segunda-feira, setembro 24, 2007

Policial denuncia execuções da Rota

Soldado contou ao ‘Estado’ como colegas simularam assaltos e até atentados do PCC para esconder assassinatos

Marcelo Godoy

O soldado P. se orgulha de trabalhar na Rota, a temida tropa de elite da Polícia Militar paulista. Diz que gosta de tudo correto, da abordagem de suspeitos à prisão de ladrões. Há mais de cinco anos de Rota, P. já viu também muita coisa errada, que “tem de parar”. Como policiais roubarem um carro e fazerem um atentado como se fossem do Primeiro Comando da Capital para justificar a execução de um ladrão.

Mais do que denunciar colegas, P. procurou o Estado para contar como as coisas acontecem. Como uma parte dos policiais - “sempre os mesmos” - faz as chamadas “derrubadas”, onde suspeitos são escolhidos e executados. Depois os policiais encenam tiroteios e roubos. Tudo para “arredondar” o caso.

Durante um ano, P. deu quatro longas entrevistas à reportagem. As informações foram averiguadas e, em dois casos, serviram para esclarecer crimes, levando à denúncia de policiais envolvidos ou reforçando indícios contra suspeitos. Ele revelou, por exemplo, em junho de 2006 o envolvimento de um comerciante na execução de dois suspeitos em Guarulhos - meses antes de a promotoria denunciar por homicídio quatro PMs da Rota e o comerciante, que emprestara um Audi aos policiais para simularem um tiroteio. Em outros casos, os dados básicos das histórias foram comprovados por boletins de ocorrência e depoimentos de dois oficiais da PM. O resultado é um retrato de como funciona um sistema ilegal, que o comando da polícia diz combater.

Foi a reação dos colegas aos ataques iniciados pelo PCC na noite de 12 de maio de 2006, uma sexta-feira, o motivo que levou P. a desabafar. Dali até agosto, PMs mataram 104 suspeitos de pertencerem à facção. A “contabilidade” do lado do PCC também foi sangrenta. A facção matou 59 pessoas, 25 delas PMs.O relato de P. começa com uma reunião interna da tropa:

ORDEM SUPERIOR

“O oficial disse que era preciso dar uma resposta. No sábado (13 de maio) foram 9 (mortos). No domingo todo mundo entrou em forma de novo . O oficial parabenizou o trabalho feito, falou que precisava que se desse continuidade, que a tropa tinha entendido a mensagem, que precisava repetir a dose. Aí teve 16 (mortos). Na segunda, disse para maneirar um pouco e aí teve 8... Aí na terça, com o pessoal em forma, ele (o oficial) chegou e disse: ‘Deu, tá bom.’”

- Com a tropa em forma?

“Em forma, com grito de guerra, grito de Rota e tal. Foi dado garantia: não tem Proar (acompanhamento psicológico de PMs envolvidos em ocorrências de risco), afastamento de rua e transferência. Não teve nada.”

O TEATRO

P. conta um caso ocorrido na onda de ataques. Pela versão oficial, quatro bandidos roubaram um veículo para fazer um atentado quando foram surpreendidos. Dois morreram e dois fugiram. Mas a história, segundo o soldado, foi diferente:

“Eram dois caras (os ladrões). (Os PMs) pegaram a caminhonete de um amigo de um soldado. Puseram os dois na caminhonete enquanto o oficial arrumou o fuzil, que já estava na base Aguiar (o quartel da Rota, na Avenida Tiradentes) ... aí depois, o outro oficial, que é irmão do tenente, arrumou os endereços e fez a carta (falsa relação de alvos do PCC deixada com os suspeitos, assim como o fuzil). Na hora da ocorrência, os dois marginais já estavam mortos no porta-malas da viatura. Já estavam mortos. Foram dois PMs civil (à paisana) que pegaram a picape para simular a perseguição, mas o que quase deu errado foi que uma reportagem estava perto e começou a filmar. Mas, quando a picape parou e começou aquele monte de tiro, o pessoal da reportagem parou. Eles não chegaram perto. Aí foi o seguinte: a reportagem mostrou alguma coisa, mas mostrou em benefício (da PM), pois não viu realmente o negócio lá.”

- Os supostos fugitivos eram policiais de outra viatura?”

“É, de outra. É assim: duas ou três (viaturas) trabalham pra uma. São três procurando os caras (suspeitos) enquanto a outra vai fazer (executar).”

- Por que alguém empresta o carro para a encenação da polícia? O que ele ganha?

“Pelo prazer de poder apertar (matar) o ladrão.

As diferenças entre mensalões

Da Dora Kramer, no Estadão de hoje

"Podem-se invocar diferenças entre um esquema e outro, sendo a principal delas a amplitude (uma foi federal e outra estadual) e a notoriedade dos envolvidos. É diferente também o impacto provocado por um caso e outro, já que no federal estava à frente um partido de combate em prol da ética e isso, obviamente, assusta bem mais.

Mas a gênese do sistema é a mesma: desvio de dinheiro público para financiamento de campanhas eleitorais por meio de contratos de publicidade fraudulentos com as empresas de Marcos Valério de Souza.

Comentário

Um esquema é amplo pelo número de pessoas e recursos que envolve. O que tem a ver com o fato de um ser federal e outro estadual? Quanto à notoriedade dos envolvidos, como não considerar notórios o próprio governador de Minas na época, Eduardo Azeredo, e o atual governador Aécio Neves, além de Walfrido Mares Guia, que já era um peso-pesado na política mineira?

Dora considera que o “mensalão do PT” é mais chocante porque o PT era o partido da ética. Como assim? E o PSDB não era? Finalmente, a gênese não é a mesma. No caso do “mensalão mineiro”, ficou caracterizado claramente desvio direto de órgãos públicos.

O ponto central é outro: na campanha eleitoral, ficaram em amplíssima minoria os analistas que acertadamente tentaram mostrar que o “mensalão” era um esquema já existente que servia a todos os governantes. Era a análise correta, jornalística, mas todos os que ousaram ir por esse caminho foram massacrados pelo macartismo vigente no período e ainda em voga.

Do André Petry, da Veja

"O conteúdo, no entanto, é distinto. No caso tucano, pelo que se sabe até agora, é um caixa dois eleitoral. É um crime, mas o crime é esse. No caso petista, o mensalão também teve seu lado de caixa dois eleitoral, mas foi bem mais do que isso. Serviu sobretudo para subornar outro poder, trocando apoio por dinheiro e violando um princípio basilar da democracia. Simbolicamente, os petistas fecharam as portas da Câmara dos Deputados e foram às compras. No bazar das consciências de suas excelências, arremataram as mais baratas, as mais convenientes. É corrupção ativa e passiva. E é, também, um crime de lesa-democracia".

"O esquema do PT em Brasília é pior do que o do PSDB em Minas? Talvez seja, sobretudo porque o mensalão tomou a estrutura do PT, com adesão de toda a sua antiga cúpula, mostrando que a roubalheira tinha uma espécie de chancela institucional. No caso tucano, não há indicações de que a pilantragem de Eduardo Azeredo tenha sido organizada e executada pela cúpula nacional do PSDB".

Comentário

1. Como se explica que no “mensalão mineiro” existissem políticos de outros partidos; e no “mensalão do PT” existissem também parlamentares petistas? Se não era para conquistar aliados, porque o PSDB colocou os de fora? Se não era só para caixa dois, porque o PT incluiu os de dentro? Que tal uniformizar a lógica?

2. Dizer que “não há indicações de que a pilantragem de Eduardo Azeredo tenha sido organizada e executada pela cúpula nacional do PSDB” é campeão. Azeredo era o presidente do PSDB. O Petry inventou uma nova conceituação: presidente de partido passou a ser base, não mais a ser cúpula.

3. Finalmente, como se explica que um tema que surgiu junto com o "mensalão" só mereça cobertura da imprensa depois que a Polícia Federal concluiu seu relatório?

Marcos Valério, o operador de aluguel

Maria Inês Nassif

Valor de 20/09/2007


O empresário Marcos Valério não era simplesmente um operador petista, mas um profissional do ramo de lavagem de dinheiro e montagem de caixa 2 para campanhas eleitorais. E profissional dessa área não tem partido: o dele é o que está no poder e o contrata. Essa é uma obviedade desde 2005, quando o empresário passou a ser investigado como operador de um "mensalão" que teria irrigado o caixa 2 do PT e de seus aliados nas eleições municipais de 2004. Afinal, no meio das investigações apareceu ninguém menos do que o senador Eduardo Azeredo (MG), então presidente do PSDB de Fernando Henrique Cardoso. Ou melhor, veio à tona o caixa 2 que irrigou o PSDB mineiro e seus aliados na campanha de Azeredo pela reeleição para o governo de Minas, em 1998.

O PSDB nacional e o próprio interessado estabeleceram uma diferenciação sutil entre o caso do PT e o de Azeredo, segundo a qual os petistas e seus aliados pecaram porque supostamente teriam usado o dinheiro para pagar mesadas aos aliados e o ex-governador de Minas, como não teria dado mesada, era inocente. O PSDB afastou docemente Azeredo da presidência, juntou-se ao PFL num discurso agressivo contra o PT e o governo Lula, a mídia embarcou e o caso ficou esquecido até agora.

Por quase dois anos a oposição tratou o caso do mensalão como uma anomalia introduzida pelo PT no sistema político. A udenização do discurso oposicionista no auge da crise política beirou o golpismo. Agora, a mesma PF que indiciou os envolvidos do PT e de seus aliados concluiu o inquérito do "valerioduto" mineiro e chegou à conclusão de que este é um esquema muito mais complexo, pois envolveu mais de 150 políticos, 17 partidos e um total de R$ 100 milhões movimentados nas eleições de 1998 sem conhecimento da Justiça Eleitoral. O presidente do PT nacional à época do mensalão, José Genoíno, está sendo processado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e, ao que tudo indica, pecou principalmente por omissão. O presidente do PSDB de então era Eduardo Azeredo, beneficiário do mesmo esquema em 1998. Os partidos de ambos usaram os mesmo recursos de captação e lavagem de dinheiro. A única diferença é que o PSDB de Minas precedeu o PT nacional no uso dos préstimos de Marcos Valério.

Esses são os fatos - que, aliás, ao serem aqui expostos não têm nenhuma intenção de inocentar o PT pelo uso do caixa dois e captação ilegal de dinheiro nas eleições de 2004. Pelo contrário. É sabido que o PT abandonou a campanha de militância e embarcou no esquema tradicional de captação de dinheiro quando tornou-se "pragmático" e foi atrás de recursos para "profissionalizar" suas campanhas eleitorais. Não é mérito nenhum ter feito a opção de se tornar mais um entre os partidos que já se utilizavam desse expediente.

Valerioduto mineiro foi subestimado pela mídia

A discussão que se coloca agora, findo o trabalho da PF e quase terminado o do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza - que deverá oferecer denúncia contra os clientes mineiros de Marcos Valério nos próximos dias - é se a disputa política justifica eticamente a assimetria como foram tratados os dois casos, quer pela oposição, quer pela imprensa.

Quando os especialistas analisam as razões pelas quais o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou na disputa pela reeleição, no ano passado, devem incluir mais uma: para o grande público, e não para a restrita "opinião pública" integrada pelos mais escolarizados, a hipocrisia do discurso dos oposicionistas, militantes da política tradicional desde sempre, ou quase isso, estava patente. "A conversa deles é dizer que a questão moral não conta mais. Conta sim. Ladrão, não mais", discursou para seus correligionários energicamente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em entrevista, afirmou, enojado: "Nunca ouvi falar em tanta corrupção como neste governo". O senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), recentemente falecido, referia-se ao dirigente máximo da República, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apenas como "ladrão". Não colou. Dada a imagem que a classe política desfruta entre os eleitores, venceu, na dúvida, o presidente Lula, que trazia uma política social inédita na bagagem.

Como na política institucional vale mais a versão que o fato, o país deverá assistir nos próximos dias mais alguns lances de pura hipocrisia. O ministro das Relações Institucionais do governo Lula, Walfrido Mares Guia (PTB), foi investigado pela PF e agora o procurador-geral decidirá se apresentará denúncia contra ele. Embora esteja sob investigação por conta do caixa 2 do tucano mineiro, o ministro promete ser a próxima crise do governo de Lula. Pode-se ponderar que Lula, depois dos tumultos do primeiro governo, não poderia ter feito uma maioria parlamentar a qualquer preço e deveria escolher melhor suas companhias, mas esse argumento também remete aos governos FHC. Afinal, o PTB do ministro esteve na base de apoio de todos os presidentes desde a sua recriação, em 1980.

A repercussão dos escândalos do mensalão e do valerioduto mineiro, ou melhor, a simples existência de Marcos Valérios, devem deixar a arena da disputa político-partidária. É sobre as razões pelas quais esses esquemas existem historicamente no Brasil e se mantém ativos que a sociedade em geral, e os partidos em particular, devem se debruçar. E, para que se inicie um debate sério, sem hipocrisias, é necessário reconhecer que: o sistema político funciona e se financia com dinheiro ilegal; os partidos não se diferenciam fundamentalmente quando se trata de captação ilegal de dinheiro (talvez com exceção do P-SOL, que é novo e ainda não tem grande representatividade; o PT era exceção, mas esse é um verbo no passado); a lavagem de dinheiro de origem duvidosa é uma atividade comum no meio político e os donos de lavanderias ganham dinheiro com isso. No limite, não existe grande diferença entre as finanças partidárias e de qualquer organização ilegal. Se partir desses princípios, o debate de como trazer à superfície a vida das agremiações partidárias pode ser feito com alguma seriedade. Fora isso, é jogar para o eleitor e para a platéia.

Maria Inês Nassif é editora de Opinião. Escreve às quintas-feiras

ELO COM CRIME ORGANIZADO MENSALÃO TUCANO DO ANTERO É PIOR QUE O MENSALÃO TUCANO DO AZEREDO

O agora, se eu não estiver errado, ex-senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) foi ou ainda é investigado pela Polícia Federal(Republicana) de Mato Grosso por ligações com o crime organizado no Estado . Segundo as investigações no ínicio de 2006, a cúpula do PSDB faria parte de uma organização criminosa chefiada pelo banqueiro do jogo de bicho João Arcanjo Ribeiro, o Comendador, acusado de ter ordenado o assassinato de mais de 30 pessoas em Mato Grosso, e o espancamento e mutilação de pelo menos outras 50.

Entre 1994 e 2002, diversas empresas ilegais de factoring (que antecipam dinheiro de cheques pré-datados) montadas por Arcanjo serviram para irrigar dinheiro em campanhas eleitorais do PSDB. Apenas na campanha a governador de Antero Paes de Barros, em 2002, foram encontrados 84 cheques de uma factoring do bicheiro no valor total de R$ 240 mil.
O falecido governador tucano Dante Martins de Oliveira também esteve envolvido no esquema. As investigações, abertas há pouco mais de dois anos, mostravam que uma empresa, a Amper - Construções Elétricas Ltda., do irmão de Dante, movimentou mais de US$ 6 milhões (R$ 13 milhões), entre créditos e débitos, na factoring uruguaia de Comendador.
Além disso, o ex-secretário de Segurança Pública do Estado, Hilário Mozer Neto, nomeado por Dante, depositou R$ 1,5 milhão nos cofres de Arcanjo. Mozer Neto também era presidente da empresa offshore Gamza S.A., localizada no Uruguai, de propriedade do Comendador.
O titular da 1ª Vara Criminal da Justiça Federal de Mato Grosso, Julier Sebastião da Silva, que descobriu o esquema do bicheiro com os tucanos, depôs na CPI do Bingos no 16 de fevereiro de 2006. O então senador Antero mostrou irritação com a explicação do juiz sobre o seu trabalho no Mato Grosso e chegou a dizer que iria processá-lo. Julier disse aos senadores da comissão que dava seqüência jurídica ao processo com base nas provas anexadas aos autos, todas obtidas em ações de busca e apreensão realizadas pela Polícia Federal.

E AGORA EU PERGUNTO: POR QUE A MÍDIA NÃO LEVANTA ESSE CASO NOVAMENTE? AH SIM, SE ALGUÉM TIVER INFORMAÇÕES SOBRE ESSE CASO, COMENTE, POIS, PARECE QUE A TUCANADA QUER ESQUECER ESSE CASO QUE É PIOR QUE O MENSALÃO DO AZEREDO...VAI JUNTANDO AZEREDO, ANTERO PAES, CACCIOLA ( que comentamos em matéria ontem )...Eita mundão véio sem porteira so!

Morcego Vermelho

O império da mentira e o jornalismo fraudulento


Reforma da mídia já! Ooops, desculpe-me! Esqueci que esse tema é um dogma. Pode ser legítimo o desejo de reformar o Judiciário, o Legislativo, até o Executivo, só não pode mexer com o poder absoluto, imperial da imprensa – por que aí já é “totalitarismo” e “censura”.

O título desse artigo foi extraído de um dos possíveis lemas e do que seria o “ideário”, ainda difuso e “inacabado”, e, talvez, pretensão minha, tangencie a essência da luta do chamado movimento dos “sem-mídia” (MSM). Os “insurgentes” reunidos nesse movimento que ousa subverter a pauta do escárnio que nos é imposta estão corretos. É urgente mesmo que lutemos contra o domínio e o poder despótico da grande mídia, suas mentiras, manipulações, seu moralismo e “denuncismo” seletivos.
Não que se pretenda calar e/ou manietar os meios, ou atentar contra a liberdade de imprensa (ou qualquer disparate nesse sentido) – em absoluto! Mas, é preciso combater também a arrogância, a grandiloqüência, a soberba e a megalomania de certos veículos, bem como de certos jornalistas que lhes servem como bonecos de ventríloquo e/ou sabujos, e que pretendem pautar o governo, a oposição e o país – a pauta “monopolista” e “onipresente” agora é um tal “Renangate”. Só fala no famigerado Renan Calheiros – até a saturação.

Mas a quem serve essa grande imprensa? Aos interesses e direitos universais e legítimos do leitor a uma informação isenta e de qualidade? Ao povo brasileiro? Certamente que não.

Se de fato desejamos a verdade (a que liberta) e, por isso, reivindicamos um jornalismo comprometido com a verdade factual e o máximo (quanto possível) independente de ideologias, partidos e governos, é necessário que, primeiro, busquemos respostas inequívocas a essa questão: a que(m) serve a grande mídia?

Desgraçadamente, sejamos honestos, ideologias à parte, e ainda parolando no campo da pedagogia da obviedade, a grande mídia serve aos interesses da “classe dominante”, aos que lhe financiam e dão sustentação; serve aos “donos do poder” – remetendo, novamente, à expressão cunhada por Raymundo Faoro. Então, seria no mínimo ingênuo esperar que essa mídia se posicionasse ao lado dos trabalhadores, ou dos movimentos sociais, e favoráveis às reivindicações destes.

E, de posse desse “mandato”, que lhes foi outorgado pelos “donos do poder”, despótica, imperial essa mídia já não consegue disfarçar ou ocultar o mandonismo atávico de antanho – e de sempre. Denuncia, julga e condena em editorias ou em reiteradas e canhestras matérias – mas apenas de acordo com suas conveniências e/ou de acordo com a conveniência e interesses daqueles que representa. Muitas vezes, ao arrepio da lei e do Estado de Direito.

A estratégia é simples: quando se trata dos amigos do establishment e/ou de correligionários e “irmãos” de estamento, o tratamento dado à denúncia é diferenciado. No máximo publica-se uma ou duas notinhas fazendo o registro dessa “denúncia", para logo em seguida, de maneira conveniente, tirá-la da pauta e do noticiário. O fato logo cai no esquecimento e, para todos os efeitos, a denúncia foi feita – está lá o registro, o álibi. Para todos os efeitos, o veículo é pluralista e não protege os amigos. Perceberam o engodo? Perceberam o ardil?

Ao passo que, quando as denúncias, sejam elas críveis ou não, se referem a membros do governo Lula ou de sua base aliada, aí sim são, claro, publicadas, repisadas e, se necessário, requentadas, e permanecem na pauta até a exaustão – ou até que se consiga derrubar o alvo em questão. Pode ser um ministro, um senador, um governo.

Um exemplo recente: o tal “caos” aéreo ou “apagão” aéreo – como preferirem. Havia (e ainda há), de fato, uma crise no setor aéreo do país, em parte devido ao vácuo deixado pela insolvência da Varig, em parte devido ao aumento (louvável) substancial da demanda e, também, sim, em grande parte, devido à incompetência de órgãos do governo em se antecipar a esse previsível aumento da demanda ou “gargalo”. E, claro, mas isso ninguém fala, também devido a sanha pelo lucro fácil de algumas companhias aéreas que retardavam e cancelavam vôos, faziam overbooking (vendiam mais passagens do que a quantidade de assentos disponíveis no vôo permitia) e se aproveitaram do “caos” apregoado pela mídia para legitimar ou disfarçar sua incompetência – esse seria o retrato da crise no setor aéreo mais próximo da realidade factual.

O que fez a imprensa? Bateu no governo, bateu e bateu – o que é até necessário e natural, pois é sua função criticar o(s) governo(s). Só isso? Não. Diagnosticou e apregoou, diária e reiteradamente, um tal “caos aéreo”. Porém, curiosamente, foi só o governo ceder às pressões e demitir Waldir Pires (do PT), colocando em seu lugar Nelson Jobim e a mídia silenciou (Detalhe 1: Jobim entende tanto de aviação quanto Pires – ou seja, nada). Assim, foi só sair a nomeação de Jobim para a pasta da Defesa e o tal “apagão” ou “caos” aéreo, como que por encanto, saiu da pauta. A crise aérea foi resolvida? Claro que não! Por que então a mídia agora silencia sobre os evidentes problemas no setor aéreo? (Detalhe 2: Jobim é do PMDB, e tem boa relação com o PSDB; Pires era do PT). Moral da história: aos “inimigos”, o patíbulo e a execração; aos amigos, o silencio cúmplice e a exaltação.

Isso sem falar do tratamento privilegiado que a gestão Serra em São Paulo recebe da imprensa. Por que não se fala, diuturnamente, nos “jornalões” e no noticiário local da TV, de um tal “apagão” da educação (utilizando, aqui, só para ressaltar o ridículo e o desgaste da sua linguagem “rica” em chavões hipnóticos, de fácil assimilação), ou num “caos” da segurança pública, uma vez que adolescentes em SP chegam ao Ensino Médio na condição de analfabetos funcionais e o déficit do sistema carcerário já chega a mais 30.000 vagas? Sem falar da Fundação Casa (ex-Febem) “entulhada” pelos destroços de toda uma geração de jovens – a chamada “geração FHC”. Na cidade de São Paulo carceragens onde caberiam cerca de 700 presos “acolhem” mais de 1.900!!! Mas os direitos humanos não servem para os “bandidos” – não é mesmo?

O debate – segundo eles “plural e democrático” – também é, diga-se, “de mentirinha”. Nos programas jornalísticos na TV, onde se deveria promover o debate de idéias, ocorrem tertúlias em que imperam um pensamento só. São “debates” monolíticos, modorrentos, cansativos, constrangedores, risíveis até. A modorra, a náusea está lá, indisfarçável, estampada na face dos convidados. Já é visível o esgotamento desse modelo de “jornalismo”. Distenderam demais a corda que foi pouco a pouco perdendo a elasticidade, chegando à completa frouxidão.

Observe atentamente o tratamento da mídia ao “mensalão” mineiro (note que novamente, uso a linguagem cara aos mercadores de mentiras). É pule de dez que a mídia vai centrar foco numa possível participação de Walfrido dos Mares Guia, hoje ministro de Lula e à época membro da coordenação de campanha de Azeredo, e esquecer Aécio Neves e o PSDB. Ou seja, vai tentar colocar mais essa “bomba” no colo do governo Lula. Os sabujos já dizem, com escandalosa desfaçatez, que nesse caso, sim, foi crime eleitoral (caixa 2), o outro foi “quadrilha” mesmo. A verdade deles, como se vê, é “relativa” e gira, para lá e para cá, bafejada pelos seus interesses e conveniências, tal qual biruta de aeroporto sob o sopro dos ventos.

Assim, devido ao desgaste causado pelo uso abusivo da mentira, da injúria, da intriga e da manipulação as denúncias já não surtem o efeito esperado. O “denuncismo” tornou-se uma espécie de clichê do jornalismo praticado nos dias de hoje. Ou seja, desgastou-se, pelo uso indevido, abusivo de importante instrumental da democracia: a eterna vigilância dos órgãos de imprensa, a crítica, a denúncia. A perda da credibilidade, por parte da imprensa, é ruinosa para a democracia.

Só mesmo passando a imprensa a limpo, reformulando e repensando sua práxis e criando novas leis e instrumentos regulatórios, após exaustivo debate e discussão com a sociedade (claro que por intermédio e com a participação dos jornalistas e de suas associações e órgãos representativos), que possibilitem a democratização dos meios de comunicação na sociedade, e que ela, a mídia (seja a grande, pequena ou média) esteja efetivamente a serviço dessa sociedade como um todo. E não apenas a serviço de alguns grupos demarcados e facilmente distinguíveis.

Reforma da mídia já! Ooops, desculpe-me! Esqueci que esse tema é um dogma. Pode ser legítimo o desejo de reformar o Judiciário, o Legislativo, até o Executivo, só não pode mexer com o poder absoluto, imperial da imprensa – por que aí já é “totalitarismo” e “censura”.

Totalitarismo “legítimo” só o da grande imprensa. E não se fala mais nisso.

N.AChega-me a informação (fonte: Terra Magazine) que o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e a oposição “estudam” levar ao STF uma proposta de quebra do sigilo do painel de votações da sessão do julgamento do caso Renan. Esse senador é um dos amigos e protegidos da grande imprensa e, talvez por isso, tenha a desfaçatez de “estudar” um recurso descabido dessa natureza. Estejam atentos e não se enganem: esse é o ideal de democracia dessa gente.

Pelo direito fundamental do Homem à informação

AOS QUE PERGUNTAVAM PELA CUT...

Movimento lança manifesto contra monopólios de mídia Documento denuncia ditadura da mídia: falsa indignação de alguns barões é apresentada como sendo a opinião da maioria.

Com uma manifestação em frente à Folha de S.Paulo, foi fundado no dia 15 em São Paulo o Movimento dos Sem-Mídia. Durante a mobilização foi lido o manifesto, que publicamos abaixo na íntegra, pelo blogueiro Eduardo Guimarães, organizador do ato. “Trata-se de um movimento que não está cansado de nada, pois mal começou a lutar pelo direito humano à informação correta, fiel, honesta e plural”, disse.

Durante o protesto contra a grande mídia brasileira foram colhidas assinaturas em apoio ao manifesto. “Que a mídia fale, mas não nos cale!”, eram os dizeres de uma faixa.

A certa altura, Guimarães interrompeu a leitura para comentar o silêncio da mídia sobre o acidente na estação Pinheiros da Linha 4 do metrô paulista, onde morreram vários operários, no ano passado: “Não disseram mais nada”, afirmou Guimarães. “Tem a CPI da TVA e ninguém fala nada”, gritou um manifestante, o que levou o conjunto dos presentes a exigir: “CPI, CPI, CPI!”.

Analisando a reduzida cobertura da manifestação pela própria Folha em seu blog, Guimarães escreveu: “Eles passaram dos limites. A reportagem da Folha sobre o Ato que fizemos ontem diante do jornal constitui uma bofetada nos rostos de todos os que lá estiveram ou que apoiaram, de longe, nosso Movimento por um jornalismo limpo, plural, fidedigno, apartidário e desideologizado”.

Manifesto dos Sem-Mídia
Vivemos um tempo em que a informação se tornou tão vital para o homem que passou a integrar o arcabouço de seus direitos fundamentais. Defender a boa qualidade da informação, pois, é defender um dos mais importantes direitos fundamentais do homem. É por isso que estamos aqui hoje.

No transcurso do século 20, novas tecnologias geraram o que se convencionou chamar de mídia, isto é, o conjunto de meios de comunicação em suas variadas manifestações, tais como a secular imprensa escrita, o rádio, o cinema, a televisão e, mais recentemente, a internet. Essa mídia, por suas características intrínsecas e por suas ações extrínsecas, tornou-se componente fundamental da estrutura social, formada que é por meios de comunicação de massa.

Em todas as partes do mundo - mas, sobretudo, em países continentais como o nosso -, quem tem como falar para as massas controla um poder que, vigendo a democracia, equipara-se aos Poderes constituídos da República. E, vez por outra, até os suplanta. Essa realidade pode ser constatada pela simples análise da história de regiões como a América Latina, em que o poder dos meios de comunicação logrou eleger e derrubar governos, aprovar leis ou impedir sua aprovação, bem como moldar costumes e valores das sociedades.

Contudo, há fartura de provas de que, freqüentemente, esse descomunal poder não foi usado em benefício da maioria. Não se nega, de maneira alguma, que as mídias, sobretudo a imprensa escrita, foram bem usadas em momentos-chave da história, como nos estertores da ditadura militar brasileira, quando a pressão (tardia) de parte dessa imprensa ajudou a pôr fim à opressão de nossa sociedade pelo regime dos generais. Todavia, é impossível ignorar que a ditadura foi imposta ao país graças, também, à mesma imprensa que hoje vocifera seus neo pendores democráticos, nascidos depois que sua recusa pretérita de aceitar governos eleitos legitimamente atirou o país naquela ditadura de mais de vinte anos.

Interesses
O lado perverso da mídia também se deve, por contraditório que possa parecer, à sua natureza privada, uma natureza que também é - ou deveria ser - uma de suas virtudes. Nas mãos do Estado, a mídia seria uma aberração, mas quando é pautada exclusivamente por interesses privados, seu lado obscuro emerge tanto quanto ocorreria na primeira hipótese, pois um poder dessa magnitude acaba sendo usado por diminutos grupos de interesse. Nas duas situações, quem sai perdendo é a coletividade, pois o interesse de poucos acaba se sobrepondo ao de todos.

A submissão da mídia ao poder do dinheiro é um fato, não uma suposição. Os meios de comunicação privados nada mais são do que empresas que visam lucro e, como tais, sujeitam-se a interesses que, em grande parte das vezes, não são os da coletividade, mas os de grandes e poderosos grupos econômicos.

Estes, pelo poder que têm de remunerar o “idealismo” que lhes convêm, cada vez mais vão fazendo surgir jornalistas dispostos a produzir o que os patrões requerem, e o que requerem, via de regra, é o mesmo que aqueles grupos econômicos, o que deixa a sociedade desprotegida diante da voracidade daqueles que podem (?) esmagar divergências simplesmente ignorando-as.

É nesse ponto que jornalistas e seus patrões contraem uma união estável com facções políticas e ideológicas que não passam de braços dos interesses da iniciativa privada, dos grandes capitais nacionais e transnacionais, do topo da pirâmide social. E a maioria da sociedade fica órfã, indefesa diante do poder dos de cima de alardearem seus pontos de vista como se falassem em nome de todos.

Agora mesmo, na crise que vive o Senado Federal, vemos os meios de comunicação alardearem uma suposta ‘’indignação nacional’’ com o presidente daquela Casa. Esses meios dizem que essa indignação é ‘’da opinião pública’’, apesar de que a maioria dos brasileiros certamente está pouco se lixando para a queda de braço entre o presidente do Congresso e a mídia.

Indignação
Nesse processo, a “indignação” de meia dúzia de barões da mídia é apresentada como se fosse a “da opinião pública”. O poder que a mídia tem - ou pensa que tem - é tão grande, que ela ousa insultar a ampla maioria dos brasileiros, maioria que elegeu o atual governo. A mídia insulta a maioria dizendo que esta tomou a decisão eleitoral que tomou porque é composta por “ignorantes” que se vendem por “bolsas-esmola”. Retoma, assim, os fundamentos do voto censitário, que vigeu no alvorecer da República, quando, para votar, o cidadão precisava ter um determinado nível de renda e de instrução. E o pior, é que a teoria midiática para explicar por que a maioria da sociedade não acompanhou a decisão eleitoral dos barões da mídia, esconde a existência de cidadãos como estes que aqui estão, que não pertencem a partidos, não recebem “bolsas-esmola” e que, assim mesmo, não aceitam que a mídia tente paralisar um governo eleito por maioria tão expressiva criando crises depois de crises.

É óbvio que a mídia sempre dirá que suas tendências e pontos de vista coincidem com o melhor interesse do conjunto da sociedade. Dirá isso através da confortável premissa (para os beneficiários preferenciais do status quo vigente) de que as dores que a prevalência dos interesses dos estratos superiores da pirâmide social causa aos estratos inferiores, permitirão a estes, algum dia, ingressarem no jardim das delícias daqueles. É a boa e velha teoria do “bolo” que precisa primeiro crescer para depois ser dividido.

Os meios de comunicação sempre tomaram partido nos embates políticos. Demonizam políticos e partidos que grupos de interesses políticos e econômicos desaprovam e, quando não endeusam, protegem os políticos que aqueles grupos aprovam. Isso está acontecendo hoje em relação ao governo federal e à sua base de apoio parlamentar, por um lado, e em relação à oposição a esse governo e a seus governos estaduais e municipais, por outro.

Resumindo: a mídia ataca o governo central em benefício de seus opositores. Os meios de comunicação se defendem dizendo que atacam o governo central também porque ele nada faz de diferente - ou de melhor - do que fazia a facção política que governava antes, e diz, ainda por cima, que o atual governo produz “mais corrupção”. Alguns veículos, mais ousados, acrescentam que os que hoje governam favorecem mais o capital do que seus antecessores. Outros veículos, mais dissimulados, ainda adotam um discurso quase socialista ao criticarem os lucros dos bancos e o cumprimento dos contratos que o governo garante. A mídia chega a fazer crer que apoiaria esse governo se ele fizesse despencar a lucratividade do sistema bancário e se rompesse contratos. Faz isso em contraposição ao que dizia dos políticos que agora estão no poder, porém no tempo em que estavam na oposição, ou seja, dizia que não poderiam chegar ao poder porque, lá chegando, descumpririam contratos e prejudicariam o sistema bancário...

Parcialidade
A mídia brasileira garante que é “isenta”, que não é pautada por ideologias ou por interesses privados, e que trata os atuais governantes do país como tratou os anteriores. Não é verdade. Bastaria que nos debruçássemos sobre os jornais da época em que os que hoje se opõem ao governo federal estavam no poder e comparássemos aqueles jornais com os de hoje. Veríamos, então, como é enorme a diferença de tratamento. Nunca a oposição ao governo federal foi tão criticada pela mídia quanto na época em que os que hoje estão no governo, estavam na oposição; nunca o governo foi tão defendido pela mídia quanto era na época em que os que hoje estão na oposição, estavam no governo.

Não é preciso recorrer a registros históricos para comprovar como os pesos e medidas da mídia diferem de acordo com a facção política que ocupa o poder. Basta, por exemplo, comparar a forma como os jornais paulistas cobrem o governo do Estado de São Paulo com a forma como cobrem o governo do país. A mesma facção política governa São Paulo há mais de uma década. Nesse período, o Estado foi tomado pelo crime organizado. A Saúde pública permanece - ou se consolida - como um verdadeiro caos, apesar das novas tecnologias e da enorme quantidade de recursos que transitam por São Paulo.

Crimes
A Educação pública permanece como uma das piores do país a despeito da pujança econômica paulista. Assim, começaram a eclodir desastres nunca vistos na locomotiva do Brasil que é São Paulo. Ano passado, uma organização criminosa aterrorizou este Estado. Essa organização nasceu e se fortaleceu dentro dos presídios controlados pelo governo paulista. A Febem, destinada a recuperar jovens criminosos, consolidou-se como escola de crimes, e as prisões para adultos alcançaram o status de faculdades do crime. No início deste ano, uma rua inteira ruiu por causa de uma obra da linha quatro do metrô paulistano, administrado pelo governo paulista. Várias pessoas morreram. Foi apenas mais um entre muitos outros acidentes que ocorreram nas obras do metrô de São Paulo e a mídia não noticia nada disso, o que lhe deixa escandalosamente óbvio o intuito de proteger o grupo político que governa o Estado mais rico da Federação e que se opõe ferozmente ao governo federal.

A mídia exige CPIs para cada suspeita que a oposição levanta sobre o governo federal, mas não diz uma palavra de todos os escândalos envolvendo o governo de São Paulo. Omite-se quanto à violação dos direitos das minorias parlamentares na Assembléia Legislativa paulista, violação perpetrada pelas maiorias governistas, maiorias que nos últimos anos enterraram dezenas de pedidos de investigação do governo paulista, controlado por políticos que estão entre os que mais exigem investigações sobre o governo federal.

Seria possível passar dias escrevendo sobre tudo o que a imprensa paulista deveria cobrar do governo do Estado de São Paulo, mas não cobra. Ler um jornal impresso em São Paulo ou assistir a um telejornal produzido aqui só serve para tomar conhecimento do que faz de ruim - ou do que a mídia diz que faz de ruim - o governo federal. Dificilmente se encontra informações sobre o governo paulista, e críticas, muito menos. O desastre causado pela obra da linha quatro do metrô paulistano, por exemplo, foi coberto pela mídia, mas por pouco tempo - questão de dias. Depois, o assunto desapareceu do noticiário e nunca mais voltou. Dali em diante, a mídia passou a esconder e a impedir qualquer aprofundamento no caso, fazendo com que a sociedade permaneça sem satisfação quase nove meses depois da tragédia Mas o “caos aéreo” não sai da mídia um só dia já há quase um ano.

Censura
Assim é com tudo que diga respeito a políticos e partidos dos quais a imprensa paulista gosta. E o mesmo se reproduz pelo país inteiro. A mídia carioca, a mídia baiana, a mídia gaúcha, as mídias de todas as partes do país fazem o mesmo que a paulista, pois todas são uma só, obedecem aos mesmos interesses, controladas que são por um número ridiculamente pequeno de famílias ‘’tradicionais’’, por uma oligarquia que domina a comunicação no Brasil desde sempre.

O lado mais perverso desse processo é o de a mídia calar divergências. Cidadãos como estes que assinam este manifesto são tratados pelos grandes meios de comunicação como se não existissem. São os sem-mídia, somos nós que ora manifestamos nosso inconformismo. Muito dificilmente é dado espaço pela mídia para que quem pensa como nós possa criticar o seletivo moralismo midiático ou as facções políticas amigas dos barões da mídia. A quase totalidade dos espaços midiáticos é reservada àqueles que concordam com os grandes meios de comunicação. Jornalistas que ousam discordar, são postos na ‘’geladeira’’. A mídia impõe uma censura branca ao país. Isso tem que parar.

Claro precisa ficar que os cidadãos que assinam este manifesto não pretendem, de forma alguma, calar a mídia. Os que qualificam qualquer crítica a ela como tentativa de calá-la, agem com má-fé. É o contrário, o que nos move. O que pedimos é que a mídia fale ou escreva muito mais, pois queremos que fale ou escreva tudo o que interessa a todos e não só aquilo que lhe interessa particularmente e àqueles que estão ao seu lado, pois a mídia tem lado, sim, apesar de dizer que não tem, e esse lado não é o de todos e nem, muito menos, o da maioria.

Mais do que um direito, fiscalizar governos, difundir idéias e ideologias, é obrigação da mídia. Assim sendo, os signatários deste manifesto em nada se opõem a que essa mesma mídia critique governo nenhum, facção política nenhuma, ideologia de qualquer espécie. O que nos indigna, o que nos causa engulhos, o que nos afronta a consciência, o que nos usurpa o direito de cidadãos, é a seletividade do moralismo político midiático, é o sufocamento da divergência, é o soterramento ideológico de corações e mentes.

Democratização
Por tudo isso, os signatários deste manifesto, fartos de uma conduta dos meios de comunicação que viola o próprio Estado de Direito, vieram até a frente desse jornal dizer o que ele e seus congêneres teimam em ignorar. Viemos dizer que existimos, que todos têm direito de ter espaço para seus pontos de vista, pois a mídia privada também se alimenta de recursos públicos, da publicidade oficial, e, assim sendo, tem obrigação de não usar os amplos espaços de que dispõe como se deles proprietária fosse. Seu papel, seu dever é o de reproduzir os diversos matizes políticos e ideológicos, de forma que o conjunto da sociedade possa tomar suas decisões de posse de todos os fatos e matizes opinativos.

Em prol desse objetivo, hoje está sendo fundado o Movimento dos Sem-Mídia. Trata-se de um movimento que não está cansado de nada, pois mal começou a lutar pelo direito humano à informação correta, fiel, honesta e plural. Aqui, hoje, começamos a lutar pelo direito de todos os segmentos da sociedade de terem como expor suas razões, opiniões e anseios e de receberem informações em lugar desse monstrengo híbrido - gerado pela promiscuidade entre a notícia e a opinião - que a mídia afirma ser ‘’jornalismo’’.

São Paulo, 15 de setembro de 2007 Central Única dos Trabalhadores 3.489 - Entidades filiadas 7.690.598 - Sócios 22.533.798 - Representados Secretaria Geral - Dirigente responsável:Quintino Severo Secretaria Nacional de Comunicação - Dirigente responsável:Rosane Bertotti