quinta-feira, outubro 18, 2007

O discurso da oposição

Coluna Econômica - 18/10/2007
Qual deveria ser o discurso do candidato da oposição nas próximas eleições? Andei escrevendo vários posts sobre o tema em meu Blog (www.luisnassif.com.br), mas que podem ser sintetizados nos seguintes pontos. Há um erro básico de avaliação das oposições em relação ao governo Lula. Se se parte de um diagnóstico errado, chega-se a uma estratégia errada.
O governo é melhor do que a oposição imagina.
Suponha a campanha de 2010 em pleno andamento. A oposição acusará Lula de ser estatizante. Ele mostrará o resultado das licitações de concessões rodoviárias, as licitações para a construção e exploração de usinas hidrelétricas, construção de malhas ferroviárias e a crítica se esvaziará.
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Poderão acusá-lo de estar inflando a máquina pública. Ele mostrará o projeto de reforma administrativa - em curso no Ministério do Planejamento -, os programas de qualidade que começam a se espalhar pela estrutura pública, inclusive a proposta de redução de cargos comissionados.
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É possível que seja acusado de alta de competência gerencial. Até lá, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) já terá demonstrado sua eficácia, e os demais planos de governo - PAC da Inovação, da Educação, da Saúde e da Segurança - fornecerão elementos mais que suficientes para calar os críticos.
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Será acusado de ter criado um programa assistencialista inconseqüente, a Bolsa Família, que apenas onera os cofres públicos. Nem será necessário aguardar até lá. Hoje em dia já existe reconhecimento internacional suficiente sobre as virtudes do programa.
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Será acusado também de não ter promovido o desenvolvimento e de ter destruído setores inteiros da economia com sua política cambial; de ter gastado recursos preciosos com uma política de juros sufocante.Ai se estará entrando no centro da questão, na crítica consistente.
Nos próximos anos ficarão mais claros os estragos do câmbio. O problema básico é que essa vulnerabilidade óbvia da política econômica de Lula não encontra eco na mídia. Porque ainda vigora o discurso de que juros altos e câmbio baixos fatores de modernização do país e vigora o efeito manada de não reconhecer nada de bom no governo.
Como resolver, então, essa dissintonia? A mídia quer o grande campeão branco contra Lula. Só que não aceita que o campeão coloque em prática a única estratégia capaz de lhe proporcionar a vitória: a bandeira do desenvolvimentismo, e do câmbio competitivo.
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É aí que entra a aposta que só os estadistas serão capazes de bancar: um candidato que passe a repetir obsessivamente essas verdades, ousando enfrentar o "mainstrean" aceito hoje em dia pela mídia.
Mais que isso: o candidato terá que reconhecer os avanços do governo Lula, para poder ganhar autoridade para identificar os pontos falhos e propor o salto qualitativo. E isso significa colocar água nessa fervura maluca, nessa guerra santa criada por parte da mídia.
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No "Valor" de ontem, a editora de política Maria Cristina Fernandes traça um belo panorama do que se passa na cabeça de alguns dos presidenciáveis.
Se essa linha prosperar, em vez da temida guerra santa, as próximas eleições poderão se constituir em um primeiro passo para a grande pacificação nacional, que permita ao Brasil começar a percorrer o caminho que em poucos anos transformou Espanha, Portugal e Irlanda em países desenvolvidos.
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enviada por Luis Nassif

Goebbels inspira Veja

por Luciano Rezende*

No dia 12 de outubro último o Vermelho reproduziu excelente artigo do jornalista Ricardo Kauffman intitulado "Os dois Che's da Veja, o de 97 e o de 2007" cujo conteúdo nos convida a refletir sobre os movimentos da mídia. Ricardo compara a matéria de capa da revista Veja sobre Che Guevara em 1997 com a de 2007 e conjectura sobre as causas e motivações da escalada agressiva contra o guerrilheiro. A de 1997 trazia o título "O triunfo final de Che", já a última ''Che: há quarenta anos morria o homem e nascia a farsa''.

Kauffman sugere uma visita comparada das duas reportagens da publicação sobre o assunto e se atem especialmente sobre as incongruências, diferenças de tratamentos e visões antagônicas entre as duas matérias.

A estranheza maior do jornalista reside no fato de que a morte de Che foi há quarenta anos e nos últimos dez anos nada de relevância decisiva sobre sua história foi revelado, embora seu mito não pára de crescer. "No entanto, como podemos observar, a visão e os procedimentos jornalísticos que a maior e mais influente revista brasileira tem e propaga diante dos fatos mudou radicalmente no período. Sem maiores explicações ou avisos aos seus leitores", conclui.

Quais são as razões dessa pretensa disparidade? O local da apuração das informações e a origem das fontes de consulta já seriam boas justificativas, caso se tratasse de outra revista que não essa máquina de doutrinação da direita. Há um "toque de classe" que necessita ser levado em consideração para entender a metodologia empregada e, mais que isso, seus interesses.

A revista Veja faz parte dessa rede mundial de comunicação neomacartista na eterna campanha da desinformação. Um olhar mais atento nos mostra outro fator importante na análise sobre a tática usada por todos os veículos de comunicação e formação da burguesia na satanização de ícones e referências da esquerda : a cronologia dos fatos.

Há uma passagem muito interessante no livro "Stalin, um novo olhar" do escritor belga Ludo Martens em que o mesmo chama atenção para as despudoradas campanhas empreendidas pela burguesia contra figuras ligadas ao socialismo. Na maioria das vezes são investidas grosseiras com objetivo de desmanchar biografias de personalidades cujas vidas foram dedicadas à luta pelo socialismo (ou mesmo contra o imperialismo).

No caso específico de Stálin as acusações de assassinato de inocentes civis por parte da burguesia variam, através de
estudos "científicos", de 500 mil a até 50 milhões, oscilando, entre outras coisas, de acordo com a ordem cronológica da publicação. Uma margem de erro grotesca que com o passar dos anos aumentou vertiginosamente.

Continuando sua linha de raciocínio, Ludo relata um artifício utilizado em suas palestras. Um texto sobre Stálin é distribuído para a classe a qual é solicitada a comentar sobre o teor do artigo logo após a leitura. Todos revelam que se trata de um escrito anti-stalinista embora reconheça os enormes êxitos alcançados pela URSS com Stálin à frente e que relata abertamente o entusiasmo dos jovens e dos pobres pelo bolchevismo. Ludo Martens então revela que o panfleto é uma publicação nazista distribuída em plena Segunda Guerra Mundial e daí conclui que com o passar dos anos, sem a URSS ara fazer um contraponto a toda sorte de calúnias, ou mesmo com uma nova geração de russos que não viveram essa época para contestar muitas dessas acusações, vai-se aumentando a dose das acusações, confirmando a tese de Goebbels de que uma mentira dita mil vez pode se tornar verdade. Martens conclui afirmando que as campanhas anti-stalinistas promovidas pelas democracias ocidentais em 1989-1991 eram muitas vezes mais violentas e caluniosas que aquelas levadas no curso os anos 30 pelos nazistas. Ontem a defesa de Stálin era espontânea a qualquer comunista, hoje é quase uma heresia.

Não é o caso aqui de inocentar ou culpar Stálin (ou quem quer que seja), mas de fazer um simples esforço de raciocínio de entender como a burguesia age para destruir figuras de esquerda em geral, usando os meios de comunicação para "provar" suas teses e outros "estudos científicos" com o passar do tempo. Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.

Da mesma forma aqui no Brasil, se daqui a cinqüenta anos um estudante qualquer de mestrado ou doutorado pesquisar sobre os dois governos Lula tendo como fonte referencial a revista Veja, chegará, inequivocamente, à conclusão de que fomos governados por um despreparado (numa versão mais moderada) que nos solapou a oportunidade histórica de desenvolvimento e outras coisas mais. Particularmente não me espantarei se, chegando aos meus oitenta anos, deparar com algum "diário secreto" descoberto por alguém em que "revele" uma lista sortida de barbaridades cometidas por Lula. É salutar frisar que até mesmo investigações científicas sérias não podem ser concebidas como completamente esinteressadas ou neutras.

Com Che não é diferente. Mesmo gozando de grande reputação, ter uma trajetória distinta de outras figuras comunistas (ou de esquerda) e se tornado um verdadeiro mito, a burguesia não descansará até destruir sua imagem. Mesclando erros verídicos (e naturais) de outros inventados, descolam o personagem de seu contexto e realidade históricos com o objetivo de desmoralizar seu passado.

Ainda hoje temos centenas de pessoas que conviveram com Che em Cuba, Congo, Bolívia e até mesmo no México ou Argentina para fazerem esse importante contraponto através de testemunhos pessoais detalhados. Maioria absoluta delas é convicta em refutar todas as barbaridades disparadas por Veja e outras publicações de direita - como as ilações esboçadas pelo fútil Carlos Heitor Cony em sua coluna do dia 11 de outubro na Folha de São Paulo em que diz que Che foi um éssimo administrador público, o que é refutado pelos cubanos que trabalharam com ele nos primeiros anos da Revolução Cubana. Aí há outro ponto que também merece atenção: as variadas táticas de ataque. Enquanto o ataque da Veja é aberto, o de articulistas da estirpe de Cony é mais velado e mesclado com a defesa de certas qualidades. O bombardeio inimigo é intenso, o arsenal variado e os alvos bem definidos.

Nessa peleja a atuação da UJS do Rio de Janeiro foi exemplar. Não se pode vacilar ante a máquina de formação e (des)informação da burguesia. Uma das expressões da luta de classes é a luta de idéias. A defesa de Che é a defesa do socialismo e a denúncia do imperialismo que assassina e oprime povos por todo o mundo. A sentença da Veja de que ''Che tem seu lugar assegurado na mesma lata de lixo onde a história arremessou há tempos outros teóricos do comunismo'' é válida tão-somente sob sua ótica de classe. Uma vigorosa reciclagem mostrará, mais cedo ou mais tarde, o poder daquilo que a burguesia pensa poder descartar.

Hoje e sempre faremos a defesa de Che. Talvez com o passar dos anos os ataques sejam mais virulentos diante de um mundo que não terá mais as testemunhas oculares das grandes lutas empreendidas a favor dos povos levadas a cabo por Che. Todavia, seguiremos difundindo seus ideais e lutando pelos mesmos sonhos de nosso comandante, que vai se tornando mais real com as vitórias alcançadas pela esquerda em nosso continente na atualidade.

Artigo originalmente publicado no Blog do Rodrigo Moraes
(www.blogdorodrigomoraes.blogspot.com)

Professores protestam contra a enturmação nas escolas na capital

Assista no Youtube

Desde às 5h da manhã desta quinta-feira (11) os professores e servidores ligados à educação do Estado estão reunidos em frente ao Palácio Piratini, em Porto Alegre. O motivo pela manifestação é a enturmação e falta de pessoal nas escolas, o sistema de avaliação e o arrocho salarial e às políticas neoliberias do governo Yeda. Os manifestantes também criticam o tarifaço proposto pela governadora Yeda Crusius. O objetivo é abrir um canal de comunicação com Yeda. Centenas de pessoas estão acorrentadas ao redor do Palácio em forma de protesto. Elas gritam palavras de ordem como: "Não, não, não. Não ao pacotão". Para as 9h está marcada uma assembléia pública na Praça da Matriz. Professores, funcionários, pais e alunos participarão da reunião. Dezenas de ônibus estão chegando do interior do estado e mais manifestantes devem continuar a chegar ao longo do dia. O deputado Dionilso Marcon (PT) e outros parlamentares petistas acompanham as mobilização junto com os trabalhadores.

Carolina Rodrigues -
Imprensa // fotos e vídeo: Jornalista Kiko Machado Professores estão acorrentados ao Palácio Piratini

Pais de alunos se somam ao protesto

AS HISTÓRIAS QUE A RBS NÃO CONTA!

Por Marco Weissheimer, do RS Urgente

A RBS iniciou as comemorações de seus 50 anos com pompa, circunstância e uma conveniente dose de amnésia.
O caderno especial publicado nesta sexta-feira, no jornal Zero Hora, omite alguns fatos importantes que marcaram a história e o crescimento do grupo. Mais do que isso, distorce fatos, em especial aqueles relacionados ao período da ditadura militar. Como a maioria da grande mídia brasileira, a empresa gaúcha apoiou o golpe militar que derrubou o governo de João Goulart.

O jornal Zero Hora ocupou o lugar da Última Hora, fechado pelo regime militar por apoiar Jango. Esse é o batismo de nascimento de ZH. Como escreveu Eleutério Carpena, em uma edição especial da revista Porém sobre a RBS, "a mão que balança o berço de ZH é da violência contra o Estado Democrático de Direito". Três dias depois da publicação do famigerado Ato Institucional n° 5 (13 de dezembro de 1968), ZH publicou matéria sobre o assunto afirmando que "o
governo federal vem recebendo a solidariedade e o apoio dos diversos setores da vida nacional".

No dia 1° de setembro de 1969, o jornal publica um editorial intitulado "A preservação dos ideais", exaltando a "autoridade e a irreversibilidade da Revolução". A última frase editorial fala por si: "Os interesses nacionais devem ser preservados a qualquer preço e acima de tudo". A expansão da empresa se consolidou em 1970, quando foi criada a sigla RBS, de Rede Brasil Sul, inspirada nas três letras das gigantes estrangeiras de comunicação CBS, NBC e ABC. A partir das boas relações estabelecidas com os governos da ditadura militar e da ação articulada com a Rede Globo, a RBS foi conseguindo novas concessões e diversificando seus negócios.

Outro fato marcante da história do grupo que não é mencionada no caderno comemorativo é a ativa participação da empresa no processo de privatização da telefonia no RS, durante o governo de Antônio Britto, ex-funcionário da RBS. Aliás, não só no RS. Segundo pesquisa realizada por Suzy dos Santos (do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Culturas Contemporâneas da Faculdade de Comunicação da UFBa e Sérgio Capparelli (do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Fabico/UFRGS), a RBS esteve presente em praticamente todos os momentos do processo de privatização das telecomunicações no país, durante o governo FHC.

O ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo FHC, Pedro Parente, assumiria depois um alto cargo na direção da RBS. Aqui no RS, desde o golpe de 1964, a empresa sempre teve uma relação íntima com os governantes de plantão. Com uma exceção, o governo Olívio Dutra, fustigado desde seu primeiro dia e pintado como um monstro que ameaçava os homens e mulheres de bem do Rio Grande. Esses fatos você não verá expostos na exposição organizada pela empresa na Usina do Gasômetro (gentilmente cedida pela administração Fogaça) e em nenhum dos veículos do grupo que, nos próximos dias, praticarão, à máxima potência, a arte do auto-elogio e da amnésia seletiva.

quinta-feira, outubro 04, 2007

quarta-feira, outubro 03, 2007

Che Guevara nas trilhas da revolução latino-americana

por Augusto Buonicore*

"Outra vez sob meus calcanhares o lombo de Rocinante, retomo o caminho com meu escudo no braço (...) Muitos dirão que sou aventureiro, eu sou de fato, só que de um tipo diferente, daqueles que entregam a pele para demonstrar suas verdades". Che Guevara - Trecho da carta endereçada aos seus pais, antes de partir para sua última trincheira na Bolívia


Há 40 anos, no dia 9 de outubro, morria o comandante Che Guevara. Tombou no seu posto de combate pela libertação econômica, política e social da América Latina. Mas quem foi Che Guevara? Qual sua contribuição à causa socialista? Tentaremos, sem grandes pretensões, encontrar algumas dessas respostas neste e no próximo artigo.

Nas décadas que se seguiram à sua trágica morte nas selvas bolivianas, Che foi perdendo sua substância e se transformando num ícone; na verdade, um dos maiores ícones da segunda metade do século 20. Seu rosto de guerrilheiro altivo foi estampado em camisetas, cartazes e pichações por todo o mundo. Se existe um lado positivo neste fenômeno, pois mantém viva a imagem de um dos maiores heróis latino-americanos; de outro, ele acaba acobertando as idéias e o projeto político pelo qual Guevara viveu e morreu: a libertação da América Latina do julgo imperialista, a conquista do socialismo e a construção do homem e da mulher novos.

O sistema capitalista tem uma incrível capacidade de incorporar alguns elementos da cultura alternativa, até mesmo revolucionária, e transformá-los em objetos de mercado, formas sem conteúdo, neutras, inofensivas. No entanto, a personalidade forte de Che não pode ser presa, capturada, na camisa de força do ícone, da marca, do mito.
Por isso, para compreender o verdadeiro Che, é preciso ir para além do ícone, além da marca, além do mito. Estes não têm sangue correndo nas veias, não são de carne e osso, não sentem fome ou frio. Eles não têm dúvidas ou medos, são fantasmas que não convivem com as malditas contradições cotidianas. Ao contrário dos ícones, os homens e mulheres de verdade, inclusive os mais revolucionários deles, padecem de todas essas vicissitudes humanas e Che foi, acima de tudo, um homem. Um homem do seu tempo.
O homem e seu destino
Ernesto Guevara de la Serna nasceu em 14 de junho de 1928 na Argentina. Filho de família de pequenos produtores rurais de erva-mate. Cresceu usufruindo a vida de um membro das classes médias sul-americanas. Mas, desde muito cedo, Ernesto sofreu com os seus problemas de saúde. Aos dois anos apareceu-lhe a asma, que o acompanhou, como um fantasma, durante toda sua vida, inclusive nos seus derradeiros dias nas selvas bolivianas.

Ironicamente, aquele que seria considerado o mais temido comandante guerrilheiro latino-americano, foi declarado inapto para o serviço militar no seu próprio país. Guevara, então, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires.

A doença, no entanto, não enfraqueceu o seu espírito indomável; pelo contrário, ela o impulsionou a ultrapassar todos os limites. Com 23 anos comprou uma motocicleta e, ao lado de um amigo, percorreu diversos países da América Latina. Em 1953 se formou em medicina e partiu novamente em outra aventura para conhecer mais e melhor seu sofrido continente. Passou pela Bolívia e depois seguiu para a Guatemala, onde havia um governo democrático e popular, dirigido por Jacobo Arbenz. Este havia expropriado as terras da poderosa empresa norte-americana United Fruit. Nesta ocasião Guevara comprou alguns livros marxistas e passou a estudá-los com afinco.

O jovem Guevara, que apoiava o governo, se alistou para trabalhar num programa de saúde entre a população indígena, mas foi obrigado a ficar num posto médico na capital guatemalteca. Em 18 de junho de 1954 o presidente Arbens foi derrubado do poder por mercenários apoiados pelos EUA. Guevara tentou organizar um grupo de jovens para resistir à invasão. Afirmaria mais tarde: "Na Guatemala era necessário lutar, porém quase ninguém lutou".

O jovem médico argentino, fichado como "perigoso comunista", foi incluído nas temidas "listas negras" dos condenados à morte e obrigado a se refugiar no consulado argentino. O novo governo conservador, servilmente, devolveu as terras nacionalizadas à United Fruit, retirou os direitos trabalhistas dos camponeses pobres, prendeu, torturou e assassinou vários militantes de esquerda.

Guevara extraiu deste trágico acontecimento as suas primeiras - e inesquecíveis - lições sobre a luta emancipacionista na América Latina. Ele concluiu que: 1º o imperialismo norte-americano era o principal inimigo dos povos; 2º a luta revolucionária seria o único meio para se conquistar um poder democrático, popular e socialista; 3º as burguesias nacionais já haviam esgotado o seu papel na luta revolucionária antiimperialista no continente.

Guevara passou dois meses asilado no consulado argentino e, então, seguiu com outros refugiados para o México. Ali entrou em contato com elementos da oposição cubana, ligados ao movimento "26 de julho", que o convidaram para participar dos planos para derrubada do ditador Fulgêncio Batista. Escreveu ele: "Falei com Fidel uma noite toda. E ao amanhecer já era o médico de sua futura expedição. Na realidade, depois de minhas caminhadas por toda América Latina e do arremate na Guatemala, não era necessário muito para incitar-me a entrar em qualquer revolução contra um tirano". Amarrava-se assim o destino do jovem médico argentino com o da revolução cubana.

Depois de um ano de preparativos, em novembro de 1956, 82 homens partiram para Cuba a bordo do Granma. Antes de chegar ao seu objetivo a expedição foi descoberta pelas forças armadas do ditador cubano e, após os duros combates, ficou reduzida a apenas 15 homens, que se refugiaram nas Sierra Maestra. Os poucos sobreviventes uniram-se aos camponeses pobres, que lhes serviram de base de apoio para o início da ação guerrilheira. Em pouco tempo Che assumiu o comando da 2ª coluna de guerrilheiros. No dia 1º de janeiro de 1959 as suas tropas conquistaram a cidade de Santa Clara e o ditador Batista fugiu de Cuba. Três dias depois os "barbudos" de Fidel entraram triunfantes em Havana e Guevara foi nomeado governador militar daquela província.

A revolução vitoriosa foi profundamente popular, assentada nos camponeses e nos trabalhadores urbanos, e cumpriu todos os seus compromissos. O governo revolucionário expropriou os latifúndios, muito deles pertencentes a companhias norte-americanas. Quando as refinarias norte-americanas localizadas em Cuba se recusaram a refinar petróleo vindo da URSS, o governo cubano as nacionalizou. Em represália, Washington suspendeu a compra de açúcar, visando sufocar a economia da ilha. A cada pressão dos norte-americanos, o governo cubano radicalizava ainda mais as suas posições antiimperialistas. A revolução foi rapidamente mudando seu caráter, de nacional-democrática passou a ser socialista.
Em abril de 1961 ocorreu a tentativa de invasão de Cuba por mercenários, pagos e apoiados pela CIA, na Bahia dos Porcos. As tropas invasoras foram destroçadas em poucas horas. Fidel rompeu definitivamente com os norte-americanos e se afirmou marxista-leninista.

Ainda neste ano Che representou Cuba na reunião da Organização dos Estados Americanos, ocorrida no Uruguai, que foi convocada especialmente para condenar o novo regime cubano e excluí-lo da organização. Neste conclave Guevara denunciou firmemente os planos do imperialismo contra à ilha e defendeu o governo de Fidel da acusação de estar tentando exportar a revolução para a América Latina. Declarou ele: "Não podemos deixar de exportar exemplos, como querem os Estados Unidos, porque o exemplo é algo espiritual que ultrapassa as fronteiras. O que damos de garantia é que não exportaremos a revolução, damos a garantia de que não se moverá um fuzil de Cuba, que não se moverá uma só arma de Cuba, para luta em nenhum outro país da América".
Continuou: "O que não podemos assegurar é que as idéias de Cuba deixem de implantar-se em algum outro país da América. O que asseguramos a esta Conferência é que, se não se tomarem medidas urgentes de prevenção social, o exemplo cubano penetrará nos povos e, então, aquela exclamação (...) de Fidel em 26 de julho e que foi interpretada como uma agressão, se tornará uma realidade. Fidel disse que se mantiveram as atuais condições sociais 'a cordilheira dos Andes será a Sierra Maestra da América'".

Na volta Guevara passou pelo Brasil e foi condecorado pelo presidente Jânio Quadros. Poucos dias depois, sob forte pressão da direita, o presidente brasileiro renunciaria, abrindo uma crise política e militar que conduziu o país a beira de uma guerra civil.

Em outubro de 1962 aconteceu uma nova crise com os EUA. O governo norte-americano descobriu que Cuba possuía mísseis nucleares e passou a exigir que fossem imediatamente desmontados. Houve, então, uma nova ameaça de invasão e o mundo chegou bastante próximo de uma guerra nuclear. Os soviéticos recuaram e, unilateralmente, sem acordo com os cubanos, decidiram retirar os mísseis da ilha. Fidel e Guevara sentiram-se traídos pelos russos.

Em 1961 Guevara foi indicado para Ministro da Indústria. Defendeu uma industrialização mais rápida e a centralização maior da economia. Por suas posições entrou em conflito com os soviéticos que defendiam uma Cuba não-industrial que se concentrasse na produção de açúcar – numa espécie de divisão internacional do trabalho "socialista". Polemizou também em torno da predominância de incentivos materiais para o aumento da produtividade do trabalho e advogou a necessidade de uma emulação assentada fundamentalmente na ideologia socialista. Como ministro Guevara visitava as fábricas e canaviais e participava dos trabalhos manuais. Ele foi o principal incentivador do trabalho voluntário na produção, seguindo exemplo dos primeiros anos da revolução soviética. Os membros dos ministérios e das universidades, uma vez por semana, ajudavam no corte de cana ou exerciam outro tipo de trabalho, manual e produtivo. À frente deste esforço estava o ministro e presidente do Banco de Cuba, Ernesto Che Guevara.

Guevara valorizava muito o aspecto ideológico também na construção do chamado "homem novo", ou seja, de um novo humanismo socialista. Em "O que deve ser um jovem comunista", escreveu ele: "o que se coloca para todo jovem comunista é ser essencialmente humano, ser tão humano que se aproxime do melhor dos humanos. Purificar o melhor do homem através do trabalho, do estudo, da prática da solidariedade contínua com o povo e com todos os povos do mundo; desenvolver o máximo de sensibilidade, até o ponto de sentir-se angustiado quando em algum canto do mundo um homem é assassinado e até o ponto de sentir-se entusiasmado quando em algum canto do mundo se levanta uma nova bandeira de liberdade".
Outras serras, outras trincheiras
No entanto, Che não se adaptou bem na função de Ministro de Estado e acabou pedindo para ser substituído no cargo A partir de 1964 tornou-se uma espécie de relações exteriores da revolução cubana, viajando para vários países da América Latina, África e Ásia. Em 1965, misteriosamente, desapareceu da vida pública e renunciou à todas suas responsabilidade junto ao governo e a direção do Partido Comunista Cubano. Isto era necessário tendo em vista o novo projeto revolucionário que ele iria se envolver.

Na sua carta de despedida à Fidel escreveu: "Outras serras do mundo requerem meus modestos esforços. Eu posso fazer aquilo que lhe é vedado devido à sua responsabilidade à frente de Cuba, e chegou a hora de nos separarmos (...) Declaro uma vez mais que eximo Cuba de qualquer responsabilidade, a não ser aquela que provém do seu exemplo. Se minha hora final me encontrar debaixo de outros céus, meu último pensamento será para o povo e especialmente para ti, que te digo obrigado pelos teus ensinamentos e pelo teu exemplo, ao que tentarei ser fiel até às últimas conseqüências dos meus atos; que estive sempre identificado com a política externa da nossa revolução, e continuo a estar; que onde quer que me detenha sentirei a responsabilidade de ser revolucionário cubano, e como tal atuarei. Não lamento por nada deixar nada material para minha mulher e meus filhos. Estou feliz que seja assim. Nada peço para eles, pois o Estado os proverá com o suficiente para viver e para ter instrução". Esta carta é um veemente desmentido aos boatos que correram o mundo – e foram usadas pelos inimigos da revolução cubana - sobre um possível rompimento de relações entre os dois revolucionários cubanos.

Depois de participar de uma frustada tentativa revolucionária no Congo, ele partiu secretamente para a Bolívia. Este país foi escolhido por sua localização central, que, acreditava, permitiria estender o movimento guerrilheiro por todo continente latino-americano. Em março de 1967 o pequeno grupo guerrilheiro comandado por Che foi descoberta pelos órgãos de repressão. Num primeiro momento ele obteve algumas vitórias sobre o desorganizado exército boliviano, mas logo entraram em ação os "rangers", treinados pelos norte-americanos no Panamá, com o apoio de "técnico" da CIA.

A experiência da guerrilha boliviana revelou os equívocos de muitas das concepções político-militares defendidas pelo revolucionário cubano, entre elas: a afirmação de que já existiriam as condições objetivas para eclosão de uma revolução socialista em toda América Latina, cabendo apenas a ação enérgica de um pequeno grupo de revolucionários para que se constituíssem as condições subjetivas.

No início de outubro eram apenas 17 os guerrilheiros que permaneciam vivos ao lado de Che – um número maior do que o que se alojou na Sierra Maestra em 1956 -, mas as condições eram-lhes completamente adversas. A guerrilha atuou numa zona hostil, em condições bastante diferentes das existentes na serras cubanas. Os camponeses compunham uma massa ainda atrasada e que não tinha a tradição revolucionária dos camponeses cubanos. A principal força social de esquerda na Bolívia, os mineiros, havia sido esmagada pelo governo em junho de 1967. Esta era uma prova de que as revoluções não podem ser copiadas.

Nos seus últimos dias, Guevara escreveu: "Dia de angustia que em certo momento pareceu ser o nosso último dia (...) o exército está mostrando maior efetividade de ação, e a massa camponesa não nos ajuda em nada e se converte em delatores". Estes eram claros sinais que uma tragédia estava prestes a ocorrer. A situação exigia recuo, mas já era tarde demais.

No dia 8 de outubro de 1967 o pequeno grupo foi cercado e massacrado. Che acabou sendo ferido em combate e preso. No dia seguinte foi executado ilegalmente por ordens do governo do general Barrientos, que temia que um julgamento público pudesse se transformar num palanque para as idéias revolucionárias de Che. O corpo do comandante guerrilheiro foi enterrado clandestinamente e por mais de 30 anos o local permaneceu desconhecido.

Sobre o trágico desaparecimento de Che e as esperanças que ele semeou, cantou o poeta e compositor cubano Pablo Milanés: "Não porque caístes/ Tua luz é menos alta./ Um cavalo de fogo/ Sustenta a tua escultura guerrilheira/ Entre o vento e as nuvens destas serras./ Não porque foi calado és silêncio/ E não porque te queimaram,/ Porque te dissimularam sobre a terra,/ Porque te esconderam/ Em cemitérios, bosques e pântanos/ Vão impedir que te encontremos./ Che comandante, amigo".
Guevara na yuotube:
Fidel lê a carta de despedida de Che
http://www.youtube.com/watch?v=kQoXQYBBjnc&mode=related&search=
Fidel fala da morte de Che em 1967
http://www.youtube.com/watch?v=huvrR8FCJpU
Discurso em Santa Clara em 1961 – "Por que é a natureza do imperialismo que bestializa os homens"
http://www.youtube.com/watch?v=OfMvvGw4lIs&mode=related&search=
Belo discurso na ONU em 1964
http://www.youtube.com/watch?v=DO7yxx7Y81w&mode=related&search
Belo vídeo-clipe sobre Guevara
http://www.youtube.com/watch?v=O_QXOG1rDLs&mode=related&search
Bibliografia
Aquino, Rubim (e outros) História das Sociedades Americanas, Ed. Eu e você, RJ, 1981
Bandeira, Luiz Alberto Moniz – De Martí a Fidel, Ed. Civilização Brasileira, RJ, 1998.
Che Guevara, Coleção Grandes Cientistas sociais (organizado por Eder Sader), Ed. Àtica, SP, 1988.
Harnecker, Marta – Fidel, a estratégia política da vitória, Ed. Expressão Popular, SP, 2000

*Augusto Buonicore, Historiador, mestre em ciência política pela Unicamp

terça-feira, outubro 02, 2007

Para além dos arautos da desdita

Os pessimistas que me perdoem, sei que ainda há muito o que fazer, mas vislumbro um futuro promissor para o país. Isso, claro, se os engenheiros da destruição e os sabotadores encastelados na grande imprensa, e até mesmo no Banco Central, deixarem.

Lula Miranda

Se você é um sujeito de classe média, como eu, mas com a agravante condição de ser leitor ou assinante da Folha de S.Paulo, do “Estadão” ou do Globo, e leva a ferro e fogo o que (des)informam esses veículos, todos os dias, aos seus olhos, são pardacentos, frios, chuvosos, tenebrosos até. Tudo lhe parece estar irremediavelmente perdido. O pessimismo já lhe deixou cético e prostrado. Você vive imerso num desalento que imobiliza. Já não tem entusiasmo para muita coisa. Já não acredita nos homens, já não acredita em mais nada – tornou-se um cético empedernido. Talvez por isso nem acredite, se eu lhe disser, que você pode enxergar a realidade que lhe cerca com outros olhos – e não com os olhos dos outros. Talvez, quem sabe, se você tentasse, ao menos, limpar um pouco as lentes com as quais enxerga o mundo. Quem sabe enxergasse as coisas de modo um pouco diferente.

Tenho observado ultimamente, com uma dose de apreensão e preocupação, um clima de intolerância que pouco a pouco vai se instalando, sorrateiro, na sociedade. Algumas pessoas estão mais agressivas, se irritam por pouco – na linha “pavio curto”. Lembram do filme “Um dia de fúria”, com Michael Douglas no papel principal? É por aí. Desconfio seriamente que esse clima é decorrente, em grande medida, dessa espécie de “comoção negativista” que certos (de)formadores de opinião martelam diuturnamente nos “jornalões” e nas TVs.

Em sua pregação “apocalíptica” anunciam que as instituições estão “podres”, “falidas”. Que no Senado e na Câmara só tem ladrão. Julgam e condenam a todos de modo peremptório, definitivo, precipitado – como um verdugo. Associam ao nome do presidente da Republica epítetos nada respeitosos – isso para dizer o mínimo, mas é cada impropério... Parece um vale-tudo da maledicência, do desrespeito, do pessimismo. Parece que tudo vai mal, que tudo está irremediavelmente perdido.

Sabemos que não é esse exatamente o espelho da realidade. Procuro ver a realidade com meus próprios olhos; ouvir o “clamor” que vem das ruas com meus próprios ouvidos. Pensar com a minha cabeça e formar juízos de valor a partir dos meus próprios valores – na dúvida, busco referência nas palavras de jornalistas mais isentos e ponderados, lastreados no bom senso e no pluralismo, e, por último, nas palavras e obras dos pensadores que a cultura ocidental (e universal) nos legou.

Leio muito pouco, quase nada (só o indispensável), os chamados “jornalões”, pois privilegio como fonte de informação a mídia alternativa: sites e blogs de jornalistas e veículos desvinculados dos grandes grupos de comunicação. Não confundo jamais opinião pública com opinião publicada, e não dou muita atenção e crédito aos “intermediários” nessa mediação da observação da realidade circundante – os aqui chamados (de)formadores de opinião.

Gosto de conversar com os chamados, por certos membros da elite, “subalternos” – aqueles indivíduos, quase sempre tratados como “invisíveis”, que nos servem cotidianamente e servem, também, de alicerce à pirâmide social: porteiros, vigilantes, faxineiros, balconistas etc. É aí que as supostas e intangíveis melhorias na economia ganham vida ou se mostram como algo concreto, do mundo real. Para além da PNAD, da econometria ou das projeções econômicas dos tecnocratas e dos “especialistas” e “analistas” a serviço do governo ou da grande imprensa. Portanto, frise-se, para além dos mercadores ou arautos de desgraças em que se constituíram alguns jornalistas da grande mídia.

Um porteiro, meu conhecido, me diz que conseguiu no ano passado terminar a construção do “barraco” dele, num bairro qualquer na periferia da cidade. A obra passara vários anos parada, pois, segundo ele, o saco do cimento era o dobro do preço nos anos FHC . Estava radiante, feliz da vida, uma vez que estaria livre, de uma vez por todas, do famigerado aluguel.

Um dos vigilantes do prédio onde trabalho também está feliz da vida. Pediu-me, com os olhos marejados, para faltar um dia ao trabalho para cuidar da papelada, pois conseguira juntar um “dinheirinho” para dar de entrada no financiamento de um “sobrado” – apesar de ser baiano, como eu, ele já aprendera a, utilizando-se da linguagem dos paulistas, chamar a tão almejada casa própria de “sobrado”. O restante do valor financiado será pago em suaves prestações através de um financiamento junto à Caixa Econômica Federal. Os juros e a inflação baixos, associados ao alongamento dos prazos de financiamento (30 anos), possibilitaram a realização daquele “sonho”.

O operador de empilhadeira, que presta serviço na mesma empresa que eu, vem me contar, todo entusiasmado, que esse ano conseguira um “bom aumento” de salário. Nas contas dele, um aumento de R$ 60,00 que, somando-se ao aumento de R$ 20,00 no vale-alimentação, daria um ganho “significativo” – está certo que para os indivíduos de um outro extrato social esse ganho seria uma “merreca”. Para ele, e para sua família, significava um pouco mais de comida à mesa e, quem sabe, até um passeio com a patroa e as crianças num fim de semana qualquer.

Poderia citar ainda inúmeros casos de conhecidos que conseguiram emprego (ou mudaram para empregos melhores), compraram um carro ou apartamento (ou mesmo um computador), puderam cursar uma faculdade etc. Podem ser estes, de fato, apenas singelos, ordinários e parcos relatos que estão ao meu alcance. Mas relatos e casos como esses podem ser ouvidos por aí, espalhados por todo o país. E isso é alvissareiro, inegavelmente. A esses se somam os relatos silenciosos de mais de 1,3 milhão de brasileiros (muitos dos quais pais e mães de família) que, finalmente, conseguiram um emprego com carteira assinada – isso só nesse ano de 2007. Se contarmos desde o começo de 2003, são mais de seis milhões de postos de trabalhado “celetistas” (regidos pela CLT), criados ou recuperados.

Portanto, meus amigos, para além das ideologias, dos partidarismos e interesses outros, comezinhos; para além até mesmo dos bons resultados aferidos na última PNAD (redução da pobreza, da taxa de fecundidade, crescimento da renda domiciliar per capita de cerca de 9%, dentre outros) e dos alvissareiros números, resultados e projeções estatísticas apresentados pela nossa economia, devemos olhar, com carinho e atenção, para essas pequenas e significativas mudanças ou melhorias. Não apenas na nossa vida, mas, e principalmente, na vida das pessoas comuns que nos cercam – e que povoam, de alguma forma, o nosso mundo. Esses brasileiros, por tanto tempo esquecidos, explorados e vilipendiados, parecem estar tendo agora a sua vez.

Projeções de analistas apontam que, se o país crescer anualmente na ordem de 5%, teremos, já em 2010, uma redução significativa do número de desempregados no país para a casa dos 4% – ou 6%, dependendo do cenário e do analista. Não é necessário ser economista ou um especialista para perceber que, crescendo a economia, de forma continuada, aumenta o emprego formal (com carteira assinada) e, com isso, cresce a arrecadação da Previdência (conseqüentemente, reduz-se o suposto e controverso déficit previdenciário). Aumenta também o consumo, o que faz crescer a arrecadação de impostos – dessa forma o governo pode aumentar os gastos em saúde, habitação, educação e investimentos públicos. E assim, pouco a pouco, e o mais rápido possível, reduziremos os déficits que realmente importam: o do emprego (leia-se brasileiros e brasileiras desempregados), o da moradia (leia-se homens e mulheres sem-teto) e o do saneamento básico e infra-estrutura urbana.

Os pessimistas que me perdoem, sei que ainda há muito, mas muito mesmo, o que fazer, mas vislumbro – até que enfim! – um futuro promissor para o país. Isso, claro, se os chacais, os engenheiros da destruição e os sabotadores encastelados na grande imprensa, e até mesmo no Banco Central, deixarem.

Por essas e outras que não aceito a pauta infame/ruinosa que nos é imposta pela grande (e velhaca) mídia. Quero saber é das reformas (política, tributária, sindical etc) e dos próximos passos tão necessários à reconstrução dessa nação tão destroçada. Essa é a minha pauta.Também é, por acaso, a sua?


Lula Miranda é poeta, cronista e colabora semanalmente com a Carta Maior. É Secretário de Formação para a Cidadania do Sindicato de Trabalhadores em Editoras de Livros de São Paulo.

CADEIRA DE MAQUIAGEM

Laerte Braga

A revista VEJA em sua última edição começa a tentar desmontar Ernesto Guevara, o Chê. A idéia que uma figura como a do guerrilheiro argentino possa ser cultuada pelos jovens incomoda. De repente a apropriação da imagem de Che estampada em camisas e vários produtos do lucro nosso de cada dia volta-se contra os interesses de quem vende e lucra. O feitiço contra o feiticeiro, ainda mais em tempos de Hugo Chávez e Evo Morales.

Mostra uma figura que teria vacilado à hora que foi preso. Há um depoimento prestado por uma boliviana que levou um prato de sopa a Guevara, pouco antes de sua execução sumária por oficiais norte-americanos que participavam da caçada e generais bolivianos ligados ao tráfico, como se mostrou depois, que exalta a dignidade e o caráter de Guevara.

VEJA é uma prática semanal e contumaz da mentira em função de interesses dos donos do mundo. Nem uma palavra, por exemplo, sobre o mensalão tucano que beneficiou e regou a campanha de FHC em 1998 para a reeleição comprada a peso de ouro ao Congresso Nacional, a deputados e senadores.

Isso não existe para a revista, para a mídia golpista.

VEJA é useira em inventar histórias para atender aos que pagam. É o motivo das quedas constantes nas vendas da revista. Por incrível que pareça diminui o número de iludidos a cada semana.

Maquia a história e os fatos por conveniência dos que pagam.

Quando se descobriu que o avião acidentado da TAM tinha um defeito no reversor e apresentava falhas mecânicas, a revista saiu com matéria de capa acusando o piloto de culpado. A caixa preta mostrou o contrário. Importante não é a verdade, mas o que determinam as empresas através das agências de publicidade.

VEJA não tem escrúpulo algum.

O modelo de mídia no Brasil é corrupto. O paulista então extrapola e não fosse a GLOBO o poder que é, hoje cada vez mais conhecido e sentido, seria o maior exemplo de venalidade na história da imprensa no Brasil.

O que é importante notar é que publicações como VEJA, redes como a GLOBO, percebem que se for dito a dez pessoas que o Zé é batedor de carteiras, pelo menos cinco vão acreditar, não importa que o Zé seja ou não. O fato é irrelevante, o que conta é a versão.

E as versões da mídia no Brasil são determinadas pelas agências de propaganda que, por sua vez, são pagas pelos donos do País, a elite sonegadora e propineira do CANSEI.

O Superior Tribunal de Justiça reservou oitocentos e quarenta e nove reais em seu orçamento para a compra de uma segunda cadeira de maquiagem. É para que os ministros apareçam bem e conforme as “regras” quando de entrevistas às redes de televisão, ou em sessões públicas.

Maquia-se a Justiça.

O efeito é o tal cascata. Um modelo modelado por arquitetos de bundas, peitos, posturas, a aparência. O fundo ou está tonto e perdido sem bem saber para onde andar e o visível é um esgar a que chamam sorriso, mas exibe medo e cadeiras de maquiagem.

Lá por cima não. Divertem-se com todo esse caos e elevam-se a arautos dessa massa uniforme e sem cor, à qual dão a forma que desejam.

É o espetáculo na sua forma mais abjeta, o que transforma o ser humano em boneco de um circo onde os resistentes ou são “malucos”, ou “terroristas”, ou “desajustados” na ordem londrina do caos paulista.

Um batalhão de pastinhas. Um batalhão de escaninhos. Um batalhão de caçapas. Um batalhão de bolas encaçapadas. Um batalhão de mensaleiros. Milhões de zumbis atônitos e caminhantes do nada para o nada.

Quem sabe uma cadeira de maquiagem para cada um não resolve o problema existencial?

Oitocentos e quarenta e nove? Não é tão caro assim para a vaidade/mediocridade dos grampos jogados fora na presunção da paz.

Vem a água e leva tudo.

Essa semana a Câmara dos Deputados pagou uma festinha para 250 pessoas (oito mil reais a um buffet) e o Senado comprou, por quarenta e oito mil, seis televisões de plasma, de 50 polegadas.

Bagatela.

Está chegando o Natal ainda não viram nada. O que transforma a sua cidade em Paris brasileira, e o que contrata profissionais para a decoração natalina de sua arapuca. Dois patetas sem nenhum caráter, iguaizinhos aos lá de cima.

A mídia e a lama do PSDB

Isso tudo é uma hipocrisia, disse em 1992 Paulo César Faria, o PC, tesoureiro da campanha do então presidente Fernando Collor; era o auge da campanha do Fora Collor, que acabou expulsando o presidente neoliberal do Palácio do Planalto.

A hipocrisia continua, quinze anos depois. Sua última manifestação é o comportamento da mídia e da oposição de direita às declarações do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), da última quarta-feira. O senador foi governador de Minas Gerais e presidente do PSDB, afastado quando se soube que usou caixa 2 na campanha eleitoral de 1998.

Investigado, Azeredo defendeu-se atacando; não só reconheceu a falcatrua como disse, em entrevista para a Folha de S. Paulo, que os recursos irrigaram também a campanha de Fernando Henrique Cardoso que, naquele ano, disputou - e venceu - a reeleição para a presidência da República. Cerca de 150 candidatos tucanos (entre eles o atual governador Aécio Neves, que na época era candidato a deputado federal) e de partidos aliados. Eles teriam sido beneficiados pelos fundos amealhados pelo caixa 2 tucano, que envolveu recursos da ordem de R$ 100 milhões, embora a prestação de contas para o TSE tenha declarado que a campanha do então governador mineiro tenha gasto ''apenas'' R$ 8 milhões (8% do total arrecadado).

O alvoroço no ninho tucano foi imediato. Cardeais do PSDB passaram a exigir, nos bastidores, o afastamento de Azeredo do partido. Os impropérios multiplicaram-se, e os qualificativos mais suaves usados contra ele foram ''mau-caráter'' e ''transtornado''. É ''algo surrealista'', disse o lider tucano no Senado, Arthur Virgilio (AM). Tasso Jereissati, presidente do PSDB - que tentou, em vão, obter uma retratação de Azeredo - disse que as declarações são demonstrações de indignação e transtorno mental.

Os catões tucanos, que posam de puros, inocentes e ''republicanos'', para usar um termo da moda, foram pegos no contrapé e são obrigados, pela voz de um de seus próprios pares, a provar do mesmo fel que destilam, desde o início de 2006, contra o governo do presidente Lula. E saem, na maior cara de pau, defendendo o ex-presidente FHC com o argumento de que ele não sabia de nada.

Pior: a mídia e alguns tucanos notórios, passaram a defender a tese de que não há semelhança entre os acontecimentos relatados - o uso de dinheiro sujo na campanha tucana de 1998 em Minas Gerais e também para a presidência da República - e as acusações que fazem contra o presidente Lula, o PT e demais partidos da base aliada. Seriam coisas diferentes, como defendeu o escriba Augusto de Franco em artigo publicado na Folha de S. Paulo.

O próprio procurador geral da República, Antonio Fernando de Souza, passou recibo a este comportamento ambíguo ao se irritar com a divulgação de um relatório da Polícia Federal com resultados da investigação sobre o caso, e disse que não levará em conta as conclusões daquele documento. É uma atitude pouco condizente com a imparcialidade que se espera da justiça e de seus servidores. Afinal, ele não manifestou irritação semelhante quando a imprensa difundiu amplamente acusações contra o governo Lula, o PT e seus aliados, com base em fontes nas mesmas fontes.

Há um recado implícito no comportamento conservador: para a classe dominante e seus políticos, tudo é permitido, desculpável, compreensível. As declarações do senador Azeredo revelaram a lama tucana. Que a mídia e os políticos conservadores tentam ocultar aos brados de ''não é a mesma coisa''.

Editando sem manual

Valter Pomar

No dia 29 de setembro, a Folha de S.Paulo publicou um artigo com o seguinte título: “Governo tenta salvar ‘viúvas’ de Mangabeira”.

Ficamos sabendo, assim, como o jornal converte em título sua posição sobre a medida provisória que criava a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo.

O mesmo humor dos editores encontra-se nos seus colunistas: em 29 de agosto, Clóvis Rossi escreveu que “ainda falta muita gente no banco dos réus armado pelas decisões do STF”.

A saber: “falta a intelectualidade chapa branca que cometeu o crime de corromper ativamente os fatos ao tentar transformar os réus em vítimas de uma conspiração da mídia que jamais existiu”. Mais: “falta também, no banco dos réus, a instituição PT”. Por fim: “pela mesmíssima lógica antes exposta, faltam também, no banco dos réus, todos os parlamentares que votaram pela absolvição dos mensaleiros”.

Rossi conclui dizendo saber que “ser réu não significa necessariamente ser culpado do ponto de vista penal. Mas, do ponto de vista ético, todos já estão condenados com sentença transitada em julgado”.

Anotemos, pois, o endereço do Tribunal Superior da Ética: a redação da Folha. A mesma que deixou publicar, no dia 18 de setembro, um artigo sobre o Plebiscito da Vale que trata os militantes do PT como animais amestrados, que pulam e latem.

O autor das ofensas, totalmente diretas e explícitas, é o tucano Eduardo Graeff.

Este cidadão, que se apresenta como “cientista político”, simplesmente desconhece que o Plebiscito da Vale foi organizado por mais de 60 entidades, entre elas a CUT, a UNE, o MST, além de igrejas e partidos políticos como o PSOL e o PSTU, que estão longe de ser petistas ou simpatizantes.

Graeff ofende milhões de pessoas que votaram no plebiscito. Se uma iniciativa de milhares, como o “Cansei”, recebeu farta publicidade na mídia e foi objeto de análises sérias, por parte de “cientistas políticos” das mais variadas correntes, por qual motivo tratar com escárnio uma iniciativa de que participaram milhões de pessoas?

Curiosamente, Graeff admite que se houver “sombra de dúvida que o ato foi fraudulento”, caberia ao presidente da República “mandar apurar e desfazer o malfeito”.

Ou seja: a “autoridade” pode e deve fazer algo. Mas as organizações populares, que estão convictas de que houve fraude na privatização, estas não podem se mobilizar e organizar um plebiscito, pois neste caso estariam agindo como animais amestrados.

Motivos de convicção sobre fraude não faltam. A começar pelo seguinte: uma empresa que hoje vale US$ 50 bilhões, certamente valia mais do que os US$ 3 bilhões pelos quais foram vendidas 42% de suas ações, em 1997. Houve um “erro” proposital de avaliação.

Mas o “cientista político” tucano acha que mexer com a Vale assustará o mercado. E entende que a Vale privatizada trouxe grandes ganhos para o país, com recordes de investimento, produção, emprego, exportações. Aliás, diz ele, “o desempenho de quase todas as empresas privatizadas é uma história de sucesso em benefício de seus compradores e empregados e do país”.

O que Graeff está tentando dizer, mas não tem a coragem de falar abertamente, é o seguinte: mesmo que a Vale tenha sido fraudulentamente privatizada, os fins justificam os meios.

Pensamos diferente: exatamente por ser estratégica para o país, a situação da Vale merece ser analisada com atenção redobrada, sem preconceitos. Do mesmo modo que o governo FHC não considerou o monopólio estatal como um fato consumado, o PT tem o direito de não considerar o monopólio privado como cláusula pétrea.

Por fim, Eduardo Graeff não sabe como funciona o Partido dos Trabalhadores. O 3º Congresso aprovou por maioria o apoio ao Plebiscito. Havia gente importante contra. Mas esta é mais uma das muitas diferenças entre o PT e o PSDB. Aqui, nós decidimos no voto de delegados eleitos pela base. Aí, meia dúzia de lideranças decide na mesa de restaurantes finos. E nós é que somos amestrados?

Valter Pomar Secretário de relações internacionais do PT

FOLHA ONLINE: O ESCÂNDALO DO ANO TRANSFORMADO EM NOTÍCIA BOBA

Os petistas têm boa dose de razão quando dizem que a imprensa trata o "Mensalão" com parcialidade. O tal "Mensalão do PSDB" é a prova disso: tratam do assunto como se fosse um problema regional ("Mensalão Mineiro") ou como se não fosse algo parecido com o escândalo federal ("Valerioduto Mineiro").

Para uma análise objetiva da transformação do ESCÂNDALO DO ANO em notinha de rodapé, vejamos como repercutiu a notícia de hoje da Folha de São Paulo na… FOLHA ONLINE!

Abaixo, trechos da matéria de hoje, da FSP:

"PF Diz que Valerioduto Pagava Juiz que Favoreceu PSDB-MG - Rogério Tolentino, advogado de Valério, recebeu R$ 302 mil quando atuou no TER - Nomeado por Fernando Henrique Cardoso em 20 de julho de 1998, Tolentino decidia sistematicamente a favor da coligação do PSDB

Rogério Lanza Tolentino, advogado do publicitário Marcos Valério, foi juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais e recebeu dinheiro do valerioduto durante a campanha de 1998, quando o então governador Eduardo Azeredo (PSDB) tentou, sem êxito, a reeleição. Atuando como juiz eleitoral, Tolentino votou favoravelmente ao candidato tucano em decisões próximas a depósitos em sua conta e na de sua mulher .

Relatório da Polícia Federal no inquérito do valerioduto mineiro registra que, entre agosto e outubro de 1998, foram feitos cinco pagamentos no total de R$ 302.350 ao juiz e a sua mulher, Vera Maria Soares Tolentino. Para a PF, seriam " recursos de estatais desviados para o caixa de coordenação financeira da campanha".

Réu do mensalão do PT pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, Tolentino foi juiz eleitoral no biênio 1998/2000, indicado para vaga de advogado em lista tríplice e nomeado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 20 de julho de 1998 . Advogados, juízes e promotores (ouvidos com a condição de terem os nomes preservados) dizem que Tolentino sistematicamente decidia a favor da coligação do governador tucano -o que ele nega.

Procurado pela Folha, Tolentino inicialmente informou que "não participou de qualquer julgamento referente à campanha do então candidato Eduardo Azeredo". Confrontado com registro de acórdão de julgamento em que atuou como relator, com voto a favor do tucano, modificou sua versão .

Dois episódios esvaziam as alegações do advogado. Em sessão realizada em 10 de setembro de 1998, o TRE-MG cassou liminar concedida pelo juiz relator Tolentino, que permitira a Azeredo usar o tempo de propaganda destinado a candidatos a deputado, contrariando a legislação eleitoral.

Em 28 de setembro de 1998, a coligação que apoiava Itamar Franco (PMDB-PST) manifestou ao TRE-MG "a notável evolução do entendimento" de Tolentino, que deferiu liminar favorável a tucanos quando, cinco dias antes, negara pedido semelhante a peemedebistas.
Nas sessões de 16 de setembro de 1998 e 1º de outubro de 1998, quando o TRE-MG julgou recursos sobre direito de resposta, Tolentino novamente não votou contra Azeredo.

No relatório da PF, o delegado Luís Flávio Zampronha diz que "o advogado e consultor jurídico" Tolentino foi "sistematicamente beneficiado com os recursos públicos desviados"." (grifos nossos)

Agora, a "repercussão" na Folha Online (ao lado de cada frase 'bacaninha', coloco um número, para facilitar o entendimento dos comentários que vêm depois do texto):

"Valerioduto de MG (1) Pagou Juiz Eleitoral, diz PF

Rogério Lanza Tolentino, advogado do publicitário Marcos Valério, foi juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais e recebeu dinheiro do valerioduto durante a campanha de 1998, quando o então governador Eduardo Azeredo (PSDB) tentou, sem êxito, a reeleição. A informação está publicada em reportagem deste domingo da Folha (2), assinada por Frederico Vasconcelos (a íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL).

Segundo relatório da Polícia Federal, no inquérito do valerioduto mineiro, entre agosto e outubro de 1998, foram feitos cinco pagamentos no total de R$ 302.350 ao juiz e a sua mulher, Vera Maria Soares Tolentino. Para a PF, seriam "recursos de estatais desviados para o caixa de coordenação financeira da campanha".

Réu do mensalão do PT (3) pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, Tolentino foi juiz eleitoral no biênio 1998/2000, indicado para vaga de advogado em lista tríplice e nomeado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 20 de julho de 1998 (4).

Outro lado
O advogado Rogério Lanza Tolentino diz que todos os pagamentos da SMPB Publicidade no período em que foi juiz eleitoral "foram por prestação de serviços" e nega ter favorecido." (grifos nossos)

Vamos por partes:

1 - Valerioduto de MG
Quando se trata do PT, a imprensa é populista e atribui ao escândalo o nome oficial "mensalão petista", mesmo considerando o envolvimento de muitos outros partidos (o número de petistas na denúncia do Procurador Geral, por exemplo, é pra lá de minoritário).

Mas, quando se trata do PSDB, o problema misteriosamente passa a ser de Minas Gerais. A reportagem aponta uma denúncia de BENEFÍCIO DIRETO obtido pelo candidato tucano ao Governo do Estado. Mas dão ao caso o nome de "valerioduto mineiro".

Aliás, o que vem a ser um "Valerioduto"? Da forma como a imprensa coloca, fica parecendo um fenômeno da natureza, uma ação do cosmos contra a qual nenhum ser humano pode fazer coisa alguma. Na verdade, como se sabe, o "Valerioduto" era operado e tinha como beneficiários seres bem humanos e, inclusive, filiados a partidos políticos.

Mas, no caso do PSDB, o tratamento dado é esse: "valerioduto mineiro", como se fosse um fenômeno da natureza havido em uma região do Brasil; algo parecido com "seca nordestina", "chuva paulistana" ou "geada catarinense".

2 - A "Informação" Não é Essa
A reportagem da Folha Online não fala em "denúncia", mas sim em "informação". Ok, aí é problema estilístico (que talvez decorra de certas predileções partidárias). Engraçado, mesmo, é dizer que a "informação" é uma, quando na verdade é outra.

Segundo a Folha Online, esta seria a "informação":

"Rogério Lanza Tolentino, advogado do publicitário Marcos Valério, foi juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais e recebeu dinheiro do valerioduto durante a campanha de 1998, quando o então governador Eduardo Azeredo (PSDB) tentou, sem êxito, a reeleição. "

Não, não é. Se fosse, ninguém daria a menor bola, pois não há nada de errado nisso. Recebeu dinheiro "durante a campanha"? E daí? O "resumo da informação" não traz os elementos mais básicos e efetivamente sérios da coisa.

O que a Folha de São Paulo publicou foi o seguinte:

"Tolentino, advogado de Valério, recebeu R$ 302 mil quando atuou no TRE - Nomeado por Fernando Henrique Cardoso em 20 de julho de 1998, Tolentino decidia sistematicamente a favor da coligação do PSDB " (grifo nosso)

Ou seja: a Polícia Federal alega que um Juiz do TRE, advogado de Marcos Valério e nomeado por FHC para a vaga no Tribunal, recebeu dinheiro público de estatais mineiras e beneficiou o candidato do PSDB ao Governo do Estado, Eduardo Azeredo.

A denúncia (ou "informação") é essa. O resto é retórica boboca da Folha Online.

3 - O do PT é Petista, o do PSDB é… "Mineiro"
A mesma reportagem fala em "valerioduto mineiro" e em "mensalão petista". Não se trata de uma tendência regionalista, mas de pura e simples discriminação partidária. A Folha Online precisa esclarecer isso. Não é possível que haja orientações editoriais distintas para tratar de cada partido.

Ou é?

4 - Interferência no Judiciário
Um dos aspectos mais graves do "Mensalão do PT", e que curiosamente ainda não foi comprovado, é a alegação de que o Executivo estaria "comprando" o Legislativo. Há falhas lógicas nisso (como o fato de que petistas não receberiam dinheiro para votar… COM O PT!) e falhas objetivas, tendo em vista que alguns pagamentos eram repassados a prestadores de campanha.

Pelo que se apurou, houve o crime - sim, crime! - de "Caixa 2″, e isso é o bastante, sem dúvida, para que todos fiquemos indignados.

O "Mensalão do PSDB", segundo a notícia publicada hoje na Folha, vai um pouco além do "Caixa 2″. A acusação de agora é a seguinte: UM MEMBRO DO JUDICIÁRIO TERIA SIDO SUBORNADO, COM DINHEIRO PROVENIENTE DE ESTATAIS MINEIRAS, PARA DECIDIR EM FAVOR DO CANDIDATO DO PSDB, QUE ENTÃO ERA GOVERNADOR DE MINAS GERAIS.

Para complicar ainda mais, esse juiz, que era advogado de Marcos Valério, foi indicado ao TRE por Fernando Henrique Cardoso, Presidente da República e membro do mesmo PSDB de Azeredo.

Os tucanos, diante dessa denúncia, estão em situação delicada, pois:

a) indicaram o juiz;

b) teriam pago por decisões favoráveis;

c) há provas das decisões favoráveis e TAMBÉM dos depósitos;

d) o dinheiro pago seria oriundo de empresas estatais mineiras, sob o comando do Governador do Estado, o direto beneficiado pelas decisões;

e) antes de ser juiz do TRE, o 'magistrado' era advogado de Marcos Valério.

Entonces…
A coisa está mesmo feia, e o Procurador Geral da República não terá muito trabalho para preparar uma denúncia da pesada. Vamos ver se a imprensa, a partir da apresentação da denúncia, os termos do Procurador em suas reportagens.

Será que os jornalões farão isso, ou - por se tratar de um escândalo do PSDB - esperarão a "coisa julgada", ouvirão todas as partes, tal e coisa?

Triste é ver que logo a PRIMEIRA REPERCUSSÃO da denúncia já se dá de forma "apartidária" e quase impessoal - e se trata de um órgão (Folha Online) do mesmo grupo do jornal que denunciou (Folha de São Paulo).

Aguardemos a "imparcialidade" dos demais veículos…

Espinafrado por Gravatai Merengue

LULA É O MAIS POPULAR PRESIDENTE DA AMÉRICA LATINA

Muito interessante e relevante esta pesquisa divulgada pela Agência Estado indicando o grau de popularidade do presidente Lula da Silva na América Latina. Em termos de popularidade o presidente brasileiro supera todos os outros presidentes de esquerda ( Nestor Kirchner da Argentina não figura na lista do instituto Ipsos Public Affairs) .A hierarquização é feita pela diferença entre o índice de aprovação e o de reprovação. Por este critério Michelle Bachelet do Chile ocupa o segundo lugar em termos de popularidade entre os presidentes latino-americanos. Mas este critério tem um pecado capital vez que, por exemplo, Lula tem quase o dobro de tempo de exercício da presidência que a presidenta chilena e, conseqüentemente está exposto à apreciação pública por mais tempo. Por outro lado os que têm menos tempo de exercício na presidência ainda não sofreram o natural desgaste da permanência no poder. Então, pode-se considerar como verdadeiro que a avaliação de um presidente noutro país que não o dele depende de condicionamentos temporais.


Também curioso é notar que exatamente os presidentes com histórico revolucionário, ou que pregam mudanças radicais e impregnadas de intolerância com as regras democráticas não alcançaram boas pontuações a exemplo do nicaragüense Daniel Ortega, do cubano Fidel Castro e do venezuelano Hugo Chávez. Excetuando o presidente da Nicarágua os outros dois têm pontuação negativa ( ou seja, rejeição maior que aprovação). Por este critério Bush , cuja presidência está relacionada com os desastres das intervenções militares no Afeganistão e no Iraque, tem a pior performance entre os nomes pesquisados.

Didymo Borges

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POLÍTICA
Sábado, 29 de Setembro de 2007 - 23:10

SE HOUVESSE ELEIÇÃO DE PRESIDENTE DA AMÉRICA LATINA, LULA SERIA ELEITO

Agência Estado - Pesquisa "Latin American Pulse", do Ipsos Public Affairs, realizada em seis países da região e divulgada com exclusividade pela Agência Estado revela que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o presidente mais popular no Continente, com uma média de 56% de imagem positiva, contra 20% de imagem negativa e um saldo de +36 pontos.

Muito bem avaliado nos seis países, a pesquisa atribui a Lula o posto de presidente com maior apoio popular no continente. Ele anotou saldos amplamente positivos em todos os países: +45 na Venezuela, +45 pontos porcentuais na Bolívia, +44 no Equador, +31 na Argentina e +25 no México. No Brasil, Lula Afora Lula tem 59% de imagem positiva e 30% de imagem negativa, saldo de +29. "Se houvesse eleição de presidente da América Latina, Lula seria o mais forte candidato", diz Alberto Carlos Almeida, diretor de planejamento do Ipsos.

A imagem de 11 presidentes foi questionada na pesquisa do Ipsos. A pior situação é de George W. Bush, dos EUA, que, na média, tem imagem positiva para 21% e negativa para 64% (saldo de -43 pontos). Outro esquerdista que alcançou resultado pífio foi o sandinista Daniel Ortega, da Nicarágua, que tem imagem positiva para 23% e negativa para 20%, com saldo de apenas +3, apesar de ter tomado posse este ano. Michelle Bachelet, do Chile, tem imagem positiva para 40% e negativa para 20%, com saldo de +20.

A pesquisa retratou uma América Latina altamente tomada pelo otimismo, diz o relatório do Ipsos, tanto no que tange à capacidade realizadora de seus governantes quanto no que os eleitores esperam do cenário político. Para o instituto, em parte, esse otimismo vem das recentes eleições presidenciais - houve nove eleições em apenas um ano e meio. "Eleições freqüentemente induzem o eleitorado à percepção de que o seu país está no rumo certo", afirma Young.

Dados divulgados pela Agência Estado

Presidente

Positivo

Negativo

Saldo


Lula da Silva (Brasil)

56%

20%

+36%

Michelle Bachelet (Chile)

40%

20%

+20%

Daniel Ortega (Nicarágua)

23%

20%

+3%

Fidel Castro

36%

42%

-6%

Hugo Chávez (Venezuela)

38%

45%

-7%

George W. Bush (EUA)

21%

64%

-43%

FHC não apareceu nas manchetes. Lembrei do Biondi

(Quinta-Feira, 27 de Setembro de 2007 às 10:53hs)
O senador Azeredo disse que o que ele arrecadou não foi só que declarou na campanha. Numa coisa ele tem razão, todos fazem isso, sem exceção. E faziam muito mais ainda antes das denúncias de 2005. Mas o que se está investigando não é só um suposto caixa 2, com recursos doados por empresários e que não foram declarados. A investigação é sobre um esquema onde recursos públicos foram parar numa conta de agência de publicidade e de lá foram para campanhas políticas. Exatamente como na crise de 2005. E o senador Azeredo diz: não só para a minha campanha, mas também para a do ex-presidente FHC.
E os jornais do dia seguinte o que fazem? Nada. Ignoram a história e repercutem apenas as críticas de tucanos ao isolado senador Azeredo. Aliás, quem conhece o ninho diz que entre os bicudos ele é dos melhores.
Essas coisas me fazem lembrar dos tempos FHC, quando críticas mesmo só as dos cadernos culturais.
Naquela época, Aloísio Biondi era vivo e um dos poucos que ousava ir para cima do governo. Um dia fomos tomar cerveja no prainha, um conjunto de bares na Avenida Paulista, próximo à Faculdade Cásper Líbero e Biondi me contou que acabara de recusar uma proposta de um grande jornal para ganhar muito mais do que no então Diário Popular, onde encerrou a carreira.
No Diário ele tinha uma coluna diária. O outro jornal propôs que ele escrevesse uma vez a cada 15 dias. E um artigo pequeno, de umas 30 linhas por texto.
Biondi entendeu a proposta, agradeceu e respondeu que preferia continuar ganhando menos e escrevendo. Do que ser pago para ficar calado. Tempos de FHC.

PSDB, uma farsa de origem

Leia artigo publicado no site da Agência Cartamaior
Gilson Caroni Filho
De quem depende a continuação desse domínio?
De quem depende a sua destruição?
Igualmente de nós.
Os caídos que se levantem!
Os que estão perdidos que lutem!
Quem reconhece a situação como pode calar-se?

(Elogio da dialética- Bertold Brecht)

A dúvida como método sempre foi o melhor caminho. Nestes tempos em que a análise política se divorciou dos seus conceitos clássicos, a leitura de proeminentes pensadores dos anos 60/70 pode ser de grande valia para quem quer entender a conjuntura atual. Definir o perfil ideológico dos principais atores e as clivagens político-partidárias que nos desorientam é tarefa detetivesca, tal a fluidez de conceitos, categorias e discursos. Requer da literatura política recente um pouco mais de profundidade analítica. Algo que vai na contramão da afoiteza de marcar presença nas páginas da imprensa. Nessa batida, se perde o tucanato como excelente estudo de caso.

Fundado em 25 de junho de 1988, o Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB) é um equívoco no próprio nome. Um lance de oportunismo travestido de roupagem ética e veleidades de modernização política. Uma agremiação de origem parlamentar que, desde o início, apostou na arbitragem suprema do mercado guarda alguma relação com suas supostas congêneres européias? A resposta parece negativa independentemente da angulação que escolhamos. Um partido de quadros de classe média e sem base operária que se autodenomina social-democrata é uma idéia fora do lugar. Nada mais que isso.

No plano econômico, os filhos do cisma entre socialistas e comunistas europeus praticavam um modelo no qual, embora a acumulação fosse realizada pela iniciativa privada, em sociedade ou não com empresas públicas, uma tributação progressiva gravava parte da mais-valia acumulada, direcionando-a para setores pouco rentáveis ao grande capital: educação, saúde pública, transportes, saneamento e previdência. Alguma semelhança com os oito anos de governo FHC e a primazia dada ao avanço puro do capital rentista? Alguma relação com a adoção do receituário que previa a desregulamentação da economia e privatização criminosa do patrimônio público?

No campo das políticas públicas havia, na social-democracia alemã, forte presença de subsídio aos desempregados, apoio ao trabalhador aposentado e o freio institucional ao livre fluxo do capital. Por ameaçar a coesão social com sérios riscos de anomia, a lógica do lucro era submetida a uma triagem prevista na institucionalidade do regime político. Até aqui, alguma semelhança com o modelo brasileiro adotado no final do século passado?

Aqueles que, em Bad-Godesberg (1959), romperam em definitivo com o marxismo assinariam um modelo que, segundo o Mapa da Fome, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas, em 2001, levava à indigência 29% da população? Coonestariam a regressividade tributária que onerava mais pessoas físicas que grandes corporações e bancos? Com seu apreço a Keynes, levariam oito anos para dar ao trabalhador um rendimento médio de R$ 350, enquanto decuplicam os lucros do setor financeiro? A versão tupiniquim teve, nesses indicadores, as premissas para o êxito de sua estabilidade macroeconômica. Bernstein se revira no túmulo. De tanto rir.

Mas não paremos por aqui. Segundo Wanderley Guilherme dos Santos, conceituado cientista político, "não há social-democracia sem a afirmação de um parlamento forte, soberano, capaz de efetivamente legislar" (A proposta social democrata, org. Hélio Jaguaribe, José Olympio, Rio, 1989). Nesse ponto podemos trabalhar com a memória dos tempos tucanos: sai fortalecida a instância representativa que vê o destino de emendas orçamentárias ser decidido pelas conveniências da aprovação de uma emenda constitucional de interesse do Executivo? E o abuso de medidas provisórias? E a inexistência de relações estreitas entre movimento social e representação partidária? Algum leitor pode, a essa altura, indagar: mas muitos dessas práticas não continuam? Aos puristas, respondo com outra pergunta. Nosso conhecido patrimonialismo foi amplificado com o pragmatismo utilitário-eleitoral da turma de FHC? Como se daria a ruptura abrupta com tais práticas? Com bonapartismo ou súbita conversão ética das oligarquias? Como as duas alternativas são impossíveis, não nos entreguemos a exercícios de hipocrisia política.

Francisco Weffort, o dirigente partidário que, por uma prebenda, dormiu petista e acordou tucano, na mesma publicação se pronunciava sobre o tema: "Quando se fala de social-democracia fala-se de um padrão histórico determinado de organização político-partidária e de regime político, numa certa época, num determinado período histórico na Europa (...) em que os partidos social-democratas chegaram ao poder apoiado em organizações sindicais de trabalhadores". Alguém reconhece aqui o PSDB ou mesmo a realidade em que ele surge? Em suma, a social-democracia no Brasil guardaria a mesma licenciosidade que o liberalismo. São idéias fora do lugar.

Ora, como definir então a criação de FHC? Chamá-la social-democrata como quer o colunismo chapa-branca de plantão é prova de desconhecimento histórico. A "direita da esquerda" alemã do século passado não guarda qualquer relação com a esquerda da direita do governo que, por oito anos, apresentou a lógica da banca investida do poder de verdade. Há quem possa afirmar que a social-democracia contemporânea reza a mesma cartilha do tucanato. Matou o welfare state e foi ao cinema com o neoliberalismo. Tudo bem. Tal constatação só reforçaria que a tentativa de clonagem foi exitosa, mas o clone brasileiro, tal como a ovelha Dolly, já nasceu envelhecido.

Chegou a hora de a esquerda decidir o que quer ser. Ou defende as conquistas dos últimos anos e buscamos, na medida do possível, avançar. Ou, tal como o PPS, escolhe o símbolo que melhor define sua trajetória recente: a de palhaço da burguesia. As gargalhadas são garantidas.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil e Observatório da Imprensa.