pois mantém viva a imagem de um dos maiores heróis latino-americanos; de outro, ele acaba acobertando as idéias e o projeto político pelo qual Guevara viveu e morreu: a libertação da América Latina do julgo imperialista, a conquista do socialismo e a construção do homem e da mulher novos.

O sistema capitalista tem uma incrível capacidade de incorporar alguns elementos da cultura alternativa, até mesmo revolucionária, e transformá-los em objetos de mercado, formas sem conteúdo, neutras, inofensivas. No entanto, a personalidade forte de Che não pode ser presa, capturada, na camisa de força do ícone, da marca, do mito.
Por isso, para compreender o verdadeiro Che, é preciso ir para além do ícone, além da marca, além do mito. Estes não têm sangue correndo nas veias, não são de carne e osso, não sentem fome ou frio. Eles não têm dúvidas ou medos, são fantasmas que não convivem com as malditas contradições cotidianas. Ao contrário dos ícones, os homens e mulheres de verdade, inclusive os mais revolucionários deles, padecem de todas essas vicissitudes humanas e Che foi, acima de tudo, um homem. Um homem do seu tempo.
O homem e seu destino
Ernesto Guevara de la Serna nasceu em 14 de junho de 1928 na Argentina. Filho de família de pequenos produtores rurais de erva-mate. Cresceu usufruindo a vida de um membro das classes médias sul-americanas. Mas, desde muito cedo, Ernesto sofreu com os seus problemas de saúde. Aos dois anos apareceu-lhe a asma, que o acompanhou, como um fantasma, durante toda sua vida, inclusive nos seus derradeiros dias nas selvas bolivianas.

Ironicamente, aquele que seria considerado o mais temido comandante guerrilheiro latino-americano, foi declarado inapto para o serviço militar no seu próprio país. Guevara, então, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires.

A doença, no entanto, não enfraqueceu o seu espírito indomável; pelo contrário, ela o impulsionou a ultrapassar todos os limites. Com 23 anos comprou uma motocicleta e, ao lado de um amigo, percorreu diversos países da América Latina. Em 1953 se formou em medicina e partiu novamente em outra aventura para conhecer mais e melhor seu sofrido continente. Passou pela Bolívia e depois seguiu para a Guatemala, onde havia um governo democrático e popular, dirigido por Jacobo Arbenz. Este havia expropriado as terras da poderosa empresa norte-americana United Fruit. Nesta ocasião Guevara comprou alguns livros marxistas e passou a estudá-los com afinco.

O jovem Guevara, que apoiava o governo, se alistou para trabalhar num programa de saúde entre a população indígena, mas foi obrigado a ficar num posto médico na capital guatemalteca. Em 18 de junho de 1954 o presidente Arbens foi derrubado do poder por mercenários apoiados pelos EUA. Guevara tentou organizar um grupo de jovens para resistir à invasão. Afirmaria mais tarde: "Na Guatemala era necessário lutar, porém quase ninguém lutou".

O jovem médico argentino, fichado como "perigoso comunista", foi incluído nas temidas "listas negras" dos condenados à morte e obrigado a se refugiar no consulado argentino. O novo governo conservador, servilmente, devolveu as terras nacionalizadas à United Fruit, retirou os direitos trabalhistas dos camponeses pobres, prendeu, torturou e assassinou vários militantes de esquerda.

Guevara extraiu deste trágico acontecimento as suas primeiras - e inesquecíveis - lições sobre a luta emancipacionista na América Latina. Ele concluiu que: 1º o imperialismo norte-americano era o principal inimigo dos povos; 2º a luta revolucionária seria o único meio para se conquistar um poder democrático, popular e socialista; 3º as burguesias nacionais já haviam esgotado o seu papel na luta revolucionária antiimperialista no continente.

Guevara passou dois meses asilado no consulado argentino e, então, seguiu com outros refugiados para o México. Ali entrou em contato com elementos da oposição cubana, ligados ao movimento "26 de julho", que o convidaram para participar dos planos para derrubada do ditador Fulgêncio Batista. Escreveu ele: "Falei com Fidel uma noite toda. E ao amanhecer já era o médico de sua futura expedição. Na realidade, depois de minhas caminhadas por toda América Latina e do arremate na Guatemala, não era necessário muito para incitar-me a entrar em qualquer revolução contra um tirano". Amarrava-se assim o destino do jovem médico argentino com o da revolução cubana.

Depois de um ano de preparativos, em novembro de 1956, 82 homens partiram para Cuba a bordo do Granma. Antes de chegar ao seu objetivo a expedição foi descoberta pelas forças armadas do ditador cubano e, após os duros combates, ficou reduzida a apenas 15 homens, que se refugiaram nas Sierra Maestra. Os poucos sobreviventes uniram-se aos camponeses pobres, que lhes serviram de base de apoio para o início da ação guerrilheira. Em pouco tempo Che assumiu o comando da 2ª coluna de guerrilheiros. No dia 1º de janeiro de 1959 as suas tropas conquistaram a cidade de Santa Clara e o ditador Batista fugiu de Cuba. Três dias depois os "barbudos" de Fidel entraram triunfantes em Havana e Guevara foi nomeado governador militar daquela província.

A revolução vitoriosa foi profundamente popular, assentada nos camponeses e nos trabalhadores urbanos, e cumpriu todos os seus compromissos. O governo revolucionário expropriou os latifúndios, muito deles pertencentes a companhias norte-americanas. Quando as refinarias norte-americanas localizadas em Cuba se recusaram a refinar petróleo vindo da URSS, o governo cubano as nacionalizou. Em represália, Washington suspendeu a compra de açúcar, visando sufocar a economia da ilha. A cada pressão dos norte-americanos, o governo cubano radicalizava ainda mais as suas posições antiimperialistas. A revolução foi rapidamente mudando seu caráter, de nacional-democrática passou a ser socialista.
Em abril de 1961 ocorreu a tentativa de invasão de Cuba por mercenários, pagos e apoiados pela CIA, na Bahia dos Porcos. As tropas invasoras foram destroçadas em poucas horas. Fidel rompeu definitivamente com os norte-americanos e se afirmou marxista-leninista.

Ainda neste ano Che representou Cuba na reunião da Organização dos Estados Americanos, ocorrida no Uruguai, que foi convocada especialmente para condenar o novo regime cubano e excluí-lo da organização. Neste conclave Guevara denunciou firmemente os planos do imperialismo contra à ilha e defendeu o governo de Fidel da acusação de estar tentando exportar a revolução para a América Latina. Declarou ele: "Não podemos deixar de exportar exemplos, como querem os Estados Unidos, porque o exemplo é algo espiritual que ultrapassa as fronteiras. O que damos de garantia é que não exportaremos a revolução, damos a garantia de que não se moverá um fuzil de Cuba, que não se moverá uma só arma de Cuba, para luta em nenhum outro país da América".
Continuou: "O que não podemos assegurar é que as idéias de Cuba deixem de implantar-se em algum outro país da América. O que asseguramos a esta Conferência é que, se não se tomarem medidas urgentes de prevenção social, o exemplo cubano penetrará nos povos e, então, aquela exclamação (...) de Fidel em 26 de julho e que foi interpretada como uma agressão, se tornará uma realidade. Fidel disse que se mantiveram as atuais condições sociais 'a cordilheira dos Andes será a Sierra Maestra da América'".

Na volta Guevara passou pelo Brasil e foi condecorado pelo presidente Jânio Quadros. Poucos dias depois, sob forte pressão da direita, o presidente brasileiro renunciaria, abrindo uma crise política e militar que conduziu o país a beira de uma guerra civil.

Em outubro de 1962 aconteceu uma nova crise com os EUA. O governo norte-americano descobriu que Cuba possuía mísseis nucleares e passou a exigir que fossem imediatamente desmontados. Houve, então, uma nova ameaça de invasão e o mundo chegou bastante próximo de uma guerra nuclear. Os soviéticos recuaram e, unilateralmente, sem acordo com os cubanos, decidiram retirar os mísseis da ilha. Fidel e Guevara sentiram-se traídos pelos russos.

Em 1961 Guevara foi indicado para Ministro da Indústria. Defendeu uma industrialização mais rápida e a centralização maior da economia. Por suas posições entrou em conflito com os soviéticos que defendiam uma Cuba não-industrial que se concentrasse na produção de açúcar – numa espécie de divisão internacional do trabalho "socialista". Polemizou também em torno da predominância de incentivos materiais para o aumento da produtividade do trabalho e advogou a necessidade de uma emulação assentada fundamentalmente na ideologia socialista. Como ministro Guevara visitava as fábricas e canaviais e participava dos trabalhos manuais. Ele foi o principal incentivador do trabalho voluntário na produção, seguindo exemplo dos primeiros anos da revolução soviética. Os membros dos ministérios e das universidades, uma vez por semana, ajudavam no corte de cana ou exerciam outro tipo de trabalho, manual e produtivo. À frente deste esforço estava o ministro e presidente do Banco de Cuba, Ernesto Che Guevara.

Guevara valorizava muito o aspecto ideológico também na construção do chamado "homem novo", ou seja, de um novo humanismo socialista. Em "O que deve ser um jovem comunista", escreveu ele: "o que se coloca para todo jovem comunista é ser essencialmente humano, ser tão humano que se aproxime do melhor dos humanos. Purificar o melhor do homem através do trabalho, do estudo, da prática da solidariedade contínua com o povo e com todos os povos do mundo; desenvolver o máximo de sensibilidade, até o ponto de sentir-se angustiado quando em algum canto do mundo um homem é assassinado e até o ponto de sentir-se entusiasmado quando em algum canto do mundo se levanta uma nova bandeira de liberdade".
Outras serras, outras trincheiras
No entanto, Che não se adaptou bem na função de Ministro de Estado e acabou pedindo para ser substituído no cargo A partir de 1964 tornou-se uma espécie de relações exteriores da revolução cubana, viajando para vários países da América Latina, África e Ásia. Em 1965, misteriosamente, desapareceu da vida pública e renunciou à todas suas responsabilidade junto ao governo e a direção do Partido Comunista Cubano. Isto era necessário tendo em vista o novo projeto revolucionário que ele iria se envolver.

Na sua carta de despedida à Fidel escreveu: "Outras serras do mundo requerem meus modestos esforços. Eu posso fazer aquilo que lhe é vedado devido à sua responsabilidade à frente de Cuba, e chegou a hora de nos separarmos (...) Declaro uma vez mais que eximo Cuba de qualquer responsabilidade, a não ser aquela que provém do seu exemplo. Se minha hora final me encontrar debaixo de outros céus, meu último pensamento será para o povo e especialmente para ti, que te digo obrigado pelos teus ensinamentos e pelo teu exemplo, ao que tentarei ser fiel até às últimas conseqüências dos meus atos; que estive sempre identificado com a política externa da nossa revolução, e continuo a estar; que onde quer que me detenha sentirei a responsabilidade de ser revolucionário cubano, e como tal atuarei. Não lamento por nada deixar nada material para minha mulher e meus filhos. Estou feliz que seja assim. Nada peço para eles, pois o Estado os proverá com o suficiente para viver e para ter instrução". Esta carta é um veemente desmentido aos boatos que correram o mundo – e foram usadas pelos inimigos da revolução cubana - sobre um possível rompimento de relações entre os dois revolucionários cubanos.

Depois de participar de uma frustada tentativa revolucionária no Congo, ele partiu secretamente para a Bolívia. Este país foi escolhido por sua localização central, que, acreditava, permitiria estender o movimento guerrilheiro por todo continente latino-americano. Em março de 1967 o pequeno grupo guerrilheiro comandado por Che foi descoberta pelos órgãos de repressão. Num primeiro momento ele obteve algumas vitórias sobre o desorganizado exército boliviano, mas logo entraram em ação os "rangers", treinados pelos norte-americanos no Panamá, com o apoio de "técnico" da CIA.

A experiência da guerrilha boliviana revelou os equívocos de muitas das concepções político-militares defendidas pelo revolucionário cubano, entre elas: a afirmação de que já existiriam as condições objetivas para eclosão de uma revolução socialista em toda América Latina, cabendo apenas a ação enérgica de um pequeno grupo de revolucionários para que se constituíssem as condições subjetivas.

No início de outubro eram apenas 17 os guerrilheiros que permaneciam vivos ao lado de Che – um número maior do que o que se alojou na Sierra Maestra em 1956 -, mas as condições eram-lhes completamente adversas. A guerrilha atuou numa zona hostil, em condições bastante diferentes das existentes na serras cubanas. Os camponeses compunham uma massa ainda atrasada e que não tinha a tradição revolucionária dos camponeses cubanos. A principal força social de esquerda na Bolívia, os mineiros, havia sido esmagada pelo governo em junho de 1967. Esta era uma prova de que as revoluções não podem ser copiadas.

Nos seus últimos dias, Guevara escreveu: "Dia de angustia que em certo momento pareceu ser o nosso último dia (...) o exército está mostrando maior efetividade de ação, e a massa camponesa não nos ajuda em nada e se converte em delatores". Estes eram claros sinais que uma tragédia estava prestes a ocorrer. A situação exigia recuo, mas já era tarde demais.

No dia 8 de outubro de 1967 o pequeno grupo foi cercado e massacrado. Che acabou sendo ferido em combate e preso. No dia seguinte foi executado ilegalmente por ordens do governo do general Barrientos, que temia que um julgamento público pudesse se transformar num palanque para as idéias revolucionárias de Che. O corpo do comandante guerrilheiro foi enterrado clandestinamente e por mais de 30 anos o local permaneceu desconhecido.

Sobre o trágico desaparecimento de Che e as esperanças que ele semeou, cantou o poeta e compositor cubano Pablo Milanés: "Não porque caístes/ Tua luz é menos alta./ Um cavalo de fogo/ Sustenta a tua escultura guerrilheira/ Entre o vento e as nuvens destas serras./ Não porque foi calado és silêncio/ E não porque te queimaram,/ Porque te dissimularam sobre a terra,/ Porque te esconderam/ Em cemitérios, bosques e pântanos/ Vão impedir que te encontremos./ Che comandante, amigo".
Guevara na yuotube:
Fidel lê a carta de despedida de Che
http://www.youtube.com/watch?v=kQoXQYBBjnc&mode=related&search=
Fidel fala da morte de Che em 1967
http://www.youtube.com/watch?v=huvrR8FCJpU
Discurso em Santa Clara em 1961 – "Por que é a natureza do imperialismo que bestializa os homens"
http://www.youtube.com/watch?v=OfMvvGw4lIs&mode=related&search=
Belo discurso na ONU em 1964
http://www.youtube.com/watch?v=DO7yxx7Y81w&mode=related&search
Belo vídeo-clipe sobre Guevara
http://www.youtube.com/watch?v=O_QXOG1rDLs&mode=related&search
Bibliografia
Aquino, Rubim (e outros) História das Sociedades Americanas, Ed. Eu e você, RJ, 1981
Bandeira, Luiz Alberto Moniz – De Martí a Fidel, Ed. Civilização Brasileira, RJ, 1998.
Che Guevara, Coleção Grandes Cientistas sociais (organizado por Eder Sader), Ed. Àtica, SP, 1988.
Harnecker, Marta – Fidel, a estratégia política da vitória, Ed. Expressão Popular, SP, 2000

*Augusto Buonicore, Historiador, mestre em ciência política pela Unicamp

terça-feira, outubro 02, 2007

Para além dos arautos da desdita

Os pessimistas que me perdoem, sei que ainda há muito o que fazer, mas vislumbro um futuro promissor para o país. Isso, claro, se os engenheiros da destruição e os sabotadores encastelados na grande imprensa, e até mesmo no Banco Central, deixarem.

Lula Miranda

Se você é um sujeito de classe média, como eu, mas com a agravante condição de ser leitor ou assinante da Folha de S.Paulo, do “Estadão” ou do Globo, e leva a ferro e fogo o que (des)informam esses veículos, todos os dias, aos seus olhos, são pardacentos, frios, chuvosos, tenebrosos até. Tudo lhe parece estar irremediavelmente perdido. O pessimismo já lhe deixou cético e prostrado. Você vive imerso num desalento que imobiliza. Já não tem entusiasmo para muita coisa. Já não acredita nos homens, já não acredita em mais nada – tornou-se um cético empedernido. Talvez por isso nem acredite, se eu lhe disser, que você pode enxergar a realidade que lhe cerca com outros olhos – e não com os olhos dos outros. Talvez, quem sabe, se você tentasse, ao menos, limpar um pouco as lentes com as quais enxerga o mundo. Quem sabe enxergasse as coisas de modo um pouco diferente.

Tenho observado ultimamente, com uma dose de apreensão e preocupação, um clima de intolerância que pouco a pouco vai se instalando, sorrateiro, na sociedade. Algumas pessoas estão mais agressivas, se irritam por pouco – na linha “pavio curto”. Lembram do filme “Um dia de fúria”, com Michael Douglas no papel principal? É por aí. Desconfio seriamente que esse clima é decorrente, em grande medida, dessa espécie de “comoção negativista” que certos (de)formadores de opinião martelam diuturnamente nos “jornalões” e nas TVs.

Em sua pregação “apocalíptica” anunciam que as instituições estão “podres”, “falidas”. Que no Senado e na Câmara só tem ladrão. Julgam e condenam a todos de modo peremptório, definitivo, precipitado – como um verdugo. Associam ao nome do presidente da Republica epítetos nada respeitosos – isso para dizer o mínimo, mas é cada impropério... Parece um vale-tudo da maledicência, do desrespeito, do pessimismo. Parece que tudo vai mal, que tudo está irremediavelmente perdido.

Sabemos que não é esse exatamente o espelho da realidade. Procuro ver a realidade com meus próprios olhos; ouvir o “clamor” que vem das ruas com meus próprios ouvidos. Pensar com a minha cabeça e formar juízos de valor a partir dos meus próprios valores – na dúvida, busco referência nas palavras de jornalistas mais isentos e ponderados, lastreados no bom senso e no pluralismo, e, por último, nas palavras e obras dos pensadores que a cultura ocidental (e universal) nos legou.

Leio muito pouco, quase nada (só o indispensável), os chamados “jornalões”, pois privilegio como fonte de informação a mídia alternativa: sites e blogs de jornalistas e veículos desvinculados dos grandes grupos de comunicação. Não confundo jamais opinião pública com opinião publicada, e não dou muita atenção e crédito aos “intermediários” nessa mediação da observação da realidade circundante – os aqui chamados (de)formadores de opinião.

Gosto de conversar com os chamados, por certos membros da elite, “subalternos” – aqueles indivíduos, quase sempre tratados como “invisíveis”, que nos servem cotidianamente e servem, também, de alicerce à pirâmide social: porteiros, vigilantes, faxineiros, balconistas etc. É aí que as supostas e intangíveis melhorias na economia ganham vida ou se mostram como algo concreto, do mundo real. Para além da PNAD, da econometria ou das projeções econômicas dos tecnocratas e dos “especialistas” e “analistas” a serviço do governo ou da grande imprensa. Portanto, frise-se, para além dos mercadores ou arautos de desgraças em que se constituíram alguns jornalistas da grande mídia.

Um porteiro, meu conhecido, me diz que conseguiu no ano passado terminar a construção do “barraco” dele, num bairro qualquer na periferia da cidade. A obra passara vários anos parada, pois, segundo ele, o saco do cimento era o dobro do preço nos anos FHC . Estava radiante, feliz da vida, uma vez que estaria livre, de uma vez por todas, do famigerado aluguel.

Um dos vigilantes do prédio onde trabalho também está feliz da vida. Pediu-me, com os olhos marejados, para faltar um dia ao trabalho para cuidar da papelada, pois conseguira juntar um “dinheirinho” para dar de entrada no financiamento de um “sobrado” – apesar de ser baiano, como eu, ele já aprendera a, utilizando-se da linguagem dos paulistas, chamar a tão almejada casa própria de “sobrado”. O restante do valor financiado será pago em suaves prestações através de um financiamento junto à Caixa Econômica Federal. Os juros e a inflação baixos, associados ao alongamento dos prazos de financiamento (30 anos), possibilitaram a realização daquele “sonho”.

O operador de empilhadeira, que presta serviço na mesma empresa que eu, vem me contar, todo entusiasmado, que esse ano conseguira um “bom aumento” de salário. Nas contas dele, um aumento de R$ 60,00 que, somando-se ao aumento de R$ 20,00 no vale-alimentação, daria um ganho “significativo” – está certo que para os indivíduos de um outro extrato social esse ganho seria uma “merreca”. Para ele, e para sua família, significava um pouco mais de comida à mesa e, quem sabe, até um passeio com a patroa e as crianças num fim de semana qualquer.

Poderia citar ainda inúmeros casos de conhecidos que conseguiram emprego (ou mudaram para empregos melhores), compraram um carro ou apartamento (ou mesmo um computador), puderam cursar uma faculdade etc. Podem ser estes, de fato, apenas singelos, ordinários e parcos relatos que estão ao meu alcance. Mas relatos e casos como esses podem ser ouvidos por aí, espalhados por todo o país. E isso é alvissareiro, inegavelmente. A esses se somam os relatos silenciosos de mais de 1,3 milhão de brasileiros (muitos dos quais pais e mães de família) que, finalmente, conseguiram um emprego com carteira assinada – isso só nesse ano de 2007. Se contarmos desde o começo de 2003, são mais de seis milhões de postos de trabalhado “celetistas” (regidos pela CLT), criados ou recuperados.

Portanto, meus amigos, para além das ideologias, dos partidarismos e interesses outros, comezinhos; para além até mesmo dos bons resultados aferidos na última PNAD (redução da pobreza, da taxa de fecundidade, crescimento da renda domiciliar per capita de cerca de 9%, dentre outros) e dos alvissareiros números, resultados e projeções estatísticas apresentados pela nossa economia, devemos olhar, com carinho e atenção, para essas pequenas e significativas mudanças ou melhorias. Não apenas na nossa vida, mas, e principalmente, na vida das pessoas comuns que nos cercam – e que povoam, de alguma forma, o nosso mundo. Esses brasileiros, por tanto tempo esquecidos, explorados e vilipendiados, parecem estar tendo agora a sua vez.

Projeções de analistas apontam que, se o país crescer anualmente na ordem de 5%, teremos, já em 2010, uma redução significativa do número de desempregados no país para a casa dos 4% – ou 6%, dependendo do cenário e do analista. Não é necessário ser economista ou um especialista para perceber que, crescendo a economia, de forma continuada, aumenta o emprego formal (com carteira assinada) e, com isso, cresce a arrecadação da Previdência (conseqüentemente, reduz-se o suposto e controverso déficit previdenciário). Aumenta também o consumo, o que faz crescer a arrecadação de impostos – dessa forma o governo pode aumentar os gastos em saúde, habitação, educação e investimentos públicos. E assim, pouco a pouco, e o mais rápido possível, reduziremos os déficits que realmente importam: o do emprego (leia-se brasileiros e brasileiras desempregados), o da moradia (leia-se homens e mulheres sem-teto) e o do saneamento básico e infra-estrutura urbana.

Os pessimistas que me perdoem, sei que ainda há muito, mas muito mesmo, o que fazer, mas vislumbro – até que enfim! – um futuro promissor para o país. Isso, claro, se os chacais, os engenheiros da destruição e os sabotadores encastelados na grande imprensa, e até mesmo no Banco Central, deixarem.

Por essas e outras que não aceito a pauta infame/ruinosa que nos é imposta pela grande (e velhaca) mídia. Quero saber é das reformas (política, tributária, sindical etc) e dos próximos passos tão necessários à reconstrução dessa nação tão destroçada. Essa é a minha pauta.Também é, por acaso, a sua?


Lula Miranda é poeta, cronista e colabora semanalmente com a Carta Maior. É Secretário de Formação para a Cidadania do Sindicato de Trabalhadores em Editoras de Livros de São Paulo.

CADEIRA DE MAQUIAGEM

Laerte Braga

A revista VEJA em sua última edição começa a tentar desmontar Ernesto Guevara, o Chê. A idéia que uma figura como a do guerrilheiro argentino possa ser cultuada pelos jovens incomoda. De repente a apropriação da imagem de Che estampada em camisas e vários produtos do lucro nosso de cada dia volta-se contra os interesses de quem vende e lucra. O feitiço contra o feiticeiro, ainda mais em tempos de Hugo Chávez e Evo Morales.

Mostra uma figura que teria vacilado à hora que foi preso. Há um depoimento prestado por uma boliviana que levou um prato de sopa a Guevara, pouco antes de sua execução sumária por oficiais norte-americanos que participavam da caçada e generais bolivianos ligados ao tráfico, como se mostrou depois, que exalta a dignidade e o caráter de Guevara.

VEJA é uma prática semanal e contumaz da mentira em função de interesses dos donos do mundo. Nem uma palavra, por exemplo, sobre o mensalão tucano que beneficiou e regou a campanha de FHC em 1998 para a reeleição comprada a peso de ouro ao Congresso Nacional, a deputados e senadores.

Isso não existe para a revista, para a mídia golpista.

VEJA é useira em inventar histórias para atender aos que pagam. É o motivo das quedas constantes nas vendas da revista. Por incrível que pareça diminui o número de iludidos a cada semana.

Maquia a história e os fatos por conveniência dos que pagam.

Quando se descobriu que o avião acidentado da TAM tinha um defeito no reversor e apresentava falhas mecânicas, a revista saiu com matéria de capa acusando o piloto de culpado. A caixa preta mostrou o contrário. Importante não é a verdade, mas o que determinam as empresas através das agências de publicidade.

VEJA não tem escrúpulo algum.

O modelo de mídia no Brasil é corrupto. O paulista então extrapola e não fosse a GLOBO o poder que é, hoje cada vez mais conhecido e sentido, seria o maior exemplo de venalidade na história da imprensa no Brasil.

O que é importante notar é que publicações como VEJA, redes como a GLOBO, percebem que se for dito a dez pessoas que o Zé é batedor de carteiras, pelo menos cinco vão acreditar, não importa que o Zé seja ou não. O fato é irrelevante, o que conta é a versão.

E as versões da mídia no Brasil são determinadas pelas agências de propaganda que, por sua vez, são pagas pelos donos do País, a elite sonegadora e propineira do CANSEI.

O Superior Tribunal de Justiça reservou oitocentos e quarenta e nove reais em seu orçamento para a compra de uma segunda cadeira de maquiagem. É para que os ministros apareçam bem e conforme as “regras” quando de entrevistas às redes de televisão, ou em sessões públicas.

Maquia-se a Justiça.

O efeito é o tal cascata. Um modelo modelado por arquitetos de bundas, peitos, posturas, a aparência. O fundo ou está tonto e perdido sem bem saber para onde andar e o visível é um esgar a que chamam sorriso, mas exibe medo e cadeiras de maquiagem.

Lá por cima não. Divertem-se com todo esse caos e elevam-se a arautos dessa massa uniforme e sem cor, à qual dão a forma que desejam.

É o espetáculo na sua forma mais abjeta, o que transforma o ser humano em boneco de um circo onde os resistentes ou são “malucos”, ou “terroristas”, ou “desajustados” na ordem londrina do caos paulista.

Um batalhão de pastinhas. Um batalhão de escaninhos. Um batalhão de caçapas. Um batalhão de bolas encaçapadas. Um batalhão de mensaleiros. Milhões de zumbis atônitos e caminhantes do nada para o nada.

Quem sabe uma cadeira de maquiagem para cada um não resolve o problema existencial?

Oitocentos e quarenta e nove? Não é tão caro assim para a vaidade/mediocridade dos grampos jogados fora na presunção da paz.

Vem a água e leva tudo.

Essa semana a Câmara dos Deputados pagou uma festinha para 250 pessoas (oito mil reais a um buffet) e o Senado comprou, por quarenta e oito mil, seis televisões de plasma, de 50 polegadas.

Bagatela.

Está chegando o Natal ainda não viram nada. O que transforma a sua cidade em Paris brasileira, e o que contrata profissionais para a decoração natalina de sua arapuca. Dois patetas sem nenhum caráter, iguaizinhos aos lá de cima.

A mídia e a lama do PSDB

Isso tudo é uma hipocrisia, disse em 1992 Paulo César Faria, o PC, tesoureiro da campanha do então presidente Fernando Collor; era o auge da campanha do Fora Collor, que acabou expulsando o presidente neoliberal do Palácio do Planalto.

A hipocrisia continua, quinze anos depois. Sua última manifestação é o comportamento da mídia e da oposição de direita às declarações do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), da última quarta-feira. O senador foi governador de Minas Gerais e presidente do PSDB, afastado quando se soube que usou caixa 2 na campanha eleitoral de 1998.

Investigado, Azeredo defendeu-se atacando; não só reconheceu a falcatrua como disse, em entrevista para a Folha de S. Paulo, que os recursos irrigaram também a campanha de Fernando Henrique Cardoso que, naquele ano, disputou - e venceu - a reeleição para a presidência da República. Cerca de 150 candidatos tucanos (entre eles o atual governador Aécio Neves, que na época era candidato a deputado federal) e de partidos aliados. Eles teriam sido beneficiados pelos fundos amealhados pelo caixa 2 tucano, que envolveu recursos da ordem de R$ 100 milhões, embora a prestação de contas para o TSE tenha declarado que a campanha do então governador mineiro tenha gasto ''apenas'' R$ 8 milhões (8% do total arrecadado).

O alvoroço no ninho tucano foi imediato. Cardeais do PSDB passaram a exigir, nos bastidores, o afastamento de Azeredo do partido. Os impropérios multiplicaram-se, e os qualificativos mais suaves usados contra ele foram ''mau-caráter'' e ''transtornado''. É ''algo surrealista'', disse o lider tucano no Senado, Arthur Virgilio (AM). Tasso Jereissati, presidente do PSDB - que tentou, em vão, obter uma retratação de Azeredo - disse que as declarações são demonstrações de indignação e transtorno mental.

Os catões tucanos, que posam de puros, inocentes e ''republicanos'', para usar um termo da moda, foram pegos no contrapé e são obrigados, pela voz de um de seus próprios pares, a provar do mesmo fel que destilam, desde o início de 2006, contra o governo do presidente Lula. E saem, na maior cara de pau, defendendo o ex-presidente FHC com o argumento de que ele não sabia de nada.

Pior: a mídia e alguns tucanos notórios, passaram a defender a tese de que não há semelhança entre os acontecimentos relatados - o uso de dinheiro sujo na campanha tucana de 1998 em Minas Gerais e também para a presidência da República - e as acusações que fazem contra o presidente Lula, o PT e demais partidos da base aliada. Seriam coisas diferentes, como defendeu o escriba Augusto de Franco em artigo publicado na Folha de S. Paulo.

O próprio procurador geral da República, Antonio Fernando de Souza, passou recibo a este comportamento ambíguo ao se irritar com a divulgação de um relatório da Polícia Federal com resultados da investigação sobre o caso, e disse que não levará em conta as conclusões daquele documento. É uma atitude pouco condizente com a imparcialidade que se espera da justiça e de seus servidores. Afinal, ele não manifestou irritação semelhante quando a imprensa difundiu amplamente acusações contra o governo Lula, o PT e seus aliados, com base em fontes nas mesmas fontes.

Há um recado implícito no comportamento conservador: para a classe dominante e seus políticos, tudo é permitido, desculpável, compreensível. As declarações do senador Azeredo revelaram a lama tucana. Que a mídia e os políticos conservadores tentam ocultar aos brados de ''não é a mesma coisa''.

Editando sem manual

Valter Pomar

No dia 29 de setembro, a Folha de S.Paulo publicou um artigo com o seguinte título: “Governo tenta salvar ‘viúvas’ de Mangabeira”.

Ficamos sabendo, assim, como o jornal converte em título sua posição sobre a medida provisória que criava a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo.

O mesmo humor dos editores encontra-se nos seus colunistas: em 29 de agosto, Clóvis Rossi escreveu que “ainda falta muita gente no banco dos réus armado pelas decisões do STF”.

A saber: “falta a intelectualidade chapa branca que cometeu o crime de corromper ativamente os fatos ao tentar transformar os réus em vítimas de uma conspiração da mídia que jamais existiu”. Mais: “falta também, no banco dos réus, a instituição PT”. Por fim: “pela mesmíssima lógica antes exposta, faltam também, no banco dos réus, todos os parlamentares que votaram pela absolvição dos mensaleiros”.

Rossi conclui dizendo saber que “ser réu não significa necessariamente ser culpado do ponto de vista penal. Mas, do ponto de vista ético, todos já estão condenados com sentença transitada em julgado”.

Anotemos, pois, o endereço do Tribunal Superior da Ética: a redação da Folha. A mesma que deixou publicar, no dia 18 de setembro, um artigo sobre o Plebiscito da Vale que trata os militantes do PT como animais amestrados, que pulam e latem.

O autor das ofensas, totalmente diretas e explícitas, é o tucano Eduardo Graeff.

Este cidadão, que se apresenta como “cientista político”, simplesmente desconhece que o Plebiscito da Vale foi organizado por mais de 60 entidades, entre elas a CUT, a UNE, o MST, além de igrejas e partidos políticos como o PSOL e o PSTU, que estão longe de ser petistas ou simpatizantes.

Graeff ofende milhões de pessoas que votaram no plebiscito. Se uma iniciativa de milhares, como o “Cansei”, recebeu farta publicidade na mídia e foi objeto de análises sérias, por parte de “cientistas políticos” das mais variadas correntes, por qual motivo tratar com escárnio uma iniciativa de que participaram milhões de pessoas?

Curiosamente, Graeff admite que se houver “sombra de dúvida que o ato foi fraudulento”, caberia ao presidente da República “mandar apurar e desfazer o malfeito”.

Ou seja: a “autoridade” pode e deve fazer algo. Mas as organizações populares, que estão convictas de que houve fraude na privatização, estas não podem se mobilizar e organizar um plebiscito, pois neste caso estariam agindo como animais amestrados.

Motivos de convicção sobre fraude não faltam. A começar pelo seguinte: uma empresa que hoje vale US$ 50 bilhões, certamente valia mais do que os US$ 3 bilhões pelos quais foram vendidas 42% de suas ações, em 1997. Houve um “erro” proposital de avaliação.

Mas o “cientista político” tucano acha que mexer com a Vale assustará o mercado. E entende que a Vale privatizada trouxe grandes ganhos para o país, com recordes de investimento, produção, emprego, exportações. Aliás, diz ele, “o desempenho de quase todas as empresas privatizadas é uma história de sucesso em benefício de seus compradores e empregados e do país”.

O que Graeff está tentando dizer, mas não tem a coragem de falar abertamente, é o seguinte: mesmo que a Vale tenha sido fraudulentamente privatizada, os fins justificam os meios.

Pensamos diferente: exatamente por ser estratégica para o país, a situação da Vale merece ser analisada com atenção redobrada, sem preconceitos. Do mesmo modo que o governo FHC não considerou o monopólio estatal como um fato consumado, o PT tem o direito de não considerar o monopólio privado como cláusula pétrea.

Por fim, Eduardo Graeff não sabe como funciona o Partido dos Trabalhadores. O 3º Congresso aprovou por maioria o apoio ao Plebiscito. Havia gente importante contra. Mas esta é mais uma das muitas diferenças entre o PT e o PSDB. Aqui, nós decidimos no voto de delegados eleitos pela base. Aí, meia dúzia de lideranças decide na mesa de restaurantes finos. E nós é que somos amestrados?

Valter Pomar Secretário de relações internacionais do PT

FOLHA ONLINE: O ESCÂNDALO DO ANO TRANSFORMADO EM NOTÍCIA BOBA

Os petistas têm boa dose de razão quando dizem que a imprensa trata o "Mensalão" com parcialidade. O tal "Mensalão do PSDB" é a prova disso: tratam do assunto como se fosse um problema regional ("Mensalão Mineiro") ou como se não fosse algo parecido com o escândalo federal ("Valerioduto Mineiro").

Para uma análise objetiva da transformação do ESCÂNDALO DO ANO em notinha de rodapé, vejamos como repercutiu a notícia de hoje da Folha de São Paulo na… FOLHA ONLINE!

Abaixo, trechos da matéria de hoje, da FSP:

"PF Diz que Valerioduto Pagava Juiz que Favoreceu PSDB-MG - Rogério Tolentino, advogado de Valério, recebeu R$ 302 mil quando atuou no TER - Nomeado por Fernando Henrique Cardoso em 20 de julho de 1998, Tolentino decidia sistematicamente a favor da coligação do PSDB

Rogério Lanza Tolentino, advogado do publicitário Marcos Valério, foi juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais e recebeu dinheiro do valerioduto durante a campanha de 1998, quando o então governador Eduardo Azeredo (PSDB) tentou, sem êxito, a reeleição. Atuando como juiz eleitoral, Tolentino votou favoravelmente ao candidato tucano em decisões próximas a depósitos em sua conta e na de sua mulher .

Relatório da Polícia Federal no inquérito do valerioduto mineiro registra que, entre agosto e outubro de 1998, foram feitos cinco pagamentos no total de R$ 302.350 ao juiz e a sua mulher, Vera Maria Soares Tolentino. Para a PF, seriam " recursos de estatais desviados para o caixa de coordenação financeira da campanha".

Réu do mensalão do PT pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, Tolentino foi juiz eleitoral no biênio 1998/2000, indicado para vaga de advogado em lista tríplice e nomeado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 20 de julho de 1998 . Advogados, juízes e promotores (ouvidos com a condição de terem os nomes preservados) dizem que Tolentino sistematicamente decidia a favor da coligação do governador tucano -o que ele nega.

Procurado pela Folha, Tolentino inicialmente informou que "não participou de qualquer julgamento referente à campanha do então candidato Eduardo Azeredo". Confrontado com registro de acórdão de julgamento em que atuou como relator, com voto a favor do tucano, modificou sua versão .

Dois episódios esvaziam as alegações do advogado. Em sessão realizada em 10 de setembro de 1998, o TRE-MG cassou liminar concedida pelo juiz relator Tolentino, que permitira a Azeredo usar o tempo de propaganda destinado a candidatos a deputado, contrariando a legislação eleitoral.

Em 28 de setembro de 1998, a coligação que apoiava Itamar Franco (PMDB-PST) manifestou ao TRE-MG "a notável evolução do entendimento" de Tolentino, que deferiu liminar favorável a tucanos quando, cinco dias antes, negara pedido semelhante a peemedebistas.
Nas sessões de 16 de setembro de 1998 e 1º de outubro de 1998, quando o TRE-MG julgou recursos sobre direito de resposta, Tolentino novamente não votou contra Azeredo.

No relatório da PF, o delegado Luís Flávio Zampronha diz que "o advogado e consultor jurídico" Tolentino foi "sistematicamente beneficiado com os recursos públicos desviados"." (grifos nossos)

Agora, a "repercussão" na Folha Online (ao lado de cada frase 'bacaninha', coloco um número, para facilitar o entendimento dos comentários que vêm depois do texto):

"Valerioduto de MG (1) Pagou Juiz Eleitoral, diz PF

Rogério Lanza Tolentino, advogado do publicitário Marcos Valério, foi juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais e recebeu dinheiro do valerioduto durante a campanha de 1998, quando o então governador Eduardo Azeredo (PSDB) tentou, sem êxito, a reeleição. A informação está publicada em reportagem deste domingo da Folha (2), assinada por Frederico Vasconcelos (a íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL).

Segundo relatório da Polícia Federal, no inquérito do valerioduto mineiro, entre agosto e outubro de 1998, foram feitos cinco pagamentos no total de R$ 302.350 ao juiz e a sua mulher, Vera Maria Soares Tolentino. Para a PF, seriam "recursos de estatais desviados para o caixa de coordenação financeira da campanha".

Réu do mensalão do PT (3) pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, Tolentino foi juiz eleitoral no biênio 1998/2000, indicado para vaga de advogado em lista tríplice e nomeado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 20 de julho de 1998 (4).

Outro lado
O advogado Rogério Lanza Tolentino diz que todos os pagamentos da SMPB Publicidade no período em que foi juiz eleitoral "foram por prestação de serviços" e nega ter favorecido." (grifos nossos)

Vamos por partes:

1 - Valerioduto de MG
Quando se trata do PT, a imprensa é populista e atribui ao escândalo o nome oficial "mensalão petista", mesmo considerando o envolvimento de muitos outros partidos (o número de petistas na denúncia do Procurador Geral, por exemplo, é pra lá de minoritário).

Mas, quando se trata do PSDB, o problema misteriosamente passa a ser de Minas Gerais. A reportagem aponta uma denúncia de BENEFÍCIO DIRETO obtido pelo candidato tucano ao Governo do Estado. Mas dão ao caso o nome de "valerioduto mineiro".

Aliás, o que vem a ser um "Valerioduto"? Da forma como a imprensa coloca, fica parecendo um fenômeno da natureza, uma ação do cosmos contra a qual nenhum ser humano pode fazer coisa alguma. Na verdade, como se sabe, o "Valerioduto" era operado e tinha como beneficiários seres bem humanos e, inclusive, filiados a partidos políticos.

Mas, no caso do PSDB, o tratamento dado é esse: "valerioduto mineiro", como se fosse um fenômeno da natureza havido em uma região do Brasil; algo parecido com "seca nordestina", "chuva paulistana" ou "geada catarinense".

2 - A "Informação" Não é Essa
A reportagem da Folha Online não fala em "denúncia", mas sim em "informação". Ok, aí é problema estilístico (que talvez decorra de certas predileções partidárias). Engraçado, mesmo, é dizer que a "informação" é uma, quando na verdade é outra.

Segundo a Folha Online, esta seria a "informação":

"Rogério Lanza Tolentino, advogado do publicitário Marcos Valério, foi juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais e recebeu dinheiro do valerioduto durante a campanha de 1998, quando o então governador Eduardo Azeredo (PSDB) tentou, sem êxito, a reeleição. "

Não, não é. Se fosse, ninguém daria a menor bola, pois não há nada de errado nisso. Recebeu dinheiro "durante a campanha"? E daí? O "resumo da informação" não traz os elementos mais básicos e efetivamente sérios da coisa.

O que a Folha de São Paulo publicou foi o seguinte:

"Tolentino, advogado de Valério, recebeu R$ 302 mil quando atuou no TRE - Nomeado por Fernando Henrique Cardoso em 20 de julho de 1998, Tolentino decidia sistematicamente a favor da coligação do PSDB " (grifo nosso)

Ou seja: a Polícia Federal alega que um Juiz do TRE, advogado de Marcos Valério e nomeado por FHC para a vaga no Tribunal, recebeu dinheiro público de estatais mineiras e beneficiou o candidato do PSDB ao Governo do Estado, Eduardo Azeredo.

A denúncia (ou "informação") é essa. O resto é retórica boboca da Folha Online.

3 - O do PT é Petista, o do PSDB é… "Mineiro"
A mesma reportagem fala em "valerioduto mineiro" e em "mensalão petista". Não se trata de uma tendência regionalista, mas de pura e simples discriminação partidária. A Folha Online precisa esclarecer isso. Não é possível que haja orientações editoriais distintas para tratar de cada partido.

Ou é?

4 - Interferência no Judiciário
Um dos aspectos mais graves do "Mensalão do PT", e que curiosamente ainda não foi comprovado, é a alegação de que o Executivo estaria "comprando" o Legislativo. Há falhas lógicas nisso (como o fato de que petistas não receberiam dinheiro para votar… COM O PT!) e falhas objetivas, tendo em vista que alguns pagamentos eram repassados a prestadores de campanha.

Pelo que se apurou, houve o crime - sim, crime! - de "Caixa 2″, e isso é o bastante, sem dúvida, para que todos fiquemos indignados.

O "Mensalão do PSDB", segundo a notícia publicada hoje na Folha, vai um pouco além do "Caixa 2″. A acusação de agora é a seguinte: UM MEMBRO DO JUDICIÁRIO TERIA SIDO SUBORNADO, COM DINHEIRO PROVENIENTE DE ESTATAIS MINEIRAS, PARA DECIDIR EM FAVOR DO CANDIDATO DO PSDB, QUE ENTÃO ERA GOVERNADOR DE MINAS GERAIS.

Para complicar ainda mais, esse juiz, que era advogado de Marcos Valério, foi indicado ao TRE por Fernando Henrique Cardoso, Presidente da República e membro do mesmo PSDB de Azeredo.

Os tucanos, diante dessa denúncia, estão em situação delicada, pois:

a) indicaram o juiz;

b) teriam pago por decisões favoráveis;

c) há provas das decisões favoráveis e TAMBÉM dos depósitos;

d) o dinheiro pago seria oriundo de empresas estatais mineiras, sob o comando do Governador do Estado, o direto beneficiado pelas decisões;

e) antes de ser juiz do TRE, o 'magistrado' era advogado de Marcos Valério.

Entonces…
A coisa está mesmo feia, e o Procurador Geral da República não terá muito trabalho para preparar uma denúncia da pesada. Vamos ver se a imprensa, a partir da apresentação da denúncia, os termos do Procurador em suas reportagens.

Será que os jornalões farão isso, ou - por se tratar de um escândalo do PSDB - esperarão a "coisa julgada", ouvirão todas as partes, tal e coisa?

Triste é ver que logo a PRIMEIRA REPERCUSSÃO da denúncia já se dá de forma "apartidária" e quase impessoal - e se trata de um órgão (Folha Online) do mesmo grupo do jornal que denunciou (Folha de São Paulo).

Aguardemos a "imparcialidade" dos demais veículos…

Espinafrado por Gravatai Merengue