sábado, março 31, 2007

Manifestoon - Legendado em Português

Via RS Urgente e portal Vermelho

O video acima é o curta de animação Manifestoon. Lançado em 1996 pelo cineasta independente Jesse Drew, o filme é uma espécie de colagem de desenhos animados e sintetiza, mais do que didaticamente, as principais idéias do Manifesto Comunista de Karl Marx e Friedrich Engels, escrito entre dezembro 1847 e janeiro 1848, primeiramente publicado em Londres, entre fevereiro e março deste último ano.

Apesar da resolução não ser das melhores, o filme está aí, disponível no YouTube e com legenda em português!

Vale a pena ler também a matéria do Vermelho sobre o filme.

quinta-feira, março 29, 2007

Biblioteca Virtual Oriente Médio Vivo

Compartilhando a informação enviada pelo Humam al-Hamzah, sobre mais um projeto do Oriente Médio Vivo:

Trata-se da Biblioteca Virtual Oriente Médio Vivo.

São centenas de livros de todos os temas relacionados ao Oriente Médio. Tem desde literatura islâmica, textos de cultura e religião até documentos oficiais dos conflitos atuais.

Todos os livros estão em formato PDF, são gratuitos, e nenhum tipo de cadastro é necessário para realizar os downloads. Vale a pena conferir!

Segundo Humam al-Hamzah, novos livros e temas serão adicionados diariamente.

terça-feira, março 27, 2007

Dos estranhos caminhos que trazem a este blog

Ontem chegou aqui alguém que digitou esta pérola no google:

"procuro uma pessoa que queira pagar minhas dividas financeiras"

...dá pra imaginar a frustração desta pessoa ao chegar neste blog??

Há alguns dias percebi certa aceleração na contagem das visitas, coisa que me fez observar mais interessadamente este mecanismo do saitiômetro, no sentido de tentar saber melhor afinal quem são as pessoas que aqui chegam. Tive surpresas boas, outras nem tanto.

Uma boa foi descobrir que o Vozes do Sul tem servido como fonte de pesquisa para muitas pessoas que buscam os mais diferentes temas e perspectivas para trabalhar com alunos em sala de aula. Este foi um retorno definitivamente gratificante.

Por outro lado, redescubro que aquilo que costumam chamar de curiosidade mórbida da alma humana realmente não tem limites. Uma das pesquisas no google que seguidamente traz pessoas até aqui, devido a esta postagem do João, é a busca por imagens da morte do menino João Hélio. Deve haver alguma explicação psicológica, filosófica, antropológica, sociológica bem boa que defina este tipo de interesse, mas que por mais que eu tente, segue fugindo à minha compreensão. E talvez até seja melhor nem entender.

sexta-feira, março 23, 2007

O direito de Israel de ser racista








Texto do site do jornal Oriente Médio Vivo, por Humam al-Hamzah.


O direito de Israel de ser racista

"Sempre que fazemos algo você me diz 'os Estados Unidos vão fazer isso, os Estados Unidos vão fazer aquilo'. Eu quero lhe dizer uma coisa bem clara: não se preocupe quanto à pressão dos Estados Unidos sobre Israel. Nós, o povo judeu, controlamos os Estados Unidos, e os estadunidenses sabem". Foi assim que o ex-primeiro ministro israelense, Ariel Sharon, se dirigiu a Shimon Peres, atual vice-premiê do Estado de Israel, em 3 de outubro de 2001, na rádio israelense Kol Yisrael.

O destino do povo estadunidense, ao contrário do que muitos pensam, é dirigido pela influência judaica nos Estados Unidos. Contra os próprios votos oficiais de cidadania que os 300 milhões de estadunidenses emocionadamente recitam pelo menos uma vez na vida, em voz alta, que lhes garante a "liberdade de influências inimigas internas e externas" em seu país, Israel comanda a política internacional dos Estados Unidos hoje como nunca antes.

Em novembro de 2006, o povo estadunidense colocou os Democratas no Congresso com a esperança de dar fim à ocupação ilegal do Iraque, trazendo as sofridas tropas de volta para casa. Ao contrário disso, porém, a democrata Nancy Pelosi, atual Porta-voz da Casa Branca, sob pedido do primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, e diretamente influenciada pelo Aipac (Comitê EUA-Israel de Assuntos Públicos), decidiu "revisar" a permanência das tropas estadunidenses no Iraque, em um ato que poderá anular o efeito causado pelos votos da "democracia" estadunidense.


O Aipac, fundado originalmente com o nome de "Comitê EUA-Sionista de Assuntos Públicos", é amplamente considerado como o lobby de política estrangeira mais poderoso em Washington. Seus 60 mil membros distribuem milhões de dólares a inúmeros membros do Congresso situados em ambos os lados do corredor. Também investem em uma rede de cidadãos influentes em todo o país, os quais pode mobilizar regularmente para apoiar seu objetivo principal - assegurar que não haja separação entre as políticas de Israel e dos Estados Unidos. Não é por acaso que o Congresso vota de maneira tão determinada em apoio a Israel. O National Journal, revista semanal estadunidense sobre política e o governo, posicionou o Aipac na segunda colocação no seu ranking de "organizações que mais influenciam a política dos Estados Unidos".

O mais recente assombro dos aliados Israel e Estados Unidos é o desenvolvimento nuclear do Irã. Apesar do enriquecimento de urânio do país estar de acordo com o Tratado de Não-Proliferação Nuclear e ser anunciado pelo governo iraniano como um "desenvolvimento energético pacífico", a pressão israelense sobre os Estados Unidos culminou em sanções econômicas ao país, além das contínuas ameaças de intervenção militar. Ironicamente, Ehud Olmert, um dos principais acusadores do Irã, revelou recentemente que Israel oficialmente possui armamentos nucleares e, após protestos dos países do Golfo de que "o mundo deve considerar o depoimento de Olmert uma ameaça global à paz e à segurança", nada aconteceu. Pelo contrário, Israel negociou outros 100 milhões de dólares (do próprio bolso do povo estadunidense) em armamentos com os Estados Unidos dias depois.

Antes tarde do que nunca, o povo estadunidense deverá acordar para o fato de que a sua liberdade é um mito, dependente da "liberdade" e das vontades de Israel. Bom será se isso acontecer antes de uma suposta invasão ao Irã, em que milhões de vidas inocentes poderão ser poupadas de um novo massacre baseado em uma outra mentira. Se Israel quer uma guerra com o Irã, que prepare o seu "exército mais moral do mundo" para resolver seus problemas.

Ao considerar a humilhante derrota contra o Hizbollah no último verão, porém, um ataque desse seria uma loucura que os israelenses não deveriam arriscar. Enquanto isso, o embaixador francês em Londres questionou: "porque o mundo aceita um paisinho que causa tanto problema?". De fato, o problema começa nos escritórios de Washington.

quinta-feira, março 22, 2007

Uma crônica anunciada

Beatriz Fagundes

Há menos de uma semana, a senhora governadora Yeda Crusius festejou um superávit nas contas públicas e, ontem, anunciou falta de verbas para pagar em dia parte dos funcionários.

O salário de quase 10% dos funcionários públicos estaduais vai atrasar. Sem ineditismo, trata-se de uma crônica anunciada. O interessante é que o corte vai atingir em cheio as categorias que votaram no projeto de Yeda Crusius e Paulo Afonso Feijó. Durante a campanha, parecia que conheciam tão bem os problemas do Estado que, ao assumirem, cobrariam as dívidas dos sonegadores, acabariam com as megaisenções fiscais, fortaleceriam os fiscais da Fazenda e administrariam o Estado com total apoio do funcionalismo. Mas, para quem não votou no projeto, e foram 46% dos eleitores gaúchos que votaram no projeto de Olívio Dutra e Jussara Cony, não causa qualquer surpresa a situação de hoje.

Existem modelos para o governo
Nos dias 7 e 8 de dezembro de 2006, foi realizado um seminário em Porto Alegre, organizado pelo PT, que teve como destaques as presenças do sociólogo paulista Ricardo Guterman e do advogado mineiro Carlos Morato. Durante dois dias, eles discorreram sobre o modo tucano de governar. Afinal, São Paulo está sob administração do PSDB desde o saudoso Mario Covas, e Minas Gerais passou antes por Aécio Neves, hoje no segundo mandato. O projeto é o mesmo para o Rio Grande, com pequenas diferenças, atendendo a singularidades regionais.

Em São Paulo o Estado diminuiu
No Estado de São Paulo, o dinheiro das privatizações levadas a cabo na década de 90 não amortizou a dívida pública, não promoveu o ajuste fiscal e sequer foi aplicado nas sempre carentes áreas sociais. Na teoria, a venda das estatais teria exatamente esse destino, qual seja, amortizar a dívida fundamentalmente, mas na prática a dívida pública triplicou. Os neoliberais paulistas, que servem de espelho para a atual administração estadual, superestimaram as receitas para apresentar superávit e promoveram congelamento salarial, aumento de taxas e passaram áreas essenciais dos serviços públicos para as chamadas OSCIPs (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público). Hoje, milhares de processos tramitam na Justiça, questionando o Estado e, na Assembléia, restam dezenas de pedidos jamais atendidos pela base parlamentar de CPIs. Qualquer semelhança não é mera coincidência.

Em Minas Gerais, o modelito ideal
Assim como em São Paulo, no território mineiro, o incensado Aécio Neves aplicou o tal “choque de gestão”, cujo eixo é o congelamento de salários e a redução do crescimento vegetativo da folha de pagamento. O modelo inclui avaliação do desempenho individual, carreiras, adicional de desempenho, prêmio de produtividade, perda de cargo público e instituição de emprego público, sendo que os novos empregados perderam, entre outras vantagens, o adicional por tempo de serviço. Além disso, instituíram o AVI (afastamento voluntário incentivado). Em Minas, foram criadas novas taxas, entre elas, a taxa para a segurança pública. Quem tem dinheiro e pode pagar conta com segurança, quem não tem... Além disso, majorou tarifas de energia elétrica, combustível e telefone, transferindo papéis fundamentais do Estado – saúde e educação – para a OSCIP, precarizando investimentos sociais e fortalecendo fundos de financiamento, enquanto fortalece a guerra fiscal. Qualquer semelhança passada, presente ou futura não é mera coincidência.

No que acreditar
Como diria aquele personagem do velho programa humorístico “Planeta dos Homens”, “não precisa explicar, eu só queria entender”. Ora, há menos de uma semana, a senhora governadora Yeda Crusius convocou uma coletiva para festejar que, nos dois primeiros meses do ano, houve um superávit nas contas públicas. E ontem, anunciou falta de verbas para pagar em dia parte dos funcionários. Como estamos entrando em fase de negociações salariais, e como se sabe que parcela considerável dos serviços públicos essenciais – é intenção do governo – devem ser entregues às tais OSCIPs, onde está a verdade? Teve superávit ou foi apenas um equívoco da superequipe de quatro pessoas que comanda o Rio Grande do Sul? Sim, pois os secretários de Estado fazem apenas figuração, ou não?

Notícias do Jornal O Sul do Dia 22/03/2007

quarta-feira, março 21, 2007

O RS URGENTE (NÂO!) PODE PARAR

O blog RS URGENTE, do Marco Weissheimer está perigando fechar as portas, ou melhor, os links! E isto é devido às dificuldades financeiras que ameaçam a Agência Carta Maior - dificuldades estas compartilhadas por publicações como a Caros Amigos e a Carta Capital.

Conheci o RS URGENTE apenas durante a campanha, no final do ano passado. Mas, desde então, tornou-se minha principal leitura diária e fonte de informação sobre os assuntos aqui do Estado, uma vez que não tenho estômago pra ler os jornais e praticamente não assisto TV.

Ou seja, já me é estranho demais, e certamente o é para muitos mais que eu, imaginar o dia-a-dia sem os textos do Marco Weissheimer - informativos, arejados, concisos, bem-escritos e coerentemente comprometidos com uma visão de mundo.


Uma das alternativas é conseguir patrocínio para o blog. Mas toda ajuda e outras sugestões são bem-vindas. Vai lá no RS URGENTE, deixa nos comentários ou envia por e-mail.

Esta é, definitivamente, uma boa causa pela qual lutar.

um milhão de blogs pela paz













A idéia é unir, entre 20 de março de 2007 e 20 de março de 2008,
Um Milhão de Blogs pela Paz. Aderir ao movimento significa que o blog ou blogueiro em questão concorda e luta pela retirada imediata de toda e qualquer tropa militar estrangeira do Iraque.

O movimento tem também um blog (em inglês) -
One Million Blogs for Peace Blog.

A página do movimento inaugurou ontem com 217 blogs integrantes, de 28 países diferentes - portanto, estou postando isto com algum atraso, desculpem! mas ainda está em tempo.

Neste momento já são 229 blogs. Pelo que vi, por enquanto só tem mais um blog brasileiro. Aqui está a
relação dos blogs.

Pelo que entendi, eles evitam incluir blogs coletivos. Increvi o implicante, mas estou pleiteando incrição pro Vozes do Sul também.

ah.. eu descobri o One Million Blogs... através do
Sabbah's Blog.


P.S: Postei quase o mesmo texto originalmente no implicante. estou re-postando aqui no sentido de atingir um número maior de pessoas possivelmente interessadas em participar.

Entrevista - Oscar Niemeyer

por: Ricardo Miranda

O arquiteto critica a humanidade, fala sobre Chávez, Lula e Bush e diz que as homenagens ao aniversário de 100 anos são um “equívoco”

Rio de Janeiro – Um mito vivo — embora ele ache o título uma grande besteira — que se mostra humano, frágil, perplexo com o mundo em que vivemos e conformado com a finitude, inclusive de sua obra. Esse é um paradoxo só aparente. Na manhã da última terça-feira, o arquiteto Oscar Niemeyer, 99 anos, abriu sua casa-escritório na cobertura do velho Edifício Ypiranga, na Avenida Atlântica, em Copacabana, para fazer um inventário da estupidez humana. Do alto de seu quase século, que completa em dezembro, narrou um pouco da vida de um comunista convicto em um mundo egoísta e predador. “O ser humano não tem sentido”, vocifera. Pode parecer amargo, mas na voz rouca de Niemeyer soa dramaticamente lógico. Para o grande arquiteto, nem sua obra tem de fato importância. Uma de suas angústias é a violência brasileira, fruto, segundo ele, das enormes desigualdades sociais do país. Por isso, quando fala em futuro, não pensa em novas obras. “Gostaria de olhar para a cidade e não ver favelas, não ver pobre na rua, olhar o povo satisfeito correndo na praia”, revela o crítico do modelo de self made man, importado da cultura americana. “O sujeito quer ser o vencedor. Isso é uma merda!”, desanca.

Niemeyer conversou com o Correio no lugar onde passa mais tempo, com incursões até o cavalete no corredor onde, sempre de pé, rabisca seus traços tão simples quanto geniais. Um dos projetos mais recentes é o monumento a Simon Bolívar com 100m de altura, que foi entregue ao presidente venezuelano Hugo Chávez. “Ele é um sujeito simpático, competente, patriota...”, aponta Niemeyer, que vê novos ventos soprando sobre a América Latina em oposição ao poder do presidente americano George W. Bush, que ele chama de “terrorista número um” do mundo. “Os países estão se transformando em repúblicas populares, de mãos dadas contra os americanos. Essa onda do Bush acabou”, decreta. Niemeyer acha que Lula poderia, inclusive, aproveitar o novo encontro com o presidente americano, no final do mês, para marcar posição. “Ele devia dizer que é brasileiro e que vai continuar defendendo o Brasil da pressão norte-americana”, sugere.

O apartamento na Atlântica é grande, mas não tem nada que possa ser caracterizado como luxuoso. É branco do piso às paredes, com espaços vazios, preenchidos por mesas, cadeiras e estantes empilhadas de projetos, maquetes e muitos livros, de autores como Jorge Amado, Dias Gomes, Hélio Silva e Fernando Morais. Na entrada, uma foto antiga da igrejinha da Pampulha, projeto seu em Belo Horizonte, e, numa parede próxima, um retrato de Luiz Carlos Prestes, ainda jovem. Niemeyer, que não quer ouvir falar em homenagem no ano de seu centenário, diz que sua vida passou voando. “É um minuto...A gente nasce e morre. Cada um dá sua historinha e vai embora. Eu deixo a minha historinha também”, diz. E que história!

“Deixo a minha historinha”

O senhor diz que a arquitetura não é importante, o importante é o homem. Que é preciso um homem mais humilde e solidário. O senhor acha que a arquitetura de hoje é o reflexo do homem moderno, egoísta e vaidoso?
Existem projetos que tenho prazer em elaborar. Outros, eu recuso. O lado humano da arquitetura sofre a influência do mundo capitalista e do poder imobiliário, que a corrompem e desmerecem. Tem certos princípios de que a gente não abre mão. Eu tive sorte, tive oportunidade de começar fazendo a Pampulha, depois veio Brasília...E aproveitei. Às vezes, temos uma chance boa e não sabemos dela tirar partido, aí não adianta nada.

Incomoda ao senhor a reverência exagerada, a veneração, ou, no bom português, o puxa-saquismo?
Me ocupa tempo demais, o que infelizmente não posso evitar. Mas compreendo, é natural, se eu ficar me escondendo fica meio esquisito, meio misterioso, tenho que me abrir.

O senhor já escreveu que tudo na vida é precário e ilusório e que, diante do tempo, tudo vai ser esquecido. Até as suas obras?
É tudo tão precário, como as nossas pobres vidas. É uma vaidade tola, isso não existe. O sujeito tem que ser simples, trabalhar, ser cordial, ter prazer em ajudar os outros. Um dos problemas hoje do arquiteto, aliás, de qualquer profissional, é que ele não quer ler. Não se interessa pela leitura. O mundo dele é só a vida dele. O horizonte dele é muito pequeno. Ele entra para a vida sem saber como se portar neste mundo tão difícil de lidar, cheio de preconceitos e privilégios. Uma vez eu estava aqui no escritório com alguns estudantes, uma delas perguntou para outra: “Você já leu Eça de Queiroz?’. A outra respondeu: “É filho da Raquel de Queiroz?”. É uma merda, né. Estamos criando agora um Instituto de Arquitetura e Humanidades em Niterói e a finalidade é melhorar o nível das pessoas. Além de arquitetura, o curso abrange conferências sobre filosofia, história... Depois de dois meses, o aluno sairá diferente.

O senhor acha importante que o arquiteto conheça os problemas sociais da cidade onde atua?
Arquitetos e todo mundo. Para que se saiba o que está passando, que o planeta não é nosso, que está envelhecendo como a gente. Aqui no escritório tenho palestras sobre filosofia toda terça-feira, há cinco anos, e nenhum de nós quer ser intelectual, a gente quer ter uma idéia mais clara dos problemas da vida. Falamos do planeta Terra, dos problemas de água, de frio, de calor, desse planeta no fim da galáxia, longe de tudo... E saber que o mundo é mal dividido, que todos devem ter as mesmas oportunidades. Aqui, como nos Estados Unidos, o sujeito quer ser o vencedor, quer dinheiro. É pensar pequeno demais. Temos que crescer, viver com simplicidade, com os filhos, ter amizade pelas pessoas. O importante não é o sujeito ver as pessoas procurando adivinhar os defeitos, mas admitindo que todo mundo tem um lado bom. O Lênin dizia que 10% de qualidades já eram o suficiente.

Citando Lênin, ele certa vez disse que “nossa estética é nossa ética”. O senhor acha que as desigualdades sociais provocam a violência?
É lógico. A pobreza, a revolta, o sujeito que nasce na favela e enfrenta preconceito pelas ruas, a polícia atrás. Ele age como um revoltado. A grã-finagem já olha a garotada nas favelas como futuros inimigos. E a questão de cor vai tomando um sentido assim de racismo. É horrível!

O Brasil é um país racista?
Sempre foi. O pai do Chico Buarque (Sérgio Buarque de Holanda) escreveu um livro muito bom (Raízes do Brasi) em que contava que os portugueses davam mais atenção aos índios. E que os pretos foram sempre olhados como escravos. De tal forma que, quando um índio casava com uma negra, perdia o emprego. E isso existe. A gente tem que saber que o ser humano não representa nada, é desprezível, não tem tarefa nenhuma aqui, não tem perspectiva, mas tem que viver. E a maneira de viver é de mãos dadas, num clima de boa vontade, ter prazer em ser útil.

(O arquiteto João Batista Vilanova) Artigas dizia que a felicidade de um povo se mede pela beleza de suas cidades. Como o senhor vê a arquitetura no Brasil hoje?
Acho que a felicidade do povo é ter uma casa para morar, e ter o suficiente para comer e levar a vida decentemente. Não tem nada a ver com arquitetura. A arquitetura não muda a vida, mas a vida pode mudar a arquitetura.

Com o desenvolvimento das cidades, a arquitetura perdeu poder para as construtoras, para a especulação imobiliária?
Ah, é lógico. Se você for examinar Brasília, o Plano (Piloto) tinha muitos espaços vazios. Arquitetura e urbanismo são o jogo de volumes e espaços livres. E muitos dos vazios foram ocupados, não levaram em conta que o vazio é importante. Quando se faz um prédio, o terreno que o cerca faz parte da arquitetura. As cidades se degradam porque crescem demais. Uma cidade feita para 500 mil (habitantes), que tem um milhão, dois milhões, não pode funcionar bem. O urbanismo moderno já adota algumas diretrizes: a cidade não deve crescer descontroladamente, deve se multiplicar. Quando chega numa densidade tal, faz-se outra afastada. E em volta das cidades, ficam os terrenos livres, arborizados. Isso é urbanismo. Nós não seguimos isso, naturalmente. O Rio daqui a pouco estará ligado a São Paulo.

Em Brasília, as pessoas com mais poder aquisitivo, ficam no Plano Piloto. As demais, mesmo trabalhando em Brasília, acabam morando mais longe...
É claro que as cidades-satélites não deveriam existir. E, como a pobreza é maior, sua densidade demográfica é hoje superior à do Plano Piloto. Uma cidade dividida entre pobres e ricos.

Brasília ainda é uma obra inacabada?
Toda cidade exige de repente que se examine se ela está em ordem. Depois da construção da cidade, as qualidades e os defeitos se tornam mais evidentes. Mas o desenho do Lucio (Costa, urbanista) para Brasília tem muita qualidade.

Qual foi sua última viagem a Brasília?
Não vou há muito tempo. Quando cheguei lá a primeira vez, parecia que estava no fim do mundo. Não tinha automóvel, não tinha telefone, não tinha nada...

Hoje quando o senhor vai a Brasília, como se sente? Em casa?
Eu gosto é do Rio. Eu gosto de olhar o mar. De poder ir à praia. Não vou mais, mas gostava de ir...

O carioca tem muitas restrições em relação a Brasília...
Brasília foi um momento de otimismo, de coragem...uma aventura. O objetivo era bom, levar o progresso para
o interior. Foi um momento de otimismo do povo brasileiro.

O senhor diria que as curvas da mulher são sua principal fonte de inspiração?
Quando me perguntam sobre formas, na arquitetura, eu lembro de André Malraux (primeiro ministro de Cultura na França, nomeado por De Gaulle), que disse que tinha internamente um museu dentro dele, de tudo o que gostou e amou na vida. Eu também sou assim quando faço um projeto, tenho reminiscências do passado. Às vezes faço um projeto sem pegar no lápis e, quando sento na prancheta, já tenho uma idéia. Outras vezes não, é desenhando que a solução aparece. Minha preocupação na arquitetura é reduzir os apoios, as colunas, e quando isso ocorre a arquitetura parece mais audaciosa. Eu procuro que ela crie espantos, crie surpresas, que
a pessoa, ao ver um prédio meu, tenha a sensação de que não viu nada parecido.

Sua convicção comunista nunca foi abalada, levando em conta os rumos do mundo contemporâneo?
Eu era de família católica, com retrato do Papa na parede. Mas a vida é injusta demais. Eu sou um comunista que acha que é preciso mudar o mundo, que nada vai se resolver com paliativos, o capitalismo é ruim, divide os homens, cria poder, cria a violência. Para melhorar, tem que mudar. E vai mudar, porque a miséria é a maioria. É o proletariado no poder.

O comunismo não é uma utopia?
Utopia é querer consertar o capitalismo, achar que ele poder ser melhorado. Está tudo errado, é uma doutrina de miséria, de egoísmo. O Brasil é feito os Estados Unidos: o sujeito começa a vida e quer ter poder, ser rico, ganhar dinheiro, dominar. Uma merda! As pessoas não entendem que não valem nada, não tem importância, ninguém tem importância.

Queria falar sobre o presidente cubano Fidel Castro...
Ele aproveitou a oportunidade e tirou Cuba do poder dos americanos, que faziam do país o seu quintal.

Cuba deve continuar sob o domínio da família Castro?
Se você diz família Castro se referindo ao povo cubano, está bom. O povo cubano é que levou Fidel Castro ao poder e está lutando para que ele resista. Como o (Hugo) Chávez (presidente da Venezuela), que quer mudar
o destino do povo venezuelano. Quando fica difícil a revolução, aparece não raro um militar, porque eles foram criados com a pátria dentro do peito – com exceções, é lógico. Chávez é um sujeito simpático, competente, patriota...

Ele pode ser o sucessor de Fidel como líder de esquerda na América Latina?
Não sei. Se você olhar para trás, a coisa está mudando, os países estão se transformando em repúblicas populares, a maioria dos países da América Latina está de mãos dadas contra os americanos. Essa onda do Bush, o terrorista número um, acabou, ele está sem saber o que vai fazer. Mas como ele tem a força, ele pode fazer muita coisa. O que muda tudo é o inesperado, ele pode jogar com isso ainda.

O que o senhor acha da posição do presidente Lula?
Ele é esperto e não está combatendo o Chávez. Para o meu gosto, eu queria que ele fosse mais freqüente no contato com o pessoal que está defendendo a América Latina. Nosso país está ameaçado. Os americanos foram inimigos até hoje dos mais pobres, porque agora eles vão mudar?

O presidente americano esteve agora em São Paulo...
Eu protestei (em cerimônia na Academia Brasileira de Letras).

...e volta a se encontrar com o Lula no final do mês. O que o senhor gostaria que ele dissesse a Bush?
Dizer que ele é brasileiro e que vai continuar defendendo o Brasil da pressão norte-americana, que ele está com toda a América Latina, que é uma briga comum e que não abre mão disso.

O senhor gosta do governo do Lula?
É um operário no poder. Imagine se não fosse o Lula, se tivesse vindo um outro... A vitória do Lula foi muito importante para o Brasil. E para a América Latina também.

O senhor acha que o Lula é de esquerda?
Não é comunista, é operário. Mas a formação dele não é de quem nasceu rico e quer ficar mais rico.

O senhor viverá esse ano um certo dilema. Assumidamente não gosta de homenagens, comendas, mas muita gente no país quer lembrar o seu centenário. Como vai conviver com isso?
Vou procurar ficar quieto no meu canto. Não posso impedir que venham falar comigo, seria pior. Mas nada disso tem importância, eu sou um sujeito como outro qualquer. É um equívoco, não há razão para homenagens...

Não é todo mundo que faz 100 anos. Falta de assunto... O senhor disse recentemente: “A vida é muito curta. Não dá tempo de fazer tudo”. É tão rápido assim?
É um minuto... A história dos homens é a mesma, as mesmas esperanças, os mesmos devaneios, as mesmas desilusões, as mesmas angústias, sem saber nem por que, nem para que passam por aqui e desaparecem. E ver a morte dos parentes e amigos, uma coisa permanente e inevitável, é muito duro. Nós éramos seis irmãos, agora estou sozinho. O desaparecimento de cada um deles foi uma tristeza... O ser humano não tem sentido. Por isso eu digo: o sujeito tem que se informar. Não é para ficar mais iluminado não, mas poder sentir os mistérios do universo e de sua própria vida, discutir de onde tudo isso apareceu, procurar discutir as hipóteses.

O senhor tem algum grande projeto que queira realizar?
Eu gostaria de olhar para a cidade e não ver favelas, não ver pobre na rua, olhar o povo satisfeito correndo na praia, ninguém querendo ser importante. Essa idéia de importância é tão ridícula, esse negócio de achar que venceu na vida... Isso é uma merda!

Se daqui a 100 anos, alguém falar em Oscar Niemeyer, como o senhor gostaria de ser lembrado?
Uma pessoa normal, como qualquer outra. Cada um na vida vem, conta sua historinha e vai embora. Eu deixo
a minha historinha também.

Publicada em: Correio Braziliense - 18 março 2007
URL: Ministério das Relações Exteriores

CONJUNTURA: SOBRE O TEMA PAPEL E CELULOSE

Por José H. Hoffmann e Lino De David

Assessoria da bancada do PT

I - CONJUNTURA SOBRE O TEMA PAPEL E CELULOSE:

Plantio de eucaliptos nas áreas de fronteira: A Stora Enso vem adquirindo áreas na faixa de fronteira e encaminhando ao INCRA, órgão que esta com a atribuição de instruir o processo e fazer o parecer técnico, que será posteriormente submetido ao Conselho Nacional de Defesa - CND. A empresa Stora Enso trabalha em três frentes: a) pressionar o INCRA para que este dê um parecer favorável b) mudar a lei no Congresso Nacional, reduzindo de 150 Km para 50 Km a área de fronteira e c) trazer para a FEPAM a responsabilidade de emitir o laudo técnico ambiental que daria suporte ao INCRA. Recentemente o IBAMA do RS emitiu parecer afirmando que não é sua competência emitir laudos técnicos sobre a plantação de eucaliptos nas áreas de fronteira, o que de certa forma reforça a posição da Stora Enso.

No dia (01/03/07) a Governadora Yeda recebeu em audiência o Sr. Nils Grafström, Diretor da Divisão América Latina da Stora Enso, o qual informou que só daqui a cinco anos a empresa vai anunciar se construirá ou não uma fábrica no RS. Porém, a informação mais importante foi a de que sobre o processo legal de compra de terras pela multinacional em áreas de fronteiras, que impediu o registro das terras adquiridas no ano passado, foi necessária a constituição de empresa com capital nacional. "Houve um processo burocrático que já foi resolvido", disse o executivo da Stora Enso.

A sociedade gaúcha deveria exigir do Ministério Publico Federal e Estadual que se abra uma investigação para apurar a composição e o controle acionário desta empresa, bem como a origem dos recursos para a compra das terras e a forma de destino da base florestal à Stora Enso no futuro.

Termo de Ajuste de Conduta - TAC: Frente ao fato de que no RS, não tem Zoneamento Ambiental para Atividades de Silvicultura e as empresas estavam plantando eucaliptos em larga escala, em maio de 2006, o Ministério Público Estadual - MPE e o Estado do RS através da Secretaria do Meio Ambiente e FEPAM, firmaram o TAC.

O TAC, em sua cláusula quarta permitia a FEPAM durante o ano de 2006, fornecer às empresas uma autorização em substituição ao licenciamento completo, para que as empresas continuassem a plantar os eucaliptos, sem sofrer interrupção em seus planejamentos, o que na prática foi uma flexibilização da legislação. Esta cláusula teve seu prazo de vigência encerrado em 31/12/06 e a mesma não foi prorrogada, apesar da pressão do Estado para que isso se efetivasse. Portanto se as empresas estiverem plantando eucaliptos ou é sobre áreas com autorização precária ou estão sem amparo legal, em quanto o zoneamento não for aprovado.

Surpreendentemente, matéria no Correio do Povo de 09/03/07, a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, informa que a FEPAM voltará a licenciar empreendimentos florestais com área inferior a 1000 ha, antes da normatização do Zoneamento Ambiental para a Atividade de Silvicultura pelo CONSEMA, previsto somente para o segundo semestre de 2007.

Devemos cobrar do Ministério Público Estadual - MPE, solicitando o cumprimento do TAC e a imediata apresentação do já elaborado Zoneamento Ambiental para a Atividade da Silvicultura ao CONSEMA, para que este o coloque em debate na sociedade, como prevê a Cláusula Primeira, Parágrafo Segundo do TAC.

Zoneamento Ambiental para Atividades de Silvicultura: O documento foi elaborado durante o ano de 2006 e apresentado ainda em dezembro ao governador Rigotto, porém, os documentos só foram tornados públicos no final de janeiro de 2007.

As reações dos prefeitos da metade sul e principalmente das empresas foi de negação do mesmo, afirmando que o referido zoneamento é muito restritivo e precisa ser abrandado. A posição contraria das empresas ao zoneamento feito pelos técnicos da FEPAM, Universidades, outros órgãos públicos e especialistas de varias áreas, tem base científica e técnica e foi conduzida pelo setor público, deve-se ao fato de que no TAC em sua Cláusula Terceira, Parágrafo Terceiro, determina que em caso de haver plantio de eucaliptos em áreas proibidas pelo zoneamento, as mesmas deverão ser recuperadas e se for o caso, desativadas total ou parcialmente.

É bom lembrar que através de um termo de cooperação a AGEFLOR pagou parte deste trabalho de zoneamento, contratando a BIOLAW Consultoria Ambiental, que agora a própria AGEFLOR o nega.

Cedendo as pressões dos grandes grupos econômicos a Governadora Yeda, criou um novo grupo de trabalho coordenado pela senhora Vera Pitoni, Diretora do Departamento de Florestas e Áreas Protegidas - DFAP. Segundo a Secretária do Meio Ambiente Vera Callegaro, o objetivo do grupo é sanar os questionamentos do Arranjo Produtivo de Base Florestal. O grupo de trabalho tem até 31/03/07(prazo que dificilmente será cumprido) para apresentar um novo zoneamento o qual será submetido ao Conselho Estadual do Meio Ambiente – CONSEMA. Posteriormente serão feitas audiências públicas para o debate com a sociedade.

Fica evidente que o objetivo do governo e das empresas é esconder o bom trabalho técnico feito até aqui e apresentar uma nova versão para o CONSEMA e a sociedade.

O mais lamentável é a composição do grupo de trabalho, formado predominantemente por entidades interessadas no plantio de eucaliptos, senão vejamos: Secretarias do Desenvolvimento e Assuntos Institucionais – SEDAI, Ciência e Tecnologia – SCT e Agricultura - SAA, FEPAM, FARSUL, FIERGS, AGEFLOR, FETAG, SIDIMADEIRA, FAMURS, Procuradoria Geral do Estado e a Frente Parlamentar pró Florestamento. O referido grupo é coordenado pela Vera Pitoni, diretora do DEFAP. O presente grupo de trabalho foi constituído por portaria no DOE de 22/02/07 e alterado em 13/03/07. Este grupo tem legitimidade para propor um novo zoneamento?

PL 071/2007 do Deputado Nelson Härter em tramitação nesta casa, propõe que o Zoneamento Ambiental para a Atividade de Silvicultura, seja sua conclusão prorrogada até dezembro de 2011. Da mesma forma tenta propor que o licenciamento ambiental para o plantio de eucaliptos em áreas acima de 1000 ha seja feito sem o EIA-RIMA, o que é proibido pela legislação ambiental.

Posição do PT: Durante a campanha eleitoral ficou clara a posição de que não éramos contra a implantação das fábricas de celulose, porém exigíamos a rigorosa aplicação da legislação ambiental. Veja o que consta no programa de governo “Olívio Governados 2006”: “Exigir a realização prévia do Zoneamento Ecológico-Econômico e do Estudo de Impacto Ambiental para a implantação de cultivos de árvores exóticas em larga escala, especialmente no bioma Pampa. Vincular o licenciamento ambiental à manutenção da biodiversidade e à regeneração das Áreas de Preservação Permanente, da Reserva Legal e de corredores ecológicos, bem como ao cumprimento de eventuais medidas mitigatórias e compensatórias para as populações locais”.

Ministério Publico Federal – MPF: Existe um Inquérito Cívil Público em andamento em Rio Grande. Em Pelotas o MPF esta juntando documentos.

1 - O Contexto da elaboração do Zoneamento:

As empresas de celulose e papel (Stora Enso, Aracruz Celulose e Votorantim) iniciaram a compra de áreas e aceleram os plantios de lavouras de árvores exóticas em 2004 e 2005, sem que o Poder Público tivesse definido em que áreas isto poderia ser feito sem causar danos ambientais e econômicos irreparáveis. Diante de tal situação o Ministério Público Estadual entrou em campo e a solução seria a paralisação dos plantios até que o zoneamento florestal indicasse os locais permitidos. Esta solução radical implicaria em prejuízos para as empresas. Mediante o impasse foi encontrada uma solução mediada que se traduziu num Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Neste o Estado se comprometia a concluir o Zoneamento até 31 de dezembro de 2006 e as empresas continuariam os plantios com o compromisso de erradicar futuramente os que por ventura estivessem fora das zonas recomendadas.

Ao longo do ano de 2006 inúmeras vezes a imprensa registrou notícias sobre o andamento do zoneamento, quase sempre tendo como pano de fundo a necessidade da conclusão do mesmo até o final do ano sob pena dos plantios serem suspensos em 2007. Numa dessas notícias, lá por meados do ano, foi informado que a Ageflor (Associação gaúcha da Empresas Florestais), entidade que congrega as empresas interessadas no zoneamento assinou um acordo pelo qual colocava a disposição do Estado recursos e profissionais para acelerar os trabalhos. Finalmente no apagar das luzes de 2006 a mídia noticiava, com alguma pompa, que o então governador Germano Rigotto receberia em audiência o Secretário do Meio Ambiente, o Presidente da Fepam e representantes das empresas de papel e celulose para apresentar o Zoneamento Ambiental. No dia posterior, sem a euforia da véspera, porta vozes das empresas presentes na reunião com o Governador desconversavam dizendo que trabalho apresentado era uma versão preliminar. Esta conversa era um indicativo evidente de que as empresas não gostaram do trabalho técnico da FEPAM, que lhes havia sido apresentado.

Começava aí o trabalho de desconstituição do zoneamento técnico, numa tentativa de facilitar a vida das empresas. Esta desconstituição ganhou rapidamente aliados importantes como a governadora Yeda cuja campanha eleitoral foi irrigada com recursos das papeleiras, os deputados eleitos com recursos financeiros das mesmas, os prefeitos dos municípios onde se situarão os plantios ou as plantas industriais etc...

2 - Da seriedade do Trabalho:

A nossa estratégia de impedir que os interesses econômicos desconstituam o trabalho feito pela Fepam precisa levar em conta a seriedade e o caráter científico da obra. Pontos como a composição da equipe técnica e a amplitude de instituições envolvidas e a metodologia utilizada podem dar indicativos nesta direção.

2.1– Da equipe técnica e multiplicidade de Instituições:

O zoneamento é composto por três volumes que totalizam 303 páginas. A equipe técnica responsável pelo mesmo compreende dez profissionais de cinco formações diferentes dando-lhe um razoável caráter multi disciplinar Além disso, contou com a ajuda de 151 colaboradores das mais diversas profissões e instituições. Entre os profissionais destacam-se cientistas com doutorado em biologia, engenharia florestal, agronomia, engenharia química, botânica, meteorologia, silvicultura, recursos hídricos, solos, sensoriamento remoto etc. Das instituições destacam-se a UFRGS com o Instituto de Pesquisas hidráulicas, o Centro de ecologia, a faculdade de agronomia, o departamento de solos, o departamento de zoologia, o sensoriamento remoto, o Instituto de Geociências e o departamento de botânica. Tambem colaboraram a Universidade Federal de Viçosa, a Universidade Federal de Santa Maria, Universidade Federal de Lavras, Universidade de São Paulo (USP), Ulbra, Unijuí, PUC, FURG, UCPEL, Embrapa, FZB, Ibama, Emater e Fepagro.

2. 2 - Os objetivos e princípios norteadores:

Os objetivos e princípios norteadores expressos na parte inicial do trabalho desmentem aqueles que querem fazer crer que o zoneamento veio para inviabilizar os plantios de árvores exóticas no RS. Diz um deles ''inserir a silvicultura como alternativa de diversificação das atividades produtivas locais” e o outro:'' compatibilizar a atividade de silvicultura com a conservação de patrimônio arqueológico, paleontológico, histórico, cultural, social e turístico''. Entre os princípios norteadores destacam-se os seguintes: '' buscar o fortalecimento e a diversificação da economia local, evitando a dependência da produção florestal a um único produto'' e ''promover o desenvolvimento ambiental, econômico e social das regiões em que se insere a atividade florestal''.

2. 3 – A metodologia:

O estudo científico partiu da divisão de território gaúcho em unidades de características naturais semelhantes. Estas unidades com alta homogeneidade interna foram definidas através de cruzamento de bases digitais de geomorfologia, vegetação, solo e altimetria. O mapa resultante destes cruzamentos foi submetido a especialistas em oficinas organizadas para definira as unidades de paisagem natural do RS. Neste processo foi definido que o RS possui 45 unidades de paisagem natural com alto grau de homogeneidade e sobre cada uma delas foram feitas as recomendações para os plantios de árvores exóticas. Para cada uma das 45 unidades foi feito um estudo das suas potencialidades e vulnerabilidades para a atividade de silvicultura. Para cada unidade o estudo levou em conta os seguintes critérios: grau de proteção, áreas importantes para a biodiversidade, localização das espécies da fauna e flora endêmicas e criticamente ameaçadas de extinção, fragilidade dos solos para a atividade da silvicultura, disponibilidade hídrica, uso e ocupação atual do solo, localização dos sítios arqueológicos e paleontológicos, localização de comunidades indígenas e quilombolas, potencial turístico e aspectos sócio-econômicos.

3 - A Inconsistência da crítica ao “excessivo ecologismo” do zoneamento:

Vozes interessadas na defesa dos interesses das papeleiras tem argumentado que o zoneamento é excessivamente ambientalista. Esta crítica não resiste a uma análise da base científica em que o mesmo foi realizado. Vários dos cientistas que ajudaram na elaboração do trabalho tem sua formação de pós-graduação e doutorado em universidades americanas. É sabido que a cultura das mesmas não é exatamente a preocupação ambiental. Mas mais do que isto é preciso perguntar se alguns dos critérios usados na definição do trabalho são ''exagerados''. E estes critérios estão acima arrolados. Assim, seria razoável abrir mão do critério de proteção da biodiversidade?, da proteção de espécies de flora e fauna endêmicas ameaçadas de extinção?, da proteção de solos frágeis para a silvicultura ?, do risco da falta de disponibilidade hídrica?, da garantia de preservar as áreas atuais ou futuras pertencentes a quilombolas ou comunidades indígenas?, da garantia de manter os atrativos turísticos das paisagens naturais ? Quais destes critérios os críticos do zoneamento querem eliminar? E os gaúchos vão concordar com estas eliminações? Esta é a essência do debate. Este zoneamento não foi feito por um bando de irresponsáveis que quer inviabilizar as papeleiras. Pelo contrário, ele viabiliza os plantios de lavouras de plantas exóticas preservando os aspectos acima referidos.

4 - Algumas conclusões e recomendações do zoneamento:

As recomendações do zoneamento para cada uma das 45 unidades dá uma dimensão da seriedade e importância do trabalho. Estas recomendações se baseiam nas características identificadas a partir dos critérios científicos utilizados. Aqui são relatadas algumas destas recomendações:

Nas bacas dos rios Santa Maria e Ibicuí que representam risco de déficit hídrico superficial somente serão permitas plantações florestais após estudos em escala local que demonstrem a disponibilidade hídrica para o desenvolvimento da atividade;

Recomenda-se a proteção integral dos banhados e matas ciliares identificadas pela sua importância na regularização dos fluxos hídricos e biodiversidade da bacia do Santa Maria, identificados em estudos realizados pelo DRH (departamento de Recursos hídricos).

Deverá ser mantida uma faixa de proteção em torno dos banhados de 150 metros a partir da cota máxima das enchentes ordinárias.

São excludentes de plantações florestais as áreas de butiazais e as várzeas dos rios Quaraí e Ibucuí.

Na unidade correspondente à margem direita do rio Uruguai, na confluência com o rio Quaraí representativa da única área de ocorrência da vegetação Savana-Estépica-Parque existente no RS, não serão admitidas plantações florestais com espécies exóticas.

Deverá ser mantida uma faixa de 100m no entorno de sítios arqueológicos e paleontológicos.

Na faixa arenosa entre as lagoas Mirim e Mangueira recomenda-se que as áreas de plantações atualmente existentes, após a exploração deverão ser ambientalmente recuperadas.

Na unidade correspondente ao Planalto dos Campos de Cima da Serra composta pelos vales encaixados do rio Pelotas até o limite dos municípios de Pinhal da Serra e Barracão não serão admitidos florestamentos com espécies exóticas.

Em várias unidades tem recomendações para que somente um percentual das propriedades sejam utilizadas no plantio de árvores exóticas. Por exemplo, na unidade que compreende Lavras do Sul e o norte dos municípios de Dom Pedrito e Bagé a recomendação é para que propriedades até um módulo usem nesta atividade até 50%; as com 1 a 5 módulos até 45%; de 5 a 10 módulos, até 40%; de 10 a 20 módulos, até 35% de 20 a 40 módulos até 30% e as acima de 40 módulos até 25% da área.

Gabinete Dep. Est. Marcon - PT-RS
Fone: (51) 3210-1801 - marcon@al.rs.gov.br

O ESTUPRO DE IRAQUIANAS COMO TÁTICA DE GUERRA

Katarina Peixoto*

Haverá o dia em que um teórico de guerra enfrentará o estupro das mulheres das regiões militarmente ocupadas como uma das categorias que determinam a dominação? Algum dos que se debruçam a pensar e a analisar com seriedade a incursão anglo-americana no Oriente Médio tratará da violação sexual das mulheres como uma de suas marcas? Ou vão se debruçar sobre a possibilidade de descrição do que faz da violência sexual uma categoria militar?

Essas questões se põem não apenas porque o presidente dos Estados Unidos da América acaba de cumprir um roteiro por alguns países da América Latina. Não se põem, apenas, porque o estupro se tornou uma tática da ocupação do Iraque, levando-nos a creditar aos EUA, junto às atrocidades cometidas contra os iraquianos desde a invasão, em 2003, a responsabilidade pelo avanço do fundamentalismo, no mundo. Essas questões se impõem porque elas põem em jogo a autoridade Política, categoria sem a qual o poder não tem qualquer dignidade.

Essas questões também se apresentam diante da estranha declaração, feita pelo Sub-Secretário de Estado americano para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, segundo a qual a situação dos direitos humanos, no Brasil e nos demais países desta viagem, estaria na pauta da agenda de George W. Bush.

A falta de autoridade que sobressai dessa declaração de Thomas Shannon, não se diz apenas porque os EUA estão cometendo atrocidades contra os direitos, o multilateralismo e a inteligência política do mundo. Não se diz, tampouco, do fato de que o documento no qual se baseiam as acusações de violações ser um texto militante, provinciano e juridicamente tosco. Não se evidencia somente porque esse "relatório anual sobre a situação dos direitos humanos" forja a acusação, falsa e sedutora - sobretudo aos monopólios da comunicação - de que há, no Brasil, censura a "membros da imprensa".

A declaração de Shannon é estranha porque pretende estar autorizada a acusar violações que os EUA estão cometendo aos olhos do mundo. Acusações que encontram nas práticas da ocupação militar do Iraque um verdadeiro paradigma em termos de barbárie.

Não se trata de negar as violações aos direitos humanos no Brasil, cujas denúncias nunca são demais, sobretudo porque são problemas que só têm se agravado. A prática da tortura, a impunidade dos militares acusados de violação dos direitos humanos - portanto, a equiparação da conduta militar com a criminosa -, as violências cometidas contra as crianças e adolescentes e, claro, contra as mulheres, são reais e devastadoras. Trata-se, isto sim, de questionar a autoridade dos EUA em denunciar ações que comete em várias partes do mundo e que têm a marca tenebrosa do avanço e da afirmação de práticas violentas.

Nesse mês em que se comemora o Dia Internacional das Mulheres, vale lembrar algumas das vítimas e pelo menos uma das vozes que se levanta, lá onde menos se pode esperar, para reivindicar a autoridade Política de que se deve fazer a luta das mulheres. Vamos ao Iraque, a fonte de autorização de que os EUA podem, hoje, se servir para exigir qualquer política, com o mínimo de legitimidade. Não é só porque violaram o direito internacional e a ONU e não é só porque mentiram para o mundo a respeito das armas de destruição em massa que o Iraque de Saddam não tinha, mas porque não há ocupação militar que seja legítima. Por definição, ocupação militar é algo que se faz em nome de uma agenda de violência.

A agenda que abriu as portas, talvez algum teórico de guerra venha a nos descrever, para algumas das mais brutais atrocidades cometidas contra mulheres, meninas e os direitos humanos.

Neste dia 12 de março, completa-se um ano da morte da garota Abeer Qassim al-Janabi, de 14 anos, numa cidade ao sul de Bagdá. A garota foi estuprada por soldados norte-americanos, enquanto o seu pai, a sua irmã e a sua mãe eram mortos. Abeer foi estuprada escutando os tiros que mataram a sua família, num dos quartos da casa. Depois que todos os cinco soldados terminaram o estupro, um deles deu dois tiros na sua cabeça e ela com sua família foram todos incinerados. No último 22 de fevereiro, as notícias sobre o julgamento dos soldados envolvidos nessa atrocidade começaram a vir à tona e pudemos ficar sabendo que a "ação" foi decidida num jogo de cartas e que a menina foi escolhida porque só havia um homem na família, de modo que ela era um "alvo fácil".

A condenação desses soldados, de um grupo de elite do exército baseado no Estado do Kentucky, foi celebrada como a demonstração do caráter civilizatório do poder ocupante. Seria uma maneira de provar que, nos EUA, esse tipo de atrocidade recebe uma punição exemplar, bem como, também, uma maneira de reduzir a atrocidade às condutas particulares de cinco soldados, dentre eles um com "graves problemas mentais", que teria matado a família de Abeer enquanto um de seus comparsas a violentava. Seria, caso não ficássemos sabendo que o estupro se converteu em tática de guerra, ou da ocupação militar. Seria, caso não houvesse uma jovem iraquiana que tornou o seu blog uma morada da força do testemunho da história.

Poucos dias depois de publicado o veredicto condenando os soldados norte-americanos que mataram Abeer e sua família, mais um estupro foi denunciado, no Iraque. Desta vez, protagonizado pelas forças de segurança do país, que foram treinadas pelo exército norte-americano. A notícia do estupro de Sabrine Al-Janabi foi dada como sendo a "alegação" de uma sunita de que forças de segurança "xiitas" a teriam estuprado. É uma maneira de reduzir a gravidade dos conflitos na região, como se as atrocidades lá cometidas fossem de responsabilidade das "facções árabes". Esse é um velho expediente de poderes colonizadores, não deveria ser necessário lembrar: gerar ou inventar uma guerra civil, para denegar as próprias responsabilidades políticas ou para facilitar os seus negócios e a sua dominação pela força.

Sabrine Al-Janabi é o nome da "mulher sunita que vem acusando forças de segurança do país, que são xiitas, de estupro". Ela existe, tem uma família, um lar, um corpo e muita coragem. No Iraque e em países de maioria muçulmana, nos conta a blogueira Riverbend, que se esconde sob um pseudônimo, estupro é assunto privado, familiar, costumeiramente vingado, dando início a um conflito de talião, sem fim. Ninguém, menos ainda uma mulher violentada, torna a violência de que foi vítima um assunto público, impunemente. Por que essa mulher, Sabrine Al-Janabi, fez isso, indo para a tevê, a Al-Jazeera, para denunciar o que lhe ocorreu?

O primeiro-ministro do Iraque ocupado, Nouri Al Maliki, insinuou que essa denúncia não passava de uma tentativa de desestabilizar o país. Essa declaração foi suficiente para que a curra coletiva de Sabrine tenha sido tratada como mais um capítulo numa guerra civil que não parece ser de
responsabilidade nem da ocupação militar, nem do saque do petróleo do Iraque e menos ainda da brutalidade política do governo autorizado pelos anglo-americanos.

Haverá o dia em que um teórico de guerra enfrentará o estupro das mulheres das regiões militarmente ocupadas como uma das categorias que determinam a dominação? Haverá o dia em que mulheres como Sabrine terão o direito ao respeito a sua dor?

Nesse dia, a autoridade política de um país em denunciar violações de direitos humanos merecerá respeito e reconhecimento. A autoridade, essa categoria central da Política, que parece tão nítida nas palavras de Riverbend, talvez venha, então, a lançar alguma luz sobre a ameaça aos facínoras em que a sexualidade feminina consiste.

Riverbend postou isto, no seu blog, no dia seguinte ao estupro de Sabrine Al-Janabi, que tomei a liberdade de traduzir. Este texto, esta singela homenagem e esse lembrete de olhos abertos, foi escrito em memória da garota Abeer e sua família e em homenagem às duas bravas mulheres árabes, que vêm resistindo à "democracia preventiva" de George W. Bush e "Condi", Sabrine Al-Janabi e Riverbend.

O estupro de Sabrine

"Está sendo necessário ter muita energia e disposição para blogar, ultimamente. Eu acho que isso se dá, principalmente, porque só de pensar no estado em que está o Iraque eu fico devastada e deprimida. Mas eu tive de escrever, esta noite.

Enquanto eu escrevo isto, Oprhah está no Canal 4 (um dos canais da MBC canais que temos no Nilesat), mostrando aos americanos como se livrar dos débitos. Seu convidado está falando, num estúdio cheio de mulheres americanas, que parecem abundantemente consumistas e poderiam estar vestindo e usando muito menos coisas. Enquanto elas falam sobre o incremento de investimentos e fortunas, Sabrine Al-Janabi, uma jovem mulher iraquiana, está na Al Azeera contando como as forças de segurança iraquianas retiraram-na de sua casa e a estupraram. Você só pode ver os olhos dela, a sua voz está rouca e faz com que haja pausas enquanto ela fala. No fim, ela conta ao repórter que não pode mais falar sobre o assunto e cobre os seus olhos, com vergonha.

Ela talvez seja a mais brava das mulheres iraquianas que já existiu. Todo mundo sabe que as forças de segurança americanas e iraquianas estão estuprando mulheres (e currando homens), mas essa é possivelmente a primeira mulher que vem a público usando seu nome verdadeiro. Escutando a sua história eu sinto meu coração doer, fisicamente. Algumas pessoas a chamarão de mentirosa. Outros (incluindo iraquianos pró-guerra) chamarão-na de prostituta - o que causa vergonha, antes de qualquer coisa.

Eu me pergunto qual é a desculpa que eles usaram quando a seqüestraram. É como se ela fosse uma das milhares de pessoas que eles põem no rol geral de "suspeito de terrorismo". Ela talvez tenha recebido alguns dos subtítulos que você lê na CNN ou na BBC ou na Arabiya: '13 insurgentes capturados pelas forças de segurança do Iraque'. O homem que a estuprou é dessas mesmas forças de segurança de que Bush e Condi [Condoleezza Rice] estão tão orgulhosos - você sabe - de terem sido os únicos treinados por americanos. É mais um capítulo retirado do livro que documenta a ocupação Americana no Iraque: o capítulo que vai contar a história da garota Abeer, de 14 anos, que foi estuprada, morta e queimada com sua pequena irmã e seus pais.

Eles a raptaram [Sabrine] de sua casa numa área ao sul de Bagdá chamada Hai Al Amil. Não, não era uma gangue. Era a manutenção da paz iraquiana ou a sua força de segurança - os únicos treinados por americanos? Você os conhece. Ela foi brutalmente estuprada pela gangue e está agora contando a história. Metade de seu rosto está coberta por razões de segurança ou de privacidade.

Como era de se esperar, Maliki está dizendo que as acusações de estupro são mentiras. Aparentemente, sua turma simplesmente pergunta aos oficiais se eles estupraram Sabrine Al Janabi e eles dizem não. Estou tão feliz que isso tem sido esclarecido!

Eu odeio a mídia e odeio o governo iraquiano por tornarem essa atrocidade mais um confronto entre sunitas e xiitas - como se importasse se Sabrine é suni ou xia ou árabe ou curda (a tribo Al Janabi é composta tanto de sunitas como de xiitas). Maliki não apenas tornou a mulher uma mentirosa, ele está recompensando os oficiais que ela acusa. Isso é ultrajante e insano.

Nenhuma mulher iraquiana, nessas circunstâncias - nem em circunstância alguma - tornaria público, falsamente, que ela foi estuprada. Simplesmente há tantos riscos. Há o risco da vergonha pública. Há o risco de se começar o encadeamento sem fim das retaliações e vinganças entre tribos. Há a vergonha de tornar público e falar sobre um assunto tão tabu; ela e seu marido não estão apenas pondo em risco suas reputações, ao contar sua história, eles estão arriscando suas vidas.

Ninguém mentiria a respeito de algo assim simplesmente para desautorizar o sistema de segurança de Bagdá. Essa desautorização pode ser feita simplesmente com o cálculo das dúzias de mortos na semana passada. Ou escrevendo sobre as prisões em massa de inocentes, ou sobre como as pessoas estão enterrando seus pertences para que as tropas americanas não os roubem.

Durou menos de 14 horas a denúncia de Sabrine de que havia sido estuprada e a compensação de Maliki às pessoas que ela acusa. Em 14 horas, Maliki não apenas estabeleceu a inocência deles, mas os tornou seus próprios heróis. Fico me perguntando se Maliki confiaria a segurança de sua esposa e filha a esses homens.

Isso serve para desencorajar prisioneiros, especialmente mulheres, a virem a público fazer denúncias contra as forças de segurança iraquianas e americanas. Maliki é o homem mais estúpido do mundo (bem, depois de Bush, claro...), se acredita que a sua arrogância na forma dura de tratar a situação vai funcionar para afastar isso das mentes dos iraquianos. Fazendo o que ele está fazendo, está deixando mais claro do que nunca que, por baixo dessa regra, sob o seu governo, a justiça vigilante é a única maneira de prosseguir. Por que deixar isso a cargo das forças de segurança e da polícia? Simplesmente que se pague uma milícia ou uma gangue, para fazer a vingança. Se isso não der alguma justiça para ela, sua tribo será forçada a ...E a Janabat (e todos os Al Janabis) são forçados a retrucar.

Maliki poderia ao menos fingir que o estupro de uma jovem mulher iraquiana ainda é um ultraje, nos dias de hoje, no Iraque...".

Leia mais em www.riverbendblog.blogspot.com.

* é doutoranda em Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: katarinapeixoto@hotmail.com

Fonte: www.agenciacartamaior.com.br

segunda-feira, março 19, 2007

"Estado de Resistência" - Qual é o negócio do agronegócio?








Ilustração: Latuff

Da
Agência Brasil:

Qual é o negócio do agronegócio? O que há por trás da monocultura e da transgenia? Qual é o papel da mídia nesse processo? Quais são as relações entre a produção de alimentos e a cultura de um povo? Com uma câmera e essas perguntas na mão, a diretora Berenice Mendes produziu o documentário Estado de Resistência, que será exibido na terceira edição do programa DOCTV.

O filme tem estréia nacional em junho, com exibição nas TVs públicas, e aborda o avanço dos transgênicos e os reflexos desse processo na padronização dos hábitos alimentares da sociedade. Atualmente, no Brasil, o cultivo de organismos geneticamente modificados representa grande parte da produção de soja. As sementes são compradas de multinacionais produtoras da tecnologia ou pirateadas de outros países da América do Sul.

Atualmente, é possível encontrar produtos oriundos de alimentos geneticamente modificados nas prateleiras dos supermercados. Essa tendência é defendida por agricultores e grandes empresas, que apontam avanços na produtividade, mas também é criticada por muitos ambientalistas, que temem seus efeitos sobre a biodiversidade.

De acordo com a diretora Berenice Mendes, o enfoque inicial do documentário era mais científico, mas durante o processo de pesquisa a idéia mudou. O resultado foi um discurso contra esse processo vivido no Brasil e no mundo, a partir do exemplo do Paraná, um dos maiores produtores de grãos do país. “Percebi que não era apenas a introdução dessa tecnologia na agricultura. Na realidade, o que estamos sofrendo é um processo de manipulação do padrão alimentar da população”.

O documentário aponta ainda como o processo do agronegócio tem afetado a perda dos modos tradicionais de produção e, até mesmo, a própria manutenção de hábitos culturais. “Antigamente, o convívio familiar e a comemoração de festas era toda feita em casa, em volta da preparação da comida, e isso tudo está se perdendo com a compra dos alimentos industrializados. Isso vai efetivamente transformando culturalmente a sociedade”, comenta Mendes.

A diretora ressaltou que o material representa uma “primeira abordagem”, “não aprofundada”, para se refletir a introdução e os impactos dos transgênicos no Paraná. “O nome do documentário expressa a resistência ao avanço do agronegócio. Mas ao final, acabei negando esse título. Acho que é preciso mais do que resistir a esse processo, é preciso ter uma atitude ofensiva. Precisamos começar a agir efetivamente”.

Atenta ao debate atual sobre o tema, a diretora também comentou sobre a possibilidade da sanção presidencial, nesta semana, da medida provisória que altera as regras para se aprovar transgênicos na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNbio). Segundo ela, se for sancionada, o presidente estará ajudando a fragilizar a comissão, responsável por avaliar tecnicamente o impacto de cada variedade e pesquisa. “Isso seria se dobrar ao lobby da química fina e permitir a contaminação do que temos de mais precioso”, argumenta.

sexta-feira, março 16, 2007

amanhã tem festa!







ressuscitem!
surgere
sub + regere:
levem

levem o
verdecer
e o levem!

trecho de "A Ressurreição das Gramas" de Cecilia Vicuña




É no Katanga's, ou Bar do Hélio para os mais íntimos e, por que não dizer, mais velhos.. hehehe.

Mas é isso aí, é amanhã, 17 de março, Festa da Helô e do Minifúndio CyberCafé.


Ah, e em breve vai rolar som da Helô em Porto Alegre. Eu aviso assim que soubermos a data.


A arte do cartaz-panfleto é do Emerson, da Nativu Design.

o império contra-ataca












Como, bem ou mal, na postagem anterior incluí uma imagem do Bush, esta na verdade é mais pra dar uma re-equilibrada na energia, seguindo o exemplo dos sábios maias...

Mas, já que estamos aqui, então seguem aí algumas das falas do Chávez em entrevista sobre a visita de Bush à América Latina, na semana passada, citadas no leftside. O blog (em inglês) traz um interessante texto (e outros) - um apanhado sobre os ecos dos acontecimentos advindos do que Chávez chama de contra-ataque do império:

"O império está em contra-ataque, com a cabeça do império em pessoa liderando o ataque, e por que? porque eles sabem que a ofensiva popular latinoamericana é pra valer."

"Isto não é sobre Chávez versus Bush ou Bush versus Chávez. Se fosse uma questão pessoal, ele já teria sido abatido há muito tempo. Vocês sabem que isso não é algo pessoal." - Hugo Chávez















ilustração do Latuff


Como neste mundinho capitalista o que acaba pesando mesmo é a grana, as ninharias oferecidas por Bush o levaram ao ridículo (como se já não fosse), sobretudo se comparado aos apoios bem mais significativos, neste e em todos os outros sentidos, não tão capitalisticamente falando, oferecidos por Chávez ao longo de seu giro paralelo pela América Latina.

Só pra dar uma idéia...até o jornal El Universal, virulentamente direitista, conforme citado no texto do leftside, publicou críticas aos tímidos investimentos e auxílios destinados anualmente à região pelo governo norte-americano, fazendo inclusive uma comparação com os gastos na guerra no Iraque e, quase inacreditavelmente, com as somas ofertadas pelo próprio Chávez!!!

Como sou pouco (muito!) desconfiada, fico logo com um elefante atrás da orelha, pensando...tudo bem, agora que até as colunas da casa branca percebem as sandices da administração Bush, como é de praxe, eles começam a sinalizar diferente pra ter condições de permanecer sem mudar nada - mas, entonces, com que tipo de direita norte-americana eles estarão se aliançando agora? a do Michael Moore? os outros jesus freaks? Giuliani? sei não.. alguém aí responda, se puder, por favor.

Por via das dúvidas, fui dar uma fuçada lá no tal jornal, e encontrei esta matéria no mínimo curiosa.

terça-feira, março 13, 2007

domingo, março 11, 2007

O RS clama por sofisticação e, pasmem, iconoclastia!








Mais uma piada (bem que poderia ser) do novo jeito - fascista, pedante e vazio - de governar. O texto é do Marco Weissheimer, do RS Urgente.


FERNANDO SCHÜLER, O ICONOCLASTA

O secretário estadual de Trabalho, Cidadania e Assistência Social (também anunciado como secretário da Justiça, uma pasta que, na verdade, ainda não existe), Fernando Schüller, está engajado numa cruzada pela “sofisticação do debate público no Rio Grande do Sul”. Uma das primeiras medidas nesta direção é a realização do seminário “Fronteiras do Pensamento”, ciclo de palestras que será realizado ao longo do ano a um preço de R$ 450,00 por pessoa. Segundo Schüller, trata-se de um “curso de altos estudos”. Sofisticado, certamente. Chinelagem não entra. Em entrevista ao Caderno de Cultura do jornal Zero Hora, neste sábado, Schüller fala um pouco mais de seus planos para sofisticar o ambiente cultural gaúcho. Em suas andanças pelas ruas da pólis, ele descobriu que “Porto Alegre é uma cidade cansada de todos os conservadorismos e proselitismo ideológicos”. Isso não pode continuar assim, disse para si mesmo. “Ela (a cidade) busca um conhecimento iconoclasta, aberto e de profundidade”, emendou.

Iconoclastia e sofisticação já! É a palavra de ordem que mais se ouve na capital gaúcha. As pessoas nem se incomodam mais com o lixo espalhado pelas ruas, com o mato tomando conta de praças e parques, e com o aumento no número de moradores de rua. Se elas vierem (a iconoclastia e a sofisticação), terá valido o preço, comenta-se nas ruas. Nos anos 90, filosofa Schüller, “tivemos uma cidade que subordinou o debate intelectual ao proselitismo e aos conflitos ideológicos”. Ele quer acabar com isso, com sofisticação e iconoclastia. Nesta tarefa, espera contar com a ajuda da secretária estadual de Cultura, Mônica Leal, que, logo ao tomar posse, garantiu que pode aprender qualquer coisa. Neste momento, entre outros desafios, está engajada na dura tarefa de tentar entender as idéias sofisticadas de Schüller.

Outra originalidade da proposta do secretário é que atividades como o seminário “Fronteiras do Pensamento” não se preocuparão em “transmitir idéias” (a secretária Leal gostou particularmente dessa parte). Schüller gosta de esgrimir palavras, mesmo que o resultado final seja vazio de significado. O importante é soar bem. Diz ele: “O RS se acostumou com eventos pretendendo transmitir idéias. Não tenho nada contra eles, mas este não é um evento missionário. É agressivamente pluralista, mas sem fazer concessões à qualidade”. É isso aí, gente. Sofistiquem-se ou pereçam.

quarta-feira, março 07, 2007

Os negócios ilícitos da dinastia Bush

Por Altamiro Borges [5/3/2007]

Reprodução

Até o mais debilóide cidadão estadunidense – e há muitos, segundo o cineasta Michel Moore no corrosivo livro “Uma nação de idiotas” – sabe que por detrás da retórica anti-terrorista do presidente George Bush se escondem poderosos interesses econômicos – em especial das indústrias de petróleo e de armas e dos conglomerados financeiros. Não fossem os altos lucros auferidos por estes setores com a ocupação do Iraque, bastaria um rápido histórico sobre a trajetória da dinastia Bush para se ter certeza da falsidade do discurso do atual presidente. A família sempre esteve envolvida em negócios bilionários e ilícitos!

Antes de virar o 43º presidente dos EUA, em janeiro de 2001, George W. Bush foi acionista e participou da direção de várias companhias do ramo do petróleo – Arbusto, Spectrum e Harken. Já seu pai, George H.W. Bush, que presidiu o país entre 1989 e 1992, foi fundador e executivo da Zapata Oil e da Pennzoil, uma das maiores empresas petrolíferas do planeta. O seu avo, Prescott Sheldon Bush (1885-1953), foi dirigente da United Banking Corporation, banco acusado de transações ilegais com os nazistas. E o seu bisavô, Samuel Prescott Bush (1863-1948), fez fortuna com a Buckeye Steel durante a I Guerra Mundial.

Família de mercadores de armas

Os negócios lucrativos e as relações promíscuas com o poder datam do período da I Guerra Mundial. No governo de Woodrow Wilson, o bisavô do atual presidente, Samuel Prescott Bush, dono da indústria de peças Buckeye Steel, tornou-se diretor do Escritório das Indústrias de Guerra e conselheiro do governo. Em curto espaço de tempo, ele dobrou a fortuna da empresa, que passou a fabricar munição, canos de canhões e outras armas. O estranho enriquecimento acabou sendo alvo de investigação de uma comissão parlamentar, presidida pelo senador Gerald Nye, sobre os “mercadores de armas”. Mas, curiosamente, os registros de suas falcatruas foram destruídos nos anos 90 para “economizar espaço” no Arquivo Nacional.

Já seu outro bisavô, George Herbert Walker, esteve envolvido com estranhos “contratos de guerra”, sendo presenteado pelo governo com milionários projetos de produção de manganês e de renovação dos campos petrolíferos na Alemanha devastada pela guerra. Os negócios melhoraram com a união dos Bush com os Walker, graças ao “casamento” da filha de George com o filho de Samuel. A rica união permitiu que a dinastia estreitasse as relações com os bancos e as casas de investimento de Wall Street e projetou o filho de Samuel, Prescott Sheldon, pai do primeiro presidente Bush e avô do segundo, no mundo da política.

As negociatas com os nazistas

Prescott foi eleito duas vezes ao senado em Connecticut e consolidou os vínculos dos negócios com o Estado. Sua trajetória, porém, foi marcada por vários escândalos. O maior deles se deu durante a II Guerra Mundial. Como diretor do United Banking Corporation (UBC), ele foi acusado de intermediar transações comerciais, como a venda de armas, para a Alemanha. Ele inclusive comprou do industrial nazista Fritz Thyssen, chamado de “anjo de Hitler”, a indústria Silesian Steel, que explorava os prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz. Ao ser revelado o caso, o presidente Franklin Roosevelt enquadrou a UBC na Lei de Transações com o Inimigo e decretou intervenção branca na instituição bancária.

Em decorrência do escândalo, Prescott Bush foi obrigado a se afastar da direção do UBC e aderiu, numa hábil manobra para limpar a sua imagem, à campanha nacional de arrecadação de dinheiro para o Fundo Nacional de Guerra (NWF). Concluída a guerra, cumpriu um mandato apagado no Senado e se aposentou. Mas a família já havia tomado gosto pela junção entre os negócios, em especial no ramo de petróleo, e a política. O filho de Prescott, George Herbert Walker Bush, pai do atual presidente, logo ocupou o lugar de pai nesta empreitada, mudando-se de Connecticut para o Texas, a terra do petróleo.

Presidente da indústria de petróleo

Em 1950, com a ajuda do pai senador e de suas conexões com os investidores de Wall Street, ele fundou a primeira empresa de petróleo da família, a Bush-Overbey Oil. Quatro anos depois, criou a Zapata Oil, que se beneficiou de um projeto do pai que permitia a perfuração e extração de petróleo em mar, mesmo sem a sua empresa ter qualquer experiência nesta área. Em 1963, fruto da fusão com a Penn Oil, nasceu a Pennzoil, um das maiores empresas de petróleo do mundo. Consolidada a fortuna, George H.W. Bush partiu para a política, elegendo-se duas vezes deputado, mas fracassando no seu projeto para o Senado.

Vinculado aos interesses dos poderosos grupos petrolíferos, tornou-se presidente do Partido Republicano, diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), quando realizou negociações secretas de armas com o Irã e o Iraque, e vice-presidente na chapa de Ronald Reagan. Às vésperas de sua posse como presidente da Republica, em 1989, ele próprio admitiu que chegara ao mais elevado posto do país graças ao poderio das empresas petrolíferas. “Vou colocar desta forma: eles conseguiram eleger um presidente dos EUA que veio da indústria do petróleo e gás”. Desgastado com as inúmeras denúncias de tráfico de influência e da ligação com setores ultradireitistas e racistas, George H. W. Bush não conseguiu se reeleger em 1992.

Banco dos criminosos e vigaristas

Mas ele não desistiu e conseguiu realizar, oito anos depois, uma façanha na política dos EUA ao eleger o seu filho para presidente – houve apenas outro caso na história do país, na eleição de John Quincy Adams. Mas a imagem do filho era bem diferente da cultivada pelo pai, um ex-piloto condecorado pelos serviços prestados na guerra e um homem de negócios bem sucedido. Já seu filho, George W. Bush, ficou famoso por fugir do exército durante a guerra do Vietnã, valendo-se da influência do pai, e ainda por suas prisões por dirigir embriagado e até por porte de cocaína na sua fase de universitário. Já no mundo dos negócios, o incompetente atual presidente manteve a tradição da dinastia do envolvimento em casos suspeitos.

Antes de levar à falência três empresas de petróleo – Arbusto, Spectrum e Harken – e virar administrador do time de beisebol Rangers, ele esteve metido em várias falcatruas. A Harken foi processada por fraude contábil, sonegação fiscal e vínculo com o Bank of Commerce & Credit International. O BCCI, apelidado de banco dos criminosos e vigaristas (criminal and crooks) da sigla, promoveu um dos maiores escândalos financeiros da história dos EUA. Ele atolou bilhões de dólares em lavagem de dinheiro do narcotráfico, contrabando de material nuclear e tráfico de armas. Entrou em colapso em 1991, quando sumiram US$ 5 bilhões utilizados no suborno de governantes de 78 países e de 28 senadores e 108 deputados dos EUA.

A família Bush sempre manteve relações estreitas com a direção do BCCI. Richard Helmns, ex-diretor da CIA e embaixador no Irã no tempo do ditador Reza Pahlevi, foi quem apresentou o principal operador do banco nos EUA, Mohammed Rahim Irvani, ao presidente Bush-pai. Antes disso, seu filho já havia virado amigo, durante seu “serviço militar” na Guarda Nacional do Texas, de outro pistolão do BCCI, James Bath. Em 1977, através deste contato, o banco financiou a primeira empresa de petróleo de baby-Bush, então com 31 anos, a Arbusto. Bath, que era representante no Texas da Bin Laden Brothers Construction, também foi o responsável pelo primeiro contato do atual presidente com a família de Osama bin Laden.

Apoio dos executivos-ladrões

Outro antigo contato da dinastia Bush que beneficiou o atual presidente foi com o Grupo Carlyle, um dos principais fornecedores do Pentágono. Antes de ser governador do Texas, Bush-II integrou o conselho de direção de uma das subsidiárias deste grupo, a CaterAir. As indústrias deste grupo fabricam, entre outras coisas, o tanque Bradley e as peças do helicóptero Apache. A guerra declarada por George Bush “contra o terrorismo” utiliza as armas fabricadas pelas empresas do Grupo Carlyle. Outra ironia da história é que a família Bin Laden também é uma poderosa acionista desta corporação transnacional.

Estas intrincadas relações com o “complexo industrial-militar” é que levaram George W. Bush ao poder. Em maio de 2004, quando vários escândalos colocaram no banco de réus os executivos-chefes de várias empresas, a revista Time revelou que sua reeleição teve o apoio financeiro de 261 destes criminosos; 31 contribuíram para seu adversário democrata, John Kerry. Entre as corporações que entraram em colapso por fraudes contábeis estava a Enron, a sétima maior multinacional do mundo na lista da revista Fortune, e a Arthur Andersen. Ambas foram as principais financiadoras de Bush. Ken Lay, o corrupto presidente da Enron, acompanhou-o desde o início da carreira política, ajudando-a a se eleger governador do Texas.

A maior parte da equipe do atual presidente também presta serviços ao “complexo militar-industrial”. O vice-presidente Dick Cheney presidiu a Halliburton Industries, a empresa de petróleo maior beneficiária da ocupação do Iraque; sua esposa, Lynne Cheney, participa do conselho de direção do maior fabricante de armas dos EUA, a gigante Lockheed; o procurador-geral John Ashcroft foi advogado da Monsanto e da AT&T; o ex-secretário de defesa Donald Rumsfeld pertenceu à direção da General Instrument, Sears e Kellogg’s; já o secretário de saúde Tommy Thompson foi, ironicamente, acionista da empresa de fumo Philip Morris; e a atual secretária de Estado, Condoleezza Rice, foi do conselho da Chevron – um dos maiores petroleiros desta empresa foi batizado com o seu nome pelos relevantes serviços prestados.

Máfia dos gusanos cubanos

Como se nota, a dinastia Bush mantém ótimas amizades. Os três irmãos do atual presidente também estão envolvidos em negócios ilícitos. Jeb Bush, governador do Flórida, mantém estreitas relações com a máfia dos exilados cubanos, os gusanos (vermes). Tão logo chegou a Miami, nos anos 80, ele virou sócio do “empresário” Armando Codina – processado por vários casos de corrupção. Depois, passou a freqüentar os luxuosos jantares e a voar no jatinho particular de Alberto Duque – que também foi condenado a 15 anos de prisão por fraudes, mas conseguiu “fugir” da cadeia. O outro vigarista com quem manteve relação foi Hiram Martinez, que também teve prisão domiciliar decretada por especular no ramo imobiliário.

Já Camilo Padreda, ex-oficial da contra-espionagem do ditador Fulgêncio Batista, outro amigo intimo de Jeb, foi indiciado por contrabando de drogas, lavagem de dinheiro e tráfico de armas. Miguel Recarrey, indicado por Jeb para integrar o gabinete do governador do Estado, ficou famoso por desviar verbas do programa Medicare – de assistência médica aos idosos. A sede da sua empresa, a International Medical Center, foi o quartel-general dos contra-revolucionários nicaragüenses. Na sua mansão em Miami, este “exilado” mantinha um arsenal de rifles e metralhadoras. Já seu irmão, Jorge Recarrey, que se gabava de ter prestado “serviços” à CIA, indicou seu amigo Jeb Bush como “consultor para acordos imobiliários”.

Já os outros dois irmãos, Marvin e Neil, preferiram não ingressar na política. Mesmo assim, estiveram metidos em vários escândalos. Neil Bush foi diretor da Silverado Banking, empresa acusada de falência fraudulenta e desvio de US$ 1,3 bilhão dos cofres públicos. Ele gostava de viajar a Argentina para jogar tênis com seu amigo Carlos Menem, que na época já era acusado de vários casos de corrupção. Já Marvin Bush, irmão mais novo do atual presidente, integrou o conselho de direção da Fresh Del Monte, empresa acusada de subornar políticos do México e manter dinheiro sujo no paraíso fiscal das ilhas Cayman.

Estas e outras denúncias chegaram a causar desconforto na Casa Branca quando o pai era presidente. Este ainda tentou justificar os “negócios e as amizades” dos seus filhos. “Os meninos têm o direito de ganhar a vida”. Já um agente do serviço secreto encarregado da segurança da família presidencial foi mais direto: “Olhe, a gente avisa os garotos. Mas é só o que podemos fazer. Não temos como impedi-los de se ligarem a estas pessoas. Além de avisar, a única coisa que podemos fazer é submeter essa gente ao detector de metais quando aparece por aqui [na Casa Branca]”. Mas, infelizmente, o detector de metais não impediu que um de seus filhos, George W. Bush, chegasse a presidência dos EUA.


Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro “Venezuela: originalidade e ousadia” (Editora Anita Garibaldi, 3ª edição).

Fonte: Revista Fórum